Translate

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

HISTÓRIA DA TV :: UMJ da TV Paraná - Canal 6 (1963)

Unidade Móvel de Jornalismo da TV Paraná - Canal 6, transmitindo ao vivo (naquele tempo ainda não existia o Vídeo Tape), o Carnaval de Curitiba de 1963, direto da Av. Marechal Deodoro, no Centro da cidade.




segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Jornal "O Guarany", de 4 de julho de 1891

Tirinha do jornal "O Guarani", (ano 1, nº 9), por Augusto Stresser, que era o editor do jornal. Foi publicada na edição de 4 de julho de 1891. Há 123 anos atrás... Curitiba ainda era grafada com "y".


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Trajano Joaquim dos Reis


Retrato feito por Augusto Stresser e
inaugurado dia 24/10/1902, quando
da inauguração da instalação do
Gr.´. Or.´. na Rua do Cerrito nº 9
( hoje Solar do Barão )
"Trajano Joaquim dos Reis, nasceu em São Felix, na Bahia, em 19 de março de 1852 e era filho de Joaquim José dos Reis e de Dona Emilia Joaquina Pereira. Formou-se na Faculdade de Medicina de Salvador em 18 de dezembro de 1875 sendo que na mesma data casou-se com Dona Jesephina Cândida Drumond. Poucos dias depois foi nomeado pelo Imperador D. Pedro II para o Corpo de Saúde do Exercito, tendo sido transferido para o Paraná com o posto de Major Cirurgião-Mor. 

Desembarcou em Paranaguá em 19 de Julho de 1876, tendo chegado a Curitiba dia 21 do mesmo mês. Logo se instalou com residência e consultório na Rua dos Alemães (hoje Rua 13 de Maio), cativou a todos com seu jeito simples de ser, extremamente simpático e culto, cercando-se logo de muitos amigos.

Trajava-se com muito esmero, vestindo sempre casaca e cartola o que lhe dava um aspecto singular. Todos logo habituaram-se com sua figura montando um belo cavalo e saindo para atender doentes que residiam mais longe.

Inúmeras vezes velava os seus doentes uma noite inteira, retirando-se ao amanhecer após certificar-se que estava fora de perigo. Esta dedicação logo teve seu reconhecimento. O Curitibano aprendeu a respeitar e estimar tão dedicado médico, sendo seu trabalho agradecido pelos jornais, uma forma de levar ao conhecimento de toda a população o magnífico trabalho desenvolvido, com um detalhe, dos pobres nada cobrava.

Em 1882 é escolhido pelo povo para a Câmara Provincial, fazendo parte de inúmeras comissões, sempre defendendo com ardor os interesses da terra que o acolhera.

Em 1883 a Sociedade Portuguesa Beneficiente publica nos jornais, veemente agradecimento por seus trabalhos médicos gratuitos aos membros protegidos pela instituição. Também em 1883 aparece como Presidente da Câmara Provincial, cargo este obtido visto o magnifico resultado dos trabalhos desenvolvidos, dentre os quais se destaca o projeto que proporcionou a Curitiba iluminação pública por meio de eletricidade.

Por seus relevantes serviços prestados à comunidade, recebeu homenagem que poucos recebem em vida, em outubro de 1883 o prefeito Luiz Alves de Oliveira Belo, determina que a rua que liga a Rua da Imperatriz (atual XV de Novembro) à Estação da Estrada de Ferro, seja denominada Rua Dr. Trajano (hoje Rua Barão do Rio Branco).

Seus trabalhos continuam sendo enaltecidos tanto como médico como político, tendo Silveira Neto, assim descrito sua humilde pessoa num jornal de nossa cidade: "Não é só o desvelo que emprega na missão de seu apostolado, na inteligência com que sabe honrar o seu anel simbólico, nem no extremoso carinho que o enfermo pobre encontra nele, que o denotado médico evidencia as apreciáveis qualidades que firmam a sua reputação; pois, os magnos interesses gerais do lugar onde vive e da sociedade que o rodeia têm, por vezes, achado em sua energia de caráter e na pureza dos seus sentimentos o fidalgo abrigo dos missionários da Ordem e do Direito; e assim é que, elevado à Presidência da Câmara Municipal de Curitiba, no período monárquico, assinalou a sua estada no execício desses cargos com o mais correto procedimento que pode ter o homem compenetrado do seu valor e da austera retidão da dignidade. Estudos estranhos à carreira que tomou para a linha reta da existência como a Linguística, direito etc., constituem o passatempo do operoso clínico baiano".

A 5 de fevereiro de 1893 por problemas de saúde, o Irm.´. Trajano e seus familiares retornam à terra natal, a Bahia. Faltaram espaços nos jornais para as manifestações daqueles que o admiravam e o chamavam de "médico dos pobres". sua despedida na Estação da Estrada de Ferro, juntou um número de pessoas antes nunca visto, presumindo-se que quase metade da população lá estivesse. Na Bahia sua saúde se recuperou logo, e a idéias de regressar à sua querida Curitiba, transformou-se em realidade em janeiro de 1894.

Curitiba se engalanou quando de sua chegada e nova multidão lá estava para receber aquele que tanto amavam. O governador Xavier da Silva confia-lhe o cargo de Inspetor Geral de Higiene, confiante na sua capacidade de trabalho e na certeza de que teria o homem certo para combater inúmeras epidemias que atormentavam a população curitibana.

Neste cargo sua labuta foi imensa, isto sem se descuidar de suas atividades como médico principalmente dos menos afortunados pela sorte. Sua residência passou então a ser na Rua do Serrito nº 19 (hoje Rua Carlos Cavalcanti) onde permaneceria até o final de sua vida.

Mas assim como haviam os bons momentos, haveriam também os maus momentos na vida do Irm.´. Trajano. O primeiro foi sem dúvuda o atentado sofrido por seu filho Albano Reis, magistrado brilhante, que por desavenças políticas quase tem sua vida roubada em um covarde atentado em 18 de maio de 1906. Entretanto a grande provação passada pelo Irm.´. Trajano seria com seu querido filho Jayme Reis que fazia da vida de seu pai um exemplo para si próprio como médico e político. Por motivos não muito claros até hoje, na noite do dia 7 de dezembro de 1912, ao retornar a sua residência é ferido mortalmente num atentado. De nada adiantaria a dedicação e os conhecimentos médicos de Trajano e seus colegas de profissão, vindo Jayme a falecer na noite do dia seguinte. A dor pela morte do filho foi grande, tendo o Irm.´. Trajano se retirado da vida pública, dedicando-se apenas a seu consultório e à Maçonaria.

Mas . . . o tempo passa e aos poucos seus amigos e IIrm.´. o trazem de volta para a vida agitada da política sendo eleito Deputado Estadual em 7 de novembro de 1915. Em 14 de fevereiro de 1916 é eleito por seus companheiros para Presidente do Congresso com 16 votos dos 17 votantes.
Apesar da idade ( 64 anos ), o Irm.´. Trajano consegue além de ser um atuante político, dar conta de seu consultório onde os pobres em número cada vez maior sempre têm a preferência aqueles que podem pagar pela consulta.

Como no ano anterior ele não faltou a nenhuma sessão do Congresso, razão pela qual é reeleito Presidente em 27 de janeiro de 1918. Neste último ano ele fala a seus companheiros: "Mais uma vez agradeço aos nobres colegas a prova de confiança com que acabam de honrar-me, elegendo-me para continuar os trabalhos legislativos. Espero, confiante em Deus, poder corresponder a generosidade de Vossas Excelências".

O maçon trajano

Grão Mestre do Grande Oriente e Supremo Conselho do Paraná, 
de 04/09/1902 a 04/1909. De 24/06/1914 a 17/07/1914. E de 06/1918 a 02/1919.

Da vida maçônica do Irm.´. Trajano o registro mais antigo encontrado é seu Diploma de Mestre, expedido pela Loja "27 de Dezembro" em data de 5 de julho de 1877, aos 25 anos de idade e um ano após sua chegada em Curitiba, o que nos leva a acreditar que tenha sido Iniciado nesta mesma Loja em princípios daquele ano.

Pouca coisa também vai se encontrar até princípios de 1902 quando a Loja "Acácia Paranaense" realiza um congresso Maçônico Estadual, congresso este não reconhecido pelo Gr.´. Or.´. do Brasil, resultando em desentendimento e acarretando a deflagração de um movimento separatista conhecido por Revolta da Acácia, tendo na pessoa do Irm.´. Trajano uma das figuras principais.

Iniciado o movimento que viria a ocasionar a fundação de um Gr.´. Or.´. Estadual. A liderança do Irm.´. Trajano logo se faria notar e seria o escolhido para o comando supremo da nova Potência que nascia, muito embora ele tenha por várias vezes tentado não aceitar a responsabilidade.

Preparando as bases da nova Potência que já contava com algumas Lojas solidárias, em 18 de agosto de 1902 na residência do Irm.´. Trajano são reerguidas as colunas da Loja "Apostolo da Caridade" que estava adormecida. Este evento contou com a presença de 7 IIrm.´. do antigo Quadro e mais 8 da Loja "Acácia Paranaense" dentre os quais o Irm.´. Trajano se incluia. Nesta oportunidade ele é eleito seu Ven.´. provisório, tendo também sido decidido que esta Of.´. ficaria com a guarda provisória dos documentos da Of.´. Chefe do Rito, até a organização definitiva dos Corpos Superiores do futuro Gr.´. Or.´.. Assim pode-se assegurar que a Loja "Apostolo da Caridade" foi o embrião do Gr.´. Or.´. que estava prestes a nascer.

Dando continuidade ao movimento separatista e contando com o apoio do Gr.´. Or.´. do Rio Grande do Sul (também independente), em 22 de agosto de 1902 o Irm.´. Trajano é investido no Grau 33 pelo Supr.´. Cons.´. do Grau 33 do Rio Grande do Sul.

No dia seguinte, 23 de agosto, o Irm.´. Trajano investe mais 8 IIrm.´. no Grau 33 e com eles prepara as bases para a fundação do Supr.´. Cons.´. do Grau 33 do Paraná.

Quatro de setembro de 1902, uma quinta feira, contando com a adesão das Lojas "Acácia Paranaense", "27 de Dezembro", "Apostolo da Caridade", "Luz Invisível" (duplicata), "Filhas da Acácia" (feminina), "Concórdia IVª", "Electra", "Hiram" (Paranaguá), "Guilherme Dias", ( Campina Grande) e "Santo Antonio da Lapa", no Templo da Loja "Acácia" é fundado oficialmente o Gr.´. Or.´. e Supr.´. Cons.´. do Paraná, nesta oportunidade o Irm.´. Trajano é eleito o seu Grão-Mestre provisório.

Em seu discurso de posse, destacmos o seguinte trecho: "O Gr.´. Or.´. do Brasil, no Rio de Janeiro, não pode e não deve murmurar contra nós uma só queixa; não pode e não deve nos censurar; não pode e não deve agastar-se; não pode e não deve malquistar-se conosco; porque deve compreender que atingindo a maioridade emancipa-se o filho da casa paterna, emancipa-se o território e constitui-se uma nação, emancipam-se as associações que por necessidade temporária obedecem a um centro. Continuaremos todos IIrm.´. a nos auxiliar, mas com a diferença que falaremos de Potência para Potência e não como pedintes".

Por gentileza da Baronesa do Serro Azul, que pertencia à Loja "Filhas da Acácia", o Gr.´. Or.´. do Paraná passa a funcionar em seu palacete na Rua do Cerrito nº 9 ( atual Rua Carlos Cavalcanti nº 533 - Fundação Cutural de Curitiba - solar do Barão ), sendo que às 20h30 do dia 24 de outubro de 1902 é inaugurada oficialmente a nova sede com um belissimo Templo, no saguão é inaugurado também um retrato do 1º Grão Mestre de autoria do artista e Irm.´. Augusto Stresser. Nessa oportunidade o Irm.´. Trajano diz em seu discurso: "Não pretendemos o esfacelamento da Maçonaria pátria; o que nos causará imensa mágoa é se não conseguirmos abrir os olhos de nossos IIrm.´., que se obstinam em não prestar-nos o seu auxílio para evitá-lo. Queremo-la forte, unida, mas com a federação, queremos que cada estado brasileiro constitua o seu Gr.´. Or.´. Independente, mas federado, com um poder central no Rio de Janeiro", mais adiante diz ele: "Não nos propomos a destruir o Gr.´. Or.´. do Rio de Janeiro, ele deve tornar-se forte, adotar a federação, tal qual entendemos a trabalhar para que em todos os estados sejam organizados GGr.´. OOr.´., desde que assim seja, contará o Brasil com 21 GGr.´.OOr.´., havendo um poder central que fecha a cadeia". 

Como se pode notar, Trajano não tinha a intenção de desagregar a Maçonaria, mas tão somente de uma descentralização do poder, o que aliás já estava previsto na Constituição do GOB vigente na época que, em seus Artigos 20/21 e 58 a 69 que previam a criação de GGr.´. OOr.´. Estaduais, fato este que é hoje uma realidade.

Em 14 de novembro de 1902, o Irm.´. Trajano é oficialmente eleito Grão-Mestre do Gr.´. Or.´. do Paraná, tendo tomado posse no mesmo dia.

Pelo Decreto nº 5 de 13 de dezembro de 1902, o Irm.´. promulga a Constituição do Gr.´. Or.´. do Rio Grande do Sul. E em 20 de janeiro de 1903 pelo Decreto nº 9 é promulgado também o Regulamento Geral.

Muito embora contando com pouco tempo de atividade, a nova Potência logo grajearia reconhecimento internacional. Assim foi que em 7 de junho de 1.903 o Irm.´. Trajano recebe o titulo de Membro Honorário do Gr.´. Or.´. e Supr.´. Cons.´. do Grau 33 da Italia. Em 16 de junho e designado Garante de Amizade do Gr.´. Or.´. e Supr.´. Cons.´. do Grau 33 do Egito e em 30 de junho o Gr.´. Or.´. e Supr.´. Cons.´. da Italia também o designam como Garante de Amizade.
Quatro de setembro de 1903, o Gr.´. Or.´. do Paraná comemora seu primeiro aniversário. O irm.´. Trajano certamente estave sendo pressionado pelo Gr.´. Or.´. do Brasil e no seu discurso se refere a seus opositores com palavras duras e da seguinte forma: "Escravos da ambição, das posições oficiais, do servilismo, só merecem despreso e escarneo". 

No segundo aniversário do Gr.´. Or.´. em 4 de setembro de 1904, em seu discurso o Irm.´. Trajano lamenta o recente falecimento do Irm.´. Antonio Antunes Ribas, Grão-Mestre do Gr.´. Or.´. do Rio Grande do Sul, seu grande amigo e incentivador da fundação do GOP.
No terceiro aniversário do GOP em 1905, o Irm.´. Trajano faz brilhante retrospectiva da Maçonaria Mundial que empolga a platéia presente, relatando tudo o que de bom a nossa Ordem tem feito através dos tempos.

Trinta de novembro de 1905, o Irm.´. Trajano é reeleito para mais um mandato de Grão-Mestre, período 1906/1909.

Três de março de 1906, o Irm.´. Trajano é reempossado como Grão-Mestre. Sua confiança nos destinos do Gr.´. Or.´. do Paraná é claramente notada ao declarar: "Meus IIrm.´. as nossa relações com o mundo maçônico são as mais amplas e fraternas. Mui poucas são as Potências estrageiras que não vem trocando conosco os seus garantes de amizade".

Ele certamente se referia aos GGr.´. OOr.´. da Itália, Egito, França e Bélgica e a Gr.´. Loj.´. Suiça alpina. Isto sem contar com os GGr.´. OOr.´. do Rio Grande do Sul, São Paulo e da Bahia.
Quatro de setembro de 1906, mais um aniversário do Gr.´. Or.´. é comemorado. O Irm.´. Trajano como sempre elabora um verdadeiro tratado sobre os ideais e objetivos da Maçonaria. Em determinado trecho diz ele: "Meus IIrm.´. sempre que o dever me conduz a ocupar a vossa atenção, embora mui pequeno e sem valor, me animo a pregar doutrina consona com os principios maçônicos, na medida de meus exiguos conhecimentos. Vos recomendo união, tolerância, aperfeiçoamento, trabalho honesto, auxílio mútuo, resignação na adversidade, perdão e crença inabalável no Supr.´. A.´. .´. U.´.". No final do seu pronunciamento ele faz uma afirmação um tanto interessante: "As nossas relações tanto interna como externas cada vez mais se dilatam e se firmam. A Loja Frei Miguelinho ao Or.´. de Natal passou a pertencer à nossa Jurisdição". Por mais que tenhamos pesquisado, até hoje não conseguimos maiores informações a respeito da referida Loja, o que nos parece é que tenha sido uma Loja provisória com vida bastante curta.

Ao se comemorar o 5º aniversário do Gr.´. Or.´. em 4 de setembro de 1907, como já se tornara tradição, o Irm.´. Trajano em mais um de seus eloquentes discursos diz: "O Homem qualquer que seja a sua posição no meio, é ao mesmo tempo um mendigo e um opulento; um protegido e um protetor; um infeliz e um feliz; um pequeno e um grande; um humilhado e um humilhador; e por issso, entendei bem: para que obtenhamos, necessitamos de dar; para que encontremos, urge espalhar; para que nos julguem com acerto, convém que julguemos com justiça. O único passadiço seguro é o exercício da caridade. Dos pés do Senhor, onde é nobre nos prostarmos como pequenos, humildes, necessitados, mendicantes, nos levantaremos plenos de graça para por nossa vez as distribuirmos". Mais adiante complementa de forma insofismável o modo que tinha de encarar os seus opositores: "Calúnias e injustiças acreditais, são espumas de pouca espessura, inconsistentes, que evaporam-se dado o prazo para o esquecimento e reparação".

A partir de 1909, o Irm.´. Trajano preferiu não mais se candidatar para o cargo de Grão-Mestre que vinha ocupando magistralmente à frente do Gr.´. Or.´., dando oportunidade assim para que outros IIrm.´. ocupassem o primeiro Malhete da Potência. Entretanto seu trabalho em prol do GOP continuava nos bastidores, sendo aquele conselheiro que a todos suxiliava e socorria quando situações difíceis ou inesperadas se apresentavam. O baque com a perda do seu estimado filho e Irm.´. Jayme Reis, quase o tevaram a desacreditar de tudo, mas graças aos amigos e IIrm.´. que o cercavam, levantou a cabeça e aceitou o desígnio do G.´.A.´.D.´.U.´., passando a encarar com naturalidade o destino, já que de longa data vinha tendo interesse muito especial pela doutrina espiritualista cujos ensinamentos e principalmente publicações compartilhava com seu grande amigo Monsenhor Celso.

Em 1914 vamos encontrar novamente o Irm.´. Trajano novamente sendo eleito para o cargo de Grão-Mestre, lamentavelmente são poucos os registros encontrados desse período, excessão feita à publicação de um discurso de posse da diretoria da Loja Concórdia IVª, em 15 de março de 1917, quando faz alusão às qualidades do povo alemão, povo este representado na quase totalidade dos membros da Loja.

O fim de uma vida dedicada a grandes ideais

O Irm.´. Trajano como era de seu costume, não faltava a uma Sessão seja do Congresso ou do Gr.´. Or.´.. No caminho conversava com os amigos e clientes, quase todas as pessoas que encontrava na rua o conheciam e de alguma forma algum favor lhe deviam. Lia muito e escrevia, companheiro da esposa, pai carinhoso sempre preocupado com seus filhos Albano e Ormuzde. Bricava com os netos que na época eram em número de 16, transmitindo-lhes todo o amor e sabedoria que possuía. Andava muito pela chácara, usufruindo a paz concedida aos justos e bons. 

Levantava-se muito cedo, tanto é que no dia 12 de agosto de 1919, foi visto por volta da 7 horas conversando com seu fiel amigo, compadre e Irm.´. Benjamin Lins.

Às 7h30m corre por toda a cidade a notícia dolorosa: "falecera de síncope cardíaca, o Dr. Trajano Joaquim dos Reis".

Muitos custaram aacreditar e para confirmar dirigiam-se à sua residência. Lamentavelmente aquele que fora conhecido como o "médico dos pobres", havia partido para o Or.´. Eterno. Foi um dia de luto para toda a cidade. As LLoj.´. do Gr.´. Or.´. do Paraná e do Gr.´. Or.´. do Brasil, suspenderam seus trabalhos. Por mais que houvesse divergencias na Maçonaria paranaense, o respeito de todos pelo Irm.´. Trajano estava acima de tudo.

O Governador do Estado, nosso Irm.´. Afonso Camargo, decretou luto oficial por três dias, suspendendo o expediante nas repartições publicas, e comunicando à família que as despesas do funeral correriam por conta do Governo.

A Universidade Federal, cujo reitor era seu genro e também Irm.´. Desembargador Vieira Cavalcanti, suspendeu as aulas em sinal de luto.

Antes de sair o féretro, houve a tradicional e comovente Cerimônia de Pompa Funebre, tendo usado da palavra os IIrm.´. Afonso Camargo em nome do Governo e da população e Benjamin Lins em nome da Maçonaria.

Parte o féretro, atrás do coche negro, seguiam todas as Lojas Maçônicas de Curitiba incorporadas e uma multidão incalculável, onde pobres e ricos lado a lado caminhavam em silêncio, conduzindo o bondoso médico à sua ultima morada.

Havia acabado a missão terrena do Irm.´. Trajano Reis, mas seu exemplo ficava marcado nas páginas da história, afinal ele fora mais paranaense do que muitos que aqui nasceram."

(Transcrito da revista maçônica "A Trolha", nº 77 - Março/1993 - Autor: Carlos Alberto Brantes.)

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

ÓPERA SIDÉRIA, de AUGUSTO STRESSER


A ópera SIDÉRIA fez estreia em 03 de maio de 1912, no Teatro Guayra (prédio antigo, hoje Biblioteca Pública do Paraná), na cidade de Curitiba/PR. Obra de Augusto Stresser, foi originariamente escrita em 1909 em dois atos, em partitura para piano e vozes. Posteriormente, recebeu acréscimo de um terceiro ato e orquestração de Léo Kessler, adquirindo a forma final como foi apresentada a partir de 1912.

A ópera tem como pano de fundo a Revolução Federalista, que as cidades de Curitiba e Lapa haviam vivenciado poucos anos antes, com dramaticidade, no confronto conhecido como Cerco da Lapa. 

Por sua vez, o libreto conta a história de um amor romântico e trágico, no triângulo amoroso entre a jovem Sidéria, o idealista Alceu e o apaixonado Juvenal.

BIOGRAFIA

AUGUSTO STRESSER nasceu em 18 de julho de 1871. Era o caçula dos sete filhos de Theodoro Stresser, um alemão nascido em Walferding/Luxemburgo que emigrou para o Brasil com apenas três anos de idade, final da década de 1820, e de Izabel Pletz (também conhecida como Luiza), também descendente de alemães, mas já nascida no Brasil. A família morava em Curitiba, estado do Paraná/BR, numa casa ampla na esquina da Rua da Carioca (hoje Rua Riachuelo) e Rua dos Alemães (hoje Rua 13 de Maio). 

Theodoro, pai de Augusto Stresser, era proprietário de uma olaria no Bacacheri, onde iniciou a fabricação das elegantes telhas tipo “Marselha”, a primeira indústria do gênero no Paraná.

Mas nem a família extensa ou o trabalho, comprometiam o envolvimento apaixonado de Augusto Stresser com a arte. Desde pequeno, demonstrava talento para as belas artes. Consta que aos oito anos já se interessava pela fotografia e pela música, e ganhou do irmão Jéca (José Theodoro) uma flauta, que logo aprendeu a tocar. Mais tarde, aprenderia também a tocar flautim, contrabaixo e piano.

Além da música, Augusto Stresser também gostava de escrever, desenhar, esculpir e de pintar. Estudou pintura, escultura e música no Conservatório de Belas Artes, instalado em Curitiba por Paulo Assunção, e colocou todo seu talento em prática, deixando para a posteridade inúmeras obras, seja como músico, compositor, e ainda pintor (telas a óleo), artista plástico (litografias e desenhos), fotógrafo, jornalista, poeta e escritor.

Já adulto, seu amor pela música o levou a ser um dos fundadores do GRÊMIO MUSICAL CARLOS GOMES (criado em 28 de maio de 1893), ao qual se dedicou intensamente, como sócio e também como presidente, cargo que exerceu por longo tempo. Na fundação do grêmio, a sede social foi instalada na propriedade do professor alemão C. Krueckmann, uma sala num prédio da Rua Riachuelo, tão pequena que mal cabiam dez pessoas mais bancos e estantes algo improvisadas, iluminada com lampiões emprestados. Mesmo assim, os membros tenazmente constituíram uma orquestra que, apesar da simplicidade das instalações, fez história e vários concertos nas sociedades musicais da época, nos anos subsequentes. Em dezembro de 1899, o Grêmio Musical Carlos Gomes já tinha 413 sócios. Stresser também tocava na orquestra da Catedral Metropolitana de Curitiba. 

Durante sua vida, Augusto Stresser também foi jornalista e ilustrador do jornal O GUARANY, do qual foi diretor em 1891, com apenas 21 anos de idade. Neste periódico, Stresser publicou parte de seu trabalho como artista plástico, considerado de excelente qualidade artística. Ainda, em parceria com Leite Júnior, publicou no jornal A FANFARRA, e colaborou no jornal DIÁRIO DA TARDE de Curitiba/PR e no jornal O ITIBERÊ de Paranágua/PR. 

Como escultor, junto com amigos, Stresser gostava de moldar figurinhas com o barro das olarias de seu pai. 

Conta-se que entre os tijolos que secavam nas prateleiras, encontrou-se bustos humanos e figuras de animais, entre estes o busto de Benjamin Constant feito por Sylvio Schleder, e de Couto Rocha e de Verdi, feitos por Augusto. 

Na escultura, a obra mais famosa de Stresser é a medalha comemorativa do “cincoentenário” da elevação do Paraná à Província, quando tirou o primeiro lugar no concurso para tal realizado pelo Governo do Estado, em agosto de 1903. 

Também expôs um busto de Apolo e uma estatueta de Vênus, em mostra de Alfredo Andersen, junto com dois ornamentos arquitetônicos (obras ainda preservadas pela família).

fonte: Boletim Informativo da Casa Romário Martins – Curitiba - Vol. XIX, nr 99, setembro/1992. AUGUSTO STRESSER E A ÓPERA SIDÉRIA. > há parte da pesquisa citada, publicada na Wikipédia, endereço eletrônico: Augusto Stresser

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Baronesa de Coragem



Maria José Correia, nossa Baronesa, foi casada com Ildefonso Pereira Correia, Barão do Serro Azul. Ambos nascidos em Paranaguá eram primos. Ela Irma do famoso Dr. Leocádio José Correia. Mulher de fibra, culta e, inteligente, viu-se abatida com o covarde assassinato de seu marido, o Barão. Vamos mostrar a carta que escreveu ao Barão do Ladário, e lida perante o Senado Federal. Escrita de próprio punho, revê-la toda a dor de mãe e esposa, diante dos fatos acontecidos. Vale a pena ler este testemunho para que se conheça a verdade de nossa historia, e identifiquemos o verdadeiro covarde, que hoje tem avenida em Curitiba, que leva o seu nome.

Exmo. Sr. Barão do Ladário: Cumprimentando a V. Exa., espero que me será perdoada esta liberdade com que vou prestar a V. Exa. informações sobre o monstruoso atentado que trouxe em luto eterno o meu lar, para sempre deserto das alegrias que eram para o meu coração de esposa e para a inocência dos meus filhos, hoje órfãos de pai, o único e grato conforto na vida. Aqui, desta sombra de claus¬tro em que sinto minha alma sepultada, e onde a coragem que me resta nasce da própria imensidade do meu sofrimento, eu começo certa, senhor, que a justiça indefectível de Deus está escolhendo entre os puros e os bons deste mundo os instrumentos poderosos de que há de em breve valer-se para a solene separação que se lhe deve na terra. E V. Exa. foi dos primeiros entre esses que em todos os tempos e no meio de todas as nações como que a Providência designa para serem o seu verbo de fogo a falar às almas, a pungir os corações, emocionando os povos, apontando-lhes no céu a cor azul e imaculada da Lei, para que as magistraturas abalem-se e as consciências volvam a ouvir a voz clamorosa dos túmulos, onde o martírio não dormirá eternamente, porque eterna na terra só há de ser a divina soberania do Direito e da Verdade. E desde que V. Exa., justamente assombrado ante o que se passa neste País, está sendo um dos poucos (mas poucos que têm a força das legiões) que se empenham pela desafronta desta geração perante a História, julgo que é do meu dever, e dever piedoso e sano que me e imposto pela me¬mória saudosíssima de meu infeliz esposo, contribuir para que V. Exa. exerça neste momento a heróica e sagrada missão de clamar por desagravo completo à honra e à inocência das vítimas que aqui foram sacrificadas ao furor incontinente e aos desvarios dos homens que já têm a consciência galvanizada pelo mal.

Não repetirei o que por certo V. Exa. já sabe, em relação aos sucessos que desde princípios de 1894 se deram neste Estado; mas em poucas palavras recordarei quanto possa servir para dar uma idéia bem nítida do papel que coube a meu inditoso marido, o Barão do Serro Azul, no meio dos acontecimentos que se desdobraram. V. Exa. de certo já tem notícia das condições em que o então governador deste infeliz Paraná, Dr. Vicente Machado da Silva Lima, abandonara esta capital em janeiro de 94, deixando forças do governo lutando em diversos pontos e sem comunicar essa inesperada resolução sequer aos mais íntimos amigos seus que se achavam na cidade. Curitiba (a mísera Curitiba! – como justificadamente disseram folhas de S. Paulo) ficou inteiramente entregue aos azares do desconhecido; pois o governador, ao retirar-se, nem ao menos incumbira a Municipalidade da polícia urbana! Tribunais, repartições públicas, comércio, oficinas, e as famílias – absolutamente à mercê do primeiro salteio, enquanto a autoridade legal contradizia os seus protestos de véspera fugindo em desespero para o Estado vizinho. É fácil fazer uma idéia da situação em que se viram estas populações, sufocadas de pavor ante os estranhos sucessos que se passavam, e ainda sob as, impressões e suspeitas, que lhes haviam posto no coração transtornado, de que andá¬vamos em vésperas do saque, do extermínio, do arrasamento que pas¬sariam por sobre esta terra com as hostes da revolução.

Em semelhante conjuntura, as classes em que é mais natural e profundo o espírito de conservação recorreram ao único meio que parecia eficaz no sentido de garantir ao menos os direitos primordiais das gentes: isto é, fizeram a escolha de uma comissão que tomasse a si o trabalho de neutralizar, como fosse possível, as violências a que se achava exposta a cidade. Foi assim que meu marido, com ou¬tros membros do comércio e das diversas classes, tomou a si o grande e penoso encargo de colocar-se entre os revolucionários triunfantes e a família paranaense, cuja paz e cujos direitos o governo legal es¬tava impossibilitado de assegurar no momento. A população inteira de Curitiba, os próprios adversários ou desafetos do Barão do Serro Azul ainda podem dizer hoje como e com que sacrifício de sua saú¬de e de seus interesses ele tornou-se o centro e a alma da comissão, agregando tudo, contendo ímpetos, fazendo em suma quanto pudesse atenuar, para o comércio, para a indústria, para a propriedade e para a família curitibana, os efeitos da emergência excepcional em que se via a cidade. Um só documento será capaz alguém de apresentar de que meu marido sequer tivesse simpatias pela revolução. Em vez disso, seria facílimo fornecer provas positivas de que o Barão do Serro Azul, aos próprios chefes revolucionários, nunca dissimulou o seu modo de pensar a respeito do imenso descalabro que a invasão vinha causar ao Paraná e especialmente quanto à eficácia do extremo recurso da revolta como meio de corrigir os erros da tirania e operar o restabelecimento da Constituição e das leis – de modo horroroso subvertidas pelas paixões dos próprios homens que tinham o dever de conservar-lhes imaculada a pureza e majestade intangível. Foi tal, senhor – e o Paraná inteiro aí tereis para confirmá-la -, foi tal a ação exercida por meu inditoso marido nos dias dolorosos em que Curitiba esteve pelo Governo entregue à revolução triunfante, que o comércio, a indústria, a imprensa, todas as classes sociais apontavam-no sempre como o elemento principal da gran¬de força que constituiu-se a égide do direito, da ‘Ordem, da tranqüilidade de todos, tanto quanto era humanamente possível naqueles momentos anormais.

“E tão certo e convencido estava o Barão do Serro Azul de que os serviços que prestara pela última vez a esta terra, que tanto lhe mereceu e que por ninguém.. mais do que por ele, foi servida com desinteresse e solicitude indiscutíveis, tão certo, digo, senhor, de que tais esforços seriam reconhecidos e louvados pelo Governo que retomava o seu posto – que absolutamente recusou fazer o que os culpados fizeram. Com calma e até com satisfação e alacridade, esperava, pode-se dizer sorrindo, o Governo legal, a quem desejava até dar contas do modo nobre como soubera zelar do direito, da fortuna e da honra de seus patrícios – honra, direito e fortuna que a autoridade legítima não tinha tido a coragem de amparar e defender.

Mas, logo nos primeiros dias após a chegada das tropas legais, entre cujas fileiras o governador que fugira entrava como um triunfador, meu marido percebeu que os sentimentos dos que voltavam desmentiam toda a convicção com que via restabelecer-se a Lei na terra paranaense, e isto não sem pasmo da população inteira, que supunha-se mais com direito à condolência pelo seu sofrimento, do que no risco de vir a padecer castigos por uma culpa que só o Governo cometera desertando o seu posto de guarda da Lei e garantidor da paz e da ordem. E que julga V. Exa. que fosse o pensamento de que vinha cheia a alma ,dos que haviam fugido?

Não quero alongar-me demais dando conta do que ocorreu, dos excessos de toda ordem que caracterizaram os angustiosos longos primeiros dias da reocupação legal. Um dia, há de haver quem se incumba de dar à América, para escarmento desta geração, uma pintura fiel e minuciosa desses incríveis sucessos, que encheram de mágoa e de santa revolta até a alma dos mais indiferentes, que fizeram esquecer de todos os males, os insignificantes males da revolução!

Para o que me preocupa, é bastante dizer a V. Exa. que entre o assombro que lhe produzia a descaroável e monstruosa conduta que se anunciava contra todos os que não tinham oposto à invasão a resistência da fuga, e a mágoa que lhe calou fundo no coração sentindo ainda uma vez a sua virtude impotente para fazer emudecer a perversidade, a inveja e a calúnia – meu marido cedeu a instâncias da família reservando-se às violências que tinham já começado a ser praticadas contra a população, deve-se dizer, pois os quartéis, os teatros e até casas escolares desta Capital regurgitavam de presos, com toda expansão da ferocidade republicana, semelhante aos instintos daquele deus cujas iras aplacavam-se pela vingança e pelo sangue dos holocaustos. 
Dessa cautelosa reserva, no dia 10, meu marido saiu, como saíra Jesus das Oliveiras – entregue por um amigo dos muitos em que teve a infelicidade de crer. Já estava em nossa casa muito tranqüilo e confiante na mísera justiça dos homens, e até sem reprimir palavras de elogio ao general Everton Quadros (que o havia apenas pro formula detido sob palavra), quando o coronel Pires Ferreira, acompanhado de outros militares, procura meu marido para uma conferência, conferência esta na véspera anunciada, com todas as seguranças de cordialidade e boa-fé, por parte do comandante do Distrito. Como (talvez pressentindo que aqueles homens traziam para o meu lar a desgraça que aqui está bradando eternamente para o céu) não quisesse eu acompanhar meu marido à sala, após uma prosa cordial e expansiva, tive de ver no recinto interno de minha família aquelas frontes cuja impressão ainda hoje me tortura. E então, meu esposo contou-me que o governador fa2ia uma carga, imensa de responsabiliades contra ele e que por isso devia recolher-se ao quartel no dia seguinte. Sem conter o incômodo que todos deviam ter notado no meu semblante, perguntei logo se era com a prisão que se compensavam os serviços feitos por meu marido a Curitiba, ao que me respondeu o coronel Pires Ferreira: ‘Oh, minha senhora, pois V. Exa. esquece que sou o coronel Pires Ferreira, velho amigo do conselheiro Correia e portanto amigo de seu esposo! Senhora Baronesa, tranqüilize-se: o Barão não é preso, o Barão é meu hóspede!

No dia seguinte, meu marido recolheu-se a uma sala do quartel do corpo comandado pelo coronel Pires Ferreira. Ali deu-se a mais plena liberdade ao hóspede, com quem o comandante conviveu na mais perfeita e aparentemente mais cordial intimidade durante 6 dias. A sala em que meu marido foi aposentado tinha janela para a rua e a entrada era inteiramente franca a todos. À noite, o Barão, o coronel e outros oficiais jogavam quase sempre o solo.

Mas ouça V. Exa., ouça, senhor, e diga que não crê para honra da piedade humana: vive ainda o oficial do exército que, compungido, disse uma vez a pessoa de minha família que sentia horror ao ver aquele homem, que tinha conhecimento de tudo que estava para passar-se, e ali a encarar o Barão sem tremer e a tratá-lo de amigo!

Talvez V. Exa. não compreenda ou pelo menos não encontre explicação para as deferências especiais que se tinham com meu marido. Pois bem, agora V. Exa. fica sabendo que o plano era este: instigar no hóspede o desejo de fugir para ser trucidado sem responsabilidade criminal!

Decorridos 4 ou 5 dias, achando-me de visita a meu marido, ouvi do coronel: ‘Já sabe, Sra. Baronesa, que conversei hoje longamente com o Barão. Estou ciente do quanto houve por aqui. Deixe tudo por minha conta’. E passado um instante acrescentou: ‘E não há de ver, Sra. Baronesa, que o Barão é também religioso! Ironia pungente à fé puríssima e à conhecida religiosidade de meu esposo. E quando confirmei os sentimentos que se estranhava naquele dito, ouvi o coronel Pires Ferreira, ouvi sair dos lábios meio cerrados daquele homem si¬nistro e quase a meia-voz: ‘pois que se console… porque Cristo também sofreu…’ Tais palavras (e no tom em que foram ditas) arrepiaram-me; entretanto sempre eu entendia que a resignação aconselhada era para aquele sofrimento da prisão. Nesse dia, e sem que a nova me magoasse mais do que era na¬tural (pois o coronel soubera habilmente preparar o meu espírito para ela) tive ciência de que o Barão se passaria para o quartel do 17.°, onde ficaria com outros presos. Efetivamente, no dia seguinte meu marido ia, de carro e com todas as atenções, para a sua nova prisão. Quando ele tomou o carro, o coronel, da janela, correspondeu amavelmente ao seu último aceno de mão, e logo que o veículo partiu – da alma do coronel Pires Ferreira saiu esta frase ouvida por alguns de seus ofi¬ciais: ‘Este será liquidado dentro de dois dias… ‘.

O prognóstico realizou-se com a diferença apenas de um dia. O resto V. Exa. sabe, e eu procuro desviar da minha imaginação aquele trem-esquife que, às 10 horas da noite de 20 de maio de 94, partiu de Curitiba conduzindo o Barão do Serro Azul e seus companheiros de sacrifício.

No momento em que o comboio-tumba partia da estação, o coronel Pires Ferreira achava-se num dos clubes desta Capital e da sa¬cada do prédio houve quem lhe surpreendesse esta frase escapada daquela alma tremenda: ‘Oh que inconveniência! Deixarem apitar um trem destes!…’

V. Exa. decerto há de ter tido notícia do modo como se consu¬mou aquela monstruosidade que maculou para sempre a civilização deste país e que não encontra símile na história da humanidade. E não fora a minha fé, senhor, a minha fortaleza moral e a resignação que sinto lembrando-me de Jesus, como se compreenderia que me ficasse ainda, depois de todas estas angústias, este resto de vida e de coragem para resistir à loucura no meio da minha desgraça!

Só alguns dias passados, o boato começou a correr pela cidade; e às esposas aflitas que procuravam o comandante militar para ouvir o desmentido da nova inverossímil, afirmava o general Everton Quadros, com sorrisos nos lábios e com mostras de sinceridade através das quais era impossível perceber um resquício de remorso, afirmava sob sua palavra de honra que os presos haviam seguido para o Rio. . E quando a alma da população inteira foi se enchendo de opressão horrível ante as versões que corriam como um clamor de dies irae, deixando por sobre a Capital do Paraná a sombra pavorosa da agonia e do luto – o general, cuja espada viera restaurar a Lei, mandava que as bandas militares, com o som da música festiva, dispersassem os agouros que suspendiam a vida de um povo, como quem a gritos estridentes espanta uma corvada que fareja matanças! Ao mesmo tempo, senhor, fazia-se declarar às famílias das vítimas que não podiam cerrar as portas nem dar outras demonstrações de luto… sim – visto como era falso o que se falava. . .

Quando, mais tarde, meu procurador pediu na repartição do comando do Distrito a certidão de óbito, esta foi forneci da nestes termos: ’0 Barão do Serro Azul foi fuzilado na serra por ter-se revoltado contra a escolta que o conduzia para o Rio’.

O governador deste Estado naquele tempo, V. Exa. sabe também, é hoje senador da república, e com o coronel Pires Ferreira, aí está clamando por que, antes de tudo, se aprovem os atos do marechal Floriano e necessariamente todas as monstruosidades cometidas em nome do vice-presidente da República. Até agora, portanto, os dois homens (homens, senhor!) que fizeram no Itararé o conhecido pacto negro, mantêm-se fiéis ao seu juramento de covardia e de sangue: estão ambos no Senado da Pátria, naturalmente bendizendo a mísera que, como Prometeu aos seus abutres, os alimenta de posição e talvez de fortuna, com o próprio sangue e com a desgraça de seus filhos.

É possível, senhor, que se quisesse contestar esta narração; e V. Exa. compreende que almas assim avassaladas do crime e entregues às convulsões da sua fereza devem ter ainda a serenidade da hiena para o desplante de limpar das fauces o sangue das vítimas. É também verdade que poderiam aludir à minha suspeição de mulher e de viúva, obumbrada pela fatalidade que me feriu. Mas, senhor, o que aí fica – peço a V. Exa. que não esqueça agora – nasce d’alma de uma criatura que tem os olhos voltados para a misericórdia de Deus e que não clama senão pela Justiça, para que o martírio das vítimas não fique pesando sobre os destinos deste pais, em que tenho de deixar os meus tristes filhos. Curitiba, 8 de julho de 1895. – Maria José Correia – Baronesa do Serro Azul.

Fonte: http://www.blogizazilli.com/index.php/medicina/baronesa-do-serro-azul - acessado em 5/set/2014 as 18h18