sábado, 13 de dezembro de 2025

Entre o escuro e a espera: mais de 400 mil lares paulistanos seguem sem luz enquanto novo ciclone avança sobre o Estado

Por horas que viram dias, São Paulo vive novamente a rotina da incerteza. Depois dos temporais do início da semana que deixaram cerca de 1,5 milhão de lares sem energia elétrica, a capital e a Grande São Paulo enfrentam neste sábado (13) mais um capítulo de tensão: a chegada de um novo ciclone, trazendo chuvas fortes, ventos intensos e o medo de que os estragos se repitam — ou se agravem

Por Ronald Stresser — 13 de dezembro de 2025

Poste caído em SP — Paulo Pinto/Agência Brasil

Na manhã deste sábado, dados da própria concessionária indicavam que mais de 500 mil imóveis ainda estavam sem energia, sendo cerca de 370 mil apenas na cidade de São Paulo, o que representa aproximadamente 2 milhões de pessoas diretamente afetadas. Ao longo do dia, o número diminuiu, mas mais de 417 mil moradores da Grande São Paulo seguem no escuro, aguardando a religação prometida para “até amanhã, domingo”, segundo a Enel.

Enquanto a previsão oficial tenta tranquilizar, a realidade dentro das casas, prédios e ruas é bem menos confortável.

O apagão dentro de casa

No Butantã, zona oeste da capital, a roteirista Erica Chaves vive desde o meio-dia de quarta-feira (10) uma rotina improvisada. O apagão chegou sem aviso, em um momento comum — e simbólico — do cotidiano: a volta do mercado para casa.

“A primeira coisa que eu enfrentei foi chegar com as compras e encontrar a casa sem luz. Algumas coisas a gente conseguiu levar para a casa de uma vizinha para colocar no congelador. Eram comidas que têm uma representatividade afetiva para a gente, que trouxemos de uma viagem e guardávamos para ir comendo aos poucos”, relatou à Agência Brasil.

Nem tudo pôde ser salvo. Parte dos alimentos precisou ser descartada. O prejuízo material dói, mas o impacto emocional se intensifica quando o apagão atravessa questões sensíveis da vida.

O pai de Erica está internado em um hospital. A energia lá não falta, mas em casa ela passou a economizar o uso do celular, racionando bateria e internet para conseguir acompanhar notícias sobre o estado de saúde dele.

“Estou entrando de hora em hora na internet para economizar bateria e ter notícias dele. Avisei a família para ligar no telefone normal em caso de emergência”, contou.

“Queremos luz”: o grito que ecoa nos bairros

No Bixiga, região central da capital, o cansaço virou protesto. Na noite de sexta-feira (12), moradores foram às ruas gritar o essencial: “Queremos luz”. Na manhã deste sábado, o cenário pouco havia mudado.

“Ainda estou sem energia e sem luz”, relatou uma moradora à reportagem.

No condomínio onde ela vive, idosos enfrentam dificuldades para subir escadas, tomar banho, se alimentar e até tomar medicamentos, evidenciando como a falta de energia rapidamente se transforma em uma crise silenciosa dentro dos prédios.

Na Pompeia, também na zona oeste, um protesto chegou a ser marcado para a tarde deste sábado. Pouco antes, a energia foi restabelecida. O alívio veio, mas deixou uma pergunta no ar: por que para uns a luz volta e para outros a espera parece interminável?

Impactos que vão além das casas

O apagão não atinge apenas residências. Sem energia, semáforos deixam de funcionar, o abastecimento de água é prejudicado, o trânsito se torna mais caótico e o comércio acumula prejuízos. Mercadorias estragam, estabelecimentos fecham as portas e trabalhadores ficam sem renda em plena sequência de dias úteis interrompidos.

Segundo informações da MetSul Meteorologia, os temporais associados ao ciclone extratropical causaram estragos significativos e mantêm o Estado em alerta para o fim de semana, com previsão de chuva forte, novos temporais e rajadas de vento — um cenário preocupante para quem ainda depende de reparos na rede elétrica.

A resposta da Enel e a pressão da Justiça

Em nota, a Enel, concessionária responsável pelo fornecimento de energia na Grande São Paulo, afirmou ter mobilizado um “número recorde de equipes em campo” desde a última quarta-feira (10) e garantiu que o serviço deve ser totalmente normalizado até o fim do dia de domingo.

“As condições meteorológicas adversas impactaram significativamente as operações de restabelecimento, pois as rajadas contínuas causaram novas interrupções enquanto as equipes trabalhavam para religar os clientes”, informou a empresa.

Na sexta-feira à noite, a situação ganhou contornos jurídicos. A Justiça de São Paulo, atendendo a um pedido do Ministério Público e da Defensoria Pública, determinou que a Enel restabeleça a energia elétrica em até 12 horas, sob pena de multa de R$ 200 mil por hora de descumprimento.

A concessionária respondeu afirmando que ainda não foi intimada oficialmente da decisão, mas reforçou que segue trabalhando de forma ininterrupta.

Entre a promessa e a realidade

Enquanto comunicados oficiais falam em prazos, moradores seguem contando o tempo de outra forma: pela comida que estraga, pela escada que precisa ser vencida no escuro, pela bateria do celular que vai acabando, pela ansiedade que cresce a cada nova previsão de chuva.

São Paulo, mais uma vez, vive o contraste entre a potência de uma metrópole e a fragilidade de sua infraestrutura diante de eventos climáticos extremos, cada vez mais frequentes.

Até que a luz volte por completo, o que permanece aceso é o sentimento coletivo de que energia elétrica, em tempos como estes, não é conforto — é dignidade.

Com informações da Agência Brasil; Enel Distribuição São Paulo; MetSul Meteorologia.

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