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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

"O Velho e a Flor", por Vinicius de Moraes


"Por céus e mares eu andei,
Vi um poeta e vi um rei
Na esperança de saber
O que é o amor.

Ninguém sabia me dizer,
Eu já queria até morrer
Quando um velhinho
Com uma flor assim falou:

O amor é o carinho,
É o espinho que não se vê em cada flor.
É a vida quando
Chega sangrando aberta 
em pétalas de amor."



quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

"A Felicidade Possível", por Artur da Távola




"Só quem está disposto a perder tem o direito de ganhar. Só o maduro é capaz da renúncia. E só quem renuncia aceita provar o gosto da verdade, seja ela qual for. O que está sempre por trás dos nossos dramas, desencontros e trambolhões existenciais é a representação simbólica ou alegórica do impulso do ser humano para o amadurecimento.

A forma de amadurecer é viver. Viver é seguir impulsos até perceber, sentir, saber ou intuir a tendência de equilíbrio que está na raiz deles (impulsos). A pessoa é impelida para a aventura ou peripécia, como forma de se machucar para aprender, de cair para saber levantar-se e aprender a andar. É um determinismo biológico: para amadurecer há que viver (sofrer) as machucadelas da aventura e da peripécia existencial.

A solução de toda situação de impasse só se dá quando uma das partes aceita perder ou aceita renunciar (e perder ou renunciar não é igual, mas é muito parecido; é da mesma natureza). Sem haver quem aceite perder ou renunciar, jamais haverá o encontro com a verdade de cada relação. E muitas vezes a verdade de cada relação pode estar na impossibilidade, por mais atração que exista. Como pode estar na possibilidade conflitiva, o que é sempre difícil de aceitar.

Só a renúncia no tempo certo devolve as pessoas a elas mesmas e só assim elas amadurecem e se preparam para os verdadeiros encontros do amor, da vida e da morte. Só quem está disposto a perder consegue as vitórias legítimas.

Amadurecer acaba por se relacionar com a renúncia, não no sentido restrito da palavra (renúncia como abandono), porém no lato (renúncia da onipotência e das formas possessivas do viver).

Viver é renunciar porque viver é optar e optar é renunciar.

Renunciar à onipotência e às hipóteses de felicidade completa, plenitude, etc., é tudo o que se aprende na vida, mas até se descobrir que a vida se constrói aos poucos, sobre os erros, sobre as renúncias, trocando o sonho e as ilusões pela construção do possível e do necessário, o ser humano muito erra e se embaraça, esbarra, agride, é agredido.

Eis a felicidade possível: compreender que construir a vida é renunciar a pedaços da felicidade para não renunciar ao sonho da felicidade."

Artur da Távola, o pseudônimo de Paulo Alberto Artur da Tavola Moretzsonh Monteiro de Barros (1936/2008), foi um advogado, jornalista, radialista, escritor, professor e político brasileiro.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

17 frases sobre descoberta

PxHere

"Tudo quanto nós próprios descobrimos ou voltamos a descobrir são verdades vivas; a tradição convida-nos a aceitar somente os cadáveres da verdade." -André Gide

"Temos de nos contentar em descobrir, abstendo-nos de explicar." -Georges Braque

"Supor é bom - descobrir é melhor." -Mark Twain

"Só um sentido de invenção e uma necessidade intensa de criar levam o homem a revoltar-se, a descobrir e a descobrir-se com lucidez." -Pablo Picasso

"Se fiz descobertas valiosas, foi mais por ter paciência do que qualquer outro talento." -Isaac Newton

"Por mais descobertas que se tenham feito nos domínios do amor-próprio, ainda ficarão muitas terras por descobrir." -François de La Rochefoucauld

"Perder tempo em aprender coisas que não interessam, priva-nos de descobrir coisas interessantes." -Carlos Drummond de Andrade

"Para se descobrir novas terras, deve-se estar disposto a perder a terra de vista por um longo tempo." -André Gide

"O descobrimento é o primeiro passo na evolução de um homem ou de uma nação." -Oscar Wilde

"Nós geralmente descobrimos o que fazer percebendo aquilo que não devemos fazer. E provavelmente aquele que nunca cometeu um erro nunca fez uma descoberta." -Samuel Smiles

"Nenhuma grande descoberta foi feita jamais sem um palpite ousado." -Isaac Newton

"Grandes descobertas e progressos invariavelmente envolvem a cooperação de várias mentes." -Alexander Graham Bell

"As descobertas já conseguidas se devem ao acaso e à experiência vulgar mais do que à ciência." -Francis Bacon

"A verdadeira viagem da descoberta consiste não em buscar novas paisagens, mas em ter olhos novos." -Marcel Proust

"A primeira coisa que um bom cientista faz quando está diante de uma descoberta importante e tentar provar que ela esta errada." -Albert Camus

"A descoberta consiste em ver o que todo mundo viu e pensar o que ninguém pensou." -Jonathan Swift

"O que é uma erva daninha? Uma planta cujas virtudes ainda esperam para ser descobertas." -Ralph Waldo Emerson

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Buda: "Em quê acreditar?"




"Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente porque está escrito em seus livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração. Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que conduz ao bem e beneficio de todos, aceite-o e viva-o."                          ~Buda

Siddhartha Gautama
"Somos moldados por nossos pensamentos; nós nos tornamos aquilo que pensamos. Quando a mente é pura, a alegria segue como uma sombra que nunca vai embora."

Siddhartha Gautama, popularmente chamado simplesmente de Buda, foi um príncipe de uma região no sul do atual Nepal que, tendo renunciado ao trono, se dedicou à busca da erradicação das causas do sofrimento humano e de todos os seres, e desta forma encontrou um caminho até ao "despertar" ou "iluminação".

domingo, 24 de fevereiro de 2019

"Soneto do Amigo", por Vinicius de Moraes

"Enfim, depois de tanto erro passado 
Tantas retaliações, tanto perigo 
Eis que ressurge noutro o velho amigo 
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado 
Com olhos que contêm o olhar antigo 
Sempre comigo um pouco atribulado 
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano 
Sabendo se mover e comover 
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica..."


Vinicius de Moraes

Marcus Vinicius de Moraes (1913/1980), foi um poeta, dramaturgo, jornalista, diplomata, cantor e compositor brasileiro. Poeta essencialmente lírico, o que lhe renderia o apelido "poetinha", que lhe teria atribuído Tom Jobim, notabilizou-se pelos seus sonetos. 



sábado, 23 de fevereiro de 2019

Enquanto houver a filosofia de uma raça superior...




"Enquanto a filosofia que declara uma raça superior e outra inferior não for finalmente e permanentemente desacreditada e abandonada; enquanto não deixarem de existir cidadãos de primeira e segunda categoria de qualquer nação; enquanto a cor da pele de uma pessoa for mais importante que a cor dos seus olhos; enquanto não forem garantidos a todos por igual os direitos humanos básicos, sem olhar a raças, até esse dia, os sonhos de paz duradoura, cidadania mundial e governo de uma moral internacional irão continuar a ser uma ilusão fugaz, a ser perseguida, mas nunca alcançada."


Haile Selassie (c.1965)
Haile Selassie, ou Hailé Selassié - batizado como Tafari Makonnen e posteriormente chamado por Rás Tafari - foi regente da Etiópia de 1916 a 1930 e imperador de 1930 a 1974, Grã-Cruz das ordens GCTE e GCBTO, herdeiro de uma dinastia cujas origens remontam ao século XIII e, ao Rei Salomão e à Rainha de Sabá. É considerado um símbolo religioso, o Deus encarnado, entre os adeptos do movimento rastafári, que contava com cerca de seiscentos mil a oitocentos mil adeptos (praticantes) a nível mundial (2005).

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Fernando Pessoa: "Escrever"




pxhere

"Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. 

Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso."
Fernando Pessoa

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Martha Medeiros: "A dor é inevitável. O sofrimento é opcional"

Martha Medeiros (20 de agosto de 1961)
Jornalista, escritora, aforista e poetisa
"Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. 

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. 

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. 

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. 

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar. 

Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. 

A dor é inevitável. O sofrimento é opcional..."
Martha Medeiros
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Fonte: "Definitivo", poema de Martha Medeiros - https://www.escritas.org/ (reprodução) - Imagem: Martha Medeiros/Divulgação

       

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Augusto Cury: "Viver e Ser Feliz"




"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar autor da própria história.

É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.

É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.

Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um “não”. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta."
Augusto Cury

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas




"Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.

Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.

Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado."
Rubem Alves

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Textos Judaicos: "O Amor é Mais Forte"




Pixino

"Um rabino Judeu (1525-1609) costuma dizer que no mundo foram criadas dez coisas fortes.  

A montanha é forte, mais o ferro pode derrubá-la. 
O ferro é forte, mas o fogo pode derretê-lo. 
O fogo é forte, mas a água pode apagá-lo. 
A água é forte, mas a nuvem pode levá-la. 
As nuvens são fortes, mas o vento as arrasta. 
O vento é forte, mas o corpo humano resiste. 
O corpo humano é forte, mas o medo pode fazê-lo tremer. 
O medo é forte mas o vinho expulsa-o. 
O vinho é forte, mas o sono vence-o. 
A morte é mais forte que todas estas coisas.  

Mas o AMOR, apenas o AMOR,  vence a morte e nos liberta dela. Quem ama já passou da morte para a vida, Vida plena e abundante."
Textos Judaicos

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Fábula: "O Leão e o Rato", de Jean de La Fontaine


"Certo dia, estava um Leão a dormir a sesta quando um ratinho começou a correr por cima dele. O Leão acordou, pôs-lhe a pata em cima, abriu a bocarra e preparou-se para o engolir.

- Perdoa-me! - gritou o ratinho - Perdoa-me desta vez e eu nunca o esquecerei. Quem sabe se um dia não precisarás de mim?

O Leão ficou tão divertido com esta ideia que levantou a pata e o deixou partir.

Dias depois o Leão caiu numa armadilha. Como os caçadores o queriam oferecer vivo ao Rei, amarraram-no a uma árvore e partiram à procura de um meio para o transportarem.

Nisto, apareceu o ratinho. Vendo a triste situação em que o Leão se encontrava, roeu as cordas que o prendiam.

E foi assim que um ratinho pequenino salvou o Rei dos Animais."

Moral da história: Não devemos subestimar os outros

- Gravura de Gustave Doré - detalhe - (1876)

sábado, 16 de fevereiro de 2019

Contos Árabes: "A Arte de Comunicar-se"




Max Pixel

"Um dos grandes desafios da humanidade é aprender a arte de comunicar-se. Da comunicação depende, muitas vezes, a felicidade ou a desgraça, a paz ou a guerra.

Que a verdade deve ser dita em qualquer situação, não resta dúvida. Mas a forma com que ela é comunicada é que tem provocado, em alguns casos, grandes problemas. A verdade pode ser comparada a uma pedra preciosa. Se a lançarmos no rosto de alguém pode ferir, provocando dor e revolta. Mas se a envolvemos em delicada embalagem e a oferecemos com ternura, certamente será aceita com facilidade."
Contos árabes

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Nietzsche: "O Intelecto"




"Em algum remoto rincão do universo cintilante que se derrama em um sem-número de sistemas solares, havia uma vez um astro, em que animais inteligentes inventaram o conhecimento.

Foi o minuto mais soberbo e mais mentiroso da "história universal": mas também foi somente um minuto. 

Passados poucos fôlegos da natureza congelou-se o astro, e os animais inteligentes tiveram de morrer. — Assim poderia alguém inventar uma fábula e nem por isso teria ilustrado suficientemente quão lamentável, quão fantasmagórico e fugaz, quão sem finalidade e gratuito fica o intelecto humano dentro da natureza. 

Houve eternidades, em que ele não estava; quando de novo ele tiver passado, nada terá acontecido. Pois não há para aquele intelecto nenhuma missão mais vasta, que conduzisse além da vida humana. Ao contrário, ele é humano, e somente seu possuidor e genitor o toma tão pateticamente, como se os gonzos do mundo girassem nele. Mas se pudéssemos entender-nos com a mosca, perceberíamos que também ela bóia no ar com esse páthos e sente em si o centro voante deste mundo. 

Não há nada tão desprezível e mesquinho na natureza que, com um pequeno sopro daquela força do conhecimento, não transbordasse logo como um odre; e como todo transportador de carga quer ter seu admirador, mesmo o mais orgulhoso dos homens, o filósofo, pensa ver por todos os lados os olhos do universo telescopicamente em mira sobre o seu agir e pensar.  

É notável que o intelecto seja capaz disso, justamente ele, que foi concedido apenas como meio auxiliar aos mais infelizes, delicados e perecíveis dos seres, para firmá-lo um minuto na existência, da qual, sem essa concessão, eles teriam toda razão para fugir tão rapidamente quanto o filho de Lessing. 

Aquela altivez associada ao conhecer e sentir, nuvem de cegueira pousada sobre olhos e sentidos dos homens, engana-os, pois, sobre o valor da existência ao trazer em si a mais lisonjeira das estimativas de valor sobre o próprio conhecer. Seu efeito mais geral é engano mas mesmo os efeitos mais particulares trazem em si algo do mesmo caráter. (...)"
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Fonte: Friedrich Wilhelm Nietzsche, em "Sobre a Verdade e a Mentira no Sentido Extra-moral". Editora Nova Cultural, 1° e 2º parágrafos - Imagem: PublicDomainPictures/Pixabay (CC0)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Nietzsche: "Subir Sem Tensão e Descer, sem Rebaixar-se"




Max Pixel

"O que vivemos em sonhos quando estes se repetem periodicamente, acaba por tomar parte do curso geral de nossa alma, com a mesma razão que as coisas "realmente vividas". 

Suponhamos que um indivíduo tenha sonhado repetidas vezes que voava e que tenha acabado por acreditar que pode e sabe voar. Este indivíduo que conhece a sensação de certa leveza divina, que acredita que pode "subir" sem esforço nem tensão, "descer" sem rebaixar-se, como não haveria de dar à palavra "felicidade" uma cor e significação distinta? Como não haveria de desejar de outro modo a felicidade? 

Comparando este "vôo" ao "impulso" de que falam os poetas, este último nos parecerá demasiado terrestre, demasiado influenciado pela vontade e muito "pesado". O sonho pode ser uma fonte de riqueza ou de pobreza, segundo nos traga ou arranque uma felicidade. Em pleno dia, inclusive nos momentos mais lúcidos em que nosso espírito está mais desperto, é quando nos sentimos mais dominados por nossos sonhos."
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Fonte: Friedrich Wilhelm Nietzsche, em "Além do Bem e do Mal" - aforismo 193 - Imagem: Max Pixel (CC0)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Nietzsche: "Pessoas Habituadas à Serenidade da Solidão"




"Existem pessoas tão habituadas a estar só consigo mesmas, que não se comparam absolutamente com outras, mas, com disposição alegre e serena, em boas conversas consigo e até mesmo sorrisos, continuam tecendo sua vida-monólogo. Se as levamos a se comparar com outras, tendem a uma cismadora subestimação de si mesmas: de modo que devem ser obrigadas a reaprender com os outros uma opinião boa e justa sobre si: e também dessa opinião aprendida quererão deduzir e rebaixar alguma coisa. — Portanto, devemos conceder a certos indivíduos a sua solidão e não ser tolos a ponto de lastimá-los, como freqüentemente sucede."
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Fonte: Friedrich Wilhelm Nietzsche, em "Humano, Demasiado Humano", aforismo 625 - Imagem: "Solo Park Old Sitting In The Park Reader Old"/Max Pixel (CC0)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Schopenhauer: "A Felicidade é Inconcebível Neste Mundo"





"Num mundo como este, onde nada é estável e nada perdura, mas é arremessado em um incansável turbilhão de mudanças, onde tudo se apressa, voa, e mantém-se em equilíbrio avançando e movendo-se continuamente, como um acrobata em uma corda — em tal mundo, a felicidade é inconcebível. 

Como poderia haver onde, como Platão diz, tornar-se continuamente e nunca ser é a única forma de existência? 

Primeiramente, nenhum homem é feliz; luta sua vida toda em busca de uma felicidade imaginária, a qual raramente alcança, e, quando alcança, é apenas para sua desilusão; e, via de regra, no fim, é um náufrago, chegando ao porto com mastros e velas faltando. Então dá no mesmo se foi feliz ou infeliz, pois sua vida nunca foi mais que um presente sempre passageiro, que agora já acabou."
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Fonte: Arthur Schopenhauer, in "O Vazio da Existência". Editora Martins Fontes, pág. 02 - Imagem: Obra de Christian Edler

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Ricardo Boechat morre em acidente de helicóptero





O jornalista Ricardo Boechat, de 66 anos, morreu na queda de um helicóptero no início da tarde de hoje (11) em um dos acessos da Rodovia Anhanguera, que liga a capital paulista, ao interior. Segundo o Corpo de Bombeiros, o piloto da aeronave também morreu carbonizado.

Ricardo Eugênio Boechat foi um jornalista, apresentador e radialista brasileiro. Já esteve presente nos principais jornais do país, como O Globo, O Dia, O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil. Foi também diretor de jornalismo na Band, trabalhou como âncora em diversos jornais do Grupo Bandeirantes de Comunicação.

O motorista de um caminhão atingido no acidente foi resgatado pelo serviço da concessionária que administra a via e não sofreu ferimentos.

Ganhador de três prêmios Esso, Boechat teve uma coluna semanal na revista ISTOÉ. Boechat é o recordista de vitórias no Prêmio Comunique-se – e o único a ganhar em três categorias diferentes (Âncora de Rádio, Colunista de Notícia e Âncora de TV). Em pesquisa do site Jornalistas & Cia em 2014, que listou cem profissionais do setor, Boechat foi eleito o jornalista mais admirado.

Filho de um diplomata brasileiro, nasceu na capital argentina, em 13 de julho de 1952, enquanto o pai estava a serviço do Ministério das Relações Exteriores. Morreu em 11 de fevereiro de 2019, vítima de um acidente de helicóptero na cidade de São Paulo.
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Fonte: com informações de Agência Brasil e Wikipédia - Imagem: Reprodução/Band TV

domingo, 10 de fevereiro de 2019

"Sobre os perigos da leitura", por Rubem Alves




"Nos tempos em que eu era professor da UNICAMP fui designado presidente da comissão encarregada da seleção dos candidatos ao doutoramento, o que é um sofrimento. Dizer “esse entra”, “esse não entra” é uma responsabilidade dolorida da qual não se sai sem sentimentos de culpa. Como, em vinte minutos de conversa, decidir sobre a vida de uma pessoa amedrontada? Mas não havia alternativas. Essa era a regra.

Os candidatos amontoavam-se no corredor  recordando o que haviam lido da imensa lista de livros cuja leitura era exigida. Aí tive uma idéia que julguei brilhante.

Combinei com os meus colegas que faríamos a todos os candidatos uma única pergunta, a mesma pergunta. Assim, quando o candidato entrava trêmulo e se esforçando por parecer confiante, eu lhe fazia a pergunta, a mais deliciosa de todas: “Fale-nos sobre aquilo que você gostaria de falar!” Pois é claro! Não nos interessávamos por aquilo que ele havia memorizado dos livros. Muitos idiotas têm boa memória. Interessávamos por aquilo que ele pensava.

Poderia falar sobre o que quisesse, desde que fosse aquilo sobre que gostaria de falar. Procurávamos as idéias que corriam no seu sangue!  Mas a reação dos candidatos não foi a esperada. Foi o oposto. Pânico. Foi como se esse campo, aquilo sobre que eles gostariam de falar, lhes fosse totalmente desconhecido, um vazio imenso. Papaguear os pensamentos dos outros, tudo bem. Para isso eles haviam sido treinados durante toda a sua carreira escolar, a partir da infância. Mas falar sobre os próprios pensamentos – ah! isso não lhes tinha sido ensinado.

Na verdade nunca lhes havia passado pela cabeça que alguém pudesse se interessar por aquilo que estavam pensando. Nunca lhes havia passado pela cabeça que os seus pensamentos pudessem ser importantes. Uma candidata teve um surto e começou a papaguear compulsivamente a teoria de um autor marxista. Acho que ela pensou que aquela pergunta não era para valer.

Não era possível que estivéssemos falando a sério. Deveria  ser uma dessas “pegadinhas” sádicas cujo objetivo e confundir o candidato. Por vias das dúvidas ela optou pelo caminho tradicional e tratou de demonstrar que ela havia lido a bibliografia. Aí eu a interrompi e lhe disse: “ Eu já li esse livro. Eu sei o que está escrito nele. E você está repetindo direitinho. Mas nós não queremos ouvir o que já sabemos. Queremos ouvir o que não sabemos. Queremos que você nos conte o que você está pensando, os pensamentos que a ocupam…” Ela não conseguiu. O excesso de leitura a havia feito esquecer e desaprender a arte de pensar.

Parece que esse processo de destruição do pensamento individual é uma consequência natural das nossas práticas educativas. Quanto mais se é obrigado a ler, menos se pensa. Schopenhauer tomou consciência disso e o disse de maneira muito simples em alguns textos sobre livros e leitura. O que se toma por óbvio e evidente é que o pensamento está diretamente ligado ao número de livros lidos. Tanto assim que se criaram técnicas de leitura dinâmica que permitem que se leia “Grande Sertão – Veredas” em pouco mais de três horas.

Ler dinamicamente, como se sabe, é essencial para se preparar para o vestibular e para fazer os clássicos “fichamentos” exigidos pelos professores. Schopenhauer pensa o contrário: “ É por isso que, no que se refere a nossas leituras, a arte de não ler é sumamente importante.” Isso contraria tudo o que se tem como verdadeiro e é preciso seguir o seu pensamento. Diz ele: “Quando lemos, outra pessoa pensa por nós: só repetimos o seu processo mental.”

Quanto a isso, não há dúvidas: se pensamos os nossos pensamentos enquanto lemos, na verdade não lemos. Nossa atenção não está no texto. Ele continua: “Durante a leitura nossa cabeça é apenas o campo de batalha de pensamentos alheios. Quando esses, finalmente, se retiram, o que resta? Daí se segue que aquele que lê muito e quase o diz inteiro … perde, paulatinamente, a capacidade de pensar por conta própria… Este, no entanto, é o caso de muitos eruditos: leram até ficar estúpidos. Porque a leitura contínua, retomada a todo instante, paralisa o espírito ainda mais que um trabalho manual contínuo…”

Nietzsche pensava o mesmo e chegou a afirmar que, nos seus dias, os eruditos só faziam uma coisa: passar as páginas dos livros. E com isso haviam perdido a capacidade de pensar por si mesmos. “Se não estão virando as páginas de um livro eles não conseguem pensar. Sempre que se dizem pensando eles estão, na realidade, simplesmente respondendo a um estímulo, – o pensamento que leram… Na verdade eles não pensam; eles reagem. (…) Vi isso com meus próprios olhos: pessoas bem dotadas que, aos trinta anos, haviam se arruinado de tanto ler. De manhã cedo, quando o dia nasce, quando tudo está nascendo – ler um livro é simplesmente algo depravado…”

E, no entanto, eu me daria por feliz se as nossas escolas ensinassem uma única coisa: o prazer de ler! Sobre isso falaremos…"
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Rubem Alves
Sobre o autor: Rubem Azevedo Alves (Boa Esperança, 15/09/1933 — Campinas, 19/07/2014) foi um psicanalista, educador, teólogo, escritor e pastor presbiteriano brasileiro. Foi autor de livros religiosos, educacionais, existenciais e infantis. É considerado um dos maiores pedagogos brasileiros de todos os tempos, um dos fundadores da Teologia da Libertação e intelectual polivalente nos debates sociais no Brasil. Foi professor da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

sábado, 9 de fevereiro de 2019

"A Raposa e o Pequeno Príncipe", por Antoine de Saint-Exupéry

A Raposa e o Pequeno Príncipe  "E foi então que apareceu a raposa.  - Bom dia - disse a raposa. - Bom dia - respondeu educadamente o pequeno príncipe, que , olhando a sua volta, nada viu. - Eu estou aqui - disse a voz, debaixo da macieira... - Quem és tu? - perguntou o principezinho. - Tu es bem bonita... - Sou uma raposa - disse a raposa. - Vem brincar comigo - propôs ele. - Estou tão triste... - Eu não posso brincar contigo - disse a raposa. - Não me cativaram ainda. - Ah! desculpa - disse o principezinho.  Mas após refletir, acrescentou:  - O que quer dizer "cativar"? - Tu não és daqui - disse a raposa. - Que procuras? - Procuro homens - disse o pequeno príncipe. - Que quer dizer "cativar"? - Os homens - disse a raposa - têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas? - Não - disse o príncipe. - Eu procuro amigos. - Que quer dizer "cativar"? - É algo quase sempre esquecido - disse a raposa. - Significa "criar laços"... - Criar laços? - Exatamente - disse a raposa. - Tu não és nada para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E Não tenho necessidade de ti. E tu também não tem necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. Eu serei para ti única no mundo... - Começo a compreender - disse o pequeno príncipe. - Existe uma flor... eu creio que ela me cativou... - É possível - disse a raposa. - Vê-se tanta coisa na Terra..."

"Le Petit Prince", também conhecido como "O Principezinho" (em Portugal) ou "O Pequeno Príncipe" (no Brasil), é uma obra do escritor, ilustrador e aviador francês Antoine de Saint-Exupéry, publicada em 1943 nos Estados Unidos. Se trata de uma das obras literárias mais traduzidas no mundo, tendo sido publicado em mais de 220 idiomas e dialetos. 


A Raposa e o Pequeno Príncipe

"E foi então que apareceu a raposa.

- Bom dia - disse a raposa.
- Bom dia - respondeu educadamente o pequeno príncipe, que , olhando a sua volta, nada viu.
- Eu estou aqui - disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? - perguntou o principezinho. - Tu es bem bonita...
- Sou uma raposa - disse a raposa.
- Vem brincar comigo - propôs ele. - Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo - disse a raposa. - Não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa - disse o principezinho.

Mas após refletir, acrescentou:

- O que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui - disse a raposa. - Que procuras?
- Procuro homens - disse o pequeno príncipe. - Que quer dizer "cativar"?
- Os homens - disse a raposa - têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas?
- Não - disse o príncipe. - Eu procuro amigos. - Que quer dizer "cativar"?
- É algo quase sempre esquecido - disse a raposa. - Significa "criar laços"...
- Criar laços?
- Exatamente - disse a raposa. - Tu não és nada para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E Não tenho necessidade de ti. E tu também não tem necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. Eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender - disse o pequeno príncipe. - Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
- É possível - disse a raposa. - Vê-se tanta coisa na Terra..."
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Fonte: Antoine de Saint-Exupéry, em "O Pequeno Príncipe" - Imagem: adesivolegal.com.br (reprodução)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Stonehenge – Inglaterra




Localizado no sul da Inglaterra, Stonehenge é um sítio arqueológico pré-histórico, que fica nas planícies de Salisbury, Wiltshire. O monumento intriga milhares de pessoas ao redor do mundo com seus mistérios ainda desconhecidos.

Loco Steve/Flickr

A maior parte dos historiadores que estudaram Stonehenge afirmam que o monumento era usado como uma calculadora de pedra, uma espécie de computador megalítico, com o objetivo de prever o nascimento do Sol e da Lua no solstício e no equinócio. Contudo, existem historiadores que não aceitam os argumentos e dados associados e apresentam outras explicações para a construção desse monumento.

Até hoje não se sabe ao certo quem, como e para que foram construídos esses objetos gigantes, pesados e alinhados de forma sistêmica, porém a região recebe em média 700 mil visitantes por ano.

Stonehenge é uma estrutura composta, formada por círculos concêntricos de pedras, que chegam a ter 5 metros de altura e a pesar quase 50 toneladas, onde se identificam três distintos períodos construtivos:

  • O chamado Período I (c. 3100 a.C.), quando o monumento não passava de uma simples vala circular com 97,54 m de diâmetro, dispondo de uma única entrada. Internamente, erguia-se um banco de pedras e um santuário de madeira. Cinquenta e seis furos externos ao seu perímetro continham restos humanos cremados. O círculo estava alinhado com o pôr do Sol do último dia do Inverno e com as fases Lua.
  • Durante o chamado Período II (c. 2150 a.C.), deu-se a realocação do santuário de madeira, a construção de dois círculos de pedras azuis (coloridas com um matiz azulado), o alargamento da entrada, a construção de uma avenida de entrada marcada por valas paralelas alinhadas com o Sol nascente do primeiro dia do verão, e a construção do círculo externo, com 35 pedras que pesavam toneladas. As altas pedras azuis, que pesam 4 t, foram transportadas das montanhas de Gales, a cerca de 24 km ao Norte.
  • No chamado Período III (c. 2075 a.C.), as pedras azuis foram derrubadas e as pedras de grandes dimensões (megálitos) - ainda no local - foram erguidas. Estas pedras, medindo em média 5,49 m de altura e pesando cerca de 25 t cada, foram transportadas do Norte por 19 km de carreiros. Entre 1500 a.C. e 1100 a.C., aproximadamente sessenta das pedras azuis foram restauradas e erguidas em um círculo interno, com outras dezenove, colocadas em forma ferradura, também dentro do círculo.

Estima-se que essas três fases da construção requereram mais de trinta milhões de horas de trabalho.
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Fonte: com informações da Wikipédia - Imagem: Stonehenge/Loco Steve/Flickr/Wikimedia Commons

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

"A Picada da Víbora", por Nietzsche, em "Assim Falou Zaratustra"

Sarleinsbach Pfarrkirche/Academy of Ideas

Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém (em alemão: Also sprach Zarathustra: Ein Buch für Alle und Keinen) é um livro escrito entre 1883 e 1885 pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche, que influenciou significativamente o mundo moderno. O livro narra as andanças e ensinamentos de um filósofo, que se autonomeou Zaratustra após a fundação do Zoroastrismo na antiga Pérsia. 

Para explorar muitas das ideias de Nietzsche, o livro usa uma forma poética e fictícia, frequentemente satirizando o Velho e Novo Testamento.

O centro de Zaratustra é a noção de que os seres humanos são uma forma transicional entre macacos e o que Nietzsche chamou de Übermensch, literalmente "além-do-homem", normalmente traduzido como "super-homem". O nome é um dos muitos trocadilhos no livro e se refere mais claramente à imagem do Sol vindo além do horizonte ao amanhecer como a simples noção de vitória.

Amplamente baseado em episódios, as histórias em Zaratustra podem ser lidas em qualquer ordem. Zaratustra contém a famosa frase Gott ist tot ("Deus está morto"), embora essa também tenha aparecido anteriormente no livro Die fröhliche Wissenschaft (A Gaia Ciência) de Nietszche, e antes ainda em diversas obras de Georg Hegel.

A Picada da Víbora

"Um dia, estava Zaratustra a dormitar sob uma figueira, porque fazia calor, e tinha tapado o rosto com o braço. Nisto chegou uma víbora, mordeu-lhe o pescoço, e ele soltou um grito de dor. Afastando o braço do rosto, olhou a serpente; ela reconheceu os olhos de Zaratustra, contorceu-se vagarosamente e quis se retirar. 

“Não — disse Zaratustra: — espera, ainda não te agradeci! Despertaste-me a tempo, pois o meu caminho ainda é longo”.

— “O teu caminho é curto — disse tristemente a víbora: — o meu veneno mata”. Zaratustra pôs-se a rir. “Quando foi que o veneno de uma serpente matou um dragão? — disse — reabsorve o teu veneno! Não és rica demais para me fazeres presente dele”. Então a víbora tornou a enlaçar-lhe o pescoço e lambeu-lhe a ferida.

Quando um dia Zaratustra contou isto aos seus discípulos, eles perguntaram-lhe: “E qual é a moral do teu conto?” Zaratustra respondeu:

“Os bons e os justos chamam-me o destruidor da moral: o meu conto é imoral. Se tendes, porém, um inimigo, não lhe devolvais bem por mal porque se sentiria humilhado; demonstrai-lhe, pelo contrário, que vos fez um bem. E a ter que humilhar preferi encolerizar-vos. E quando se vos amaldiçoe, não me agrada que vós abençoeis. Amaldiçoai também. E se vos fizeram uma grande injustiça, fazei vós imediatamente cinco injustiças pequenas. 

Horroriza ver o que por si só sofre o peso da injustiça. Já sabeis isto? Injustiça repartida é semi-direito. E aquele que pode trazer a injustiça deve levá-la.

Uma pequena vingança é mais humana do que nenhuma. E se o castigo não é somente um direito e uma honra para o transgressor, eu não quero o vosso castigo. É mais nobre condenarmos do que teimar, mormente quando temos razão. Somente é preciso ser rico bastante para isso.

Não me agrada a vossa fria injustiça: nos olhos dos vossos juizes transparece sempre o olhar do verdugo e seu gelado cutelo. Dizei-me: onde se encontra a justiça que é amor com olhos perspicazes?

Inventai-me, pois, o amor que suporta, não só todos os castigos, mas também todas as faltas. Inventai-me a justiça que absolve todos, exceto aquele que julga!

Quereis ouvir mais? No que quer ser verdadeiramente justo, a mentira muda-se em filantropia. Mas, como poderia eu ser verdadeiramente justo? Como poderia dar a cada um o seu? Basta-me isto: eu dou a cada um o meu.

Enfim, irmãos livrai-vos de ser injustos com os solitários. Como poderia um solitário esquecer? Como poderia devolver? Um solitário é como um poço profundo. É fácil lançar nele uma pedra; mas se a pedra vai ao fundo quem se atreverá a tirá-la? Livrai-vos de ofender o solitário; mas se o ofendestes então, matai-o também!


Assim falava Zaratustra."

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Conceitos básicos da filosofia




Filosofia/Napoleon Vier/GNU
Ética: (nome dado ao ramo da filosofia dedicado aos assuntos morais) A palavra é de origem grega, e significa aquilo que pertence ao caráter. Ética é um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana.

Moral: (do latim morales) É o conjunto de regras adquiridas através da cultura, da educação, da tradição e do cotidiano, e que orientam o comportamento humano dentro da sociedade.

Amoral: é a pessoa que não tem senso do que seja moral.

Imoral: é tudo aquilo que é contrário a moral. O ato imoral está ligado a libertinagem e obscenidade.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

"A Astrologia é Deplorável", por Arthur Schopenhauer





"Uma prova grandiosa da subjetividade deplorável dos homens, em decorrência da qual eles referem tudo a si mesmos e de todo pensamento retrocedem imediata e diretamente a si, nos é fornecida pela astrologia, que relaciona o curso dos grandes corpos celestes ao indivíduo mesquinho, bem como os cometas no céu às querelas e trapaças terrenas."
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Fonte: Arthur Schopenhauer, in "A Arte de Insultar" - Imagem: Wellcome Library, London/Wikimedia Commons