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domingo, 25 de agosto de 2019

Por quê alguns relógios mostram o 4 como "IIII" e não como "IV"?


Apesar de não existirem regras sobre o modo correto de representar o número 4 em relógios, podendo ser IIII ou IV, o conforto visual gerado pelo uso do IIII em relógios é evidente.

A verdade é que o número 4 era inicialmente escrito no antigo método da adição, em que a quantidade era representada pela soma de 1+1+1+1. Só mais tarde os romanos inventaram a grafia IV, em que a fórmula utiliza o algarismo que representa o 5 "V' como base para uma conta em que V – I = 4. 

Mesmo depois que a grafia IV assou a ser utilizada, no entanto, os relógios antigos continuaram sendo representados com o símbolo original "IIII" e, ainda hoje, na maioria dos relógios utiliza-se esse símbolo no lugar do "IV".

Motivo religioso

Diz a tradição que quando a forma IV passou a ser utilizada pelos romanos, por coincidência o número possuía uma grafia similar ao nome do deus Júpiter, escrito pelos antigos como "IVPITER". "IV" era a abreviação do nome do deus romano. Especialistas afirmam então, que os romanos preferiram usar o símbolo IIII no relógio, de forma que não desrespeitassem o deus Júpiter.

Por outro lado, afirma-se também que com o advento do cristianismo, a forma IV deixou de ser utilizada em relógios romanos cristãos, para que as iniciais de um deus pagão não estivessem presentes em relógios de igrejas cristãs.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Freud: "As origens do sofrimento e a possibilidade de ser feliz"

Freud em 1905 (Foto: Ludwig Grillich)
"É simplesmente o princípio do prazer que traça o programa do objetivo da vida. Este princípio domina a operação do aparelho mental desde o princípio; não pode haver dúvida quanto à sua eficiência, e no entanto o seu programa está em conflito com o mundo inteiro, tanto com o macrocosmo como com o microcosmo. 

Não pode simplesmente ser executado porque toda a constituição das coisas está contra ele; poderíamos dizer que a intenção de que o homem fosse feliz não estava incluída no esquema da Criação. 

Aquilo a que se chama felicidade no seu sentido mais restrito vem da satisfação — frequentemente instantânea — de necessidades reprimidas que atingiram uma grande intensidade, e que pela sua natureza só podem ser uma experiência transitória. 

Quando uma condição desejada pelo princípio do prazer é protelada, tem como resultado uma sensação de consolo moderado; somos constituídos de tal forma que conseguirmos ter prazer intenso em contrastes, e muito menos nos próprios estados intensos. As nossas possibilidades de felicidade são assim limitadas desde o princípio pela nossa formação. É muito mais fácil ser infeliz. 

O sofrimento tem três procedências: o nosso corpo, que está destinado à decadência e dissolução e nem sequer pode passar sem a ansiedade e a dor como sinais de perigo; o mundo externo, que se pode enfurecer contra nós com as mais poderosas e implacáveis forças de destruição; e, por fim, a relação com os outros seres humanos. A infelicidade que esta última origina é talvez a mais dolorosa de todas; temos tendência para a considerar mais ou menos um suplemento gratuito, embora não possa ser uma fatalidade menos inevitável do que o sofrimento que provém das outras fontes. 

Não é de admirar que, debaixo da pressão destas possibilidades de sofrimento, a humanidade esteja habituada a reduzir as suas exigências de felicidade, nem que o próprio princípio do prazer se modifique para um princípio da realidade mais acomodado sob a influência do ambiente externo.

Se um homem se julga feliz, fugiu simplesmente à infelicidade ou a dificuldades. Em geral, a tarefa de evitar o sofrimento atira para segundo plano a de obter a felicidade. A reflexão mostra que há várias formas de tentar cumprir esta tarefa; e todas estas formas foram recomendadas por várias escolas de sabedoria na arte da vida e posta em prática pelas pessoas. 

A satisfação desenfreada de todos os desejos impõe-se em primeiro plano como o mais atrativo princípio orientador da vida, mas implica preferir o gozo à prudência e penaliza-se depois de uma curta satisfação.

Os outros métodos, nos quais o evitar do sofrimento é o principal motivo, distinguem-se segundo a fonte de sofrimento contra a qual estão dirigidos. Algumas destas medidas são extremas e outras moderadas, algumas são unilaterais e outras tratam vários aspectos do assunto ao mesmo tempo.

A solidão voluntária, o isolamento dos outros, é a salvaguarda mais rápida contra a infelicidade que possa surgir das relações humanas. Sabemos o que isto significa: a felicidade encontrada neste caminho é a da paz. Podemos defender-nos contra o temido mundo externo, voltando-nos simplesmente para uma outra direção, se a dificuldade tiver que ser resolvida sem ajuda.

Há na realidade um outro caminho melhor: o de cooperar com o resto da humanidade e aceitar o ataque à natureza, forçando-a a obedecer à vontade humana. Trabalha-se então com todos para o bem de todos."

Sigmund Freud (1856/1939), em "A Civilização e os seus Descontentamentos"

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

A Argumentação Cética

"- A diferença entre seres vivos no que diz respeito ao prazer e à dor, ao dano e à utilidade é o primeiro argumento do qual se deduz que nenhum ser recebe as mesmas impressões dos mesmos sujeitos.

Toda espécie animal percebe o mundo com base nos tipos de órgãos dos sentidos que dispõe.

- O segundo tipo de argumento contra a verdade realça a subjetividade humana; O útil individual é sempre subjetivo. 

Os mesmos objetos dão origem a percepções muito diferentes, daí que nada de seguro pode ser dito sobre eles.

- A diversidade das impressões é condicionada pela diversa condição das disposições individuais; Um buquê de flores causa impressões diferentes numa garota apaixonada ou em uma recém viúva.

- Nem mesmo a condição dos loucos é contrária à natureza; por que a loucura deveria dizer respeito mais a eles do que a nós?

- A grande diversidade entre as leis e os costumes dos povos sugere a inexistência de valores universais.

- Cada povo acredita nos seus deuses e há quem acredite na providência e quem não acredite. Os egipcios embalsamam os seus mortos antes de sepultá-los, os romanos os cremam, e os peônios os jogam ao pântano.

- Mesmo noções aparentemente objetivas, como o peso, demonstram-se relativas; Uma pedra erguida no ar por duas pessoas desloca-se facilmente na água, seja por que, sendo pesada, torna-se mais leve pela água, seja por que, sendo leve, se torna mais pesada pelo ar.

- As percepções são sempre determinadas por um particular ponto de vista; O sol por causa da distância aparece pequeno, as montanhas vistas de longe, aparecem envoltas no ar e lisas, de perto, aparecem ásperas e cheias de fendas.

A forma dos objetos é sempre condicionada, seja pelo ponto especifico a partir do qual o observamos seja pela posição que ocupa no espaço.

- A natureza de muitas coisas varia com a quantidade; O vinho pode ser benéfico ou maléfico, depende do quanto se bebe.

- O hábito condiciona os juízos; Os terremotos não provocam espantos naqueles junto aos quais ocorrem continuamente.

- O conhecimento utiliza conceitos relativos; O que se encontra à direita não está à direita por natureza, mas é entendido como tal, tendo em vista a posição que ocupa em relação a um outro objeto, mudada a posição, não está mais à direita. Pai e irmão são termos relativos. Esses termos e conceitos relativos, considerados em si e para si, não são cognoscíveis.

Sendo assim, devemos sempre suspender nossos juízos (epoché) sobre a verdade e acreditar na impossibilidade de chegar a um juízo inopinável, universal e indiscutível."
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Fonte: Blog "Fragmentos de Filosofia", por Giuliano Cézar - Imagem: Estátua de um filósofo Cínico desconhecido, nos Museus Capitolinos, em Roma. Cópia da era romana de uma estátua grega anterior, do século 3 a.C. (Escultura S 737)

domingo, 11 de agosto de 2019

21 frases de B. F. Skinner

"Você não pode impor felicidade. Você não pode em última instância, impor coisa alguma. Nós não usamos a força! Tudo que precisamos é engenharia comportamental adequada."

Um pássaro não canta por estar feliz, ele está feliz porque canta.

“Ciência é a disposição para aceitar fatos, mesmo quando eles se opõe aos desejos” 

A singularidade do indivíduo é incontestável na visão científica.

“Analisar cientificamente a cultura permite-nos não apenas entender o seu efeito, permite também alterar o planejamento cultural”  

“Os principais problemas enfrentados hoje pelo do mundo só poderão ser resolvidos se melhorarmos nossa compreensão do comportamento humano” 

“O que é o Amor se não outro nome para reforçamento positivo?”  

“Os homens agem sobre o mundo, modificam-no, e são modificados pelas consequências de suas ações. Certos processos, e que o organismo humano compartilha com outras espécies alteram o comportamento de tal forma que ele obtém um intercâmbio mais seguro e mais útil com um ambiente particular. Quando o comportamento apropriado tem sido estabelecido, suas consequências trabalham por meio de processos similares, aumentando sua força. Se por acaso o ambiente se modifica, velhas formas de comportamento desaparecem, enquanto novas consequências constroem novas formas” 

“Um ambiente físico e cultural diferente fará um homem diferente e mais consciente” 

“A educação é aquilo que sobrevive depois que tudo o que aprendemos foi esquecido"

“Os homens são felizes em um meio ambiente no qual o comportamento ativo, produtivo, e criativo é reforçado de forma efetiva” 

“Seja inato ou adquirido, o comportamento é selecionado por suas consequências” 

“O condicionamento operante modela o comportamento como o escultor modela a argila” 

“Quando nosso comportamento é reforçado positivamente, nós dizemos que gostamos do que estamos fazendo; dizemos que estamos felizes” 

“O auto-conhecimento tem um valor especial para o próprio indivíduo. Uma pessoa que se tornou consciente de si mesma, por meio de perguntas que lhe foram feitas, está em melhor posição de prever e controlar seu próprio comportamento”  

“Ensinar é simplesmente o arranjo de contingências de reforçamento”  

“O importante sobre a uma cultura, assim definida, é que ela evolui. Uma prática surge como uma mutação, afeta as probabilidades de o grupo vir a solucionar seus problemas; e, se o grupo sobreviver, a prática sobreviverá com ele” 

“Poderíamos solucionar muitos dos problemas de delinquência e criminalidade, se pudéssemos mudar o meio em que foram criados os transgressores” 

Não considere nenhuma prática como imutável. Mude e esteja pronto a mudar novamente. Não aceite verdade eterna. Experimente” 

"Não há nenhuma razão para que não se possa ensinar um homem a pensar."

"O enfoque mais simples e satisfatório é que pensamento é simplesmente comportamento verbal ou não verbal, público ou privado."

Burrhus Frederic Skinner (1904/1990), comumente conhecido como B. F. Skinner, foi um psicólogo behaviorista, inventor e filósofo americano. Ele foi o professor de psicologia Edgar Pierce na Universidade de Harvard de 1958 até sua aposentadoria, em 1974.

A base do trabalho de Skinner refere-se a compreensão do comportamento humano através do comportamento operante.
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Fonte: Com informações de Wikipédia e coletânea de frases disponibilizadas na web - Imagem: B. F. Skinner/Wikimedia Commons

sábado, 3 de agosto de 2019

23 poemas de Angelus Silesius

"Deus é puro Nada, para além do agora e do aqui. / Quando menos O procurares, mais Ele aparecerá."

"Nenhum caminho leva à Luz em que Deus vive; / Terá de se tornar essa Luz quem não quiser que dele Deus se esconda." (I.072:JB&CF)

"Nada pode nunca em Deus ser conhecido: um e um apenas, / eis o que Ele é. Para O conhecer, o Conhecedor e o Conhecido têm também de ser um." (I.285:CF)

"Se algo és para ti próprio, se algo amas e queres, / Se algo sabes e tens, continuas a transportar a tua carga." (I.024:CF).

"Sem nada querer nem nada buscar, Deus é paz eterna: / se como ele não desejares nada, será igual à dele a tua paz." (I.076:CF)

"Quem se tornar deus deve ser diferente de tudo o resto. / Deve livrar-se se si próprio, libertar-se de toda a queixa." (I.084:JB).

"Quem for como se não fosse, nem tivesse chegado a ser, / tornou-se — ó Felicidade!—pura divindade." (I.092:CF).

"Quanto mais de ti de ti próprio conseguires verter e deitar fora / tanto mais, cada vez mais, Deus fluirá em ti com a sua mente divina." (I.138:CF).

"Pudesse o Diabo abandonar o seu ser-ele, e logo / o Diabo verias sentado no trono de Deus." (I.143:CF).

"Oramos: seja feita a Tua vontade. / Mas vede: Deus não tem vontade, ele é apenas imutável quietude." (I.294:JB&CF).

"Liberta-te de ti próprio, liberta-te de toda a criação. / Deus enxertará então em ti a sua natureza divina." (II.057:CF).

"O nada leva-te além de ti próprio / tão seguramente como a anulação de ti: / Quanto mais te conseguires anular / mais há em ti de divindade." (II.140:CF).

"Deus, cujo maior prazer é viver contigo, prefere vir / a tua casa quando tu lá não estás." (V.033:CF).

"Se Deus procuras, Homem, deves / perder primeiro a identidade de ti próprio, / e nem nunca voltar a encontrar de novo o rasto do teu Eu em toda a eternidade." (V.220:CF).

"O abandono leva a Deus: / Mas o supremo abandono, / que poucos há que compreendam, / é abandoná-lo a Ele também." (II.092: CF)

"Difícil tarefa, a de viver o amor; não devemos / amar apenas, mas sim tornarmo-nos amor, como Deus é." (I.071:JB)

"Deus não está aqui nem está ali. Ao procurá-Lo /, que tenhas presas as mãos e os pés, presa a alma e preso o corpo." (I.171:JB&CF)

"Vai onde não podes ir, vê onde nada se pode ver, / Ouve onde não há som que se oiça: estarás onde Deus fala." (I.199:JB&CF)

"Deus é, mas só como Ele é. Não ama nem vive / como tu ou como eu ou como do mundo os outros seres." (II.055:JB&&CF)

"Sai tu — e entrará Deus; morre para ti próprio – começaste assim / A viver para Deus; Não sejas – Ele é; Não faças nada – e estará assim feito o que ele manda." (II.136:CF)

"Deus não prevê nada – é o teu senso frouxo e atarantado / Que o veste com o atributo da Providência." (V.92:CF)

"Deus não pensa. Pensasse Ele / e poderia hesitar, o que é, para Ele, impensável." (V.173:JB&CF)

"Deus – uma força eterna que alcança tudo o que quer, / Nunca deixando de ser como é: sem forma, sem propósito, sem vontade." (5.358:JB&CF)

Angelus Silesius
Angelus Silesius (Wrocław, 25 de dezembro de 1624 – Wrocław, 9 de julho de 1677), nascido Johann Hofmann Scheffler e também conhecido como Johann Angelus Silesius, foi um padre e médico católico alemão, conhecido como poeta místico e religioso.