"O pessimismo é uma teoria bem consoladora para os que sofrem, porque desindividualiza o sofrimento, alarga-o até o tornar uma lei universal, a lei própria da vida; portanto lhe tira o caráter pungente de uma injustiça especial, cometida contra o sofredor por um destino inimigo e facioso!
Realmente o nosso mal sobretudo nos amarga quando contemplamos ou imaginamos o bem do nosso vizinho - porque nos sentimos escolhidos e destacados para a infelicidade, podendo, como ele, ter nascido para a fortuna.
Quem se queixaria de ser coxo - se toda a humanidade coxeasse? E quais não seriam os urros, e a furiosa revolta do homem envolto na neve e friagem e borrasca de um inverno especial, organizado nos céus para o envolver a ele unicamente - enquanto em redor toda a humanidade se movesse na benignidade de uma primavera? (...)
O pessimismo é excelente para os inertes, porque lhes atenua o desgracioso delito da inércia."
Eça de Queiroz, in 'A Cidade e as Serras' (1892)
Eça de Queiroz |
José Maria de Eça de Queiroz (1845/1900) foi um escritor e diplomata português. É considerado um dos mais importantes escritores portugueses da história. Foi autor de romances de reconhecida importância, de Os Maias e O Crime do Padre Amaro; o primeiro é considerado por muitos o melhor romance realista português do século XIX.
Como observador da sua sociedade, Eça recriou nas suas obras as diferentes linguagens das diferentes classes sociais da sua época.
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