quarta-feira, 7 de maio de 2025

Do Iluminismo às pistas: o renascimento do propósito na música eletrônica

Projeto NeoClassic DJ: transformando filosogua, mitologia, estátuas de mármore, pick-ups e sintetizadores em música eletrônica com propósito

Por Ronald Stresser, de Curitiba

Instagram/NeoClassic
 

Na arquitetura da alma humana, há quem busque rebuscamento. Outros, pureza. No caso do NeoClassic DJ (@neoclassicdj), projeto nascido da inquietação artística de um produtor apaixonado pela beleza atemporal da Antiguidade, a música eletrônica ganha colunas dóricas, sombras de mármore e ecos de mitologia grega. Mais do que uma estética, o projeto é um manifesto pela simplicidade com significado – um resgate sonoro e simbólico dos valores clássicos em meio ao caos contemporâneo.

Inspirado no movimento artístico do Neoclassicismo — que floresceu na Europa por volta de 1750 e durou até meados do século XIX — o NeoClassic DJ mergulha nas raízes da arte clássica para construir um som moderno e reflexivo. Assim como os escultores neoclássicos que deixavam o mármore em sua cor branca natural, ele opta por uma sonoridade limpa, minimalista, quase etérea. O excesso, típico do Barroco e do Rococó, dá lugar a batidas que respiram, pausas que falam e arranjos que iluminam mais do que impressionam.

“O projeto nasceu desse desejo de trazer à tona valores que o Neoclassicismo prezava: clareza, razão, civismo, heroísmo. Mas traduzidos para um contexto atual, dentro da cena eletrônica. Existe uma beleza na simplicidade e um poder na pureza da forma, tanto na música quanto na vida”, conta o artista, que também é fundador da Curare Records, selo que aposta em lançamentos autorais e gestão artística com propósito.

A conexão entre o som e os ideais iluministas — que tanto influenciaram os artistas neoclássicos — aparece também nas letras e nas atmosferas das faixas. Nada é gratuito: cada escolha estética remete a algo maior, uma ideia, uma reflexão, uma provocação.

Recentemente, o NeoClassic DJ foi um dos convidados da programação da ABEM (Associação Brasileira de Empresas de Música Eletrônica), em um bate-papo promovido pela Ature Brasil (@aturebrasil) sobre o papel das gravadoras no cenário eletrônico atual. Ao lado de nomes como os DJ's Kobbaia (@kobbaia) e G. Felix (@gfelixuniverse), o artista compartilhou suas experiências com o público e falou da importância de criar com propósito, especialmente em um meio que muitas vezes prioriza métricas em vez de mensagens.

“Foi um encontro muito especial. Tive a chance de revisitar minha trajetória, contar sobre os aprendizados e dividir um pouco do que penso sobre o futuro da música eletrônica. Momentos como esse me lembram por que escolhi esse caminho: contribuir com a cena de forma consistente, com respeito ao tempo da criação e à integridade do artista”, relatou, em uma postagem no Instagram.

Mas o NeoClassic DJ também carrega nas entrelinhas uma verdade pouco discutida: a vulnerabilidade emocional de quem vive da arte. “O artista tem três vezes mais chances de desenvolver alguns problemas emocionais. Criar com profundidade exige mergulhos. E às vezes, a gente não volta igual”, confessa. É nesse ponto que o projeto se torna ainda mais potente — ele não se contenta em entreter, quer tocar, provocar, inspirar.

Tal como as colunas gregas que sustentaram templos e ideais, o NeoClassic DJ ergue suas faixas como espaços de contemplação. São esculturas sonoras onde cada acorde é um convite à pausa, cada batida, um chamado à consciência. Entre o passado e o presente, entre a mitologia e o midi, o projeto se estabelece como um raro respiro de beleza e coerência estética na pista de dança.

Porque, no fim das contas, talvez o que a música precise — mais do que nunca — seja justamente disso: menos ornamento, mais essência.

 

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