domingo, 14 de dezembro de 2025

Carla Zambelli renuncia ao mandato em meio a cerco judicial e impasse internacional

Da Câmara a uma cela em Roma: a queda política de uma deputada que deixou o Brasil para não ser presa e renunciou ao mandato na Itália

Por Ronald Stresser - 14 de dezembro de 2025

A ex-deputada Carla Zambelli - Lula Marques/ Agência Brasil

A trajetória política de Carla Zambelli (PL-SP) chegou oficialmente ao fim de neste domingo (14), quando a deputada renunciou ao mandato federal em comunicação formal enviada à Mesa Diretora da Câmara dos Deputados. O gesto ocorre em meio a um dos episódios mais graves da história recente do Parlamento brasileiro, envolvendo condenação criminal, fuga internacional, prisão no exterior e um processo de extradição em curso.

Com a renúncia, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), deve dar posse já nesta segunda-feira (15) ao suplente Adilson Barroso (PL-SP), encerrando simbolicamente um capítulo marcado por tensão institucional, embates entre Poderes e desgaste profundo da imagem do Legislativo.

Zambelli deixa o cargo dois dias após o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmar, por unanimidade, a cassação imediata de seu mandato, decisão tomada pela Primeira Turma na sexta-feira (12). O colegiado manteve o entendimento do ministro Alexandre de Moraes, que anulou a votação da Câmara que havia decidido preservar o mandato da deputada, apesar de sua condenação definitiva.

Quando o voto do plenário não bastou

Na última quarta-feira (10), a Câmara dos Deputados havia optado por manter o mandato de Zambelli, com 227 votos a favor e 110 contra. Para que a cassação fosse aprovada, seriam necessários 257 votos, o que não foi alcançado.

A decisão provocou reação imediata do STF. Alexandre de Moraes anulou a resolução da Casa e classificou a deliberação como inconstitucional. Segundo o ministro, a Constituição é clara ao determinar que, em casos de condenação criminal transitada em julgado, cabe ao Poder Judiciário decretar a perda do mandato, restando ao Parlamento apenas a função formal de “declarar a perda”.

A Primeira Turma do Supremo acompanhou Moraes de forma unânime, consolidando a cassação e deixando a deputada sem sustentação jurídica para permanecer no cargo.

Da tribuna à fuga

Enquanto o impasse político se desenrolava em Brasília, Carla Zambelli já estava longe do país. Em julho deste ano, a parlamentar foi presa em Roma, na Itália, após deixar o Brasil para evitar o cumprimento de um mandado de prisão expedido pelo STF.

Condenada a 10 anos de prisão pela invasão ao sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2023, Zambelli tentou se amparar em sua dupla cidadania para buscar asilo político em território italiano, alegando perseguição judicial no Brasil.

A prisão ocorreu após cooperação internacional e inclusão de seu nome em sistemas de alerta, encerrando a tentativa de permanecer em liberdade no exterior.

Itália avalia extradição e pede garantias ao Brasil

Nos últimos dias, a situação de Zambelli ganhou novos contornos no cenário internacional. A Justiça italiana adiou a decisão sobre a extradição e solicitou ao governo brasileiro informações detalhadas sobre o sistema prisional feminino, incluindo condições de encarceramento, segurança e garantias de direitos humanos.

O Supremo Tribunal Federal respondeu formalmente, informando que, caso seja extraditada, Zambelli deverá cumprir pena na Penitenciária Feminina do Distrito Federal, conhecida como Colmeia, apontada como unidade compatível com as exigências legais.

A audiência decisiva está marcada para a próxima quinta-feira (18), quando a Justiça italiana poderá avançar para uma definição sobre o futuro da ex-deputada.

O fim de um mandato, o peso de um símbolo

A renúncia de Carla Zambelli não é apenas um ato administrativo. Ela simboliza o colapso de uma carreira política que, nos últimos anos, se tornou um dos rostos mais visíveis da radicalização ideológica no país — e, ao mesmo tempo, um alerta sobre os limites entre mandato popular, responsabilidade criminal e o respeito às instituições.

Entre o plenário da Câmara e uma cela em Roma, Zambelli se torna personagem central de um episódio que expõe fissuras profundas na política brasileira, testa os mecanismos de freios e contrapesos e recoloca em debate o papel do Parlamento diante de decisões judiciais definitivas.

Agora, com a cadeira vaga e um suplente prestes a assumir, o Brasil acompanha, à distância, o desfecho internacional de um caso que já entrou para a história política e jurídica do país.

📌 Próximo capítulo: audiência da Justiça italiana sobre a extradição — quinta-feira, dia 18.

Apoie o blog Sulpost — contribua via PIX:

📱 (41) 99281-4340
📧 sulpost@outlook.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou?
Então contribua com qualquer valor
Use a chave PIX ou o QR Code abaixo
(Stresser Mídias Digitais - CNPJ: 49.755.235/0001-82)

Sulpost é um veículo de mídia independente e nossas publicações podem ser reproduzidas desde que citando a fonte com o link do site: https://sulpost.blogspot.com/. Sua contribuição é essencial para a continuidade do nosso trabalho.