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sábado, 30 de junho de 2018

Super-curativo, da proteína do abacaxi, é desenvolvido no Brasil




Curativo com alto poder cicatrizante é feito da proteína do abacaxi

Pesquisadores agregam efeitos anti-inflamatórios da bromelina à nanocelulose bacteriana em produto que potencializa cicatrização de ferimentos, queimaduras e até de feridas ulcerativas

Maria Fernanda Ziegler  |  Agência FAPESP – Os efeitos anti-inflamatórios de uma proteína encontrada no abacaxi foram somados à nanocelulose bacteriana. O resultado é a criação de um curativo – na forma de emplastro ou gel – que pode ser usado para a cicatrização de ferimentos, queimaduras e até de feridas ulcerativas.

A novidade vem de um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Sorocaba (Uniso) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O trabalho, apoiado pela FAPESP, teve resultados publicados na Scientific Reports, do grupo Nature.

Em testes feitos em laboratório, membranas de nanocelulose bacteriana foram submersas por 24 horas em solução de bromelina, a proteína do abacaxi. O resultado foi um aumento de nove vezes na atividade antimicrobiana da nanocelulose bacteriana.

“Quem tem ferimentos graves sabe muito bem a diferença que faz um bom curativo. Ele precisa criar uma barreira contra microrganismos, evitando contaminações, e também ser capaz de propiciar atividade antioxidante para diminuir o processo inflamatório de células mortas e pus”, disse Angela Faustino Jozala, coordenadora do Laboratório de Microbiologia Industrial e Processos Fermentativos (LaMInFe) da Uniso e uma das autoras do artigo.

Com a bromelina, os pesquisadores perceberam que, além de aumentar a propriedade antimicrobiana da nanocelulose bacteriana, também foi criada uma barreira seletiva que potencializou a atividade proteica e outras atividades importantes para a cicatrização, como o aumento de antioxidantes e da vascularização.

“Uma pele não íntegra tem como maior problema a contaminação. O paciente fica suscetível a ter uma infecção seja em casos de queimaduras, ferimentos ou feridas ulcerativas. A bromelina cria essa barreira tão importante”, disse Jozala.

Tanto a nanocelulose bacteriana como a bromelina são velhas conhecidas da ciência e das indústrias farmacêutica e alimentícia. A proteína do abacaxi é usada como amaciante de carne e sua propriedade de quebra de proteínas, conhecida por debridamento celular, é objeto de interesse para a indústria farmacêutica.

A grosso modo, a bromelina tem caráter de limpar o tecido necrosado do ferimento e ainda formar uma barreira protetora contra os microrganismos. No entanto, por ser uma enzima, ela tem limitações de uso na indústria, uma vez que é facilmente desnaturada e degradada, além de ser instável em algumas formulações.

Já a nanocelulose bacteriana pode ser aplicada como substituição temporária sobre a pele ou como curativo no tratamento de lesões ulcerativas, pois alivia a dor, protege contra infecções bacterianas e contribui no processo de regeneração do tecido.

Assim como a celulose vegetal, a nanocelulose bacteriana é produzida na forma pura sem outros polímeros. Isso confere a ela a capacidade de ser moldada em estruturas tridimensionais, capazes de reter grande quantidade de água sem impedir a troca gasosa.

“É uma biofábrica. A bactéria Gluconacetobacter xylinus, por exemplo, produz a celulose como se tricotasse polímeros de glicose. O que fizemos em nosso estudo foi potencializar, com a bromelina, a ação cicatrizante dessa nanocelulose que já estávamos produzindo na nossa plataforma de bioprodutos”, disse Jozala.

Casamento perfeito

De acordo com o estudo, 30 minutos após ser incorporada a membranas de nanocelulose bacteriana, foi observada uma liberação maior de bromelina e com maior capacidade de ação antimicrobiana. As membranas de nanocelulose bacteriana atuaram na seleção da absorção ou liberação de bromelina.

Além da associação entre a bromelina e a nanocelulose bacteriana, o trabalho contou com outra parceria importante. A equipe de pesquisadores da Uniso criou, com o auxílio da FAPESP, uma plataforma para a produção e purificação de bioprodutos. Nesse novo laboratório, a nanocelulose bacteriana está sendo produzida.

Outro projeto, também apoiado pela FAPESP, e realizado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp, passou a estudar a extração da bromelina presente no talo e no fruto do abacaxi.

“Estávamos produzindo nanocelulose bacteriana, no entanto queríamos ampliar os poderes curativos do produto. A partir de uma reunião com o grupo da Unicamp, que já extraía a bromelina usando cascas da sobra da indústria de polpa, vimos que a junção tinha futuro”, disse Jozala.

Tanto a produção de bromelina como de nanocelulose bacteriana – e a parte de purificação das substâncias – tiveram o custo barateado pelo fato de utilizarem resíduos e sobras da indústria alimentícia, como cascas de abacaxi de empresas que produzem polpa de fruta. Agora os pesquisadores buscam criar novas parcerias e despertar o interesse de empresas para a produção em larga escala do novo curativo.

O artigo Bacterial Nanocellulose Loaded with Bromelain: Assessment of Antimicrobial, Antioxidant and Physical-Chemical Properties (doi: 10.1038/s41598-01718271-4), de Janaína Artem Ataide, Nathália Mendes de Carvalho, Márcia de Araújo Rebelo, Marco Vinícius Chaud, Denise Grotto, Marli Gerenutti, Mahendra Rai, Priscila Gava Mazzola & Angela Faustino Jozala, pode ser lido na Scientific Reports em www.nature.com/articles/s41598-017-18271-4#Sec9
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Fonte: Agência Fapesp | Curativo com alto poder cicatrizante é feito da proteína do abacaxi (reprodução)

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Pedro Labatut, o General da Independência




General Pedro Labatut
Os Heróis do Brasil: Labatut, O General da Independência*

Pouco se sabe sobre a vida de Pedro Labatut antes da sua vinda ao Brasil, a convite de D. Pedro I e José Bonifácio, para formar e comandar o Exército Pacificador durante a Independência do Brasil na Bahia. Veterano do exército napoleônico, existem relatos de sua participação nas guerras de Independência da América Espanhola, quando recebeu a alcunha de “Pirata do Caribe”.

Em 14 de julho de 1822, Labatut parte do Rio de Janeiro e, acompanhado por alguns regimentos e armas, desembarca em Alagoas antes de fazer o caminho de volta à Bahia por terra. Após reunir mais homens em Pernambuco, o General Labatut e seu Exército Pacificador chegaram à Feira do Capuame, atualmente município de Dias D’Ávila, no dia 28 de outubro. Este era o local onde os milicianos brasileiros, comandados pelo coronel Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque D’Ávila Pereira, haviam montado seu quartel general. No mesmo dia foi passado a Labatut o comando das operações.

O General Labatut fez inúmeras promessas para conseguir mais adesões para as fileiras do seu exército, desde riquezas e glória até a liberdade para os escravos que se alistassem. Para manter a ordem das tropas, também foi bastante rigoroso, inclusive com castigos físicos para os não escravos, atitudes que desagradaram muito aos Senhores de Engenho. No entanto, Labatut obteve grandes sucessos durante seu comando na guerra. Num conflito que se desenvolvia como guerra de guerrilha, sob sua liderança foram conseguidas vitórias decisivas para os brasileiros: a Batalha de Pirajá e a derrota da Armada portuguesa quanto estes tentaram retomar a Ilha de Itaparica.

A Batalha de Pirajá foi a mais importante de todo o conflito e ocorreu no dia 08 de novembro de 1822. O enfrentamento teve início quando os portugueses atacaram na região do Cabrito, Pirajá e Campinas, numa tentativa de romper o bloqueio exercido pelos brasileiros que impedia o abastecimento da cidade de Salvador. Após horas de combate, o comandante Barros Falcão, para evitar a derrota dos brasileiros, ordenou o recuo das tropas, mas, não se sabe por quê, o corneteiro Luís Lopes tocou o sinal de avançar tropas, o que acabou por prolongar o enfrentamento e dar a vitória aos brasileiros. Entre os dias 07 e 09 de janeiro de 1823, Madeira de Melo, em mais uma tentativa de romper o eficiente bloqueio realizado pelos brasileiros, ordenou que a Armada portuguesa situada na Baía de Todos os Santos atacasse a Ilha de Itaparica. Mas seus esforços foram frustrados pela atuação da flotilha de João das Botas e pelos moradores da Ilha.

No entanto, apesar das vitórias, as posturas do General Labatut em relação tanto às tropas quanto aos Senhores de Engenho da Província estavam causando um grande mal estar. Segundo os relatos do Conselho de Governo Interino, situado na cidade de Cachoeira, o general francês se considerava a maior autoridade da Bahia, desrespeitando as decisões deste órgão, mandando prender e espancando soldados, o que provocou uma conspiração para retirá-lo do comando das operações. Desconfiado das manobras para destituí-lo, Labatut mandou prender o coronel Felisberto Gomes Caldeira e Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque D’Ávila Pereira. Ainda ordenou que o coronel Lima e Silva atacasse o 3º Batalhão que havia se rebelado após a prisão de Felisberto. Com o apoio do Conselho Interino de Governo, Lima e Silva reuniu vários oficiais e decidiram não cumprir as ordens, depor Labatut e prendê-lo, o que ocorreu em 21 de maio de 1823.

Após a guerra Pedro Labatut é libertado e retorna à Bahia em 1824, quando é homenageado por sua atuação durante a Guerra de Independência, permanecendo na província até a sua morte em 24 de setembro de 1849.
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Fonte: *Os Heróis do Brasil | Labatut, O General da Independência (reprodução) - Imagem: Domínio Público

terça-feira, 26 de junho de 2018

Escovas de dente de bambu para combater plástico

Empresa fabrica e 'doa gratuitamente' escovas de dente de bambu para combater plástico



via Hypeness*

"Se você seguir as recomendações dos dentistas e dos fabricantes, trocará de escovas de dentes a cada 3 meses. Isso significa 4 escovas por ano. Agora pense que 99% das mais de 7 bilhões de pessoas do mundo usa escovas de dentes feitas de plástico. Todo esse lixo tem que ir para algum lugar, certo?

Já é mais que sabido que o plástico demora muito para se decompor, que boa parte dele não é reciclado e acaba em lixões ou nos oceanos. E foi justamente ao encontrar um monte delas no mar da Califórnia que um norte-americano decidiu criar a Giving Brush, que vende alternativas sustentáveis ao plástico.

A empresa entrega escovas de dentes e canudos feitos de bambu, e está com uma estratégia diferente para divulgar a alternativa: está enviando os itens de graça, cobrando apenas o frete. Cada pedido pode incluir até 20 unidades gratuitas e acompanhar outros produtos da Giving Brush (cujo nome significa literalmente “Dando Escovas”). O custo do envio para o Brasil é de cerca de 6 dólares, ou algo próximo de 25 reais, na cotação atual. 

(No link abaixo verá que já existem outros fabricantes licenciados e você pode comprá-las facilmente pela internet aqui no Brasil mesmo, e por um preço melhor!)

A utilização do bambu é justificada pela rapidez com que ele se desenvolve (podendo crescer mais de um metro por dia sob condições ideais), por dispensar o uso de pesticidas e por ser um material antimicrobiano, o que evita a proliferação de fungos e bactérias durante o período de uso.

A empresa ressalta também que o bambu, da variedade mossô, não é da que os pandas costumam se alimentar. Como o bambu é biodegradável, basta separar as cerdas, feitas de nylon reciclável, e enterrar o que sobrar que em cerca de dois meses a escova terá se decomposto."

Quer fazer a transição para as escovas de bambu? Clique aqui e compre...
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Fonte: *hypeness.com.br | Empresa fabrica e doa gratuitamente escovas de dente de bambu para combater plástico (reprodução) - Imagem: Giving Brush (divulgação) - Clique aqui para comprar as escovas...


segunda-feira, 25 de junho de 2018

Google poderá prever morte de doentes




Cérebro médico do Google vai prever morte de doentes.

A equipe do Google está trabalhando em ferramentas de inteligência artificial para prever sintomas e doenças.

O Google está prestes a entrar na área da saúde. 

O gigante da internet criou uma ferramenta que poderá prever quanto tempo um paciente ficará hospitalizado, se há probabilidades de voltar a adoecer e até se poderá morrer a curto prazo. Em simultâneo, o Google está trabalhando em um software baseado na inteligência artificial, que podem prever sintomas e doenças com elevado nível de precisão.

Em maio, o Google divulgou o potencial do trabalho que sua equipe “Medical Brain” (cérebro médico) está  desenvolvendo num artigo publicado na revista científica Nature. Os resultados são promissores.

Uma mulher, com câncer de mama em estágio avançado, foi examinada por dois médicos num hospital e fez exames radiológicos. Os computadores tradicionais analisaram os sinais vitais e estimaram 9,3% de probabilidade de morrer durante a hospitalização.

O Google utilizou um novo tipo de algoritmo desenvolvido internamente para analisar a paciente. O software previu um risco de morte de 19,9%. Alguns dias depois, a doente morreu.

Segundo a Bloomberg, os médicos ficaram surpreendidos com a capacidade do software de inteligência artificial em analisar dados, como anotações em PDF e apontamentos em arquivos médicos antigos. A rede neural processou toda a informação e, rapidamente, emitiu as previsões.

Cerca de 80% do tempo despendido nos atuais modelos de previsão é para tornar os dados apresentáveis, é um “trabalho entediante”, diz Nigam Shah, professor associado da Universidade de Standford e um dos autores do artigo sobre a pesquisa do Google, publicado na Nature. Com o software do Google, “coloca-se tudo lá e não é preciso preocuparmo-nos” com esse trabalho, sublinhou.

O Google quer agora aplicar este sistema de previsões nas clínicas, revelou o responsável pela inteligência artificial, Jean Dean, à Bloomberg News. “Finalmente encontrou-se uma nova aplicação de inteligência artificial que tem uma promessa comercial”.
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Fonte/Leia mais: dinheirovivo.pt | Cérebro médico do Google vai prever morte de doentes (reprodução parcial em PT-BR), informações de Bloomberg News - Imagem: PixaBay (CC0)

domingo, 24 de junho de 2018

Conselho de mãe: cada um é responsável por si




Minha mãe tinha muitos problemas. Dormia mal e se sentia exausta. Era irritada, mal-humorada e amarga, até que um dia, de repente, ela mudou.

Um dia, meu pai disse-lhe:
-Amor, estou há tempos tentando lhe dar mais atenção mas não sei como fazer até o momento encontrei nada. Amor vou jogar bola com os amigos.

Minha mãe respondeu :
-Está bem...

Meu irmão disse-lhe:
-Mãe vou mal em todas as matérias do colégio.

Minha mãe respondeu:
-Está bem. Você vai se recuperar. E se não o fizer, você poderá repetir o ano. Mas você vai pagar com as suas reservas.

Minha irmã disse:
- Mãe bati com meu carro.

Minha mãe respondeu:
-Está bem filha. Leve-o para a oficina e procure uma forma de como pagar. E enquanto eles consertam, vá andando de ônibus ou metrô.

Sua irmã disse-lhes:
-Irmã , eu vim passar alguns meses com vocês.

Minha mãe respondeu:
- Está bem. Acomode-se no sofá da sala, e procure alguns cobertores no armário.

Nos reunimos na casa dela preocupados, encabulados em ver essas suas reações. Nos propusemos, então, fazer um "questionamento" a ela para afastar qualquer possibilidade de reação que fosse provocada por alguma medicação 'anti-birras'.

A nossa surpresa foi imensa, quando o minha mãe nos explicou:
"Demorou muito tempo para perceber que cada um é responsável por sua vida. Levei anos descobrindo que minha angústia, minha mortificação, minha depressão, minha coragem, minha insônia e meu estresse não resolveriam os vossos problemas. Mas, sim, exacerbaram os meus."

Eu não sou responsável pelas ações dos outros. Eu sou responsável pelas reações de como eu me expresso perante elas. Portanto, cheguei à conclusão que o meu dever para comigo mesmo é manter a calma, e deixar que cada um resolva suas pendências da forma que lhe convier.

Tenho feito cursos de Yoga, de meditação, de milagres, de desenvolvimento humano, de higiene mental, de vibração e programação neuro-linguística. E, em todos eles, eu encontrei um denominador comum, no final, todos nos levam ao mesmo ponto. Ou seja, eu só posso ter ingerência sobre eu mesma. Vocês têm todos os recursos necessários para resolver suas próprias vidas.

Eu só posso dar meu conselho se por acaso me pedirem. E cabe a vocês decidirem segui-lo ou não. Então, de hoje em diante, parei de ser a receptáculo de suas responsabilidades, a carregadora de suas culpas, a lavanderia dos seus remorsos, a advogada de seus defeitos, o Muro das Lamentações, a depositária das suas frustrações, que resolve seus problemas ou sua tábua de salvação para conta de vossos desafios.

De agora em diante, eu os declaro todos adultos, independentes e auto-suficientes. Todos na casa da minha mãe permaneceram em silêncio. Desde aquele dia, a família começou a funcionar melhor porque todo mundo em casa sabe exatamente o que lhe cabe fazer.

Autor: Uma Mulher Feliz
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Fonte: Facebook | Luciana Baroni (reprodução) - Imagem: compartilhado de Pinterest

sábado, 23 de junho de 2018

O Brasil, o burro e o demônio




O Brasil de Hoje e o Burro Amarrado
por Gerson Guelmann*

Conta uma história que havia um burro amarrado a uma árvore.

O demônio veio e o soltou.

O burro entrou na horta dos camponeses vizinhos e começou a comer tudo.

A mulher do camponês dono da horta, quando viu aquilo, pegou o rifle e disparou.

O dono do burro ouviu o disparo, saiu, viu o burro morto, ficou enraivecido, também pegou seu rifle e atirou contra a mulher do camponês.

Ao voltar para casa, o camponês encontrou a mulher morta e matou o dono do burro.

Os filhos do dono do burro, ao ver o pai morto, queimaram a fazenda do camponês.

O camponês, em represália, os matou.

Aí perguntaram ao demônio o que ele havia feito e ele respondeu:

– “Não fiz nada, só soltei o burro”.

Conclusão: se você quiser destruir um país, solte os burros.
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Fonte: via contraponto.jor.br - *tradução e adaptação: etudoacabouemsfiha - Imagem: Maxi Pixel (CC0)

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Ecce Homo - Friedrich Nietzsche - Frases do livro

"A filosofia, como a compreendi e a vivi até agora, é a vida voluntária no meio do gelo e das altas montanhas – é a busca de tudo que é estranho e duvidoso na existência, de tudo que foi até agora proscrito pela moral." pág. 16  "Os anos de minha baixa vitalidade foram aqueles em que deixei de ser pessimista: o instinto do auto-restabelecimento me proibiu uma filosofia de pobreza e de desanimo." pág. 23  "Aquilo que não o mata o torna mais forte." pág. 24  "Estou sempre a altura das circunstâncias; para ser mestre de mim mesmo é preciso que eu seja colhido de improviso." pág. 26  "A piedade só é chamada virtude entre os decadentes." pág. 27
Ecce homo, ou Ecce homo. Wie man wird, was man ist, lançado na língua inglesa em 1908, é uma das obras mais controversas de Nietzsche, publicada em meio ao agravamento de sua doença e transtorno mental.

A intenção de Nietzsche ao deixar esta última obra, pelas suas próprias palavras, era de não ser confundido ou mal compreendido.

Tinha receio de ser "santificado" ou idolatrado e, por isso mesmo, deixou claro que não era nem santo (cita-se: "Eu sou um aprendiz do filósofo Dionísio, e faço mais gosto em ser tomado como sátiro do que santo.") e que não desejava ser imitado e sim ser tomado como modelo (como já citado em A Gaia Ciência).

Neste livro ele não economiza palavras para citar grandes autores (muito ou pouco conhecidos). Explica o momento de vida no qual publicou cada uma de suas obras, dando, inclusive, em alguns casos, uma sinopse dos escritos.

Elogia, inclusive, aquela que considera como obra máxima, não apenas sua, mas de toda a Humanidade: Assim Falou Zaratustra. Antes de sua profunda enfermidade, fez questão de saber que seu livro havia sido publicado e traduzido.

Conheça alguns trechos do livro:

"A filosofia, como a compreendi e a vivi até agora, é a vida voluntária no meio do gelo e das altas montanhas – é a busca de tudo que é estranho e duvidoso na existência, de tudo que foi até agora proscrito pela moral." pág. 16

"Os anos de minha baixa vitalidade foram aqueles em que deixei de ser pessimista: o instinto do auto-restabelecimento me proibiu uma filosofia de pobreza e de desanimo." pág. 23

"Aquilo que não o mata o torna mais forte." pág. 24

"Estou sempre a altura das circunstâncias; para ser mestre de mim mesmo é preciso que eu seja colhido de improviso." pág. 26

"A piedade só é chamada virtude entre os decadentes." pág. 27

"Meu tipo de represália consiste em punir tão rápido a asneira pela inteligência." pág. 28

"Estar doente nada mais é do que uma espécie de ressentimento." pág. 29

"Não é pela inimizade que se termina com a inimizade, é com a amizade que se consegue terminar com a inimizade." pág. 29

"O ressentimento, nascido da fraqueza, não prejudica ninguém mais que o fraco." pág. 29

"O pendor agressivo é tão inerente a força como o sentimento de vingança e de rancor o é da fraqueza." pág. 30

"A força do agressor se mede, por assim dizer, pelos adversários de que necessita." pág. 30

"Igualdade diante do inimigo – primeira condição de um duelo leal." pág. 30

"Minha pratica de guerra se resume em quatro princípios. Primeiro: só ataco causas vitoriosas. Segundo: só ataco coisas contra as quais não posso encontrar nenhum aliado onde avanço sozinho. Terceiro: não ataco nunca as pessoas. Quarto: só ataco as coisas das quais toda acepção de pessoa está excluída, nas quais falta todo um plano de experiências estranhas." pág. 31

"Deus, imortalidade da alma, salvação, além são outros tantos conceitos os quais não me dediquei nenhuma atenção, tão pouco nenhum tempo, nem sequer quando era criança - talvez eu não fosse já bastante infantil para isso?" pág. 35

"Esta cultura (idealismo) que ensina desde o inicio a perder de vista as realidades para ir a caça de objetivos inteiramente problemáticos chamados ideais." pág. 36

"O idealismo foi a doença que me reconduziu à razão." pág. 40

"Deve-se evitar o máximo possível o acaso, o estimulo externo; fechar-se entre muros de alguma forma faz parte da elementar sabedoria instintiva, da gestação intelectual." pág. 41

"Eu não teria podido suportar minha juventude sem a musica de Wagner." pág. 46

"O erudito gasta toda a sua energia em dizer sim e não na critica daquilo que já foi pensado, ele próprio não pensa mais." pág. 49

"Ninguém pode escutar nas coisas, inclusive nos livros, mais do que já sabe. Não se tem ouvidos para escutar aquilo a que não se tem acesso pela experiência vivida." pág. 56

"Porque só na medida em que a coragem ousa se aventurar, se aproxima precisamente da verdade. O conhecimento, o dizer sim a realidade, constituem para o forte uma necessidade da mesma ordem que, para o fraco a covardia é a fuga diante da realidade – o ideal – sob a inspiração da fraqueza... o fraco não tem liberdade de conhecer : os decadentes tem necessidade da mentira, tem nela uma das condições da própria conservação." pág. 67

"A doença me conferiu de qualquer forma o direito de uma reviravolta completa de todos os meus hábitos; permitiu-me, ordenou-me o esquecimento; deu-me de presente a obrigação de permanecer deitado, do ócio, da espera e da paciência... Mas é justamente isso que se chama pensar... Meus olhos decidiram por si sós acabar com toda bibliomania, falando claro: a filologia: livre-me dos livros, durante anos não voltei a ler mais nada – o maior beneficio que me concedi a mim mesmo." pág. 80

"A questão da origem dos valores morais é, pois, para mim uma questão capital, porque condiciona o futuro da humanidade." pág. 84

"Falando teologicamente – que se ouça com atenção, pois raramente falo como teólogo – foi o próprio Deus que, sob a aparência de serpente ao final de sua tarefa repousou sobre a arvore do conhecimento: assim descansava de ser Deus... tudo o que ele tinha feito era muito belo, o diabo não é mais do que a ociosidade de Deus a cada sete dias..." pág. 102

"Definição da moral: a idiossincrasia de decadentes, com a intenção oculta de se vingar da vida – e isso, com sucesso. Dou muito valor a esta definição." pág. 121

"Tudo o que até hoje se chamava ‘verdade’ é reconhecido como a forma mais nociva, mais pérfida, mais subterrânea de mentira; o pretexto sagrado de ‘melhorar’ a humanidade, reconhecido como astúcia para sugar o sangue da vida, para torná-la anêmica." pág. 122
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Fonte: Com informações de Wikipédia e do livro "Ecce Homo", de Nietzsche - Imagem: Capa do livro

        


quarta-feira, 20 de junho de 2018

Nova espécie de peixe é encontrada no Brasil




Uma nova espécie de peixe foi encontrada dentro da área do Parque Nacional de Lençóis Maranhenses. A descoberta foi publicada recentemente na revista ZooKeys, em um artigo científico descrevendo a nova espécie de peixe, demoninada Hyphessobrycon piorskii (foto). A espécie é endêmica sendo encontrada apenas entre o rio Preguiças e o rio Munim, ambos no estado do Maranhão.

O Parque é a única unidade de conservação de proteção integral na área de ocorrência da espécie. As atividades de campo da pesquisa foram autorizadas no SISBIO e tiveram apoio logístico do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). 

O nome da espécie homenageia o professor, doutor Nivaldo Magalhães Piorski, pela sua contribuição no conhecimento ictiológico do estado do Maranhão. O professor Nivaldo, inclusive, participou da elaboração do Plano de Manejo do Parque de Lençóis Maranhenses em 2002.

O autor do artigo é o mestrando do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Conservação da Universidade Federal do Maranhão Erik Cristofore Guimarães. Leia aqui...
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Fonte: ICMBio | Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade | Ministério do Meio Ambiente - Imagens: MMA no Twitter (reprodução)

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Bactéria pode tornar possível respirar em Marte





Uma bactéria marítima poderia tornar possível os humanos respirarem em marte

por Any Karolyne Galdino | engenhariae.com.br*

Se não conseguimos descobrir uma maneira de respirar em Marte, esqueça a construção de habitats marcianos, cultivo de alimentos ou escavação de túneis lá. Conseguir respirar lá é simplesmente a coisa mais importante. Com base nisso, agora podemos ter uma nova esperança na busca por um suprimento constante de oxigênio no Planeta Vermelho: cianobactérias.

Essa família de bactérias suga o dióxido de carbono e libera oxigênio em alguns dos ambientes mais inóspitos da Terra. Uma equipe de pesquisadores publicou um novo  estudo na revista Science ligando os minúsculos organismos à possibilidade de vida humana em Marte.

Lembra da fotossíntese? É como as plantas e outros organismos convertem a luz solar em energia. As cianobactérias também usam a fotossíntese para produzir energia, mas são capazes de fazê-lo em condições com muito menos luz solar do que o necessário para cultivar tomate, por exemplo. Essas cianobactérias foram descobertas nos lugares mais profundos do oceano.

Uma parte fundamental do processo de fotossíntese é a clorofila química. A maioria das plantas e organismos converte luz visível em energia usando clorofila. Os pesquisadores descobriram que as cianobactérias usam um tipo especial de clorofila, clorofila f, para converter luz infravermelha em energia. É assim que eles conseguem viver em ambientes de pouca luz.

“Este projeto redefine a energia mínima necessária à luz para impulsionar a fotossíntese”, disse Jennifer Morton, coautora do estudo, em um comunicado à imprensa. “Este tipo de fotossíntese pode estar acontecendo em seu jardim, sob uma rocha.”

“Isso pode soar como ficção científica, mas agências espaciais e empresas privadas em todo o mundo estão ativamente tentando transformar essa aspiração em realidade em um futuro não muito distante”, disse o coautor do estudo, Elmars Krausz, no comunicado à imprensa. “A fotossíntese poderia teoricamente ser aproveitada com esses tipos de organismos para criar ar para os seres humanos respirarem em Marte.”
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Fonte: *engenhariae.com.br | Uma bactéria marítima poderia tornar possível os humanos respirarem em marte | por Any Karolyne Galdino (reprodução) - Foto: Wikimedia Commons (CC0)

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Abelhas são essenciais ao cultivo de morangos





Abelha poliniza flor de morango (Max Pixel)
Polinização por diferentes espécies de abelhas é essencial na produção de morango
via EMBRAPA*

A presença de uma diversidade de abelhas nas flores do morangueiro melhora a produtividade, a qualidade e até aumenta a durabilidade da fruta. 

Estudos demonstram que morangos polinizados por diferentes espécies desses insetos são mais pesados (possuem maior massa fresca), apresentam menos deformações, coloração vermelha mais intensa e atingem grades de classificação comercial mais elevadas. Eles também são mais firmes e apresentam maior tempo de prateleira.

Ao reunir essas informações geradas no Brasil e no mundo, a pesquisadora Katia Braga, da Embrapa Meio Ambiente (SP), elaborou um comunicado técnico para explicar a produtores e técnicos agrícolas a importância desses polinizadores e como mantê-los na lavoura. Para favorecer a abundância e a diversidade de abelhas na cultura, ao longo da florada, a cientista recomenda cultivar o morangueiro próximo à vegetação natural, restaurar e diversificar áreas de florestas próximas, além de realizar a limpeza das plantas, tornando suas flores mais visíveis e acessíveis aos polinizadores.

Gotejamento para evitar a remoção do pólen

“Para a irrigação da lavoura, deve-se adotar um método que não interfira na atratividade da florada, como o gotejamento, já que a aspersão remove o néctar e o pólen, que são recursos coletados pelas abelhas. Se [a irrigação] for mesmo necessária, deverá ser feita somente após as 14 horas, quando o número de abelhas nas flores começa a diminuir”, recomenda a pesquisadora. Para o controle fitossanitário, a cientista aconselha empregar o manejo integrado de pragas (MIP) e o controle biológico, pois o controle químico pode matar as abelhas, caso dos inseticidas, afetar sua capacidade de voo (como alguns herbicidas), enfraquecer seu sistema imunológico e, ainda, repelir esses insetos.

Braga pesquisou, durante seu doutorado, o efeito de várias espécies de abelhas na cultura do morango. Entre as conclusões da pesquisa, a cientista percebeu que algumas espécies tiveram efeitos complementares nas cultivares analisadas. “Cada uma distribuiu o pólen em diferentes regiões do receptáculo floral (miolo da flor), completando a polinização uma da outra; essa complementação é importante, pois o peso do morango é proporcional ao número de pistilos (estruturas femininas) em que ocorreu a fecundação, processo que depende da polinização”, detalha a pesquisadora. Ela explica que nas regiões não fecundadas ocorre uma deformação, formada de uma a várias cavidades ou depressões no fruto (veja foto ao lado). E quanto maior a flor, maior será a dependência da polinização por abelhas. Por isso, são os morangos grandes que apresentam deformações com maior frequência.

Morangos com deformações causadas por regiões da flor que não foram fecundadas

Por outro lado, flores completamente fertilizadas produzem morangos bem formados, com maturação precoce e peso proporcional ao número de pistilos onde a fecundação ocorreu. "Portanto, naturalmente, não há o crescimento da polpa do morango sem que ocorra a fecundação e essa não ocorre sem que haja a polinização", explica a pesquisadora. Leia mais...
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Fonte: *Embrapa | Polinização por diferentes espécies de abelhas é essencial na produção de morango (por Cristina Tordin) - Foto: Max Pixel (CC0)

terça-feira, 12 de junho de 2018

As proparoxítonas e o resto...



 
Há dois tipos de palavras: as proparoxítonas e o resto. As proparoxítonas são o ápice da cadeia alimentar do léxico. Estão para as outras palavras assim como os mamíferos para os artrópodes. As palavras mais pernósticas são sempre proparoxítonas. Das mais lânguidas às mais lúgubres. Das anônimas às célebres.

Se o idioma fosse um espetáculo, permaneceriam longe do público, fingindo que fogem dos fotógrafos e se achando o máximo.

Para pronunciá-las, há que ter ânimo, falar com ímpeto - e, despóticas, ainda exigem acento na sílaba tônica!

Sob qualquer ângulo, a proparoxítona tem mais crédito. 
É inequívoca a diferença entre o arruaceiro e o vândalo. 

O inclinado e o íngreme. 
O irregular e o áspero. 
O grosso e o ríspido. 
O brejo e o pântano. 
O quieto e o tímido.

Uma coisa é estar na ponta – outra, no vértice. 
Uma coisa é estar no topo – outra, no ápice. 
Uma coisa é ser fedido – outra é ser fétido.

É fácil ser valente, mas é árduo ser intrépido. 
Ser artesão não é nada, perto de ser artífice. 
Legal ser eleito Papa, mas bom mesmo é ser Pontífice.

(Este último parágrafo contém algo raríssimo: proparoxítonas que rimam. Porque elas se acham únicas, exóticas, esdrúxulas. As figuras mais antipáticas da gramática.)

Quer causar um impacto insólito? Elogie com proparoxítonas. 
É como se o elogio tivesse mais mérito, tocasse no mais íntimo. 
O sujeito pode ser bom, competente, talentoso, inventivo – mas não há nada como ser considerado ótimo, magnífico, esplêndido.
Da mesma forma, errar é humano. Épico mesmo é cometer um equívoco.

Escapar sem maiores traumas é escapar ileso – tem que ter classe pra escapar incólume.

O que você não conhece é só desconhecido. O que você não tem a mínima ideia do que seja – aí já é uma incógnita.

Ao centro qualquer um chega – poucos chegam ao âmago.

O desejo de ser uma proparoxítona é tão atávico que mesmo os vocábulos mais básicos têm o privilégio (efêmero) de pertencer a esse círculo do vernáculo – e são chamados de oxítonos e paroxítonos. Não é o cúmulo?
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Fonte: Facebook: Eduardo Affonso - 21 de maio às 20:02 - Imagem: Dicio.com.br

Nota: Proparoxítona é uma palavra que tem a antepenúltima sílaba como sílaba tônica, ou seja, a sua antepenúltima sílaba é aquela que é pronunciada com mais força. As restantes sílabas da palavra são átonas, sendo pronunciadas com menor intensidade.

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Prevenção e redução de danos para usuários de álcool e drogas



 
Coletivo busca entender uso de drogas e álcool para atuar na prevenção: Acalma – Redução de Danos é formado por estudantes da USP em Ribeirão Preto e de outras entidades - por Júlia Gracioli/Jornal da USP*

Reduzir danos e as consequências negativas causadas pelo uso de drogas. Essa é uma das propostas do coletivo Acalma – Redução de Danos criado por estudantes da USP em Ribeirão Preto. 

A ideia é transformar a relação do indivíduo com a substância psicoativa e não a alienação, desenvolvendo estratégias de abordagens para usuários de drogas utilizadas internacionalmente e apoiada por instituições sobre drogas no Brasil, como a Secretaria Nacional de Polícias sobre Drogas (SENAD) e o Ministério da Saúde.

Inicialmente, eles pretendem atuar em festivais de música e eventos de festas universitárias da região de Ribeirão Preto, levando a conscientização sobre as substâncias psicoativas e a prevenção de consequências negativas relacionadas a seu abuso.

Segundo Juliana Mendes Rocha, coordenadora do coletivo e aluna de pós-graduação da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, a transformação da relação do indivíduo com a substância psicoativa é estruturada a partir de cinco principais fatores de atuação: acolhimento; conscientização; acesso à informação; testagem de substâncias e promoção da saúde mental.

“A partir disso, o grupo vai promover encontros de grupos de estudos sobre as principais classes de substâncias, e fazer abordagens e reuniões de organização do coletivo”, explica Juliana.

A equipe do Acalma é composta por alunos de graduação e pós-graduação da USP em Ribeirão Preto, com parcerias externas, de diversas áreas: enfermagem, medicina, biologia, psicologia, pedagogia e publicidade.

O grupo busca novos voluntários, com o objetivo de unir pessoas que possam ajudar nas ações, como palestras em escolas e ONGs.

Mais informações: coletivoacalmarp@gmail.com ou facebook: @AcalmaReduçãodeDanos
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Fonte: Jornal da USP | Coletivo busca entender uso de drogas e álcool para atuar na prevenção - Imagem: Acalma – Redução de Danos

sábado, 9 de junho de 2018

Seu smartwatch pode espionar você?



 
Um smartwatch pode ser usado para espionar seu dono? Sim e sabemos várias formas de fazer isso. Um deles é um app de espionagem instalado em um smartphone capaz de enviar dados para sensores de movimento embutidos no smartwatch (acelerômetro e giroscópio) para um servidor remoto. 

Essas informações, por sua vez, podem ser usadas para rastrear os movimentos do usuário. Qual é a extensão dessa ameaça e quais dados podem de fato ser roubados? Decidimos investigar.

Experimento: os movimentos do smartwatch podem revelar sua senha?

Começamos com um smartwatch Android, programamos um aplicativo no-frills com objetivo de processar e transmitir dados do acelerômetro, bem como analisar o que pode ser feito com eles. Para mais detalhes, veja o relatório completo.

Eles podem ser utilizados para descobrir se o usuário, em um determinado momento, está sentado ou andando. Além disso, é possível analisar mais profundamente e descobrir se a pessoa está em uma caminhada casual ou trocou de linha no metrô – já que os padrões de aceleração diferem sutilmente. É assim também, que o fitness tracker difere caminhar a pé e andar de bicicleta.

É fácil perceber quando a pessoa está digitando. Entretanto, descobrir o que ela escreveu é bem mais complexo. Todo mundo tem um padrão de digitação distinto: o método dos dez dedos, teclar com um ou dois dedos, ou ainda um misto entre os dois.  Em suma, pessoas diferentes podem seguir a mesma técnica e produzirão registros distintos no acelerômetro. Todavia, um indivíduo que tenta digitar a mesma senha diversas vezes produzirá resultados bastante similares.

Portanto, com uma rede neural treinada para reconhecer as particularidades do digitar de alguém, é possível descobrir o que aquela pessoa escreveu. Bem como, se ela for treinada em um método de digitação específico, os dados do acelerômetro do smartwatch em seu pulso poderiam ser traduzidos em senhas com base nos movimentos das mãos.

Entretanto, o processo de treinamento demandaria que a rede neural monitorasse o indivíduo por bastante tempo. Os processadores em dispositivos portáteis não são poderosos o suficiente para executá-las, o que torna necessário enviar os dados para outros servidores.

É nesse ponto que o espião encontra problemas: o upload constante das leituras do acelerômetro consumiria muita franquia de internet e bateria do smartwatch, esgotando-a em horas (seis no caso que testamos). Esses dois sinais são fáceis de serem percebidos e acabam alertando o usuário de que algo não está certo.  Entretanto, ambos os problemas são minimizados por meio da seleção dos dados -por exemplo, transferir apenas os horários de chegada ao trabalho, um momento mais provável no qual a senha será digitada.

Em suma, seu smartwatch pode ser usado para identificar o que você digita. Porém, é difícil e a recuperação precisa depende da repetição sucessiva do texto. Em nossos testes, fomos capazes de recuperar senhas com 96% de precisão e PINs em ATMs com 87% de acurácia.

Poderia ser pior

Para cibercriminosos, entretanto, esses dados não são tão úteis. Para utilizá-los ainda precisam de acesso ao seu computador ou cartão de crédito. A tarefa de determinar o número de um cartão ou o código de segurança é bem mais delicada.

Ao voltar para o trabalho, muito provavelmente a primeira coisa digitada é a senha de desbloqueio do computador. Ou seja, o acelerômetro primeiro registra a caminhada e depois os toques no teclado. Com base nos dados apenas desse período, é possível recuperar a senha.

Entretanto, essa pessoa dificilmente digita um número de cartão de crédito logo que chega ao escritório ou se levanta depois de inserir esses dados.

Sem falar que é improvável alguém digitar essas informações várias vezes seguidas.

A fim de roubar dados digitados por meio de smartwatches, criminosos precisam prever atividades realizadas antes do ato de digitar as informações diversas vezes. Essa última razão é mais um motivo para não usar a mesma senha em diferentes dispositivos.

Quem deve ficar de olho nos smartwatches?

Nossa pesquisa mostra que os dados obtidos do acelerômetro embutido no smartwatch podem ser usados para recuperar informações sobre o usuário: movimentos, hábitos, informações digitadas (por exemplo, a senha de um notebook).

Infectar o dispositivo com um malware que permite selecionar esses dados para serem recuperados por cibercriminosos é algo bem direto. Precisa-se apenas criar um aplicativo (algo simples como um template de um relógio ou fitness tracker), adicionar uma função que leia os dados do acelerômetro e disponibilizá-lo na Google Play. Em teoria, um aplicativo desses passará pelo filtro contra malware, afinal, não há nenhuma funcionalidade extremamente maliciosa no que ele faz.

Já se você deve se preocupar em ser espionado por alguém por meio dessa técnica, é outra história. Apenas se alguém tiver uma motivação muito forte para vigiá-lo. Os cibercriminosos comuns buscam alvos fáceis e não ganhariam muito nesse cenário.

Entretanto, se a senha do seu computador ou rota para o escritório possui valor para alguém, um smartwatch se trata de uma ferramenta de rastreio viável. Nesse caso, nosso conselho é  seguinte:

  • Fique de olho se seu smartwatch consome muita internet ou bateria.
  • Não forneça permissões em excesso a aplicativos. Principalmente, preste atenção nos apps que requerem informações de conta e coordenadas geográficas. Sem esses dados, intrusos passarão por maus bocados ao tentar identificar se realmente é seu smartwatch.
  • Instale uma solução de segurança como o Kaspersky Internet Security para Android em seu smartphone que possa auxiliar a detectar spyware antes que ele comece o trabalho sujo.

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Fonte: kaspersky.com.br | Seu relógio pode espionar você? - Imagem: GoodFreePhotos (CCO)

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Fuga ao Aborrecimento: a origem do Instinto Social


"O que ocupa todos os vivos e os conserva em contínua atividade, é a necessidade de assegurar a existência. Mas feito isto, não sabem que mais hão de fazer. Assim o segundo esforço dos homens é aliviar o peso da vida, torná-lo insensível, "matar o tempo", isto é, fugir ao aborrecimento. 

Vemo-los, logo que se livram de toda a miséria material e moral, logo que sacudiram dos ombros todos os fardos, tomarem sobre eles mesmos o peso da existência, e considerarem como um ganho toda a hora que têm conseguido passar, ainda que no fundo ela seja tirada dessa existência, que se esforçam por prolongar com tanto zelo. 

O aborrecimento não é um mal para desdenhar: que desespero faz transparecer no rosto! Faz com que os homens, que se amam tão pouco uns aos outros, se procurem com todo o entusiasmo; é a origem do instinto social. O Estado considera-o como uma calamidade pública, e por prudência toma medidas para o combater.

Este flagelo, que não é menor que o seu extremo oposto, a fome, pode impelir os homens a todos os desvarios; o povo precisa "panem et circenses". O rude sistema penitenciário de Filadélfia, fundado sobre o isolamento e a inatividade, faz do aborrecimento um instrumento de suplício tão terrível, que mais de um condenado tem recorrido ao suicídio para lhe fugir. 

Se a miséria é o aguilhão perpétuo para o povo, o tédio é-o igualmente para os ricos. Na vida civil, o domingo representa o aborrecimento, e os seis dias da semana a miséria."
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Fonte: Arthur Schopenhauer, in As Dores do Mundo - Imagem: Obra de Zhang Linhai