Zeca Dirceu, o Paraná e a reconstrução do PT: quando o rock encontra o sertão, e a juventude reencontra suas raízes
Por Ronald Stresser | Editor | SulpostÉ difícil dissociar a imagem de Zeca Dirceu da própria história do Partido dos Trabalhadores. Não apenas porque é filho de José Dirceu, um dos fundadores da legenda, mas porque sua trajetória se entrelaça com o que o PT tem de mais simbólico: o chão da luta popular, o calor das bases, a confiança em que é possível transformar — mesmo o impossível — com organização, coragem e paixão.
Hoje, Zeca Dirceu é deputado federal, ex-líder do partido na Câmara, e se lança num novo desafio: disputar a presidência estadual do PT do Paraná. Em um estado onde o partido vem de três ciclos eleitorais difíceis, sua candidatura renova expectativas, reconecta afetos e reacende a esperança de que é possível voltar a sonhar — e realizar.
“Sou apaixonado pelo PT. Ele é, sem dúvida, a grande ferramenta da democracia brasileira”, disse o deputado em entrevista exclusiva ao Sulpost. Em sua fala, há menos ensaio político e mais memória afetiva. Ele lembra que cresceu participando de reuniões partidárias, congressos, encontros de base.
“Presidi o diretório municipal do partido ainda jovem e fui duas vezes prefeito de Cruzeiro do Oeste. Uma cidade onde o Collor teve quase 90% dos votos em 1989. Mesmo assim, conseguimos fazer dois mandatos premiados, com as marcas do PT: participação popular, orçamento participativo, cultura, educação em tempo integral. A transformação era possível, mesmo ali.”
Juventude, cultura e progresso
O que mais impressiona na figura de Zeca Dirceu é essa habilidade rara de transitar entre mundos. É filho de um dos mais respeitados quadros da velha guarda do partido — e, ao mesmo tempo, querido pelas juventudes progressistas do Paraná, especialmente em Curitiba, onde sua candidatura é vista como sinal de mudança real.
E talvez isso tenha a ver com a identidade múltipla que carrega: nascido no interior, ligado à agricultura familiar, mas profundamente urbano; gestor experiente, mas com alma de militante; alguém que ouve Metallica e Sepultura com o mesmo entusiasmo que sente ao cantar um modão raiz.
“Sou muito eclético para música, mesmo. Uma prova disso são as comemorações do meu aniversário, que acontecem há mais de 20 anos. Sempre entro com uma música de rock. AC/DC e Led Zeppelin são presença marcante. Mas também sou apaixonado pelo sertanejo raiz. Acho que isso tem tudo a ver com a cara do Paraná: uma mistura de influências, de culturas, de raças”, compartilhou ao Sulpost, com um sorriso franco.
“A juventude se vê nisso. O jovem de hoje ouve rock, estuda agroecologia, defende a democracia e quer espaço pra sonhar.”
Mas Zeca não se limita à estética: seu trabalho no Congresso reflete esse compromisso com a juventude. Ele fala de educação, esporte, cultura, e reforça que o acesso à arte transforma vidas — como viu nos anos em que foi prefeito.
“Nas escolas em tempo integral, as crianças tinham contato com música, teatro, dança e artesanato todos os dias. Isso molda o caráter, abre caminhos. E é papel do poder público fazer isso chegar para todos.”
Reconstruir com as bases
O processo de eleições diretas do PT (PED), marcado para 6 de julho, será decisivo para os rumos do partido no estado. Ao Sulpost, Zeca foi direto:
“Temos que fazer diferente. Chega de discurso bonito sem ação. O PT do Paraná precisa voltar a ouvir seus filiados, prestar contas, construir com os comitês populares de luta. Hoje, a base está desanimada — e com razão.”
Zeca é categórico ao falar da crise de representatividade:
“Não dá mais para aceitar que estejamos entre os piores desempenhos do país. O PT é muito maior que isso. Nossa militância tem garra, tem história, tem paixão por Lula e pelo projeto que mudou o Brasil. Vamos devolver o PT ao protagonismo das ruas, das periferias, do campo, dos territórios invisibilizados.”
Sua proposta de reconstrução passa por fortalecer a formação política, ativar núcleos, retomar uma comunicação direta com os 399 municípios. Para ele, é preciso retomar a confiança com quem realmente faz o partido existir: os trabalhadores, as lideranças de bairro, os movimentos populares.
“Quero que o PT volte a ser um partido vivo. Um partido que pulsa. Que está onde o povo está. Que canta junto, chora junto, celebra junto. A gente precisa devolver o ânimo, a alegria, e isso não vem de cima pra baixo. Vem da base.”
Itaipu, energia, tecnologia e futuro
Zeca também não esconde sua admiração pelo trabalho de Enio Verri à frente da Itaipu Binacional — nome que defende como possível candidato ao governo do Paraná em 2026.
“O Enio tem feito um trabalho fantástico. Ele é uma liderança técnica, política, e com visão de futuro. Está transformando a Itaipu em motor de desenvolvimento social e sustentável.”
De fato, os números impressionam: foram R$ 295 milhões investidos em 75 municípios paranaenses, fortalecendo agricultura, educação, saúde e infraestrutura.
“É disso que estou falando quando falo em projeto de desenvolvimento: ciência, cultura popular, energia limpa e inclusão social no mesmo pacote”, reforçou.
Para Zeca, a missão do PT no Paraná precisa ter esse horizonte: desenvolvimento com justiça social, com a cara do povo.
“Nosso povo é criativo, trabalhador, generoso. É um povo que ama o campo, mas também vibra com a cidade. Que escuta Legião Urbana e também Milionário & José Rico. Eu sou parte disso. Quero ver esse povo respeitado, representado e com vez de novo.”
A esperança renasce das raízes
Em um momento em que a política muitas vezes se mostra distante, Zeca Dirceu surge como um corpo presente. É alguém que conhece o interior do Paraná como poucos, que entende o que move os jovens e que honra o legado dos que vieram antes. Sua candidatura à presidência do PT estadual é, acima de tudo, um chamado à reaproximação: com a base, com a história, com o povo.
“O PT é casa, é chão. É luta e é ternura. E o Paraná vai voltar a ter um partido com alma, com garra, com coração. A gente vai fazer isso juntos.”