Ecce homo, ou Ecce homo. Wie man wird, was man ist, lançado na língua inglesa em 1908, é uma das obras mais controversas de Nietzsche, publicada em meio ao agravamento de sua doença e transtorno mental.
A intenção de Nietzsche ao deixar esta última obra, pelas suas próprias palavras, era de não ser confundido ou mal compreendido.
Tinha receio de ser "santificado" ou idolatrado e, por isso mesmo, deixou claro que não era nem santo (cita-se: "Eu sou um aprendiz do filósofo Dionísio, e faço mais gosto em ser tomado como sátiro do que santo.") e que não desejava ser imitado e sim ser tomado como modelo (como já citado em A Gaia Ciência).
Neste livro ele não economiza palavras para citar grandes autores (muito ou pouco conhecidos). Explica o momento de vida no qual publicou cada uma de suas obras, dando, inclusive, em alguns casos, uma sinopse dos escritos.
Elogia, inclusive, aquela que considera como obra máxima, não apenas sua, mas de toda a Humanidade: Assim Falou Zaratustra. Antes de sua profunda enfermidade, fez questão de saber que seu livro havia sido publicado e traduzido.
Conheça alguns trechos do livro:
"A filosofia, como a compreendi e a vivi até agora, é a vida voluntária no meio do gelo e das altas montanhas – é a busca de tudo que é estranho e duvidoso na existência, de tudo que foi até agora proscrito pela moral." pág. 16
"Os anos de minha baixa vitalidade foram aqueles em que deixei de ser pessimista: o instinto do auto-restabelecimento me proibiu uma filosofia de pobreza e de desanimo." pág. 23
"Aquilo que não o mata o torna mais forte." pág. 24
"Estou sempre a altura das circunstâncias; para ser mestre de mim mesmo é preciso que eu seja colhido de improviso." pág. 26
"A piedade só é chamada virtude entre os decadentes." pág. 27
"Meu tipo de represália consiste em punir tão rápido a asneira pela inteligência." pág. 28
"Estar doente nada mais é do que uma espécie de ressentimento." pág. 29
"Não é pela inimizade que se termina com a inimizade, é com a amizade que se consegue terminar com a inimizade." pág. 29
"O ressentimento, nascido da fraqueza, não prejudica ninguém mais que o fraco." pág. 29
"O pendor agressivo é tão inerente a força como o sentimento de vingança e de rancor o é da fraqueza." pág. 30
"A força do agressor se mede, por assim dizer, pelos adversários de que necessita." pág. 30
"Igualdade diante do inimigo – primeira condição de um duelo leal." pág. 30
"Minha pratica de guerra se resume em quatro princípios. Primeiro: só ataco causas vitoriosas. Segundo: só ataco coisas contra as quais não posso encontrar nenhum aliado onde avanço sozinho. Terceiro: não ataco nunca as pessoas. Quarto: só ataco as coisas das quais toda acepção de pessoa está excluída, nas quais falta todo um plano de experiências estranhas." pág. 31
"Deus, imortalidade da alma, salvação, além são outros tantos conceitos os quais não me dediquei nenhuma atenção, tão pouco nenhum tempo, nem sequer quando era criança - talvez eu não fosse já bastante infantil para isso?" pág. 35
"Esta cultura (idealismo) que ensina desde o inicio a perder de vista as realidades para ir a caça de objetivos inteiramente problemáticos chamados ideais." pág. 36
"O idealismo foi a doença que me reconduziu à razão." pág. 40
"Deve-se evitar o máximo possível o acaso, o estimulo externo; fechar-se entre muros de alguma forma faz parte da elementar sabedoria instintiva, da gestação intelectual." pág. 41
"Eu não teria podido suportar minha juventude sem a musica de Wagner." pág. 46
"O erudito gasta toda a sua energia em dizer sim e não na critica daquilo que já foi pensado, ele próprio não pensa mais." pág. 49
"Ninguém pode escutar nas coisas, inclusive nos livros, mais do que já sabe. Não se tem ouvidos para escutar aquilo a que não se tem acesso pela experiência vivida." pág. 56
"Porque só na medida em que a coragem ousa se aventurar, se aproxima precisamente da verdade. O conhecimento, o dizer sim a realidade, constituem para o forte uma necessidade da mesma ordem que, para o fraco a covardia é a fuga diante da realidade – o ideal – sob a inspiração da fraqueza... o fraco não tem liberdade de conhecer : os decadentes tem necessidade da mentira, tem nela uma das condições da própria conservação." pág. 67
"A doença me conferiu de qualquer forma o direito de uma reviravolta completa de todos os meus hábitos; permitiu-me, ordenou-me o esquecimento; deu-me de presente a obrigação de permanecer deitado, do ócio, da espera e da paciência... Mas é justamente isso que se chama pensar... Meus olhos decidiram por si sós acabar com toda bibliomania, falando claro: a filologia: livre-me dos livros, durante anos não voltei a ler mais nada – o maior beneficio que me concedi a mim mesmo." pág. 80
"A questão da origem dos valores morais é, pois, para mim uma questão capital, porque condiciona o futuro da humanidade." pág. 84
"Falando teologicamente – que se ouça com atenção, pois raramente falo como teólogo – foi o próprio Deus que, sob a aparência de serpente ao final de sua tarefa repousou sobre a arvore do conhecimento: assim descansava de ser Deus... tudo o que ele tinha feito era muito belo, o diabo não é mais do que a ociosidade de Deus a cada sete dias..." pág. 102
"Definição da moral: a idiossincrasia de decadentes, com a intenção oculta de se vingar da vida – e isso, com sucesso. Dou muito valor a esta definição." pág. 121
"Tudo o que até hoje se chamava ‘verdade’ é reconhecido como a forma mais nociva, mais pérfida, mais subterrânea de mentira; o pretexto sagrado de ‘melhorar’ a humanidade, reconhecido como astúcia para sugar o sangue da vida, para torná-la anêmica." pág. 122
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