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sexta-feira, 31 de maio de 2019

Nietzsche: "Classificação de Pensadores"

"Há, em primeiro lugar, pensadores superficiais; em segundo lugar, pensadores profundos — daqueles que descem nas profundezas das coisas; — em terceiro lugar, pensadores radicais que querem descer até o último vestígio de uma coisa — o que tem muito mais valor do que simplesmente descer em sua profundeza! — Finalmente, há pensadores que mergulham a cabeça no lamaçal: o que não deveria ser sinal nem de profundidade nem de pensamento profundo! São nossos queridos pensadores do subsolo."

Friedrich Wilhelm Nietzsche, in "Morgenröte" (Aurora/1881).

quarta-feira, 29 de maio de 2019

O Pessimismo é Excelente para os Inertes

"O pessimismo é uma teoria bem consoladora para os que sofrem, porque desindividualiza o sofrimento, alarga-o até o tornar uma lei universal, a lei própria da vida; portanto lhe tira o caráter pungente de uma injustiça especial, cometida contra o sofredor por um destino inimigo e facioso!

Realmente o nosso mal sobretudo nos amarga quando contemplamos ou imaginamos o bem do nosso vizinho - porque nos sentimos escolhidos e destacados para a infelicidade, podendo, como ele, ter nascido para a fortuna.

Quem se queixaria de ser coxo - se toda a humanidade coxeasse? E quais não seriam os urros, e a furiosa revolta do homem envolto na neve e friagem e borrasca de um inverno especial, organizado nos céus para o envolver a ele unicamente - enquanto em redor toda a humanidade se movesse na benignidade de uma primavera? (...) 

O pessimismo é excelente para os inertes, porque lhes atenua o desgracioso delito da inércia."

Eça de Queiroz, in 'A Cidade e as Serras'  (1892)

Eça de Queiroz
José Maria de Eça de Queiroz (1845/1900) foi um escritor e diplomata português. É considerado um dos mais importantes escritores portugueses da história. Foi autor de romances de reconhecida importância, de Os Maias e O Crime do Padre Amaro; o primeiro é considerado por muitos o melhor romance realista português do século XIX. 

Como observador da sua sociedade, Eça recriou nas suas obras as diferentes linguagens das diferentes classes sociais da sua época.


domingo, 26 de maio de 2019

Kafka: "Vivemos Presos ao Nosso Passado e ao Nosso Futuro"

"A nós ligam-nos o nosso passado e o nosso futuro. Passamos quase todo o nosso tempo livre e também quanto do nosso tempo de trabalho a deixá-los subir e descer na balança.

O que o futuro excede em dimensão, substitui o passado em peso, e no fim não se distinguem os dois, a meninice torna-se clara mais tarde, tal como é o futuro, e o fim do futuro já é de fato vivido em todos os nossos suspiros e assim se torna passado.

Assim quase se fecha este círculo em cujo rebordo andamos. Bem, este círculo pertence-nos de fato, mas só nos pertence enquanto nos mantivermos nele; se nos afastarmos para o lado uma vez que seja, por distração, por esquecimento, por susto, por espanto, por cansaço, eis que já o perdemos no espaço; até agora tínhamos tido o nariz metido na corrente do tempo, agora retrocedemos, ex-nadadores, caminhantes atuais, e estamos perdidos.

Estamos do lado de fora da lei, ninguém sabe disso, mas todos nos tratam de acordo com isso."

Franz Kafka, in 'Diário (1910)'

Franz Kafka (1883/1924), foi um escritor de língua alemã, autor de romances e contos, considerado pelos críticos como um dos escritores mais influentes do século XX. Na imagem vemos o Ouroboros, que é um conceito representado pelo símbolo de uma serpente que morde a própria cauda. O nome vem do grego antigo: οὐρά significa "cauda" e βόρος, que significa "devora". Assim, a palavra designa "aquele que devora a própria cauda".

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Antônio Vieira: "A Cegueira da Governação"


"Príncipes, Reis, Imperadores, Monarcas do Mundo: vedes a ruína dos vossos Reinos, vedes as aflições e misérias dos vossos vassalos, vedes as violências, vedes as opressões, vedes os tributos, vedes as pobrezas, vedes as fomes, vedes as guerras, vedes as mortes, vedes os cativeiros, vedes a assolação de tudo? Ou o vedes ou o não vedes. Se o vedes como o não remediais? E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. 

Príncipes, Eclesiásticos, grandes, maiores, supremos, e vós, ó Prelados, que estais em seu lugar: vedes as calamidades universais e particulares da Igreja, vedes os destroços da Fé, vedes o descaimento da Religião, vedes o desprezo das Leis Divinas, vedes o abuso do costumes, vedes os pecados públicos, vedes os escândalos, vedes as simonias, vedes os sacrilégios, vedes a falta da doutrina sã, vedes a condenação e perda de tantas almas, dentro e fora da Cristandade? Ou o vedes ou não o vedes. Se o vedes, como não o remediais, e se o não remediais, como o vedes? Estais cegos.

Ministros da República, da Justiça, da Guerra, do Estado, do Mar, da Terra: vedes as obrigações que se descarregam sobre vosso cuidado, vedes o peso que carrega sobre vossas consciências, vedes as desatenções do governo, vedes as injustiças, vedes os roubos, vedes os descaminhos, vedes os enredos, vedes as dilações, vedes os subornos, vedes as potências dos grandes e as vexações dos pequenos, vedes as lágrimas dos pobres, os clamores e gemidos de todos? Ou o vedes ou o não vedes. Se o vedes, como o não remediais? E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos."

Padre António Vieira, in "Sermões"

Padre Antônio Vieira (1608/1697), foi um religioso, filósofo, escritor e orador português da Companhia de Jesus. Uma das mais influentes personagens do século XVII em termos de política e oratória, destacou-se como missionário em terras brasileiras.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Nietzsche: "Aprender a Ver"

"Aprender a ver - habituar os olhos à calma, à paciência, ao deixar-que-as-coisas-se-aproximem-de-nós; aprender a adiar o juízo, a rodear e a abarcar o caso particular a partir de todos os lados. Este é o primeiro ensino preliminar para o espírito: não reagir imediatamente a um estímulo, mas sim controlar os instintos que põem obstáculos, que isolam.

Aprender a ver, tal como eu o entendo, é já quase o que o modo afilosófico de falar denomina vontade forte: o essencial nisto é, precisamente, o poder não «querer», o poder diferir a decisão.

Toda a não-espiritualidade, toda a vulgaridade descansa na incapacidade de opor resistência a um estímulo — tem que se reagir, seguem-se todos os impulsos. Em muitos casos esse ter que é já doença, decadência, sintoma de esgotamento, — quase tudo o que a rudeza afilosófica designa com o nome de «vício» é apenas essa incapacidade fisiológica de não reagir.

Uma aplicação prática do ter-aprendido-a-ver: enquanto discente em geral, chegar-se-á a ser lento, desconfiado, teimoso. Ao estranho, ao novo de qualquer espécie deixar-se-o-á aproximar-se com uma tranquilidade hostil, — afasta-se dele a mão.

O ter abertas todas as portas, o servil abrir a boca perante todo o fato pequeno, o estar sempre disposto a meter-se, a lançar-se de um salto para dentro de outros homens e outras coisas, em suma, a famosa «objetividade» moderna é mau gosto, é algo não-aristocrático par excellence."

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Imagem: Friedrich Nietzsche by Arturo Espinosa. for PIFAL. | by Arturo Espinosa (Flickr)

quarta-feira, 22 de maio de 2019

17 frases célebres de Hipócrates

Hipócrates (460/370 a.C.) é considerado por muitos uma das figuras mais importantes da história da Medicina, frequentemente considerado "pai da medicina", apesar de ter desenvolvido tal ciência muito depois de Imhotep, do Egito antigo. 

É referido como uma das grandes figuras do florescimento intelectual grego, como Demócrito, Sócrates e Aristóteles. Hipócrates era um asclepíade, isto é, membro de uma família que durante várias gerações praticara os cuidados em saúde.

"A arte é longa, a vida é breve."

"Tudo acontece conforme a natureza."

"Qualquer coisa em excesso é oposta a natureza."

"Seja o alimento teu melhor remédio."

"Não fazer nada às vezes é um bom remédio."

"A cura está ligada ao tempo e, às vezes, também, às circunstâncias."

"Para os males extremos, só são eficazes os remédios intensos."

"Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio."

"Tuas forças naturais, as que estão dentro de ti, serão as que curarão suas doenças."

"Aos doentes tenha por hábito duas coisas - ajudar, ou pelo menos não produzir danos."

"Sono e vigilância, ambos, quando excessivos, constituem doença."

"A vida é curta, a arte é longa, a oportunidade é fugaz, a experiência enganosa, o julgamento difícil."

"É o tempo que dá força a todas as coisas e as leva à maturidade."

"Há, verdadeiramente, duas coisas diferentes: saber e crer que se sabe. A ciência consiste em saber; em crer que se sabe está a ignorância."

"Os homens deveriam saber que é do cérebro, e de nenhum outro lugar, que vêm as alegrias, as delícias, o riso e as diversões, e tristezas, desânimos e lamentações."

"Os homens pensam que a epilepsia é divina meramente porque não a compreendem. Se eles denominassem divina qualquer coisa que não compreendem, não haveria fim para as coisas divinas."

"Seja o que for, em conexão com a minha prática profissional, ou sem relação com ela; vejo ou ouço, na vida dos homens, o que não deve ser falado para fora, não vou divulgar, considerando que todas essas coisas devem ser mantidas em segredo."

terça-feira, 21 de maio de 2019

17 frases populares de Esopo

Esopo (621/565 a.C.), foi um escritor da Grécia Antiga a quem são atribuídas várias fábulas populares. A ele se atribui a paternidade das fábulas como gênero literário.

"Nunca confies no conselho de um homem em apuros."

"O hábito torna suportáveis até as coisas assustadoras."

"Não conte os seus pintos antes de saírem da casca."

"Mais vale o pouco certo, que o muito duvidoso."

"Quem o feio ama, bonito lhe parece."

"Até mesmo os poderosos podem precisar dos fracos."

"Os deuses ajudam aqueles que se ajudam a eles próprios."

"Exibição exterior é um pobre substituto para o valor interior."

"Muitos, por medo, não hesitam em beneficiar aqueles que os odeiam."

"Quem trama desventuras para os outros estende armadilhas a si mesmo."

"Um pedaço de pão comido em paz é melhor do que um banquete comido com ansiedade."

"Não há nada de nobre em sermos superiores ao próximo. A verdadeira nobreza consiste em sermos superiores ao que éramos antes."

"Pensando em conseguir de uma só vez todos os ovos de ouro que a galinha poderia lhe dar, ele a matou e a abriu apenas para descobrir que não havia nada dentro dela."

"Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar."

"Quando não conseguimos encontrar tranquilidade dentro de nós mesmos, de nada serve procurá-la noutro lugar."

"Os servos nunca sentem tanta falta do primeiro senhor como quando experimentam o segundo."

"Nenhum gesto de amizade, por muito insignificante que seja, é desperdiçado."
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Imagem: quadro, óleo sobre tela, representando o fabulista grego Esopo, pintado pelo sevilhano Diego Velázquez (c.1638) - A obra encontra-se exposta no Museu Nacional do Prado, em Madrid, Espanha.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

17 frases célebres de Aristóteles

"O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete."

"Nosso caráter é o resultado da nossa conduta."

"É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer."

"O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete."

"O homem livre é senhor da sua vontade e escravo somente da sua consciência."

"Qualquer pessoa pode se irritar. É fácil. Mas irritar-se com a pessoa certa, no grau certo, no momento certo, pela razão certa e da forma certa - isso não é fácil."

"Inteligência não é apenas conhecimento, mas também a capacidade de aplicar os conhecimentos adquiridos."

"Você nunca fará nada neste mundo sem coragem. É a melhor qualidade da mente ao lado da honra."

"A vida consagrada ao enriquecimento, é uma vida forçada, e a riqueza não é o bem que procuramos; é algo útil, nada mais, e ambicionado no interesse de outra coisa."

"Ter muitos amigos é não ter nenhum."

"Um amigo se faz rapidamente; já a amizade é um fruto que amadurece lentamente."

"Talvez eu seja enganado inúmeras vezes... Mas não deixarei de acreditar que em algum lugar alguém merece minha confiança."

"O convidado é melhor juiz de uma refeição que o cozinheiro."

"Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura."

"O verdadeiro discípulo é aquele que supera o mestre."

"Somos o que repetidamente fazemos. A excelência portanto não é um feito, sim um hábito."

"Nunca existiu um gênio sem uma pitada de loucura."

Busto de Aristóteles (Roma)

Aristóteles (384/322 a.C.), foi um filósofo grego, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande. Seus escritos abrangem diversos assuntos, como a física, a metafísica, as leis da poesia e do drama, a música, a lógica, a retórica, o governo, a ética, a biologia e a zoologiaTodos os aspectos da filosofia de Aristóteles continuam sendo objeto de estudos acadêmicos. Embora Aristóteles tenha escrito muitos tratados e diálogos formatados para publicação, apenas cerca de um terço de sua produção original sobreviveu...

domingo, 19 de maio de 2019

Os Três Sapos

"Se existem três sapos numa folha, e um deles decide pular da folha para a água, quantos sapos restam na folha?

Resposta certa: três sapos!

Porque o sapo apenas decidiu pular mas ele não fez isso.

Às vezes, a gente não se parece com o sapo?

Quando decidimos fazer isso, fazer aquilo e no final não fazemos nada? Na vida temos que tomar muitas decisões. Algumas fáceis, outras difíceis.

Rir é correr o risco de parecer tolo. Chorar é correr o risco de parecer sentimental. Abrir-se para alguém é arriscar envolvimento. Expor as idéias e sonhos é arriscar-se a perdê-los. Amar é correr o risco de não ser amado. Viver é correr o risco de morrer. Ter esperança é correr o risco de se decepcionar. Tentar é correr o risco de falhar.

Os riscos precisam ser enfrentados porque o maior fracasso na vida é não arriscar nada. A pessoa que não arrisca nada, não faz nada, não tem nada, é nada… Ela pode evitar o sofrimento e a dor mas não aprende, não sente, não muda, não cresce, não vive. É uma escrava que teme a liberdade.

Apenas quem arrisca é livre."
Autor Desconhecido
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Fonte: texto de autoria desconhecida amplamente divulgado na Internet - Imagem da página 184 do livro "The illustrated natural history [microform]" (1863) - Autor: Wood, J. G. (John George), 1827-1889 (Internet Archive Book Image/Flickr)

sábado, 18 de maio de 2019

Martin Heidegger: "A Origem da Obra de Arte"

OST de Frantisek Dvorak, ou Franz Bruner (1862/1927)


"Origem significa, aqui, aquilo a partir do qual e pelo qual algo é aquilo que é e como é. Àquilo que algo é, [sendo] como é, chamamos a sua essência [Wesen]. A origem de algo é a proveniência da sua essência. A pergunta pela origem da obra de arte pergunta pela proveniência da sua essência. 

De acordo com a concepção habitual, a obra tem origem a partir da e pela atividade do artista. Contudo, aquilo que o artista é, o é por meio de quê e a partir de quê? Pela obra; pois, que uma obra honre o mestre significa: só a obra permite ao artista surgir como um mestre da arte. 

O artista é a origem da obra. A obra é a origem do artista. Nenhum é sem o outro. Não obstante, nenhum dos dois porta, por si só, o outro. Em cada caso, o artista e a obra são, em si [mesmos] e na sua relação recíproca, mediante um terceiro [termo], que é o primeiro, sendo por ele [e] a partir dele que o artista e a obra de arte adquirem o seu nome — mediante a arte."
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Fonte: Martin Heidegger: "Caminhos de Floresta", p. 7/8. Lisboa: Edição Fundação Calouste Gulbenkian, 1998 - Imagem: Quadro OST de Frantisek Dvorak, pintor checo também conhecido como Franz Bruner (1862/1927)

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Nietzsche: "Autodomínio - sempre às orlas do abismo"


"Minha qualidade soberana é o domínio de mim. Mas ninguém tem maior necessidade dela que eu; ladeio sempre o abismo."

Friedrich Wilhelm Nietzsche, in "Vontade de Potência" (obra póstuma) - Imagem: Pexels/Marius Venter (CC0)

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Shakespeare: "Soneto 23"

"Como no palco o ator que é imperfeito
Faz mal o seu papel só por temor,
Ou quem, por ter repleto de ódio o peito
Vê o coração quebrar-se num tremor,

Em mim, por timidez, fica omitido
O rito mais solene da paixão;
E o meu amor eu vejo enfraquecido,
Vergado pela própria dimensão.

Seja meu livro então minha eloqüência,
Arauto mudo do que diz meu peito,
Que implora amor e busca recompensa

Mais que a língua que mais o tenha feito.
Saiba ler o que escreve o amor calado:
Ouvir com os olhos é do amor o fado."

William Shakespeare (1564/1616), foi um poeta, dramaturgo e ator inglês, tido como o maior escritor do idioma inglês e o mais influente dramaturgo do mundo. É chamado frequentemente de poeta nacional da Inglaterra e de "Bardo do Avon".
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Imagem: Max Pixel. Na foto vemos as cortinas do palco do Globe Theatre (Teatro Globo). O teatro fica no Globo de Shakespeare , um complexo que abriga a reconstrução do Globe Theatre, teatro elisabetano associado a William Shakespeare, no bairro londrino de Southwark, na margem sul do rio Tâmisa. O original foi construído em 1599, destruído pelo fogo em 1613, reconstruído em 1614 e depois demolido em 1644. 

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Paulo Freire: "Amor e Justiça Social"

"Eu sou um intelectual  que não tem medo de ser amoroso.  Amo as gentes e amo o mundo.  E é porque amo as pessoas e amo o mundo que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade"  Paulo Freire
"Eu sou um
intelectual 
que não tem
medo de ser
amoroso.

Amo as gentes
e amo o mundo.

E é porque amo
as pessoas e amo
o mundo que eu
brigo para que a
justiça social se
implante antes
da caridade"

Paulo Freire (1921/1997), foi um educador, pedagogo e filósofo brasileiro. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica. É também o Patrono da Educação Brasileira.




terça-feira, 14 de maio de 2019

"As sem-razões do amor", poema de Carlos Drummond de Andrade

"Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou de mais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor."

Carlos Drummond de Andrade (1902/1987), foi um dos maiores poetas, contistas e cronistas brasileiros de todos os tempos, é considerado o mais influente poeta brasileiro do século XX.

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Cora Coralina: "Saber Viver"

"Não sei se a vida é curta 
ou longa para nós, 
mas sei que nada do que 
vivemos tem sentido,
se não tocarmos 
o coração das pessoas. 
Muitas vezes basta ser: 
colo que acolhe, 
braço que envolve, 
palavra que conforta, 
silêncio que respeita, 
alegria que contagia, 
lágrima que corre, 
olhar que acaricia, 
desejo que sacia, 
amor que promove. 
E isso não é coisa 
de outro mundo, 
é o que dá sentido à vida. 
É o que faz com que ela 
não seja nem curta, 
nem longa demais, 
mas que seja intensa, 
verdadeira, 
pura enquanto durar. 
Feliz aquele que 
transfere o que sabe 
e aprende o que ensina."

Cora Coralina (1889/1985), pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, foi uma poetisa e contista brasileira. Considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras, ela teve seu primeiro livro publicado em junho de 1965, quando já tinha quase 76 anos de idade, apesar de escrever seus versos desde a adolescência.

domingo, 12 de maio de 2019

"Isto", poema de Fernando Pessoa

Fernando Pessoa, em 1929.   (Wikimedia Commons)
"Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está de pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!"

Assinado pelo próprio Fernando Pessoa - e não por nenhum dos seus heterônimos -, o poema "Isto", foi publicado na revista Presença em 1933, e é um metapoema, isto é, um poema que discorre sobre o seu próprio processo de criação.

Fernando António Nogueira Pessoa (1888/1935), foi um poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo, inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário e comentarista político português. Fernando Pessoa é o mais universal poeta português de todos os tempos.

sábado, 11 de maio de 2019

"VENDE-SE", por Olavo Bilac


"O dono de um pequeno comércio, amigo do grande poeta Olavo Bilac, abordou-o na rua:
- Sr. Bilac, estou precisando vender o meu sítio, que o Senhor tão bem conhece. Poderá redigir o anúncio para o jornal?

Olavo Bilac apanhou o papel e escreveu:
"Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeiro. A casa banhada pelo sol nascente oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda".

Meses depois, topa o poeta com o homem e pergunta-lhe se havia vendido o sítio.
- Nem pensei mais nisso, disse o homem. Quando li o anúncio é que percebi a maravilha que tinha.

Moral da história: Às vezes não descobrimos as coisas boas que temos conosco e vamos longe atrás da miragem de falsos tesouros. Valorize o que você tem, a pessoa que está ao seu lado, os amigos que estão perto de você, o emprego que Deus lhe deu, o conhecimento que você adquiriu, a sua saúde, o sorriso, enfim tudo aquilo que nosso Deus nos proporciona diariamente para o nosso crescimento espiritual."   (Autor Desconhecido)

sexta-feira, 10 de maio de 2019

"A Beleza de Ouvir", por Henri Nouwen

"Ouvir é muito mais do que permitir que outro fale enquanto espera por uma chance de responder… 

A beleza de ouvir é que, aqueles que são ouvidos começam a se sentir aceitos, começam a levar  suas palavras mais a sério e descobrir os seus próprios “eus” verdadeiros.

Escutar é uma forma de espiritual hospitalidade pelo qual você convida estranhos para se tornar amigos."

Henri Nouwen (1932/1996), foi um católico holandês, teólogo, padre e escritor, autor de 40 livros sobre vida espiritual. Trabalhou na Universidade de Harvard, na Universidade de Yale e no Seminário Teológico de Ontário, Canadá.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

Charles Bukowski: "O coração risonho"

"Sua vida é sua vida
Não deixe que ela seja esmagada na fria submissão.
Esteja atento.
Existem outros caminhos.
E em algum lugar, ainda existe luz.
Pode não ser muita luz, mas
ela vence a escuridão
Esteja atento.
Os deuses vão lhe oferecer oportunidades.
Reconheça-as.
Agarre-as.
Você não pode vencer a morte,
mas você pode vencer a morte durante a vida, às vezes.
E quanto mais você aprender a fazer isso,
mais luz vai existir.
Sua vida é sua vida.
Conheça-a enquanto ela ainda é sua.
Você é maravilhoso.
Os deuses esperam para se deliciar
em você."

Charles Bukowski (Henry Charles Bukowski Jr. 1920/1994), foi um poeta, contista e romancista norte americano, nascido na Alemanha. Sua obra, de caráter inicialmente obsceno e estilo totalmente coloquial, com descrições de trabalhos braçais, porres e relacionamentos baratos, fascinou gerações que buscavam uma obra com a qual pudessem se identificar. Compre os livros dele aqui...

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Carlos Drummond de Andrade: "No Meio do Caminho"

Talvez este seja o poema mais conhecido de Drummond de Andrade, isto por seu carácter singular e temática fora do comum. Publicado em 1928, na Revista da Antropofagia, "No Meio do Caminho" é uma das obras-primas de autoria do escritor brasileiro e expressa o espírito modernista que pretende aproximar a poesia do cotidiano.

"No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra."

Carlos Drummond de Andrade (1902/1987), foi um grande poeta, contista e cronista brasileiro, é considerado o mais influente poeta brasileiro do século XX.

terça-feira, 7 de maio de 2019

Carlos Drummond de Andrade: "E agora, José?"

José

"E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?"



Carlos Drummond de Andrade (1902/1987), foi um grande poeta, contista e cronista brasileiro, é considerado o mais influente poeta brasileiro do século XX.

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Einstein: "A prisão autocriada e a conquista da liberdade"

A. Einstein em 1947 (Foto: Orren Jack Turner) 
“O ser humano vivencia a si mesmo, seus pensamentos, como algo separado do resto do universo, numa espécie de ilusão de ótica de sua consciência. 

Essa ilusão pode ser considerada uma prisão, que nos restringe a nossos desejos pessoais, conceitos e ao afeto por pessoas mais próximas. 

Nossa principal tarefa é a de nos livrarmos dessa prisão, ampliando o nosso círculo de compaixão, para que ele abranja todos os seres vivos e toda a natureza em sua beleza.”

Albert Einstein (1879/1955), foi um célebre físico teórico alemão que desenvolveu a teoria da relatividade geral, um dos pilares da física moderna ao lado da mecânica quântica.

domingo, 5 de maio de 2019

Um Importante Estudo — aprender a suportar a solidão

"O isolamento e a solidão têm seus males, mas, apesar de não podermos senti-los de uma só vez, ao menos podemos investigá-los. A sociedade, pelo contrário, é insidiosa; oculta males imensos, às vezes irreparáveis, detrás de uma aparência de passatempos, de conversas, de entretenimentos sociais e outras coisas semelhantes. 

Um estudo importante para a juventude seria aprender a suportar a solidão, visto que é a fonte de felicidade e de paz de espírito."
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Fonte: Arthur Schopenhauer, in "Aforismos Para a Sabedoria de Vida", página 66 - Imagem: Obra de arte por Vincent Van Gogh: "Pintor na estrada para Tarascon" (agosto de 1888); a obra foi destruída pelo fogo durante um ataque aéreo americano ao Japão na 2ª Guerra Mundial. Na época a pintura fazia parte da coleção particular de Koyata Yamamoto.

sábado, 4 de maio de 2019

Nietzsche: "Remédio Para Pessimistas"


"Queixa-se de que nada lhe agrada?
Ainda aqueles caprichos, meu amigo?
Vendo-o praguejar, chorar, escarrar, 
Perco a paciência e a alegria.
Ouça meu conselho!
Decida-se um dia
A engolir um belo e gordo sapo
Rapidamente e sem olhar! —  A sua dispepsia ele vai curar!"
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Fonte: Friedrich Wilhelm Nietzsche, in "A Gaia Ciência" - poema 24, prelúdio - Imagem: Obra de arte por Pasquale Liotta Cristaldi (1850/1909)

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Rubem Alves: "As belezas do mundo"


"Nós não vemos o que vemos,
nós vemos o que somos.
Só vêem as belezas do mundo
aqueles que têm belezas dentro de si."

Rubem Alves (1933/2014), foi um psicanalista, educador, teólogo, escritor e pastor presbiteriano brasileiro. Foi autor de livros religiosos, educacionais, existenciais e infantis.
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Imagem: goodfreephotos.com - Por do sol no Backbone State Park, Iowa, USA (domínio público)

quinta-feira, 2 de maio de 2019

12 frases célebres sobre Mudar de Opinião



"Mude suas opiniões, mantenha seus princípios. Troque suas folhas, mantenha suas raízes." -Victor Hugo

"Mudar de opinião e seguir quem te corrige é também o comportamento do homem livre." -Marco Aurélio

"É dos sábios mudar de opinião." -Miguel de Cervantes

"Por vítimas de agressão, entendo aqueles que mudam de opinião pelo pesar ou pela dor. Por vítimas de doença, entendo aqueles que mudam de opinião seduzidos pelo prazer ou aterrorizados pelo medo." -Platão

"Eu não me envergonho de corrigir os meus erros e mudar de opinião, porque não me envergonho de raciocinar e aprender." -Alexandre Herculano

"Não há mal nenhum em mudar de opinião. Contanto que seja para melhor." -Winston Churchill

"Não me envergonho de mudar de opinião, porque não me envergonho de pensar." -Blaise Pascal

"Um homem que nunca muda de opinião, em vez de demonstrar a qualidade da sua opinião demonstra a pouca qualidade da sua mente." -Marcel Achard

"O mundo muda com o seu exemplo... não com a sua opinião..." - Paulo Coelho

"O sábio pode mudar de opinião. O idiota nunca." -Immanuel Kant

"Um homem nunca deve sentir vergonha de admitir que errou, o que é apenas dizer, noutros termos, que hoje ele é mais inteligente do que era ontem." -Alexander Pope

"A cobra que não pode soltar sua pele tem que morrer. Assim também as mentes impedidas de mudar suas opiniões; deixam de ser mentes." -Friedrich Nietzsche

quarta-feira, 1 de maio de 2019

Fernando Pessoa: "Autopsicografia"

Fernando Pessoa em 1914
"O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração."

Fernando António Nogueira Pessoa foi um poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo, inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário e comentarista político português. Fernando Pessoa é o mais universal poeta português.

O poema Autopsicografia é uma obra poética da autoria de Fernando Pessoa que revela a identidade de um poeta e aborda o processo de escrever poesia. Os versos, escritos em 1 de abril de 1931, foram publicados pela primeira vez na revista Presença número 36, lançada em Coimbra, em novembro de 1932. Autopsicografia é uma das poesias mais conhecidas de Fernando Pessoa, um dos maiores poetas da língua portuguesa.