quarta-feira, 7 de maio de 2025

Avião da FAB com o presidente Lula é proibido de sobrevoar a Estônia

Estônia fecha o céu para Lula em meio a tensões geopolíticas, mas cessar-fogo reacende esperança na Europa Oriental

Por Ronald Stresser*

 
Avião do Presidente Lula é escoltado por caças da FAB - Ricardo Stuckert
 

Na manhã gelada desta quarta-feira, enquanto a névoa ainda pairava sobre o Mar Báltico, um comunicado seco e direto do Ministério das Relações Exteriores da Estônia percorreu a Europa como uma rajada cortante: o espaço aéreo do país estava oficialmente fechado para aviões do Brasil e de Cuba com destino à Rússia. A mensagem, embora técnica, carrega o peso simbólico de uma Europa rachada por rivalidades antigas, que hoje se refletem em cada rota de voo.

O avião da Força Aérea Brasileira, que transporta o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para os eventos do 80º aniversário da vitória soviética sobre o nazismo, teve de traçar nova rota às pressas. A proibição imposta por Tallinn obrigou a aeronave a contornar o território estoniano, aumentando o tempo de voo e expondo a fragilidade diplomática entre os blocos geopolíticos.

Segundo o governo estoniano, a decisão foi motivada pela recusa em permitir qualquer apoio simbólico ao que chamaram de “evento de propaganda” organizado pelo Kremlin. “O uso do espaço aéreo da Estônia para voos com destino a Moscou está completamente fora de cogitação”, declarou o ministro das Relações Exteriores Margus Tsahkna. A mensagem foi clara: os céus estonianos não receberão chefes de Estado que ousem celebrar a vitória soviética em solo russo — nem mesmo Lula, conhecido mundialmente por seu papel de mediador em tempos de guerra.

A medida faz parte de uma ação coordenada entre países bálticos. Letônia e Lituânia também barraram o avião do presidente sérvio Aleksandar Vucic, que só conseguiu chegar à Rússia nesta quarta-feira por uma rota alternativa. Os líderes do Leste Europeu temem que a presença de autoridades estrangeiras no Desfile da Vitória em Moscou seja interpretada como legitimação tácita da postura russa na guerra com a Ucrânia.

A trégua pelo Dia da Vitória

Mas nem só de tensões vive o 9 de maio. Em um gesto inesperado, o presidente russo Vladimir Putin anunciou, no fim de abril, um cessar-fogo humanitário para os dias que antecedem e sucedem o feriado. A trégua entrou em vigor à meia-noite de hoje, horário local — ainda que o histórico recente não inspire plena confiança.

Segundo o comunicado do Kremlin, “todas as hostilidades serão suspensas entre 8 e 10 de maio”, como forma de preservar a memória daqueles que tombaram na Segunda Guerra Mundial e permitir homenagens pacíficas. Embora a Ucrânia tenha rejeitado formalmente o acordo, exigindo uma trégua mais longa e “incondicional”, a pausa nos combates foi confirmada por observadores internacionais até o início da tarde desta quarta-feira.

Nas ruas de Moscou, bandeiras vermelhas já enfeitam as avenidas, enquanto veteranos e crianças ensaiam as canções que marcarão o desfile. Para muitos, o silêncio temporário das bombas é uma janela estreita de humanidade em uma guerra marcada por promessas quebradas.

Enre rotas fechadas e portas entreabertas

Lula segue viagem rumo a Moscou, apesar das dificuldades logísticas impostas pela Estônia e seus aliados. Sua presença no desfile, que contará com líderes de quase 30 países, é simbólica: sinaliza que o Brasil — ainda que distante do conflito — acredita na diplomacia como única saída legítima. Desde o início da guerra, o presidente brasileiro tem se posicionado por uma solução negociada e pelo fim das hostilidades.

Para quem acompanha com atenção a política internacional, o fechamento do espaço aéreo da Estônia é mais do que um entrave técnico. É o reflexo de um mundo que, mesmo diante de um cessar-fogo provisório, ainda parece incapaz de encontrar rotas seguras para a paz.

*com informações do Sputnik.

Santa Casa de Curitiba 145 anos: uma história viva

Santa Casa de Curitiba celebra 145 anos com jantar especial — e uma história viva de cuidado, afeto e compromisso com quem mais precisa

Por Ronald Stresser, de Curitiba 

 

Era 1880 quando Dom Pedro II inaugurou a Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, o primeiro hospital da cidade. Na época, não existiam postos de saúde, planos, exames de imagem, nem antibióticos. O que existia era a necessidade — urgente, humana, gritante — de cuidar. De tratar não só o corpo, mas a angústia de quem chegava fragilizado. O hospital nasceu para isso. E nunca mais parou.

Hoje, 145 anos depois, essa missão continua viva — e pulsando em cada canto do hospital, onde mais de 93 mil pacientes passam por ano, todos atendidos pelo Sistema Único de Saúde. Porque ali, na Santa Casa, saúde não é mercadoria. É direito. É acolhimento. É gente cuidando de gente.

Para comemorar essa trajetória feita de histórias reais e vidas transformadas, a instituição promove no próximo dia 29 de maio, a partir das 19h, um jantar especial no Salão Azul do Clube Curitibano. Não se trata de uma festa qualquer. É um momento simbólico. Um respiro. Um abraço coletivo em todos que, de alguma forma, fazem parte dessa caminhada — médicos, enfermeiros, pacientes, voluntários, famílias inteiras.

Uma noite de memória e futuro

O jantar terá música ao vivo com a Banda Samaryna, pratos preparados com carinho e uma exposição do Museu da História da Medicina do Paraná, que vai transportar os convidados ao passado — com documentos, fotos e equipamentos que ajudam a entender como a medicina evoluiu junto com a cidade. Como a Santa Casa foi, ao mesmo tempo, berço e guardiã de tudo isso.

Os ingressos custam a partir de R$ 250 e estão à venda no site da Sympla. O cardápio tem entrada com vol au vent de bacon, creme de batata com ragu e mini quiches. Nos pratos principais, carnes, massas e saladas. Café para encerrar. Vinhos serão vendidos à parte — mas quem quiser pode levar sua bebida, com taxa de rolha paga no local.

100% SUS. 100% humano

A Santa Casa é, até hoje, um hospital 100% SUS. E isso não é um detalhe técnico. É uma escolha. Uma forma de existir. Em tempos em que o acesso à saúde ainda é um desafio para tantas famílias, a instituição mantém firme o compromisso de atender com dignidade, respeito e excelência — sem cobrar nada por isso.

"Não tratamos doenças. Tratamos pessoas", resume um dos lemas da instituição. Pode soar simples, mas carrega uma verdade profunda: ali, cada paciente é visto em sua totalidade — com suas dores, suas dúvidas, seus afetos. Médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, farmacêuticos e profissionais de tantas outras áreas trabalham juntos, de forma integrada, com um único objetivo: cuidar.

A Santa Casa cresce com Curitiba

O tempo passou. As necessidades mudaram. Mas a essência permanece. Agora, com o apoio da Prefeitura de Curitiba, a Santa Casa se prepara para dar um salto: um novo projeto de ampliação deve injetar R$ 200 milhões em infraestrutura e tecnologia, permitindo atender ainda mais gente, com ainda mais eficiência.

"A Santa Casa é uma referência em saúde para Curitiba e para o Paraná", disse o prefeito Eduardo Pimentel, ao garantir o apoio técnico do município. A proposta está sendo cuidadosamente elaborada, respeitando todas as normas de saúde pública e planejamento urbano. Mas a intenção já é clara: seguir salvando vidas, com mais estrutura e acolhimento.

E até os bichinhos têm vez

O compromisso da Santa Casa com o cuidado extrapola a medicina humana. No bairro Boa Vista, o hospital mantém — em parceria com a Prefeitura — um hospital veterinário com consultas gratuitas, atendendo cães e gatos de famílias que muitas vezes não teriam outra forma de garantir esse cuidado. Porque, para quem acredita no valor da vida, toda vida importa.

145 anos e a certeza de que vale a pena

Quantas mãos já passaram por aquelas salas de cirurgia? Quantos sorrisos de alívio após um exame tranquilo? Quantas mães que ouviram o primeiro choro de seus filhos ali? Quantos idosos que encontraram cuidado quando mais precisavam? Não há como medir. E talvez nem seja o caso.

O que se pode dizer, com certeza, é que a Santa Casa de Misericórdia de Curitiba é mais do que um hospital. É um patrimônio afetivo da cidade. Um pedaço da alma curitibana. E que neste 29 de maio, entre brindes e abraços, uma nova página será virada — com a mesma ternura, a mesma fé, o mesmo compromisso que começaram lá atrás, em 1880.

Serviço

Jantar de 145 anos da Santa Casa de Curitiba

📍 Salão Azul do Clube Curitibano – Av. Pres. Getúlio Vargas, 2857 – Água Verde - Veja o mapa.

🗓️ 29 de maio, a partir das 19h

🎟️ Ingressos no site Sympla – a partir de R$ 250

Do Iluminismo às pistas: o renascimento do propósito na música eletrônica

Projeto NeoClassic DJ: transformando filosogua, mitologia, estátuas de mármore, pick-ups e sintetizadores em música eletrônica com propósito

Por Ronald Stresser, de Curitiba

Instagram/NeoClassic
 

Na arquitetura da alma humana, há quem busque rebuscamento. Outros, pureza. No caso do NeoClassic DJ (@neoclassicdj), projeto nascido da inquietação artística de um produtor apaixonado pela beleza atemporal da Antiguidade, a música eletrônica ganha colunas dóricas, sombras de mármore e ecos de mitologia grega. Mais do que uma estética, o projeto é um manifesto pela simplicidade com significado – um resgate sonoro e simbólico dos valores clássicos em meio ao caos contemporâneo.

Inspirado no movimento artístico do Neoclassicismo — que floresceu na Europa por volta de 1750 e durou até meados do século XIX — o NeoClassic DJ mergulha nas raízes da arte clássica para construir um som moderno e reflexivo. Assim como os escultores neoclássicos que deixavam o mármore em sua cor branca natural, ele opta por uma sonoridade limpa, minimalista, quase etérea. O excesso, típico do Barroco e do Rococó, dá lugar a batidas que respiram, pausas que falam e arranjos que iluminam mais do que impressionam.

“O projeto nasceu desse desejo de trazer à tona valores que o Neoclassicismo prezava: clareza, razão, civismo, heroísmo. Mas traduzidos para um contexto atual, dentro da cena eletrônica. Existe uma beleza na simplicidade e um poder na pureza da forma, tanto na música quanto na vida”, conta o artista, que também é fundador da Curare Records, selo que aposta em lançamentos autorais e gestão artística com propósito.

A conexão entre o som e os ideais iluministas — que tanto influenciaram os artistas neoclássicos — aparece também nas letras e nas atmosferas das faixas. Nada é gratuito: cada escolha estética remete a algo maior, uma ideia, uma reflexão, uma provocação.

Recentemente, o NeoClassic DJ foi um dos convidados da programação da ABEM (Associação Brasileira de Empresas de Música Eletrônica), em um bate-papo promovido pela Ature Brasil (@aturebrasil) sobre o papel das gravadoras no cenário eletrônico atual. Ao lado de nomes como os DJ's Kobbaia (@kobbaia) e G. Felix (@gfelixuniverse), o artista compartilhou suas experiências com o público e falou da importância de criar com propósito, especialmente em um meio que muitas vezes prioriza métricas em vez de mensagens.

“Foi um encontro muito especial. Tive a chance de revisitar minha trajetória, contar sobre os aprendizados e dividir um pouco do que penso sobre o futuro da música eletrônica. Momentos como esse me lembram por que escolhi esse caminho: contribuir com a cena de forma consistente, com respeito ao tempo da criação e à integridade do artista”, relatou, em uma postagem no Instagram.

Mas o NeoClassic DJ também carrega nas entrelinhas uma verdade pouco discutida: a vulnerabilidade emocional de quem vive da arte. “O artista tem três vezes mais chances de desenvolver alguns problemas emocionais. Criar com profundidade exige mergulhos. E às vezes, a gente não volta igual”, confessa. É nesse ponto que o projeto se torna ainda mais potente — ele não se contenta em entreter, quer tocar, provocar, inspirar.

Tal como as colunas gregas que sustentaram templos e ideais, o NeoClassic DJ ergue suas faixas como espaços de contemplação. São esculturas sonoras onde cada acorde é um convite à pausa, cada batida, um chamado à consciência. Entre o passado e o presente, entre a mitologia e o midi, o projeto se estabelece como um raro respiro de beleza e coerência estética na pista de dança.

Porque, no fim das contas, talvez o que a música precise — mais do que nunca — seja justamente disso: menos ornamento, mais essência.

 

Começa o Conclave que vai eleger o novo Papa

Um mundo em busca de comunhão: na Capela Sistina, coração do Vaticano, o colégio de cardeais se reúne hoje para escolher o novo Papa

Por Ronald Stresser*

 
 

No silêncio reverente da Basílica de São Pedro, nesta manhã de quarta-feira, começou oficialmente o conclave que escolherá o 267º sucessor de São Pedro. O cheiro do incenso, as batinas vermelhas dos cardeais, o eco da antífona “Suscitarei um sacerdote fiel” e a prece contida de milhares de fiéis que observavam à distância formaram o pano de fundo para um dos momentos mais decisivos da Igreja Católica em tempos recentes.

Às 10h da manhã (horário de Roma), teve início a missa Pro Eligendo Romano Pontifice, presidida pelo cardeal Giovanni Battista Re, decano do Colégio Cardinalício. No altar que guarda os restos mortais do apóstolo Pedro, 220 cardeais — eleitores e não eleitores — concelebraram, cientes do peso que repousa sobre os ombros de cada um dos 133 purpurados com direito a voto. Na tarde de hoje todos ingressarão na Capela Sistina, e, isolados do resto do mundo, darão início ao conclave.

“Que seja eleito o Papa que a Igreja e a humanidade precisam neste momento histórico tão difícil e complexo”, suplicou o cardeal Re, em uma homilia serena e profunda, marcada pela confiança no Espírito Santo — e também pela consciência clara de que o futuro não pode ser moldado por vaidades, mas por comunhão.

Amor, comunhão, unidade

Aos pés da famosa cúpula de Michelangelo, o decano desenhou em palavras aquilo que se espera do novo pontífice: alguém que se deixe guiar pelo mandamento “novo” de Jesus — o amor sem limites. Não se trata de sentimentalismo, mas de uma força transformadora. “O amor é a única força capaz de mudar o mundo”, disse Re, com voz firme, ecoando o Evangelho de João.

Mais do que um líder espiritual, o Papa precisa ser um pastor de comunhão. Uma comunhão que vá além das estruturas e das doutrinas; uma comunhão que una povos, culturas, pensamentos, mantendo viva a fidelidade ao Evangelho. “Não se trata de uma unidade uniforme, mas de uma comunhão profunda na diversidade”, explicou o cardeal, com ênfase em um mundo cada vez mais fragmentado e polarizado.

Uma escolha com peso eterno

No fim da homilia, um lembrete solene: escolher um Papa não é apenas dar sequência a uma lista de nomes. “Não é uma simples sucessão de pessoas, mas é sempre o apóstolo Pedro que retorna.” É o coração da fé católica que está em jogo, mas também algo que toca o mundo inteiro. Diante da realidade de guerras, desigualdades e avanço tecnológico que nem sempre é acompanhado por crescimento espiritual, o novo Papa será chamado a despertar consciências e fortalecer valores morais e espirituais.

Por isso, Re pediu que os cardeais deixem de lado qualquer interesse pessoal ou cálculo político. Que escolham com responsabilidade e oração, guiados não por simpatias ou estratégias, mas pela fidelidade ao Deus de Jesus Cristo e pelo bem comum da humanidade.

Um conclave cercado de expectativas

Logo mais, na Capela Sistina, sob o olhar do "Juízo Final" de Michelangelo — aquela pintura que, há séculos, confronta cada eleitor com o peso de sua decisão — os cardeais farão o juramento de sigilo e se recolherão para votar. Ainda que o nome do novo Papa permaneça guardado no coração de Deus, o mundo inteiro agora volta seus olhos e suas orações para aquele que virá.

Talvez ele seja latino-americano. Talvez africano. Talvez europeu, como a maioria dos 133 eleitores. O que se espera é que seja um homem capaz de falar ao coração da humanidade — com coragem, ternura e sabedoria. Alguém que, diante das feridas do mundo e dos desafios da própria Igreja, consiga ser, como disse o cardeal Re, o Papa da comunhão.

Por trás dos muros do Vaticano, o Espírito sopra onde quer. E em algum lugar entre os corredores de mármore e as cúpulas celestiais, um novo capítulo da história da Igreja Católica começa a ser escrito.

*com informações da Vatican News.

O Brasil é de todos, e está dando certo

Por um Brasil que é de todos: quando os dados confirmam o que os olhos já viam, a incerteza cessa e a esperança se fortalece 

Por Ronald Stresser*
 
 

É difícil conter a emoção. Quem, como eu, acompanha há décadas o pulso do Brasil real — esse país que pulsa nas filas do SUS, nas escolas públicas resilientes, nos pequenos comércios de bairro, nos mutirões das periferias — sabe que há muito o que denunciar, sim, mas também muito o que celebrar. E hoje é dia de celebração.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) — órgão da ONU para o qual trabalhei por alguns anos — divulgou, nessa terça-feira (6), o ranking atualizado do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com base em dados de 2023.

Com relação a 2022 o. Brasil saltou cinco posições, figurando agora em 84º lugar, em meio a outros 193 países. O crescimento foi de 0,786 pontos. O avanço parece modesto, mas qna verdade, quando olhamos para a necessidade de precisão e equilíbrio das engrenagens sociais — de uma nação tão desigual quanto a nossa — vemos a resiliência do Brasil.

A nota representa um salto na dignidade humana do povo, mostrando a resistência das instituições do nosso país.

Este jornalista que vos escreve, por oficio da família, descendente de lavradores, é testemunha da resiliência do povo brasileiro. Por um lado senti alegria ao ver esses números; pois não posso reclamar da minha vida. mas não me conformo com a 84ª posição.

A verdade é que o nosso IDH ainda está longe de mostrar um país perfeito — aliás, 80 posições longe disso. Não podemos atestar, com a frieza dos dados, aquilo que tantos brasileiros sentem na pele: mas, estamos avançando. E, quando os fatos confirmam a fé que temos na capacidade do Brasil de ser mais justo, mais humano e menos concentrado nas mãos de poucos, a gente sente o chão mais firme sob os nossos pés.

Vida mais longa, renda maior — e o desafio da educação

O relatório do PNUD indica que nossa expectativa de vida ao nascer cresceu para 75,85 anos — o maior valor já registrado no Brasil. Também avançamos na renda bruta per capita, que agora é de US\$ 18 mil. São dois indicadores que traduzem, em parte, políticas públicas que funcionam, esforços coletivos, ciência aplicada e até mesmo um certo espírito de reconstrução que o Brasil, apesar de suas crises cíclicas, sempre resgata.

Mas é na educação que o sinal amarelo acende. Tanto a média de anos de escolaridade (8,43) quanto a expectativa de anos na escola (15,79) permaneceram estagnadas. Três anos sem avanços nesse quesito é preocupante, sobretudo quando se entende que é ali, na sala de aula, que começa o futuro da nação.

Ainda assim, é preciso lembrar: cada avanço em desenvolvimento humano é uma conquista coletiva. É o resultado do trabalho da agente comunitária que bate de porta em porta para garantir o pré-natal das gestantes, do professor que ensina poesia no contraturno, da mãe solo que batalha para pagar a mensalidade do curso técnico do filho. O IDH é um número que carrega milhões de histórias.

Uma sociedade sustentável começa pelas pessoas

O Brasil não é feito apenas para os que lucram com ele. É também — e sobretudo — para todos que vivem nele, sem distinções. Para os que carregam o país nas costas, muitas vezes invisíveis nas estatísticas, mas agora reconhecidos, mesmo que discretamente, em um ranking que tem como base tufo que engloba a vida, a educação e a renda: os três pilares que sustentam toda sociedade civilizada.

Quando alguém diz que o Brasil está "piorando", é preciso convidá-lo a olhar para esses dados com honestidade intelectual. Desenvolvimento humano não se resume ao PIB, às bolsas de valores ou à cotação do dólar. É sobre gente. Sobre o direito de envelhecer, de aprender, de prosperar — e isso, meus caros, melhorou.

Ainda há obstáculos, mas o caminho está sendo trilhado

Claro que temos muito a corrigir. O mesmo relatório revela que, ajustado pela desigualdade, o IDH brasileiro cai para 0,594, nos rebaixando à categoria de desenvolvimento médio. O abismo social continua sendo a grande chaga nacional — e o fato de estarmos entre os países mais desiguais do planeta não pode ser ignorado.

Mas se há algo que o Brasil ensina é que não se trata de um país fracassado. Trata-se de um país sabotado por estruturas históricas, políticas cínicas e elites míopes — mas, mesmo assim, nosso país é teimosamente promissor.

Inteligência artificial, sim — mas com inteligência humana

O tema do relatório deste ano é a inteligência artificial. O PNUD propõe que ela seja usada com foco nas pessoas, como uma aliada do desenvolvimento humano, e não como substituta de quem somos. É um chamado à sensatez, à ética e à criatividade — qualidades que o Brasil tem de sobra, desde que sejam bem orientadas por políticas públicas e vontade política.

A esperança é real porque é baseada em fatos!

Subir no ranking do IDH não resolve todos os nossos problemas, mas confirma que o esforço coletivo, quando há ambiente propício, produz resultados. E isso, num mundo cada vez mais marcado pela polarização e pela desesperança, é combustível para seguir acreditando.

É por isso que escrevo hoje com orgulho. Não um orgulho ufanista, mas um orgulho informado, maduro, realista. Um orgulho de jornalista, de cidadão, de quem sempre acreditou que o Brasil pode — e deve — ser um país para todos.

Que os números sigam nos empurrando para frente. Mas que nunca nos falte sensibilidade para enxergar o ser humano por trás de cada estatística.

Porque o Brasil, afinal, é maior do que a soma de todos os nossos desafios juntos.

*com informações da AP. Jornalismo independente é jornalismo cidadão.

terça-feira, 6 de maio de 2025

8 de janeiro: o dia em que o diabo vestiu a camisa canarinho

Punhal verde e amarelo: o dia em que o diabo vestiu a camisa canarinho da seleção brasileira de futebol e abriu as portas do inferno

Por Ronald Stresser*

 
08/01/23 - Golpistas ensandecidos promovem arruaça e baderna em Brasília.
Marcelo Camargo/Agência Brasil
 

Naquela tarde de céu limpo em Brasília, a bandeira tremulava, e a Praça dos Três Poderes parecia, à distância, mais um cartão-postal da estabilidade republicana. Mas dentro do Supremo Tribunal Federal, o clima era de expurgo. Ali, ministros da Primeira Turma começavam a julgar mais um capítulo do que já se desenha como o maior processo judicial da história política recente do Brasil — a tentativa de golpe que, a duras penas, fracassou. E que agora, no ritual da Justiça, começa a ser lentamente desnudado.

Nesta terça-feira, 6 de maio, a subprocuradora-geral da República, Cláudia Sampaio Marques, pediu que mais sete envolvidos — o chamado núcleo 4 da tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito — sejam transformados em réus. Militares da reserva, um policial federal e um engenheiro compõem esse braço técnico e estratégico da conspiração, segundo o Ministério Público, responsável por alimentar a máquina de desinformação que buscava implodir as urnas eletrônicas e instigar o caos.

“Todos estavam cientes do plano maior da organização e da eficácia de suas ações para a promoção da instabilidade social e consumação da ruptura institucional”, afirmou Cláudia. Sem rodeios.

O núcleo 4 não usava tanques — usava a Internet. Não planejava só cercar quartéis — buscava invadir consciências, moldar uma realidade paralela onde o inimigo era sempre “o sistema”, e a verdade, apenas um empecilho. A denúncia aponta que eles atacaram o general Freire Gomes e sua família com campanhas difamatórias, tentando dobrar o então comandante do Exército. Que usaram a estrutura da Abin para espionar adversários, coletar dados e fabricar narrativas falsas. Que, enfim, sabiam muito bem o que faziam.

Se a denúncia for aceita, os sete acusados responderão formalmente por cinco crimes: organização criminosa armada, tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado e grave ameaça com deterioração de patrimônio tombado. É o terceiro núcleo a ser analisado pela Corte. O primeiro, em março, tornou réus os supostos chefes do complô — entre eles, o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro. O segundo, em abril, alcançou seus mentores jurídicos. E o quarto núcleo, hoje, revela quem operava os bastidores, com inteligência e crueldade.

Bolsonaro, o desesperado

Do lado de fora da Corte, Jair Bolsonaro continua a vestir a camisa canarinho — não mais como símbolo de uma torcida apaixonada, mas como escudo de uma fé cada vez mais desesperada. No último domingo de abril (28/04), na Avenida Paulista, pediu ajuda. Não ao Congresso, nem ao povo brasileiro, mas ao exterior. “Tenho esperança que de fora venha alguma coisa para cá”, disse, olhos fixos em algum horizonte invisível. Falava como quem vê o cerco se fechar. Como quem sabe que a história começa a cobrar.

A fala não é apenas retórica. Bolsonaro está inelegível até 2030, réu por tentativa de golpe e cada vez mais isolado institucionalmente — mas não politicamente. Ainda mantém apoio de governadores poderosos, como Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Ratinho Junior (PR), entre outros. E conta com a fidelidade de figuras como Silas Malafaia, Valdemar Costa Neto e o prefeito paulistano Ricardo Nunes.

Mas seu discurso já não é o mesmo de 2022. Agora fala como exilado em vida, como mártir de si mesmo. Disse que, se estivesse no Brasil no dia 8 de janeiro, teria sido preso ou “assassinado”. Chega a sugerir que “algo o avisou” para deixar o país dias antes do caos.

A seu lado, advogados ensaiam a defesa. O nome de Débora Rodrigues Santos — a cabelereira que pichou a estátua da Justiça com batom — virou símbolo e argumento. Bolsonaro a defendeu publicamente. “Ela só usou um batom!”, repetem os apoiadores. Mas a PGR diz que ela fazia parte da engrenagem: aderiu ao movimento golpista desde o fim das eleições e tentou apagar provas.

Nos autos, a defesa já se prepara para apresentar testemunhas. Nenhuma lista oficial foi divulgada até o momento, mas nos bastidores especula-se a intenção de convocar aliados políticos, ex-ministros, militares e até lideranças religiosas. A estratégia: tentar provar que não houve golpe — apenas "exercício da liberdade de expressão".

O espelho trincado da democracia

Na memória do Brasil, os dias que sucederam as eleições de 2022 ainda latejam como ferida aberta. A invasão das sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, foi o estopim do que se tentou negar até o fim: uma tentativa concreta, planejada e orquestrada de subverter a ordem constitucional.

As imagens do Supremo vandalizado, das poltronas do Senado ocupadas por extremistas, da cadeira presidencial profanada, estão eternizadas como cicatriz. Foi uma verdadeira visão do Inferno. Mas hoje, dois anos depois, elas voltam ao centro do debate não apenas como lembrança — mas como evidência.

Cada núcleo da denúncia da PGR revela uma peça do quebra-cabeça. O núcleo 1, os líderes. O núcleo 2, os ideólogos. O núcleo 4, os operários digitais do caos. O núcleo 3, que será julgado em 20 de maio, trará os articuladores de logística. E o Brasil, aos poucos, vai compreendendo o tamanho da engrenagem que esteve a um passo de rasgar a Constituição.

Em meio a tudo isso, a camisa da seleção — verde, amarela, vibrante — foi sequestrada. Já não representa mais Pelé, Romário ou Marta. Foi usada como uniforme de guerra. Como capa para um punhal. Como símbolo de um Brasil que, por pouco, não mergulhou no abismo.

Mas hoje, no Supremo, ao som de votos serenos e sustentação jurídica, a democracia dá o troco. Em silêncio. Com o peso da lei. Com a firmeza de quem resistiu ao inferno — e sobreviveu.

Fechem-se os portais do Inferno

Silêncio maior, sepulcral, certamente será o fos falsos patriotas, que secretamente ainda nutrem um amor doentio pelos templos da ditadura e por Bolsonaro, seu representante mor. A história está  sendo escrita e ela não mente.

A verdade é como o Sol e a Lua - por mais dias nublados que existam ela sempre volta a aparecer. Quem esteve do lado errado da história e tentou ocultar a verdade, agido de maneira criminosa, como aconteceu nos porões da ditadura, por via de regra sempre acaba publicamente envergonhado. O dia 08 de janeiro de 2022 está entrando para os livros de história como o dia da vergonha, foi o dia em que o diabo vestiu a camisa canarinho da seleção brasileira. Hoje, o cramulhão inominável, os anjos caídos, as milícias e legiões infernais estão bebendo do próprio veneno.

*com informações da Ag. Brasil e do STF.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Diesel mais barato nas bombas a partir de amanhã

Diesel mais barato, um alívio para caminhoneiros e sinal de acerto na condução econômica do governo Lula

Por Ronald Stresser, da redação.

Posto de combustíveis em Curitiba, Paraná - Foto: Stresser

Foi com um sorriso discreto e um olhar cansado, mas aliviado, que o caminhoneiro José Carlos, de 52 anos, recebeu a notícia: o diesel vai ficar mais barato a partir desta terça-feira, 6 de maio. “Já ajuda”, resumiu ele, estacionado no pátio de um posto na BR-116, nos arredores de Curitiba, onde dorme entre uma entrega e outra. “Qualquer centavo a menos no diesel é comida a mais na mesa.”

A Petrobras anunciou uma nova redução de R\$ 0,16 por litro no diesel vendido às distribuidoras. Para quem abastece direto nas bombas, o preço deve cair cerca de R\$ 0,14 por litro. Pode parecer pouco, mas para quem roda milhares de quilômetros por mês e sente na pele o peso de cada reajuste, esse alívio é real. E, mais que isso, carrega um sinal importante: a estatal voltou a olhar para o Brasil de dentro pra fora.

Reduções consecutivas no preço — uma política que começa a fazer sentido

Desde o final de 2022, quando o novo governo tomou posse, o preço do diesel caiu R\$ 1,22 por litro. Descontada a inflação, a redução real já chega a impressionantes 34,9%. E o melhor: essa é a terceira baixa só em 2025, num cenário que vinha sendo marcado por alta de preços e muita insegurança.

Ao que tudo indica, a nova direção da Petrobras vem cumprindo uma promessa silenciosa: a de colocar os interesses do povo brasileiro de volta no centro das decisões. Sem abrir mão da saúde financeira da empresa — que segue registrando lucros robustos —, a estatal tem optado por um modelo de preços mais estável e menos refém das oscilações internacionais.

Quando o diesel cai, o Brasil respira

O diesel é o sangue que corre nas veias do Brasil que trabalha. É o combustível que move caminhões, ônibus, tratores, barcos e motores que garantem comida, mercadoria e serviços circulando por todo o país. Quando o preço do diesel cai, o custo do transporte despenca — e isso impacta diretamente o preço dos alimentos e de quase tudo o que chega à casa do brasileiro.

Para o agricultor do interior do Paraná, que precisa abastecer seus tratores na época da colheita. Para o motoboy eem São Paulo, que entrega pacotes e sustenta a família com combustível no tanque. Para a dona de casa, no Rio de Janeiro, que sente a diferença no valor do tomate na feira. O impacto é invisível aos olhos, mas presente na rotina.

O papel do governo — e um elogio necessário

A queda no preço do diesel não acontece por acaso. Ela é fruto de uma decisão política — e, neste caso, acertada. Depois de um início de mandato conturbado, marcado por desconfiança e incertezas econômicas, o governo Lula começa a mostrar sinais concretos de que está encontrando um rumo.

A política de preços da Petrobras foi reformulada com cautela, sob forte pressão de setores econômicos, mas também com sensibilidade social. A empresa passou a buscar equilíbrio entre rentabilidade e estabilidade interna. E isso se reflete nos dados — e na vida real.

É justo, portanto, reconhecer o acerto. A crítica construtiva não pode ignorar os bons passos. A condução mais firme da economia, os sinais de recuperação e a queda da inflação formam um conjunto de boas notícias que podem — e devem — ser celebradas.

Quem lucra e a composição do preço dos combustíveis

Muita gente ainda acredita que o peso do preço dos combustíveis está nos impostos federais. Não é bem assim. De acordo com a própria Petrobras, o valor que cabe ao governo federal responde por apenas 5,1% do preço final do diesel. Já os impostos estaduais ficam com 17,9%. A fatia da Petrobras corresponde a 47,4%, enquanto distribuidoras, revendedores e o biodiesel completam o restante da conta.

Os dados estão disponíveis para qualquer cidadão acessar no site precos.petrobras.com.br, numa tentativa de tornar mais clara uma matemática que, por anos, foi tratada como segredo de estado.

Mais que números, esperança

Para José Carlos, o caminhoneiro, a conta é mais simples. “Quando o diesel baixa, eu respiro”, diz. E ele não está sozinho. A queda no preço dos combustíveis traz fôlego para milhões de brasileiros que dependem da estrada, do campo, da entrega, da mobilidade.

É um pequeno passo, mas num país cansado de promessas, todo alívio real merece ser valorizado.

domingo, 4 de maio de 2025

O espectro que voltou a rondar a Alemanha

Quando a memória falha, o extremismo vence: a Alemanha à beira de repetir a história que jurou nunca mais viver

Por Ronald Stresser*

 
 

No início do ano, em meio ao frio cortante do fim do inverno europeu, os sorrisos largos e os aplausos entusiasmados que ecoavam da sede da AfD em Berlim soavam estranhamente fora de lugar. Como se a história tivesse sido esquecida, apagada ou pior: perdoada.

No coração da Alemanha, um país que um dia jurou “nunca mais” após o horror do Holocausto, a extrema-direita voltou a ganhar força. E, assustadoramente, não é pouca.

Com 20,8% dos votos nas eleições federais antecipadas, o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) não apenas dobrou sua presença no Parlamento em relação a 2021 — como também atropelou nomes históricos da política alemã, como os social-democratas de Olaf Scholz e os Verdes.

A legenda de ultradireita agora ocupa o segundo lugar no cenário político do país. Um feito que, mais do que estatístico, é simbólico. E profundamente perturbador. Porque ele não representa apenas uma mudança de forças no tabuleiro eleitoral, mas a confirmação de que ideias antes vistas como inaceitáveis — racistas, autoritárias, excludentes — voltaram a ser legitimadas nas urnas. Na Alemanha. No berço do nazismo.

O crescimento das ideologias extremistas, baseadas na xenofobia, na repetição incansável de mentiras e na hipocrisia, que muitos acreditavam ter sido enterradas com os nazistas, volta a rondar o presente com uma força que não pode ser subestimada.

O fantasma do nazismo

Fundado em 2013 como um partido eurocético, o AfD se radicalizou após a crise migratória de 2015. Hoje, muitos de seus diretórios são monitorados por serviços de inteligência, devido às fortes ligações com a torpe e cruel ideologia, de caráter nazifascista, da extrema direita. Não é por acaso. Seus discursos inflamados contra imigrantes, seguidores do islamismo, refugiados, minorias e pessoas em situação de vulnerabilidade social ecoam os velhos chavões nacionalistas, xenófobos e excludentes que precederam os horrores do nazismo de Adolf Hitler.

O mais inquietante é que essa retórica não ressoa apenas entre os mais velhos, ou ressentidos. Na eleição de 2024, a AfD foi a legenda mais votada entre os jovens de 16 a 24 anos em Brandemburgo.

Que juventude é essa que, a despeito das cicatrizes da Segunda Guerra Mundial, vê esperança em ideologias que pregaram o ódio, o racismo e a morte em escala industrial?

A ideologia distorcida que choca o mundo livre

A ascensão da ultradireita na Alemanha não é um caso isolado. De Trump a Bolsonaro, de Le Pen a Javier Milei, o extremismo conservador tem se enraizado em democracias fragilizadas por desigualdades sociais, crises econômicas e uma avalanche de desinformação.

É preocupante ver que, até bilionários com megafones globais como Elon Musk e figuras do governo americano como o vice-presidente J.D. Vance, que teoricamente deveriam ter uma capacidade intelectual mais humdnizada, necessária aos negócios e à política, estão abertamente endossando o AfD.

Tudo isso parece demonstrar nada mais que uma tentativa cínica de manipular o medo entre as massas, semeando o caos político no coração da Europa. Não é coincidência, não é obra do acaso ou apenas resultado da indignação popular, isso é método, é propaganda.

O risco não é hipotético. É histórico

A Alemanha já viu onde esse caminho leva. A Itália também. Hitler e Mussolini chegaram ao poder pelas urnas, com discursos semelhantes de resgate da “grandeza nacional”, ataques à imprensa, perseguição a minorias e manipulação da verdade.

Quando a sociedade daquela época percebeu o erro, já era tarde demais. Dezenas de milhões estavam mortos. Países inteiros foram totalmente arrasados. A humanidade ficou marcada para sempre pelos horrores da Segunda Guerra Mundial.

A resposta precisa vir através da educação, da arte e da memória

Mais do que barrar o AfD nas urnas, a Alemanha e o mundo precisam reimaginar urgentemente seus projetos educacionais, culturais e comunitários. As escolas devem ensinar com honestidade brutal o horror que foi o nazismo. Os jovens precisam visitar memoriais, ouvir sobreviventes, ler Primo Levi, assistir “Shoah” e “A Vida é Bela”, debater Hannah Arendt...

A cultura não pode ser tratada como supérflua; ela é a única vacina, o remédio contra o esquecimento e único antídoto que pode ser aplicado em larga escala contra o fanatismo.

Além do mais, é preciso proteger todo e qualquer espaço público,  seja ele físico ou virtual, da desinformação. É inaceitável que redes sociais e plataformas digitais continuem sendo usadas para propagar ódio, mentiras e teorias conspiratórias totalmente irresponsáveis, sem qualquer responsabilização não apenas dos usuários, mas também das plataformas que têm obrigação de moderar as postagens. O futuro da democracia depende de um ecossistema de informação saudável, plural e ético. O discurso de ódio não pode ser visto como liberdade de expressão.

A democracia parece estar em transe, mas ainda há tempo para despolarizar e despertar a humanidade. O ser humano precisa voltar a ser humano.

O avanço do partido extremista AfD é um alerta que grita para todos nós: mesmo na Era da Informação, não há democracia garantida. O que está acontecendo na Alemanha não é um acidente, não é obra do acaso. É fruto de uma lenta erosão de valores, confiança e diálogo. E isso pode acontecer em qualquer lugar — inclusive aqui, no Brasil.

É hora de falar com coragem, educar com urgência e agir com lucidez. O extremismo não se derrota apenas com votos: derrota-se com consciência, empatia e humanidade. Porque sempre que o fascismo volta a crescer, é a humanidade inteira que volta a sangrar. Todo povo que não tem o conhecimento, e não cria a consciência plena a respeito dos erros de seu passado, pode estar fadado a repetí-los.

*com informações da Deutsche Welle.

sábado, 3 de maio de 2025

O Paraná diante de um novo tempo: o que está por vir com Enio Verri?

Enio Verri: O nome que pode transformar o Paraná e levar o estado ao novo capítulo da política nacional

Por Ronald Stresser – Especial para o Sulpost

 
Enio Verri sendo diplomado - Gibran Mendes
 

Sou neto de pioneiros, daqueles que transmitiam notícias na raça, quando o interior do Paraná ainda era uma promessa e não havia nem estrada decente entre Londrina e Pato Branco. Cresci vendo meu pai batucar a máquina de escrever nas madrugadas, puxando o fio da realidade com a coragem dos que entendem o papel de um jornal: ser espelho e farol. Hoje, me vejo na obrigação de narrar o que talvez seja um ponto de virada na história política do nosso estado.

É cedo — eu sei. Mas é inegável: algo diferente está no ar.

Enio Verri, esse paranaense de Maringá, que já foi professor, secretário de planejamento e deputado federal, hoje lidera a Itaipu Binacional como quem planta para daqui a 50 anos. E faz isso com um tipo de sensibilidade que anda raro em tempos de vaidades e manchetes fáceis. Tem algo de genuinamente popular e profundamente técnico nesse homem que alguns já chamam, com voz baixa, de futuro governador.

Não é apenas sobre política. É sobre projeto.

Desde que assumiu a direção-geral da usina, Verri reconfigurou a forma como o recurso público — vindo da geração de energia — é distribuído. Sai o modelo engessado, centralizado, muitas vezes limitado à faixa de fronteira. Entra uma Itaipu que olha para os 399 municípios do Paraná e para outros 35 do Mato Grosso do Sul com o mesmo cuidado. Foi assim que nasceu o programa Itaipu Mais que Energia, um nome que parece simples, mas carrega um conceito que, se levado a sério, transforma.

Estamos falando de quase R$ 1 bilhão em projetos que dialogam diretamente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. E isso não é discurso vazio. São ações concretas: recuperação ambiental, incentivo à energia solar, educação, agricultura familiar, valorização da cadeia dos recicláveis e apoio direto à população mais vulnerável.

Tem obra de drenagem em Foz do Iguaçu que vai acabar com as enchentes crônicas. Tem investimento na Casa da Mulher Brasileira, primeira unidade do programa em uma região de fronteira. Tem cirurgia sendo feita no SUS com verba da Binacional para aliviar a fila de 22 mil pacientes. E tem apoio a indígenas avá-guarani que nunca foram sequer ouvidos antes. Agora são tratados como parte do processo.

É nesse cenário que surge a pergunta que muitos já fazem, até nas rodas mais conservadoras do nosso interior: Será que agora vai? Será que, enfim, o Paraná vai eleger um governador do partido do presidente Lula?

Eu confesso que não sou de me antecipar ao tempo, mas aprendi a ler os sinais. Lula, ao que tudo indica, caminha para uma reeleição com folga, talvez até no primeiro turno. E todo paranaense que viveu os anos de seca federal sabe: é diferente quando se tem um governador que fala a mesma língua do Planalto. O dinheiro chega mais rápido, os projetos fluem, os pequenos municípios respiram, a população prospera.

A história nos mostra isso com clareza. Nos tempos de sintonia entre Curitiba e Brasília, o estado prosperou. Quando houve confronto, quem pagou o preço foram os nossos, de Abatiá à Xambre — o comerciante de Londrina, o fabricante de bonés de Apucarana, a professora de Sengés, o agricultur de Sarandi, o hoteleiro de Foz, o empresário de Curitiba...

Mas voltemos a Verri.

É um homem de bastidores. Discreto, sem firulas. Mas quem acompanha de perto sabe: está montando algo grande. O segredo da viabilidade está na composição da chapa. Um bom vice — que represente os setores produtivos do agro, ou mesmo uma mulher de expressão regional — pode ser a senha para uma campanha vitoriosa. Há quem fale de frente ampla, e há quem fale até de primeiro turno.

Não é um jogo fácil. Sérgio Moro ainda lidera as pesquisas. E há nomes de peso rondando a disputa: Alexandre Curi, Guto Silva, Requião Filho e Cristina Graeml. Todos eles têm seus trunfos. Mas nenhum deles, até agora, mostrou o tipo de entrega que Verri vem demonstrando sem alarde — com números, resultados, ações.

É cedo para declarar apoio. E este não é um texto de campanha, que fique claro. Mas sim, é justo dizer: muito provavelmente, se ele for candidato, meu voto será dele.

Falo como jornalista, mas também como neto de pioneiros do nosso estado e como pai de um filho que quero ver crescendo num Paraná mais justo, mais sustentável, mais inteligente. O que está em jogo em 2026 não é apenas uma eleição. É uma oportunidade de repensar o nosso rumo, com quem conhece a nossa terra e respeita o nosso povo.

Enio Verri pode ser essa virada. E talvez — só talvez — estejamos diante de um novo tempo.

Carlos Lupi: Brizola deve estar se lastimando

Brizola faria diferente: a decepção de um brizolista com a saída de Carlos Lupi

Por Antonio Simião.

 
 

Não foi para isso que Leonel Brizola fundou o PDT. O partido nasceu com a missão clara de defender os trabalhadores, promover a justiça social e combater com firmeza as injustiças que assolam o povo brasileiro. Infelizmente, Carlos Lupi, que até então não tinha motivos para ser alvo de críticas, não se portou como um verdadeiro defensor desses princípios. Sua saída do Ministério da Previdência, num momento em que o país mais precisava de firmeza e coragem, é, no mínimo, lamentável.

Em vez de assumir a linha de frente, enfrentar a crise com pulso firme e exigir a abertura de uma CPI para apurar os fatos e punir os responsáveis, Lupi preferiu recuar.

No momento em que mais se esperava a presença de um ministro comprometido com a verdade e com os trabalhadores, ele abandonou o barco. A sua demissão não apenas o fragiliza politicamente, mas também macula a imagem do PDT, que ocupa o Ministério da Previdência por sua representatividade na coalizão governamental.

Agora, mais uma vez, corre-se o risco de o partido trocar apoio político por cargos, como se nada tivesse acontecido. Lupi pode até reassumir o ministério futuramente, como se fosse possível simplesmente apagar o passado. Isso seria um desrespeito aos ideais de Brizola e uma afronta aos verdadeiros Pedetistas e brizolistas, que hoje se sentem decepcionados e envergonhados.

Leonel Brizola deixou o PTB justamente para fundar o PDT e dar continuidade às suas ideias progressistas e nacionalistas. Hoje, infelizmente, estamos muito distantes dos objetivos traçados por ele. Esta não era a hora de fugir da raia. Era a hora de lutar, de enfrentar os desafios de cabeça erguida, como Brizola faria.

Delegado Simião, Brizolista!

- Esta é a opinião de um leitor, e não necessariamente representa a opinião do blog Sulpost.

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Quando a cobra fumou em Berlim: a incrível jornada dos brasileiros que ajudaram a derrotar o nazismo

ESPECIAL | 80 ANOS DA VITÓRIA SOBRE O NAZISMO

Quando a cobra fumou e Berlim caiu: a coragem brasileira na guerra que libertou o mundo

Por Ronald Stresser - 2 de maio de 2025

Navio da Marinha do Brasil lança carga de profundidade - Arquivo Nacional 
 

Na manhã fria do dia 2 de maio de 1945, o silêncio sobre Berlim era mais barulhento do que os canhões. A capital nazista, até então epicentro da máquina de guerra de Hitler, estava rendida. O Exército Vermelho içava sua bandeira no alto do Reichstag. A União Soviética anunciava a queda Terceiro Heich e o mundo, enfim, respirava — não apenas aliviado, mas também exausto com a guerra mais letal da história da humanidade, que ceifou de 50 a 70 milhões de vidas humanas.

O horror da guerra mais devastadora da história começava a dar lugar à esperança. E, do outro lado do mundo, onde o céu era tropical e as praças cheiravam a café coado, uma pequena legião de brasileiros comemorava também o fim da barbárie. Eles estavam longe de casa, mas perto da vitória. Tinham vencido o medo, o frio e a dúvida. Tinham feito a cobra fumar.

Quando a guerra bateu à nossa porta

Até o início dos anos 1940, o Brasil de Getúlio Vargas caminhava em cima de um fio tênue entre o Eixo e os Aliados. A balança comercial pesava mais para a Alemanha, com quem mantínhamos um intenso “comércio compensado”. Mas a neutralidade começou a ruir quando os ventos da guerra chegaram à costa brasileira. Em 1942, o torpedeamento de 34 navios por submarinos nazistas deixou quase mil mortos e destruiu qualquer ilusão de distância segura.

Em resposta, o povo foi às ruas exigindo ação. O governo, pressionado por dentro e por fora, declarou guerra à Alemanha e à Itália no dia 31 de agosto daquele mesmo ano. A pátria que havia ficado à margem das trincheiras na Primeira Guerra agora se preparava para cruzar o Atlântico com seus próprios soldados.

A Força Expedicionária Brasileira

 
Soldados da FEB posam com seus armamentos e munição - Arquivo Nacional
 

A ideia de enviar tropas brasileiras para combater na Europa parecia absurda a muitos. Surgiu, então, um dito irônico: “É mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra”. A resposta veio rápida — e feroz. Os pracinhas, como ficaram conhecidos os soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB), adotaram uma cobra fumando cachimbo como emblema. E fizeram dela um símbolo de bravura.

Foram 25.334 voluntários — uma fração dos 100 mil inicialmente pretendidos — que deixaram suas famílias, profissões e vidas para combater o fascismo nas montanhas geladas da Itália. Treinados pelos Estados Unidos e incorporados ao 5º Exército norte-americano, partiram do Rio de Janeiro rumo ao front com um uniforme novo e o coração cheio de dúvidas.

As batalhas que marcaram a história

Na Itália, os brasileiros enfrentaram uma geografia hostil, a rigidez do inverno europeu e um inimigo experiente. Sua primeira grande missão foi Monte Castello. Foram quatro meses de ataques e recuos até, finalmente, em fevereiro de 1945, conquistarem o topo estratégico e simbolicamente poderoso da colina ocupada pelos alemães.

Em abril daquele ano, Montese se tornou o nome da batalha mais sangrenta travada pelos brasileiros. Foram 400 baixas entre mortos e feridos, numa luta casa a casa, com granadas e lágrimas. Mas a vitória veio, como veio também em Fornovo di Taro, onde a FEB capturou mais de 20 mil soldados da 148ª Divisão alemã — um feito que ainda hoje espanta historiadores militares.

O fim da guerra e a volta para casa

A rendição da Alemanha no dia 8 de maio de 1945 foi o ponto final do combate na Europa. Mas, para os pracinhas, o retorno ao Brasil não foi apenas físico — foi político, social e simbólico. Ao voltarem, trouxeram com eles não só medalhas e histórias, mas uma nova consciência democrática.

A experiência da guerra contribuiu para o desgaste do Estado Novo e a deposição de Getúlio Vargas ainda em 1945. Os ventos de liberdade soprados da Europa atingiram em cheio o Brasil, impulsionando a redemocratização e a modernização das Forças Armadas.

O legado que resiste ao tempo

O Brasil perdeu 465 homens na guerra e teve mais de 1.500 feridos. Em troca, libertou 50 cidades italianas, escreveu seu nome entre as nações aliadas e deixou um legado de coragem que permanece vivo, mesmo com o passar dos anos. Hoje, restam apenas 42 veteranos vivos, todos com idades entre 99 e 107 anos — testemunhas de uma época em que o mundo quase se perdeu de si mesmo.

Seus nomes estão gravados em monumentos espalhados pelo Brasil e pela Itália: no Aterro do Flamengo, no Rio; no Museu do Expedicionário, em Curitiba; nas praças de Montese e Gaggio Montano. Seus corpos, para os que não voltaram, descansam em Pistoia, sob o solo que ajudaram a libertar.

Berlim, 1945 — a lembrança que permanece

Quando os soldados soviéticos chegaram a Berlim, venceram não apenas o exército de Hitler, mas também a ideologia que alimentou o Holocausto e os campos de extermínio. A vitória sobre o nazismo não pertence a um só país. Pertence a todos os que disseram “não” à tirania, mesmo que isso significasse sair do outro lado do mundo, como fizeram os nossos pracinhas.

Oito décadas depois, enquanto a Rússia declara um cessar-fogo simbólico em memória da vitória e do sacrifício, o mundo se lembra. Lembra de um tempo em que a humanidade quase se destruiu — e de homens simples, de sotaque brasileiro, que provaram que até mesmo uma cobra pode fumar, se for pela liberdade.

"A cobra fumou. E nós vencemos!"

Essa é a história que o tempo não apaga, é a heroica história do Brasil na Segunda Grande Guerra Mundial.

Forte terremoto atinge o sul do Chile

Evacuação e Alerta de Tsunami Após Terremoto de 7,5 no Sul do Chile

Por Ronald Stresser, da redação.
 
Vídeos nas redes sociais mostraram pessoas saindo calmamente enquanto sirenes soavam ao fundo - REUTERS/Rodrigo Maturana
 

Na manhã desta sexta-feira, 2 de maio de 2025, um terremoto de magnitude 7,5 atingiu a região da Passagem de Drake, entre o Cabo Horn e a Antártida, a uma profundidade de 10 km. O epicentro foi localizado a aproximadamente 228 km do Cabo Horn, afetando áreas no extremo sul do Chile e da Argentina.

O Serviço Nacional de Prevenção e Resposta a Desastres do Chile (Senapred) emitiu um alerta de tsunami para as regiões costeiras de Magalhães e da Antártida chilena. O presidente chileno, Gabriel Boric, ordenou a evacuação imediata dessas áreas, destacando a importância de seguir as orientações das autoridades para garantir a segurança da população.

Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram moradores evacuando calmamente enquanto sirenes soavam, evidenciando a prontidão da população diante de eventos sísmicos. O Instituto Antártico Chileno (INACH) confirmou a evacuação de bases na Antártida como medida preventiva.

Até o momento, não há relatos de vítimas ou danos significativos à infraestrutura. As autoridades continuam monitorando a situação e reforçam a importância de permanecer em áreas seguras até novo aviso.

O Chile, situado no Cinturão de Fogo do Pacífico, é uma das regiões mais sísmicas do mundo. Eventos como o ocorrido hoje reforçam a necessidade contínua de preparação e resiliência diante de desastres naturais.

quinta-feira, 1 de maio de 2025

Polícia Civil de SP pode ter encontrado quatro de Monet

No interior paulista, um possível Monet entre relógios de luxo e pedras preciosas: a operação que uniu arte, crime e surpresa

Por Ronald Stresser
 
 

O que começou como uma ofensiva policial contra o comércio ilegal de artigos de luxo terminou com uma descoberta digna de museu. No fundo de um dos quatro estabelecimentos investigados no interior paulista, em meio a dezenas de relógios raros, pedras com aparência de esmeraldas e bolsas de grife, os agentes encontraram uma tela assinada no verso. O nome escrito? Claude Monet. O possível achado de uma obra do mestre impressionista francês, avaliada preliminarmente em até R\$ 600 milhões, mudou o rumo da investigação – e acendeu os olhos do mundo da arte.

O quadro estava em uma sala nos fundos de uma loja em Jundiaí, cuidadosamente embalado, mas sem qualquer tipo de proteção especial, como se fosse mais um item entre muitos. “Quando vimos a assinatura e o estilo da pintura, o coração acelerou. Não é todo dia que a gente se depara com algo assim”, contou, sob anonimato, um dos investigadores da Divisão de Crimes contra o Patrimônio da Polícia Civil de São Paulo.

O peso de um nome

Claude Monet, um dos maiores nomes do impressionismo, é reconhecido por suas paisagens de luz vibrante e pinceladas soltas que parecem captar o tempo suspenso. Se confirmada, a autenticidade da obra colocaria o Brasil, e mais especificamente o interior paulista, no centro de um dos episódios mais intrigantes da arte contemporânea.

O processo para verificar se a obra é realmente de Monet já começou e promete ser longo. “A análise vai desde o tipo de pigmento utilizado até o traço do pincel. São meses de estudo técnico e científico”, explica a galerista Cristina Delanhesi. “A assinatura é apenas o ponto de partida. Precisamos entender se a tela é compatível com o período, o estilo e os materiais usados por Monet.”

A artista plástica e restauradora Alice Vilhena complementa: “A tecnologia hoje permite uma verificação extremamente precisa. Se for verdadeiro, não há dúvida de que estamos diante de uma raridade.”

A teia do luxo ilegal

A pintura foi apenas uma das peças de um quebra-cabeça maior. A operação policial abrangeu oito suspeitos de receptação em diversas cidades: São Paulo, Jundiaí, Campinas, Itatiba e Piracicaba. Foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão. A maior concentração de itens de alto valor foi encontrada em Jundiaí: 116 relógios de bolso, 53 de pulso, joias, moedas estrangeiras, celulares, notebooks e dinheiro em espécie. Em Itatiba, cinco relógios raros estavam acompanhados de seus manuais originais.

Apesar do valor e da sofisticação dos produtos, os locais operavam discretamente, sem ostentação. “São negócios aparentemente comuns, mas que alimentam um mercado paralelo milionário”, afirma um dos delegados envolvidos.

A Polícia Civil suspeita que os bens tenham origem em furtos a residências de alto padrão. A investigação busca agora rastrear a rota desses objetos – e da possível obra-prima – até chegarem às mãos dos receptadores.

Enquanto isso, na delegacia…

O quadro permanece sob custódia, longe dos holofotes, guardado em ambiente climatizado e sob vigilância. O sigilo em torno da investigação é grande. Nenhuma imagem da pintura foi divulgada, e os investigadores evitam dar detalhes sobre a aparência da obra.

Mas nos bastidores da arte, o burburinho já é intenso. Especialistas nacionais e estrangeiros aguardam com expectativa o início da análise oficial, que deve envolver peritos de museus internacionais e centros de autenticação de obras de arte.

Um caso que vai além do crime

Mais do que um episódio policial, a descoberta da possível obra de Monet toca em questões profundas sobre o tráfico de arte, a vulnerabilidade do patrimônio cultural e a presença de peças de valor inestimável em lugares improváveis.

“O Brasil não está fora do circuito do crime ligado à arte. Muito pelo contrário”, alerta Delanhesi. “Essa descoberta escancara o quanto precisamos olhar com mais atenção para a proteção de bens culturais.”

Se o quadro for mesmo autêntico, a história ganha contornos históricos: um Monet escondido atrás de uma parede no interior do Brasil, em meio a um arsenal de luxo obtido por meios ilegais. Um achado que transforma uma operação policial em algo próximo a um romance – onde os traços do passado surgem inesperadamente no presente.

Por enquanto, resta esperar. Em silêncio, o quadro aguarda, como se soubesse que todos os olhares agora se voltaram para ele.

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