Da base de Alcântara ao mercado global, a Operação Spaceward simboliza um passo histórico do Brasil rumo à soberania e à economia espacial
Por Ronald Stresser — 15 de dezembro de 2025
O foguete HANBIT-Nano — FAB/Divulgação
Ainda é madrugada no Maranhão quando o silêncio começa a ser quebrado por vozes baixas, passos contidos e telas que piscam dentro do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA). Não há contagem regressiva ainda. Antes do “10, 9, 8…”, existe algo mais profundo: expectativa, responsabilidade e a consciência de que cada decisão tomada ali carrega o peso de um país inteiro olhando para o céu.
Entre os dias 17 e 22 de dezembro, o Brasil abre uma nova janela para o espaço. É nesse intervalo que a Operação Spaceward, coordenada pela Força Aérea Brasileira (FAB) em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB), pretende colocar em órbita o foguete HANBIT-Nano, desenvolvido pela empresa sul-coreana Innospace. Mais do que um lançamento, trata-se de um marco histórico: o primeiro lançamento comercial realizado a partir do território brasileiro.
O espaço começa muito antes da decolagem
Engana-se quem imagina que o lançamento começa quando o motor é acionado. Na prática, o foguete começa a subir dias antes, ainda no chão, em forma de planejamento, testes, reuniões técnicas e decisões silenciosas.
Cada etapa segue uma cronologia rigorosa, coordenada pela FAB em conjunto com a empresa responsável pelo veículo espacial. São dezenas de sistemas, equipes especializadas e protocolos internacionais de segurança operando em sincronia absoluta.
“Uma operação como essa envolve uma sequência longa de procedimentos, verificações e decisões técnicas. Cada atividade existe para garantir que, quando o motor for acionado, o sistema esteja no mais alto nível de confiabilidade”, explica o Major Engenheiro Robson Coelho de Oliveira, Chefe da Divisão de Operações do CLA e Adjunto do Coordenador da Operação de Lançamento.
Onde tudo converge: o Centro de Controle
Quando a cronologia é ativada, o coração da missão passa a bater dentro do Centro de Controle. É ali que tudo converge. Telas, rádios, gráficos e dados em tempo real formam uma espécie de orquestra técnica, na qual cada estação precisa estar afinada.
Para o HANBIT-Nano, são cerca de nove horas ininterruptas de atividades até o acionamento do motor. Ao longo desse período, ocorrem os chamados pontos de decisão “GO/NO-GO”, nos quais qualquer divergência — seja climática, técnica ou operacional — pode interromper a contagem.
Cerca de 400 pessoas para um único instante
A Operação Spaceward mobiliza aproximadamente 400 profissionais, entre militares e civis brasileiros e técnicos sul-coreanos. Durante a contagem regressiva, cerca de 30 especialistas atuam diretamente no Centro de Controle, enquanto outros profissionais se distribuem entre áreas como radares, telemetria, meteorologia, segurança de voo, logística e tecnologia da informação.
O Coordenador de Operação de Lançamento (COL), função exercida nesta missão pelo Analista em Ciência e Tecnologia Sênior Jerônimo Donizeti Mendes, centraliza as informações que orientam as decisões críticas.
“O trabalho é multidisciplinar e contínuo. As estações operam com autonomia técnica, mas o processo decisório é centralizado para garantir segurança e precisão em cada etapa”, destaca.
O minuto final e o peso do H0
Nos minutos finais antes do disparo, tudo é monitorado: pressões internas dos tanques, linha de fogo, sistemas de ignição, softwares embarcados e condições meteorológicas. O momento exato do disparo é conhecido como H0.
Após a decolagem, a trajetória do foguete é acompanhada permanentemente. Caso o veículo apresente comportamento divergente, protocolos de segurança permitem a interrupção controlada do voo.
Um marco histórico para o Brasil
O lançamento do HANBIT-Nano representa um avanço estratégico para o Programa Espacial Brasileiro. Com mais de quatro décadas de operação e mais de 500 lançamentos realizados, o CLA consolida sua capacidade técnica e se posiciona como um polo internacional de lançamentos comerciais.
“É um marco que demonstra nossa maturidade técnica e insere o Brasil no mercado global de lançamentos. Alcântara se firma como um polo estratégico espacial, atraindo investimentos, empresas e inovação”, conclui o Major Robson.
O foguete transportará cinco satélites e três experimentos, desenvolvidos por instituições e empresas do Brasil e da Índia, ampliando a relevância internacional da missão.
Entre a terra vermelha de Alcântara e o céu profundo do Maranhão, o Brasil dá mais um passo rumo ao futuro. Um passo técnico, silencioso, preciso — e profundamente humano.
- Com informações da FAB.

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