terça-feira, 6 de maio de 2025

8 de janeiro: o dia em que o diabo vestiu a camisa canarinho

Punhal verde e amarelo: o dia em que o diabo vestiu a camisa canarinho da seleção brasileira de futebol e abriu as portas do inferno

Por Ronald Stresser*

 
08/01/23 - Golpistas ensandecidos promovem arruaça e baderna em Brasília.
Marcelo Camargo/Agência Brasil
 

Naquela tarde de céu limpo em Brasília, a bandeira tremulava, e a Praça dos Três Poderes parecia, à distância, mais um cartão-postal da estabilidade republicana. Mas dentro do Supremo Tribunal Federal, o clima era de expurgo. Ali, ministros da Primeira Turma começavam a julgar mais um capítulo do que já se desenha como o maior processo judicial da história política recente do Brasil — a tentativa de golpe que, a duras penas, fracassou. E que agora, no ritual da Justiça, começa a ser lentamente desnudado.

Nesta terça-feira, 6 de maio, a subprocuradora-geral da República, Cláudia Sampaio Marques, pediu que mais sete envolvidos — o chamado núcleo 4 da tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito — sejam transformados em réus. Militares da reserva, um policial federal e um engenheiro compõem esse braço técnico e estratégico da conspiração, segundo o Ministério Público, responsável por alimentar a máquina de desinformação que buscava implodir as urnas eletrônicas e instigar o caos.

“Todos estavam cientes do plano maior da organização e da eficácia de suas ações para a promoção da instabilidade social e consumação da ruptura institucional”, afirmou Cláudia. Sem rodeios.

O núcleo 4 não usava tanques — usava a Internet. Não planejava só cercar quartéis — buscava invadir consciências, moldar uma realidade paralela onde o inimigo era sempre “o sistema”, e a verdade, apenas um empecilho. A denúncia aponta que eles atacaram o general Freire Gomes e sua família com campanhas difamatórias, tentando dobrar o então comandante do Exército. Que usaram a estrutura da Abin para espionar adversários, coletar dados e fabricar narrativas falsas. Que, enfim, sabiam muito bem o que faziam.

Se a denúncia for aceita, os sete acusados responderão formalmente por cinco crimes: organização criminosa armada, tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado e grave ameaça com deterioração de patrimônio tombado. É o terceiro núcleo a ser analisado pela Corte. O primeiro, em março, tornou réus os supostos chefes do complô — entre eles, o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro. O segundo, em abril, alcançou seus mentores jurídicos. E o quarto núcleo, hoje, revela quem operava os bastidores, com inteligência e crueldade.

Bolsonaro, o desesperado

Do lado de fora da Corte, Jair Bolsonaro continua a vestir a camisa canarinho — não mais como símbolo de uma torcida apaixonada, mas como escudo de uma fé cada vez mais desesperada. No último domingo de abril (28/04), na Avenida Paulista, pediu ajuda. Não ao Congresso, nem ao povo brasileiro, mas ao exterior. “Tenho esperança que de fora venha alguma coisa para cá”, disse, olhos fixos em algum horizonte invisível. Falava como quem vê o cerco se fechar. Como quem sabe que a história começa a cobrar.

A fala não é apenas retórica. Bolsonaro está inelegível até 2030, réu por tentativa de golpe e cada vez mais isolado institucionalmente — mas não politicamente. Ainda mantém apoio de governadores poderosos, como Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Ratinho Junior (PR), entre outros. E conta com a fidelidade de figuras como Silas Malafaia, Valdemar Costa Neto e o prefeito paulistano Ricardo Nunes.

Mas seu discurso já não é o mesmo de 2022. Agora fala como exilado em vida, como mártir de si mesmo. Disse que, se estivesse no Brasil no dia 8 de janeiro, teria sido preso ou “assassinado”. Chega a sugerir que “algo o avisou” para deixar o país dias antes do caos.

A seu lado, advogados ensaiam a defesa. O nome de Débora Rodrigues Santos — a cabelereira que pichou a estátua da Justiça com batom — virou símbolo e argumento. Bolsonaro a defendeu publicamente. “Ela só usou um batom!”, repetem os apoiadores. Mas a PGR diz que ela fazia parte da engrenagem: aderiu ao movimento golpista desde o fim das eleições e tentou apagar provas.

Nos autos, a defesa já se prepara para apresentar testemunhas. Nenhuma lista oficial foi divulgada até o momento, mas nos bastidores especula-se a intenção de convocar aliados políticos, ex-ministros, militares e até lideranças religiosas. A estratégia: tentar provar que não houve golpe — apenas "exercício da liberdade de expressão".

O espelho trincado da democracia

Na memória do Brasil, os dias que sucederam as eleições de 2022 ainda latejam como ferida aberta. A invasão das sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, foi o estopim do que se tentou negar até o fim: uma tentativa concreta, planejada e orquestrada de subverter a ordem constitucional.

As imagens do Supremo vandalizado, das poltronas do Senado ocupadas por extremistas, da cadeira presidencial profanada, estão eternizadas como cicatriz. Foi uma verdadeira visão do Inferno. Mas hoje, dois anos depois, elas voltam ao centro do debate não apenas como lembrança — mas como evidência.

Cada núcleo da denúncia da PGR revela uma peça do quebra-cabeça. O núcleo 1, os líderes. O núcleo 2, os ideólogos. O núcleo 4, os operários digitais do caos. O núcleo 3, que será julgado em 20 de maio, trará os articuladores de logística. E o Brasil, aos poucos, vai compreendendo o tamanho da engrenagem que esteve a um passo de rasgar a Constituição.

Em meio a tudo isso, a camisa da seleção — verde, amarela, vibrante — foi sequestrada. Já não representa mais Pelé, Romário ou Marta. Foi usada como uniforme de guerra. Como capa para um punhal. Como símbolo de um Brasil que, por pouco, não mergulhou no abismo.

Mas hoje, no Supremo, ao som de votos serenos e sustentação jurídica, a democracia dá o troco. Em silêncio. Com o peso da lei. Com a firmeza de quem resistiu ao inferno — e sobreviveu.

Fechem-se os portais do Inferno

Silêncio maior, sepulcral, certamente será o fos falsos patriotas, que secretamente ainda nutrem um amor doentio pelos templos da ditadura e por Bolsonaro, seu representante mor. A história está  sendo escrita e ela não mente.

A verdade é como o Sol e a Lua - por mais dias nublados que existam ela sempre volta a aparecer. Quem esteve do lado errado da história e tentou ocultar a verdade, agido de maneira criminosa, como aconteceu nos porões da ditadura, por via de regra sempre acaba publicamente envergonhado. O dia 08 de janeiro de 2022 está entrando para os livros de história como o dia da vergonha, foi o dia em que o diabo vestiu a camisa canarinho da seleção brasileira. Hoje, o cramulhão inominável, os anjos caídos, as milícias e legiões infernais estão bebendo do próprio veneno.

*com informações da Ag. Brasil e do STF.

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