quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

A conta que não fecha: SMC denuncia assédio, salários baixos e benefícios bilionários à ClearCorrect e Neodent

Nelsão da Força faz denúncia de irregularidades em fábrica que tem isenção de impostos do Governo do Paraná, localiza na Cidade Industrial de Curitiba (CIC) 

Por Ronald Stresser — 11 de dezembro de 2025
No chão de fábrica da ClearCorrect e da Neodent — marcas do Grupo Straumann — trabalhadores denunciam assédio moral, pressão por metas e remuneração média de R$ 3.500,00

O Grupo Straumann reportou em 2024 um faturamento global de aproximadamente CHF 2,504 bilhões, cerca de R$ 27 bilhões, resultado de um crescimento orgânico robusto que refletiu expansão em mercados internacionais. No Brasil, entretanto, documentos mostram que empresas ligadas ao setor receberam renúncias fiscais federais que somam cerca de R$ 31,8 milhões entre 2021 e 2024.

Ano

Valor (R$)
20242.533.348,00
202312.926.092,15
202210.409.472,72
20215.983.403,54

Total acumulado (2021–2024): R$ 31.852.316,41.

“A empresa cresce, mas o trabalhador paga a conta”

O vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC), Nelsão da Força, acompanha a mobilização e denuncia que a direção da fábrica tem tentado encaminhar negociações apenas pelo sindicato patronal — o SINDMETAL — negando, na prática, a autonomia e a voz da categoria.

“A convenção coletiva serve como um piso, mas não pode ser usada para tolher negociações locais. O problema na Neodent é antigo: assédio moral, excesso de horas e jornadas que empurram trabalhadores de segunda a sábado. Mais de 800 trabalhadores votaram internamente e a empresa se recusa a negociar. Se o Estado não intervir, a saída será o protesto ou a greve.” — Nelsão da Força

O depoimento dos trabalhadores

Operários relatam rotinas em que precisam cobrir múltiplas máquinas, proibições para trocar folgas em feriadões, PLR congelada mesmo após aumento expressivo de produção, e ameaças veladas a quem tenta se organizar. A sensação entre muitos é que direitos são sacrificados para manter a lógica do lucro.

Um trabalhador, que preferiu não se identificar, sintetizou a frustração: “Sem nós nada disso existe. Mas quem fica com todos os benefícios nunca somos nós.”

O que exigem os trabalhadores

  • Mediação do Governo do Estado para evitar uma greve de grande amplitude;
  • Negociação direta com o sindicato representativo dos trabalhadores (SMC);
  • Investigação imediata das denúncias de assédio moral e pressões indevidas;
  • Revisão das contrapartidas vinculadas às isenções fiscais, priorizando empregos dignos e salários compatíveis.

Contrapartidas fiscais e responsabilidade pública

As renúncias fiscais, justificadas pelo Estado como instrumento para atrair investimento e preservar empregos, carregam também um imperativo ético: exigir contrapartidas sociais e transparência. Se incentivos públicos ajudam a manter operações industriais, é razoável e necessário que resultem em condições de trabalho dignas e respeito aos direitos básicos.

A resolução que se espera

A solução proposta pelos representantes dos trabalhadores passa por diálogo mediado pelo governo, com uma mesa que reúna Estado, direção da empresa, SMC e representantes dos empregados. Uma reunião no Palácio Iguaçu — com disposição real para fiscalização das contrapartidas — poderia demonstrar que o Paraná entende desenvolvimento como progresso que contempla pessoas, não apenas números.

Sérgio Butka (presidente do SMC) já declarou que a entidade está pronta para conversar: “Se o governador chamar, estaremos lá. Nós queremos negociar.” A reportagem continuará acompanhando cada passo até obter respostas concretas do Governo do Estado e da diretoria das empresas.

Atualização (12/12/2025, às 14h08): Nelsão está na frente da fábrica esperando todos os trabalhadores e trabalhadoras chegarem para protestar contra as demissões em massa.


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