domingo, 18 de maio de 2025

Festa do Brega, a mais divertida do ano, dia 31 no Morgenau

Vista-se de brilho e brega: a Celebration volta com tudo no dia 31 de maio e promete ser a festa mais divertida do ano em Curitiba

Por redação especial de eventos, Sulpost
 
 

Prepare o look mais brega e brilhoso do armário, capriche no exagero e convoque os amigos: a Celebration – Festa do Brega já tem data marcada para incendiar a pista de dança da Sociedade Morgenau, em Curitiba. Será no sábado, 31 de maio, a partir das 20h, com uma programação que mistura nostalgia, humor, música e muito glitter. É a chance perfeita para quem ama se divertir sem levar a vida tão a sério.

Mais do que uma balada temática, a Celebration virou tradição. É a festa que Curitiba já escolheu – e escolheu de coração aberto, sem medo de ser feliz. A cada edição, o público entra no clima com trajes espalhafatosos, estampas duvidosas, ombreiras, paetês e muito amor declarado em alto e bom som. E a edição 2025 promete ser ainda mais inesquecível.

No palco, a noite será embalada pela super banda Varal do Wando, que vai assumir o papel de mestre da nostalgia, com um repertório recheado de clássicos românticos e hits do cancioneiro popular brasileiro. Nos intervalos, quem comanda as pick-ups são os DJs Ricardo Monteiro e BregAloque, garantindo que ninguém fique parado nem por um minuto.

A proposta é clara: dançar, rir, se emocionar e curtir como nos velhos tempos. Dos anos 70 aos 90, passando por todos os exageros e refrões grudentos que marcaram gerações, a trilha sonora da festa é praticamente uma linha do tempo afetiva da música nacional. E o figurino obrigatório? O já consagrado "Esporte Brega" – estilo livre, divertido, sem regras, onde o importante é brilhar e chamar atenção. Inclusive, os looks mais criativos concorrem a prêmios durante a noite.

Para quem já participou de edições anteriores, a abertura das vendas traz uma vantagem: o 1º lote de ingressos promocionais, disponível exclusivamente pela plataforma Go Ingressos [link aqui]. E como eles mesmos dizem: os ingressos voam mais rápido que declaração de amor em letra de brega.

Organizada pela equipe da Meta 5 Eventos, a Celebration nasceu para ser mais do que uma festa – é um reencontro com a leveza, a alegria e o senso de comunidade. Num tempo em que tudo anda tão sério, ser brega virou um ato de liberdade. E de amor.

Serviço:

Celebration – A Festa do Brega

Data: 31 de maio (sábado)

Horário: a partir das 20h

Local: Sociedade Morgenau

Atrações: Varal do Wando, DJ Ricardo Monteiro e DJ BregAloque

Ingressos: [Go Ingressos]

Informações e reservas: (41) 99552-8070 (Dino)

 

Bonecas, pets e votos: como o esvaziamento da família serve ao poder

Por trás da aparente ternura de um bebê de silicone aninhado no colo de uma mulher solitária, pulsa um alerta: o amor humano está sendo domesticado para caber em moldes que não exigem reciprocidade, sacrifício nem laço verdadeiro. Não é só afeto artificial — é engenharia social a serviço da desumanização

Editorial, por Ronald Stresser*
 
 

Em um mundo onde se adota um cão como filho, se embala uma boneca como bebê e se aprova projeto de lei para garantir “acolhimento psicossocial” a quem vive esse tipo de relação, surge uma pergunta desconfortável, porém urgente: o que está sendo feito com o conceito de família?

A deputada Rosângela Moro (União-SP), ao propor que o Estado ofereça suporte emocional a pessoas que criam vínculos afetivos com brinquedos, abriu oficialmente uma nova frente no já agitado front da guerra cultural: a relativização da família — agora também por dentro da direita. Isso mesmo. A mesma direita que, até ontem, dizia proteger valores tradicionais, agora começa a flertar com bandeiras que antes criticava ferozmente, desde que elas rendam votos.

Esse tipo de jogada política, que no fundo nada tem de ingênua, é espelho invertido daquilo que a esquerda identitária fez nas últimas décadas: enfraquecer o conceito de família humana enquanto projeto coletivo e civilizatório, promovendo versões fragmentadas e autossuficientes de afeto — desde que cada indivíduo tenha a sua “identidade afetiva” protegida. Agora, a direita mimetiza o jogo e o transforma em mercadoria legislativa.

E para quê? Para agradar nichos, lacrar nas redes, parecer “moderna” sem ser — e, principalmente, desconstruir o último reduto de resistência cultural real que ainda resta ao ser humano comum: a família enraizada em cuidado mútuo, paciência, renúncia e memória.

Uma epidemia de vínculos simulados

Cães e gatos sempre foram grandes amigos da humanidade. Mas há uma linha tênue entre o carinho saudável e a substituição simbólica do filho ou do neto por um pet que não contesta, não sofre, não adoece (pelo menos emocionalmente). A febre dos “filhos de quatro patas” é, em muitos casos, um sintoma — não de afeto, mas de carência afetiva profunda travestida de modernidade.

E o fenômeno dos bebês reborn é ainda mais revelador. De acordo com levantamento recente, o número de pessoas que trata bonecos de silicone como filhos vem crescendo no Brasil. Elas os vestem, alimentam (simbolicamente), levam ao parque e até os levam a consultas — com médicos de verdade. O Estado começa a legislar para elas. E não se trata apenas de saúde mental. Trata-se de política. E de votos.

O que antes seria visto como delírio individual começa a se tornar bandeira pública. Isso interessa à máquina do poder. O império financeiro e midiático que governa o mundo por algoritmos, e, algoritmos por emoções, entende perfeitamente o valor de transformar indivíduos carentes em consumidores leais. Pessoas que amam bonecos são mais facilmente convencidas a amar políticos igualmente vazios.

O fim da memória coletiva

O ataque à família, por mais que seja negado pelos moderninhos de plantão, é um projeto. E um projeto antigo. Foi forjado no pós-guerra, quando universidades como Harvard e a Sorbonne cunharam o identitarismo como resposta ao avanço das ideias socialistas. A lógica era simples: fragmente a luta coletiva em causas individuais, e você elimina o potencial revolucionário. Um povo que briga por banheiros unissex não constrói revoluções.

De lá para cá, a erosão da família foi sendo normalizada: pai virou opressor, mãe virou símbolo de sofrimento e submissão, avós viraram ultrapassados e crianças viraram projeto de identidade em construção. O resultado é a dissolução de vínculos reais — aqueles que exigem compreensão, esforço, perdão, escuta e presença.

Em lugar disso, do que realmente importa, os simulacros ganham terreno. O bebê reborn não chora de verdade, não tem cólica, não exige noites em claro. O cachorro tratado como filho não se rebela na adolescência. O parceiro virtual não tem cheiro, passado, manias ou vícios. E o “influencer de nicho”, novo modelo de sucesso da Geração Z, não precisa trabalhar, estudar ou construir algo com outros. Basta performar. Ganhar curtidas, viralizar e monetizar a performance.

O vazio que eles chamam de liberdade

A tragédia é que tudo isso parece — e às vezes até se sente — como liberdade. Liberdade de viver como se quer, de amar o que se quiser, de montar o próprio modelo de família. Mas, no fundo, é uma liberdade plastificada, egoísta, vendida em prestações, moldada por interesses que não têm o menor amor por ninguém.

A Geração Z é o retrato mais acabado dessa crise. Crianças que cresceram sozinhas no quarto, adolescentes que se acham especiais demais para viver as frustrações da vida comum, adultos que esperam herança para nunca ter que produzir. Muitos se refugiam na rede, no discurso, no nicho,  na bolha ou círculo de conforto. E não percebem que estão cada vez mais isolados, mais frágeis, mais manipuláveis.

Quem ganha com isso? Os mesmos de sempre: os grandes, os donos do sistema, os que enxergam em cada "família desconstruída" um novo cliente, em cada “nova forma de amar” uma nova política para se eleger. Foi assim com os Moro, com os Bolsonaro e mesmo com nomes populares da esquerda.

O identirarismo, a pauta identitária está gerando uma onda egoísta, divisora, que dissolve a família, caysando a erosão das bases da sociedade. Mas para eles, os políticos inescripulosos e safados, tudo bem, porque a cada voto, um aplauso para a farsa. Cada projeto, um prego no caixão da humanidade que conhecíamos. É até paeadoxal mas chegamos a pensar que o ser humano parece ter esquecido de como é ser realmente humano. 

Resistir ainda é possível?

A resposta é sim. Mas não será nas redes, nem nas rodinhas de lacração. Será na reconstrução silenciosa dos laços reais: pai, mãe, avô, filho, amigo, vizinho. Pessoas com nome, cheiro, defeitos e histórias. Pessoas de verdade. Laços que não cabem em algoritmo, que não se compram em pet shop, que não viram pauta política para oportunistas.

Ainda dá tempo de lembrar que amor não é simulação. Que família não é fetiche. Que vínculos reais são o que sustentam a memória da espécie. O resto — boneco, discurso ou projeto de lei — é só esvaziamento com embalagem de afeto.

*Ronald Stresser é jornalista, escritor, arquiteto da informação e editor-chefe do blog Sulpost. 

Eder Borges na berlinda: vereador de Curitiba é alvo de três investigações

Eder Borges na mira da Câmara: o que está acontecendo com o vereador de Curitiba

Por Ronald Stresser*
 
O ex-presidente Bolsonaro e o vereador Eder Borges - Reprodução/Instagram
 

O vereador Eder Borges (PL) está enfrentando dias turbulentos na Câmara de Curitiba. Envolvido em três investigações internas, ele tenta se defender enquanto as acusações ganham força nas redes e na imprensa. Entenda, de forma clara e direta, o que está em jogo e o que pode acontecer com o político bolsonarista nos próximos dias.

1. Nepotismo? Nomeações de familiares levantam suspeitas

A principal suspeita é a de que Eder tenha beneficiado pessoas próximas com cargos públicos. Segundo reportagem do The Intercept Brasil, ele teria nomeado como chefe de gabinete uma jovem de 23 anos, filha de sua namorada, com salário de R\$ 17 mil. Ao mesmo tempo, a mãe da moça — que não tinha cargo no gabinete — participava ativamente das reuniões e atividades do mandato.

Isso pode ser considerado nepotismo (quando um político emprega parentes) e desvio de função (quando alguém exerce uma função sem estar oficialmente nomeado para ela), dois problemas sérios na vida pública.

Eder nega tudo. Diz que não tem união estável com a mãe da funcionária, que não há irregularidade e que está sendo perseguido por adversários políticos.

2. Polêmica sobre a Ku Klux Klan vira caso na Corregedoria

Outro ponto de atrito foi uma fala de Eder no plenário da Câmara, onde ele citou a Ku Klux Klan — grupo extremista norte-americano conhecido por sua história de ódio e violência contra negros — como uma "resposta dos brancos ao empoderamento dos negros que estavam se armando".

A declaração gerou revolta. A vereadora Giorgia Prates (PT) acionou a Corregedoria pedindo investigação por quebra de decoro, que é quando o parlamentar tem um comportamento considerado desrespeitoso ou impróprio para o cargo.

3. Acusação de transfobia arquivada pela Câmara, mas processo antigo ainda corre na Justiça

O terceiro caso envolvia um vídeo postado nas redes sociais do vereador. Nele, Eder criticava a inclusão de mulheres trans no Plano Municipal de Políticas para as Mulheres. O conteúdo foi visto por muitos como transfóbico — ou seja, discriminatório contra pessoas trans — e também virou alvo de representação por quebra de decoro.

Neste caso, a Corregedoria da Câmara decidiu arquivar a investigação, entendendo que não houve violação às regras da casa. Ou seja, nesse ponto, Eder foi absolvido internamente.

Porém, vale lembrar que ele ainda responde na Justiça por outro caso de transfobia, de 2021, quando atacou uma campanha da prefeitura que defendia os direitos de pessoas trans.

O que pode acontecer com Eder Borges?

As investigações em andamento podem ter diferentes desfechos. A Câmara de Curitiba pode:

  • Arquivar os casos, se entender que não houve irregularidades;
  • Aplicar uma advertência oficial (como um “puxão de orelha” público);
  • Suspender temporariamente o mandato;
  • Ou, no caso mais grave, cassá-lo, tirando definitivamente o cargo de vereador.

Tudo depende do que será apurado nos relatórios da Corregedoria. Se for considerado culpado, o caso vai para o Conselho de Ética da Câmara, que dá a palavra final.

Eder reage: “Querem me calar”

Em nota publicada no site oficial da Câmara, Eder Borges disse que não vai se intimidar e que tudo isso faz parte de uma perseguição política. “Não vão me calar”, declarou.

Ele já teve o mandato cassado uma vez, em 2022, após ser condenado por atacar o sindicato dos professores. Mas voltou ao cargo por decisão da Justiça.

Por que isso importa?

Casos como esse mostram que a política não deve ser feita “nas coxas”, como se os cargos fossem favores. Cada centavo pago a assessores vem dos impostos da população. Quando alguém abusa da função, o prejuízo é de todos.

Além disso, o que um vereador diz em público importa — e muito. Palavras têm peso, especialmente quando atingem grupos historicamente marginalizados.

Eder Borges continua no cargo, por enquanto. Mas a pressão aumenta. A cidade observa. E a democracia, como sempre, depende da nossa atenção.

sábado, 17 de maio de 2025

A paz que não chega: enquanto o mundo assiste, a Ucrânia sangra

Três anos de guerra: a paz continua sendo um sonho distante para quem vive sob sirenes e escombros na Ucrânia

Por Ronald Stresser*

 
Delegações de Rússia e Ucrânia se reúnem para tentar cessar-fogo. Istambul, Turquia. 16 de maio de 2025 — Ramil Sitdikov/ Sputnik Pool Foto via AP
 

Após três anos de silêncio entre as partes, Rússia e Ucrânia voltaram a se sentar frente a frente. O cenário foi Istambul. O gesto mais concreto? A troca de dois mil prisioneiros. Um passo simbólico, mas insuficiente.

A ausência de Vladimir Putin nas negociações foi vista como um sinal claro de desinteresse real. Ele mandou uma delegação técnica, sem autonomia, que apresentou exigências unilaterais: a retirada das forças ucranianas de quatro províncias disputadas. Para Kiev, isso seria admitir derrota sem lutar.

“Estamos prontos para o diálogo. Mas não para sermos forçados a abrir mão do nosso território e da nossa história”, afirmou um diplomata ucraniano ao fim do encontro.

Trump, Putin e a ligação que não basta

Donald Trump, de volta ao centro do palco internacional, anunciou que fará uma ligação a Putin na próxima segunda-feira. E, depois, conversará com Zelensky. Sua promessa? Acabar com a guerra. Mas a ordem dos telefonemas já diz muito.

A exclusão da Ucrânia das conversas iniciais soou como um eco incômodo de outros tempos. Uma negociação feita sobre um país, e não com ele. Uma paz negociada de cima para baixo, como se a soberania ucraniana fosse um detalhe.

“O caminho para a paz não passa por atalhos. E não se constrói ignorando quem sofre com a guerra todos os dias”, reagiu um parlamentar europeu.

OTAN e ONU: a inércia das potências

A comunidade internacional segue hesitante. A OTAN faz declarações formais, reforça compromissos de defesa, mas evita qualquer gesto mais duro que possa provocar Moscou. Já a ONU, paralisada entre resoluções e vetos, vê seu papel de mediadora esvaziado.

E o tempo passa. Cada dia sem ação significa mais mortos, mais refugiados, mais cidades arrasadas. A paz verdadeira exige mais que retórica — exige responsabilização e ousadia diplomática.

A ausência de pressão efetiva sobre o Kremlin mostra o quanto os interesses geopolíticos ainda valem mais que os direitos huhumanos.

O grito silencioso de quem resiste

Enquanto as potências debatem em mesas acarpetadas, o povo ucraniano segue resistindo. Em Kharkiv, famílias dormem em estações de metrô. Em Kiev, professores dão aulas em abrigos. Em Mariupol, crianças aprendem a identificar o som dos mísseis.

"Nosso filho já não se assusta com explosões. Mas nós, sim", diz Olena, mãe de dois meninos que vivem hoje no porão de um hospital. "Essa guerra virou um pano de fundo constante. Mas não deveria."

O mundo precisa escolher um lado

Paz não é só cessar-fogo. É reconstrução, é justiça, é dar voz a quem sofreu. É impedir que a violência seja apenas substituída pelo esquecimento. Para isso, não bastam telefonemas e encontros diplomáticos vazios.

É preciso coragem política. E pressão real da OTAN, da ONU, dos líderes europeus e latino-americanos. A diplomacia só terá sentido se vier acompanhada de ações concretas.

Porque enquanto o mundo hesita, a Ucrânia morre um pouco mais a cada dia. E nenhuma civilização pode dizer-se justa enquanto assiste calada a uma tragédia dessas proporções.

A paz não se constrói com promessas. Ela exige presença, escuta e verdade.

*com informações da RT News.

Suprema Corte contra o povo? Só se for na cabeça dos extremistas

Na cabeça da extrema direita, o STF virou vilão de novela. E Trump, coitadinho, também sofre?

Por Ronald Stresser*
 
 

Você já ouviu essa história: Jair Bolsonaro é um patriota incompreendido, perseguido por uma elite maquiavélica que se reúne secretamente nas dependências do Supremo Tribunal Federal para sabotá-lo — talvez entre uma xícara de café e outra. O roteiro é digno de série ruim de streaming: o herói injustiçado, os ministros maquiados como vilões de quadrinhos e um povo “acordado” que enxerga a verdade por trás do sistema.

Faz sentido? Claro que não. Mas essa narrativa anda circulando com força nos grupos de WhatsApp, nas lives de pastores digitais e nos vídeos de youtubers com estética de programa policial dos anos 90.

O bolsonarismo, como mostrou o Intercept Brasil, já vinha aquecendo sua militância para o julgamento do ex-presidente no STF antes mesmo de o processo começar. Afinal, é preciso manter a chama acesa — e não há combustível melhor do que a velha história da “perseguição”.

Mas por que essa turma acha tão absurdo que um tribunal coloque limites em políticos? Porque, na cabeça deles, quando a Justiça age, ela está sendo parcial. Quando pune, está sendo vingativa. E quando bloqueia os desmandos de Bolsonaro, está cometendo um atentado à democracia — veja só, que ironia.

Enquanto isso, do outro lado do hemisfério, Donald Trump também anda batendo cabeça com a Suprema Corte americana. Recentemente, o ex-presidente tentou usar uma lei de 1798 para deportar venezuelanos. Sim, você leu certo: mil setecentos e noventa e oito. Uma regra escrita antes de existir energia elétrica, avião, pen drive e até... o Brasil independente [confira aqui].

Trump queria ressuscitar um decreto mofado, criado num contexto de paranoia contra franceses, e aplicá-lo no século XXI como se fosse a coisa mais natural do mundo. Resultado? Tomou uma invertida da Suprema Corte, que, com toda razão, disse: “Não, senhor. Aqui não.”

E ninguém por lá saiu gritando que o tribunal é comunista, nem que está censurando o “mito americano”. Porque nos Estados Unidos, quando a Justiça funciona e coloca limites em decisões absurdas, isso é considerado... normal. E necessário.

Já por aqui, como relatou a Folha de S.Paulo, a oposição bolsonarista preferiu vestir a fantasia de mártir, alegando perseguição e censura, como se Bolsonaro estivesse sendo impedido de governar por ser “honesto demais” ou “brasileiro demais”.

Vamos combinar: ser investigado por convocar golpe, vazar documentos sigilosos e flertar publicamente com o autoritarismo não é exatamente ser vítima de uma “injustiça histórica”. É, no mínimo, colher o que se plantou.

Mas, claro, no universo paralelo da extrema direita, o que temos é um herói sendo sabotado por um complô global. Um pouco de delírio, um pouco de má-fé — e um bocado de cálculo político. Porque vitimizar Bolsonaro ainda rende voto, clique e engajamento.

Só que por trás desse drama todo, há uma realidade simples: em qualquer país democrático, tribunais servem para garantir que ninguém — absolutamente ninguém — esteja acima da lei. Nem Trump. Nem Bolsonaro. E muito menos os influenciadores que juram defender a liberdade enquanto vendem camiseta com a cara do líder “injustiçado”.

*com informações do Intercept Brasil, InfoMoney e Folha de São Paulo.

Amazônia: entre a esperança e a urgência

Após anos de luta, floresta respira: desmatamento no Brasil tem queda expressiva em 2024, mas ainda é alto e precisa de enfrentamento contínuo

Por Ronald Stresser*

 
Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil 
 

Numa parte meio esquecida do mapa do Brasil, onde o verde é soberano e o som da floresta fala mais alto que qualquer motor de trator, algo raro aconteceu em 2024: o desmatamento diminuiu. Foram milhares de hectares poupados. Para quem vive na linha de frente — ribeirinhos, indígenas, brigadistas — é como se a mata tivesse ganhado um fôlego novo. Mas é um fôlego curto.

A verdade é que a floresta ainda sangra. Abril de 2025 trouxe um sinal de alerta: os satélites mostraram que o desmatamento voltou a crescer. E, como em um filme que a gente já viu muitas vezes, o governo foi chamado às pressas. É como enxugar gelo: um ano melhora, o seguinte piora. E no meio desse vai e vem, a Amazônia continua perdendo pedaços de si.

Não é só o machado ou a motosserra que ferem a floresta. O fogo também chega. Intencional, criminoso, planejado. São fazendeiros sem escrúpulos, grileiros, gente que acredita que floresta em pé é desperdício. Em 2024, centenas de pessoas foram responsabilizadas por queimadas ilegais. A maioria dos incêndios que devastam matas e matam animais começa com uma decisão humana — egoísta, gananciosa, impune por anos.

Mas há quem resista. Um projeto de restauração quer devolver a vida a áreas degradadas, recuperando o que foi tomado à força. São milhares de hectares sendo plantados, pedaço por pedaço, por mãos que acreditam no recomeço. É um trabalho de formiga, e o tempo da natureza não tem pressa — leva décadas para uma árvore virar floresta.

As terras indígenas, por sua vez, seguem sendo as maiores fortalezas da Amazônia. Onde há povo originário, há mata preservada. Eles não protegem a floresta porque é moda ou porque recebem para isso. Protegem porque é dela que vêm sua cultura, sua história, seu alimento. Porque floresta não é cenário — é casa.

Ainda assim, o inimigo é maior do que parece. Para além do desmatamento oficial, há uma degradação sorrateira que não aparece nas manchetes: a floresta que perde folhas, queimada aos poucos, espremida pela exploração madeireira e pela pressão do agronegócio. Áreas que não desaparecem de vez, mas adoecem, e com elas adoece o planeta.

O tempo da Amazônia é o tempo do mundo. E o tempo está se esgotando. Em Brasília, planos foram desenhados para conter a destruição: metas ambiciosas, promessas de acabar com o desmatamento até 2030. Mas, como toda promessa política, o que vale é o que se faz, não o que se diz.

No fim das contas, preservar a floresta é preservar a nós mesmos. A Amazônia não é um lugar distante, separado do Brasil real. Ela é o coração do clima, da água, da vida. Quando ela sufoca, todos nós perdemos o ar.

*com informações da Agência Brasil.

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Haddad surpreende em pesquisa para o governo de São Paulo

Haddad no páreo: como o bom desempenho do ministro nas pesquisas mexeu com o tabuleiro eleitoral de São Paulo

Por Ronald Stresser*

 
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad - Diogo Zacarias/MF
 

Nos bastidores da política paulista, um velho conhecido voltou a despertar burburinhos — e não por acaso. Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda e ex-prefeito da capital, apareceu com força renovada nas mais recentes pesquisas de intenção de voto. O desempenho inesperado caiu como uma pedra no lago da direita paulista, gerando ondas de apreensão entre os aliados do governador Tarcísio de Freitas e da família Bolsonaro.

Foi como se um fantasma tivesse retornado ao jogo — só que, desta vez, com mais fôlego, mais preparo e uma imagem fortalecida por sua atuação à frente da economia. Ninguém esperava que o ministro, constantemente atacado por setores conservadores, se tornasse um nome competitivo para o governo de São Paulo. Mas os números mais recentes mostram exatamente isso: Haddad está no páreo.

A surpresa foi geral. Para alguns, um incômodo. Para outros, uma esperança. O fato é que a possibilidade de o ministro disputar o Palácio dos Bandeirantes em 2026 mexeu com o cenário político do estado. De repente, o jogo que parecia encaminhado se embaralhou — e agora ninguém mais tem certeza de nada.

*com informações do O Globo e Estadão.

Finalmente a cannabis medicinal está em vias de ser regulamentada no Brasil

Cannabis medicinal no Brasil: a regulamentação que pode mudar vidas e o alerta do jurista Diogo Busse

Por Ronald Stresser, de Curitiba.

 
Ilustração: Sulpost
 

Desde que seu filho foi diagnosticado com epilepsia refratária, em 2018, a farmacêutica Rosana Duarte convive com uma angústia que só encontrou alívio em um frasco importado, adquirido a duras penas: o óleo de cannabis. “Ele passou a ter uma vida normal. As crises praticamente cessaram. Mas o custo é absurdo. R\$ 2 mil por mês. A gente se endivida, mas não pode parar”, conta, emocionada, de Belo Horizonte.

Rosana representa milhares de famílias brasileiras que dependem da cannabis medicinal para garantir dignidade a seus entes queridos. E é justamente por essas famílias que o Brasil vive, neste momento, um capítulo histórico. Após anos de espera, batalhas judiciais e histórias de sofrimento silenciado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) finalmente colocou na mesa uma proposta concreta: uma minuta que pode regulamentar, pela primeira vez, o cultivo de cannabis em solo brasileiro para fins medicinais e industriais.

Esse movimento não acontece por acaso. É fruto de uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que, em novembro de 2023, determinou que o governo federal criasse as regras necessárias para permitir o plantio dentro de um prazo de seis meses. O relógio corria para quem sofre. Agora, com a minuta em debate, acende-se uma fagulha de esperança para milhares de brasileiros que há muito enxergam na cannabis não uma polêmica, mas uma chance de viver com menos dor. A minuta, vazada esta semana, foi recebida com expectativa por pacientes, empresas e especialistas, mas também com críticas.

“Não é sobre o usuário, é sobre o mercado”

Diogo Busse, jurista e um dos maiores especialistas do país em políticas sobre drogas, acompanha de perto os bastidores da regulamentação. Representante da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) no Conselho Nacional de Política sobre Drogas (Conad), ele fez um alerta em vídeo nas redes sociais: o cultivo será restrito a pessoas jurídicas previamente autorizadas, com produção voltada ao mercado.

“Estamos falando de empresas que vão cultivar, extrair insumos farmacêuticos e colocar medicamentos em circulação para lucrar com isso”, explica. Segundo ele, o foco não é o uso recreativo nem o autocultivo: “Essa é uma discussão legítima, necessária, mas que não está na mesa agora. O que está sendo regulamentado é o cultivo industrial, sob rigorosos critérios do Ministério da Agricultura”.

Um desses critérios é a exigência de registros complexos como o Renazém (Registro Nacional de Sementes e Mudas) e o RNC (Registro Nacional de Cultivares), além do controle sobre o teor de THC. Isso indica, na visão de Busse, que o governo quer apostar no cultivo indoor, sob luz artificial, o que pode contrariar a vocação natural do Brasil. “Perdemos nossa maior vantagem competitiva: a luz solar. Mas é uma decisão que ainda pode evoluir”, pondera.

Um país que começa a despertar

A movimentação institucional não é isolada. Em abril, o Conselho Nacional de Política sobre Drogas recomendou oficialmente a regulamentação da cannabis medicinal e do cânhamo industrial no país. A decisão abre caminho para que as normas ganhem força e possam ser harmonizadas com as diretrizes internacionais de saúde pública e direitos humanos.

Mas nem todos os atores do setor estão satisfeitos. Especialistas ouvidos pelo portal Jota criticam a falta de diálogo amplo na construção das regras. “A Anvisa empurrou a regulação do cultivo para o Ministério da Agricultura, mas sem um plano claro de participação da sociedade civil, das associações de pacientes e dos pequenos produtores”, afirmou um dos consultores técnicos do setor.

Bel Kutner: a voz de quem vive a dor

A atriz Bel Kutner também entrou na campanha pela regulamentação. Em um vídeo comovente publicado nas redes sociais, ela pede apoio público e institucional para garantir que mais pessoas tenham acesso à cannabis medicinal. Seu filho, Davi, diagnosticado com autismo severo, teve melhoras significativas com o uso da planta. “É uma questão de saúde pública, de dignidade humana”, afirma no vídeo que já viralizou.

Bel e Rosana, em cantos distintos do Brasil, carregam o mesmo apelo: que o acesso à cannabis medicinal seja visto não como privilégio, mas como direito. Segundo a Anvisa, mais de 60 mil pacientes têm autorização para importar produtos à base de cannabis — um número que cresce ano após ano, evidenciando a urgência de políticas nacionais de produção e distribuição.

Uma nova era

A expectativa é que a regulamentação definitiva seja publicada ainda em 2025, após a consolidação das regras pelo Ministério da Agricultura. “Estamos, sim, dando um passo importante. Isso pode significar não só novos negócios, mas o mais importante: o acesso a uma medicina transformadora, que já mudou e vai continuar mudando a vida de milhares de brasileiros”, resume Diogo Busse.

O Brasil entra agora em uma nova era — ainda marcada por desafios técnicos, disputas políticas e preconceitos enraizados, mas também por esperança. Esperança de que, um dia, nenhum paciente precise escolher entre saúde e endividamento. Que nenhuma mãe precise importar alívio. E que o verde da cannabis, cultivado em solo nacional, floresça para salvar vidas.

 

Gripe aviaria acende alerta vermelho no Brasil

Impacto silencioso: suspensão da China abala confiança do setor avícola no Paraná

Por Ronald Stresser*
 

Imagem meramente ilustrativa - Reprodução
 

O cheiro de ração misturado ao som incessante das aves. Quem conhece a rotina de uma granja sabe: a vida no campo não para. Mas, desta vez, o silêncio não vem dos animais. Vem das incertezas.

A decisão da China de suspender, por 60 dias, a importação de carne de frango brasileira — após a confirmação de um caso isolado de gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul — trouxe um impacto direto ao Paraná, estado que lidera com folga a produção nacional. O embargo, embora preventivo, acendeu o alerta vermelho em um setor que se equilibra entre a excelência sanitária e a pressão dos mercados internacionais.

Nos bastidores das cooperativas, nos galpões das pequenas propriedades familiares e nas salas refrigeradas dos frigoríficos, o clima é de frustração contida. É como se uma engrenagem enorme tivesse desacelerado bruscamente. Não por falha técnica, mas por cautela internacional.

A avicultura paranaense não é apenas um setor produtivo — ela sustenta vidas, movimenta economias locais e dá identidade a municípios inteiros. Milhares de famílias dependem diretamente da cadeia do frango: desde os pequenos produtores até os caminhoneiros que cruzam o estado com cargas vivas ou refrigeradas.

O vírus, identificado fora do Paraná, não se espalhou. Mas bastou sua presença em território comercial para que a confiança internacional estremecesse. A suspensão chinesa não carrega julgamento, mas impõe uma pausa, uma espera que carrega mais do que números — carrega o peso do tempo que parece não passar para quem tem lotes prontos para abate e contratos parados no papel.

Com a suspensão, cerca de 40 mil toneladas de carne de frango, que mensalmente seguiriam para o maior comprador brasileiro, ficam sem destino. E não se trata apenas de carne: são pés, asas e miúdos que não encontram valorização no mercado interno e agora correm o risco de encalhar nos estoques.

O governo estadual corre para reforçar barreiras sanitárias. Técnicos visitam propriedades, orientam sobre biossegurança, monitoram movimentações. O objetivo é claro: manter o vírus longe, e, principalmente, mostrar ao mundo que o Brasil continua sendo um parceiro confiável.

Enquanto isso, no interior do estado, os dias seguem. Os galpões continuam aquecidos, a ração é servida, a produção não para. Mas a rotina agora carrega um peso novo: o de aguardar. Aguardar que a confiança seja restabelecida, que os mercados se abram novamente e que o silêncio de hoje volte a ser preenchido pelo ritmo firme de uma cadeia que alimenta o mundo.

Porque no Paraná, o frango não é só produto de exportação — é parte da cultura, da economia, da vida. E cada dia de suspensão é um lembrete silencioso de como somos todos, de alguma forma, interdependentes.

No momento do encerramento da matéria, chegou a informação de que na tarde de hoje o Governo Federal suspendeu,  por tempo indeterminado, a venda de carne de frango do Rio Grande do Sul para fora do estado. A ideia é criar uma barreira sanitária. A União Europeia (UE) também confirmou que também está suspendendo a compra de carne de frango do Brasil.

*com informações do Ministério da Agricultura e da CNN Brasil.

Corrupção no INSS expõe crise no governo Lula e reacende guerra de narrativas sobre herança dos escândalos

Entre a tentativa de culpar Bolsonaro, suspeitas que remontam a Temer e revelações sobre o papel da esquerda, o escândalo no INSS vira o novo pesadelo do Planalto

Por Ronald Stresser, plural e apartidario.

 
Imagem meramente ilustrativa — INSS/Portal Gov.BR
 

Curitiba — A popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta sua prova mais dura desde a posse. No centro da crise, um escândalo de corrupção no INSS que já movimenta investigações da Polícia Federal, CPI e, nos bastidores, uma guerra de versões sobre quem tem, afinal, as digitais mais visíveis no esquema que desviou bilhões de reais dos aposentados brasileiros.

A narrativa oficial do governo tenta empurrar a responsabilidade para o ex-presidente Jair Bolsonaro, apontando falhas na fiscalização herdadas da gestão anterior. Mas, nos corredores do Congresso, cresce a avaliação de que a bomba está explodindo no colo do próprio Lula — e não apenas por uma questão de timing. A crise estourou, coincidentemente (ou não), 28 meses após a posse, repetindo o intervalo em que emergiu o escândalo do mensalão no primeiro governo petista, em 2005.

O governo ainda não encontrou um discurso coeso para conter a sangria política. A avaliação de aliados, segundo apurou a CNN Brasil, é que essa pode se tornar “a pior crise de popularidade” do presidente no atual mandato — e, se não for controlada, um desastre para a eleição presidencial de 2026.

Viagens suspeitas e conexões perigosas

As investigações apontam para pagamentos irregulares de viagens de um assessor de André Fufuca (PP), ministro dos Esportes, que estaria ligado a membros da cúpula do INSS. O pagamento, feito com recursos do próprio Instituto, levanta suspeitas sobre o uso da máquina pública para benefício pessoal e político.

Na tentativa de se afastar do epicentro do escândalo, o Planalto tem dado sinais de que pode sacrificar aliados, como o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. Mas os danos parecem mais profundos do que a troca de nomes pode estancar.

A narrativa da “herança maldita”

Do lado oposto da trincheira, opositores ao governo — como o ex-deputado Deltan Dallagnol — apresentaram em seu canal um documento transcrito que reforça uma linha de raciocínio incômoda para a esquerda: de que o esquema pode ter sido facilitado por emendas da própria bancada petista, ainda na oposição, durante o governo Bolsonaro.

O ponto-chave da narrativa gira em torno da Medida Provisória que estabelecia revalidações anuais para descontos sindicais na folha dos aposentados — uma tentativa de Bolsonaro de impedir fraudes. Parlamentares da esquerda teriam articulado para suavizar essas exigências, sob o argumento de proteger os sindicatos. Um acordo aprovado em plenário, chamado de “salvação dos aposentados”, teria sido, segundo críticos, a brecha por onde o esquema floresceu.

Malu Gaspar, colunista da GloboNews, cuja análise foi amplamente divulgada e explorada nas redes por figuras como Dallagnol, revelou que essas emendas, feitas pela esquerda, abriram o caminho para os descontos em massa que agora são investigados como fraudulentos.

Temer, o elo perdido?

Enquanto os holofotes se dividem entre Bolsonaro e Lula, um nome menos lembrado, mas com papel potencialmente relevante, ressurge nas análises mais técnicas: Michel Temer. Especialistas ouvidos pela reportagem apontam que o embrião da fragilidade sistêmica do INSS pode ter se gestado em 2017, durante as primeiras tentativas de modernização dos sistemas de filiação sindical e automatização das folhas de pagamento. À época, as medidas esbarraram em resistência política e acabaram parcialmente desidratadas, deixando brechas que atravessaram três governos.

O custo político da confusão

Enquanto a CPI do INSS começa a ganhar tração e a oposição promete uma ofensiva agressiva, o Planalto ainda busca um culpado que alivie a pressão sobre Lula. Mas os dados, as vozes e os interesses se entrelaçam em uma teia complexa. Não há inocentes evidentes, nem verdades absolutas. Apenas uma certeza: os aposentados — muitos deles entre os mais pobres do país — foram enganados, explorados e deixados à margem de um jogo político que insiste em usá-los como escudo.

E no silêncio desconfortável de Brasília, entre versões que se acusam mutuamente, o país assiste, mais uma vez, à corrosão da confiança naquilo que deveria ser um direito: envelhecer com dignidade.

O julgamento de Bolsonaro e a direita em reconfiguração

O julgamento de Bolsonaro: os próximos passos do processo e os dilemas da direita em reconfiguração

Reportagem especial - Ronald Stresser, de Curitiba.

 
Bolsonaro em entrevista dessa semana ao UOL - Reprodução
 

A partir da próxima semana, o Supremo Tribunal Federal inicia a fase de depoimentos no processo que apura a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. O ex-presidente Jair Bolsonaro é o principal acusado, ao lado de sete nomes estratégicos de seu antigo entorno político e militar. A ação penal, sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, entra agora em um momento decisivo para definir os rumos da responsabilização dos envolvidos — e, paralelamente, testar a coesão da direita brasileira no cenário pós-bolsonarismo.

O processo avança em meio a disputas jurídicas e pressões políticas. A defesa de Bolsonaro pretende ouvir 15 testemunhas, entre elas o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o senador Ciro Nogueira, e os ex-comandantes das Forças Armadas. Trata-se de nomes com potencial para reforçar a tese de que não havia um plano concreto de ruptura institucional. O risco, no entanto, é que essa etapa seja esvaziada: por não haver intimações formais, as testemunhas não são obrigadas a comparecer — o que pode comprometer a estratégia de defesa e o andamento do caso.

Do ponto de vista técnico, o processo tramita de forma célere, mas enfrenta contestações quanto à sua condução. A defesa do ex-presidente alega parcialidade de Moraes, que acumula a função de relator com o papel de julgador na Primeira Turma do STF. Para os advogados, o caso deveria ser transferido ao plenário da Corte, dada a gravidade e a excepcionalidade dos fatos. A Procuradoria-Geral da República, por outro lado, reforça que há indícios suficientes de que Bolsonaro liderou um esforço coordenado para desacreditar as eleições e mobilizar setores das Forças Armadas contra o resultado das urnas.

Paralelamente ao desenrolar judicial, há uma disputa simbólica em curso. O bolsonarismo, que ainda conserva força em setores expressivos do eleitorado e no Congresso, tenta manter coesão diante do risco real de inelegibilidade e eventual condenação criminal do ex-presidente. A direita institucional, por sua vez, se vê diante de uma encruzilhada: seguir atrelada à figura de Bolsonaro ou buscar novos nomes e agendas que possam reposicioná-la eleitoralmente sem a carga dos processos judiciais.

A derrocada da extrema direita: dos palanques ao banco dos réus

Do delírio ao desespero: como a extrema direita brasileira desmorona sob o peso de seus próprios crimes

Por Ronald Stresser, da redação.

 
14.05.25 - O ex-presidente Bolsonaro dá entrevista ao UOL - Kleyton Amorim/UOL
 

Na mesma velocidade em que ascendeu ao poder com discursos inflamados, fake news e um projeto de país pautado na negação da ciência e do diálogo democrático, a extrema direita brasileira começa a desmoronar diante dos olhos do país. A “casa caiu” — e com estrondo. Um a um, os protagonistas da era Bolsonaro enfrentam denúncias, investigações e iminentes punições. Os paladinos da moralidade agora tentam escapar das próprias armadilhas.

Um castelo de areia sob investigação

O que começou com denúncias isoladas e depoimentos abafados tomou corpo com a força da imprensa, da Justiça e da memória dos que se recusaram a esquecer. Um servidor do INSS, ameaçado de morte após identificar fraudes milionárias em descontos previdenciários, foi uma das primeiras peças desse dominó de revelações.

As irregularidades, iniciadas em 2020 — plena gestão Bolsonaro —, envolveram o crescimento exponencial e suspeito de filiações à Conafer, uma associação de agricultores familiares, que saltou de 80 mil para mais de 250 mil associados em poucos meses.

E o que poderia parecer um caso isolado logo se mostrou parte de uma engrenagem maior: nomes como Virgílio de Oliveira Filho, então procurador-geral do INSS indicado por Bolsonaro, e Danilo Trento, empresário ligado a Flávio Bolsonaro e já citado na CPI da Covid, reaparecem agora no centro do escândalo do INSS. Escoltados por agentes da Polícia Federal e carregando malas misteriosas em aeroportos, os mesmos rostos que buscavam vacinas superfaturadas na Índia agora protagonizam novas manchetes, desta vez pela prática sistemática de corrupção dentro do Estado.

A implosão de uma máquina

Eduardo Bolsonaro, ex-deputado federal e filho do ex-presidente, vive hoje em um exílio autoimposto nos Estados Unidos. Com medo de ser alvo direto das investigações, evita retornar ao Brasil. Já Carla Zambelli, uma das vozes mais agressivas do bolsonarismo, está prestes a enfrentar um dos momentos mais críticos de sua carreira política: sua prisão é dada como iminente nos bastidores da Justiça.

Enquanto isso, Jair Bolsonaro vê seus aliados desmoronarem e tenta, como em 2018, apelar ao sentimentalismo e à manipulação. Em vídeos recentes, aparece ao lado de aposentados vítimas da mesma fraude que se estruturou durante seu governo — um teatro que tenta inverter a lógica dos fatos e pintar o algoz como salvador.

Do controle ao caos: a sabotagem institucional

Entre trocas recorrentes no comando da Polícia Federal, desmonte da COAF — órgão vital no combate à lavagem de dinheiro — e tentativas de silenciar delatores, o governo Bolsonaro se empenhou em apagar rastros antes mesmo de serem deixados. Quando a COAF mirou Flávio Bolsonaro, por exemplo, foi prontamente esvaziada. A manobra, que beneficiou esquemas criminosos em série, é agora um dos pontos centrais na reconstrução da verdade por parte dos órgãos de investigação.

Além disso, convênios suspeitos com associações fantasmas, como a AMBEC — que saltou de 3 mil para mais de 600 mil associados durante a pandemia —, se revelaram peças de uma engrenagem de captação ilegal de recursos, utilizando aposentados como massa de manobra e laranjas como fachada. É o retrato cruel de um Brasil sequestrado por um projeto de poder que nunca foi sobre o povo.

Quando o palco vira tribunal

Se a extrema direita apostou no caos para governar, hoje colhe os frutos do cinismo institucional. A CPMI dos Atos Golpistas e os processos oriundos da CPI da Covid ressurgem com força, municiados por novos documentos e depoimentos. Sete dos nove convênios suspeitos no escândalo do INSS foram assinados no governo Bolsonaro. A cereja do bolo: o próprio ex-presidente sancionou, sem vetos, uma lei que flexibilizou os controles sobre descontos previdenciários — facilitando, assim, a roubalheira que agora vem à tona.

A hora da verdade

A narrativa construída à base de mentiras está se desintegrando. A extrema direita, que demonizou adversários e instaurou um regime de desinformação, se vê agora acuada pela própria realidade. Os vídeos, documentos e investigações não deixam dúvidas: o castelo de areia bolsonarista está ruindo.

A população brasileira, cansada de farsas e promessas vazias, parece aos poucos reencontrar seu senso crítico. Mas o desafio maior ainda persiste: transformar a indignação em ação democrática, garantir a responsabilização dos culpados e reconstruir a confiança nas instituições.

O Brasil precisa, mais do que nunca, olhar para frente — mas sem esquecer o que nos trouxe até aqui.

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Por unanimidade STF condena Carla Zambelli à prisão

Condenação histórica: STF decide, por unanimidade, prisão de Carla Zambelli e hacker Delgatti por invasão ao CNJ

Por Ronald Stresser*

 
A deputada caçada Carla Zambelli - Bruno Spada/Câmara dos Deputados
 

Em um julgamento que já entra para os livros da história recente do país, o Supremo Tribunal Federal (STF) não apenas proferiu uma condenação — ele deu um recado direto e uníssono ao Brasil. Pela voz de seus dez ministros, a mais alta Corte do Judiciário condenou a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e o hacker Walter Delgatti Neto a 10 anos de prisão. O motivo: uma trama orquestrada nos bastidores da política, que envolveu a invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em janeiro de 2023.

O plano era tão ousado quanto perigoso. Com Delgatti operando o teclado e Zambelli atuando como mentora e patrocinadora, o grupo tentou plantar falsas decisões judiciais para sabotar a credibilidade do Judiciário. Uma dessas fraudes envolvia uma suposta ordem de prisão contra o ministro Gilmar Mendes. Outra, um mandado de soltura fabricado para beneficiar o ex-deputado Daniel Silveira, já condenado por ataques à democracia. As informações falsas circularam como rastilho de pólvora nas redes sociais — justamente onde a desinformação costuma encontrar terreno fértil. Os documentos chegaram a circular pelas redes sociais bolsonaristas.

Uma trama com rosto e intenção

A figura de Carla Zambelli é central na história. Em vídeo, a deputada aparece orientando Delgatti e comemorando o suposto "sucesso" da operação. As investigações revelaram que ela chegou a oferecer ajuda financeira e articulou encontros do hacker com assessores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em seu voto, Moraes foi direto: “Zambelli contratou e orientou um criminoso cibernético com o objetivo de manipular sistemas judiciais e fraudar documentos públicos.”

Walter Delgatti Neto, por sua vez, não é um nome estranho ao noticiário. Foi ele o responsável pelo vazamento das mensagens da Operação Lava Jato, no caso que ficou conhecido como Vaza Jato. Agora, reincidente, confessou participação no esquema e entregou detalhes da operação. Ainda assim, o STF não foi leniente: a pena de 10 anos e 8 meses a ele atribuída inclui crimes como falsidade ideológica e invasão de dispositivo informático.

Fim de linha para o mandato parlamentar

O julgamento também determinou a perda do mandato de Carla Zambelli, que ainda precisa ser confirmada pela Câmara dos Deputados. Mas, nos bastidores, já é dado como certo que a Casa não moverá esforços para protegê-la. A leitura política é clara: mesmo aliados de direita veem na decisão do STF um freio necessário a práticas que ultrapassam os limites da imunidade parlamentar.

Unanimidade que pesa

Em tempos de polarização extrema, o fato de os 10 ministros da Corte terem votado de forma unânime não passa despercebido. A sentença simboliza um posicionamento firme do Judiciário contra a impunidade e os ataques digitais às instituições. Ministros como Gilmar Mendes e Cármen Lúcia enfatizaram que a democracia se defende também com rigor penal diante de ameaças internas.

Silêncio e reação

Até o momento, Carla Zambelli não se pronunciou publicamente. Nas redes sociais, onde costuma ser ativa, o silêncio contrasta com o barulho ensurdecedor dos últimos meses. Já Delgatti, em entrevistas anteriores, se declarou arrependido, mas não conseguiu convencer os ministros de que sua colaboração atenuava a gravidade dos fatos.

Julgamento que ecoa além da Corte

Mais do que punir dois réus, a decisão do STF é um recado institucional: não há espaço para aventuras autoritárias travestidas de ação política. Quando a própria estrutura do Judiciário é alvo de fraudes, a resposta precisa ser contundente. O caso de Zambelli e Delgatti é, portanto, um divisor de águas. E, para muitos, o início do fim de uma era em que a impunidade parecia ter sido normalizada no ambiente digital.

Enquanto o país absorve os desdobramentos dessa condenação, a Justiça brasileira sinaliza que não há cargo, fama ou ideologia que esteja acima da lei. E isso, em si, já é uma vitória da democracia.

*com informações do STF e BBC Brasil.

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