Delegados e delegadas de Polícia do Paraná: a memória recente dos guardiões da segurança pública do Paraná e sua luta por dignidade profissional
Dr. Antônio Simião em frente ao Palácio das Araucárias - Arquivo |
A segurança pública não se sustenta sozinha. Ela se constrói no esforço diário de homens e mulheres que, com coragem e dedicação, enfrentam o crime, desvendam mistérios e fazem com que a lei se cumpra. No Paraná, se a sensação de segurança ainda persiste, é porque, nos bastidores da sociedade, delegados e delegadas se entregaram de corpo e alma à missão de manter a ordem.
Mas quem protege aqueles que nos protegem? Quem olha pelos profissionais que, entre plantões exaustivos e investigações complexas, carregam a pesada responsabilidade de fazer justiça? Por anos, essa categoria enfrentou uma dura realidade: sobrecarga de trabalho, falta de estrutura e salários corroídos pelo tempo. A vocação permaneceu, mas o reconhecimento ficou sempre aquém. A promessa de reajuste salarial feita pelo governador Ratinho Junior tornou-se um eco distante. Os meses se passaram, os discursos se renovaram, mas a defasagem salarial continuou a crescer.
A história parece se repetir, enquanto o custo de vida sobe, os vencimentos dos delegados permanecem inalterados e uma simples visita ao supermercado, os boletos e uma parada no posto de gasolina para completar o tanque confirmam isso.
Como hoje, em 2021 essa realidade também não se tratava apenas de uma estatística fria, mas sim o retrato de uma classe essencial, que via seu esforço ignorado por quem deveria valorizar seus serviços. Nos corredores das delegacias, o desânimo se espalhava. Como manter o comprometimento quando o Estado, maior aliado da segurança pública, se recusava a reconhecer o sacrifício desses profissionais? Até quando os delegados teriam que suportar tamanha desvalorização?
Dr. Simião e sua luta pela classe
Em meio a esse cenário, o Dr. Antônio Simião, que por anos liderou a luta dos delegados do Paraná, fez história ao não se calar. Em 4 de agosto de 2021, Simião buscou apoio na Assembleia Legislativa para uma reunião urgente com o governador Ratinho Junior. Naquele dia, o deputado Goura (PDT) esteve reunido com a direção da categoria e, diante do apelo dos delegados, intermediou um encontro com o líder do governo, Hussein Bakri (PSD).
Durante esse momento, Simião relembrou que, mesmo sem a formalização de uma CPI da segurança pública — que foi muito pedida na época — a pressão gerada já teve resultados expressivos. Segundo ele, o movimento de conscientização levou o governo a agir: foram retirados cerca de 12 mil presos da custódia policial e a previsão de nomeação de delegados foi ampliada, passando de 50 para mais de 250, numa tentativa de recuperar o quadro enfraquecido. “Essa foi uma luta memorável”, afirmou Simião, ressaltando que, mesmo sem a CPI se efetivar, o governo saiu de orelha em pé e foi obrigado a enxergar, por intermédio da mídia, as fragilidades e mazelas que vinham ocorrendo na Polícia Civil.
Apesar desses avanços, Simião deixou claro que promessas vazias e reajustes insuficientes não são suficientes para sanar um sistema tão desgastado. Ele sempre defendeu que a categoria não pode mais esperar por medidas paliativas. Ao meu ver a pergunta que ecoa é: até quando o governo seguirá ignorando aqueles que dedicaram suas vidas a proteger a população?
Como certa feita disse, na Câmara dos Comuns do Reino Unido, o parlamentar irlandês Sir Edmund Burke: “Um povo que não conhece sua História está fadado a repeti-la.”
Ronald Stresser, de Curitiba.
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