sexta-feira, 16 de maio de 2025

Corrupção no INSS expõe crise no governo Lula e reacende guerra de narrativas sobre herança dos escândalos

Entre a tentativa de culpar Bolsonaro, suspeitas que remontam a Temer e revelações sobre o papel da esquerda, o escândalo no INSS vira o novo pesadelo do Planalto

Por Ronald Stresser, plural e apartidario.

 
Imagem meramente ilustrativa — INSS/Portal Gov.BR
 

Curitiba — A popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta sua prova mais dura desde a posse. No centro da crise, um escândalo de corrupção no INSS que já movimenta investigações da Polícia Federal, CPI e, nos bastidores, uma guerra de versões sobre quem tem, afinal, as digitais mais visíveis no esquema que desviou bilhões de reais dos aposentados brasileiros.

A narrativa oficial do governo tenta empurrar a responsabilidade para o ex-presidente Jair Bolsonaro, apontando falhas na fiscalização herdadas da gestão anterior. Mas, nos corredores do Congresso, cresce a avaliação de que a bomba está explodindo no colo do próprio Lula — e não apenas por uma questão de timing. A crise estourou, coincidentemente (ou não), 28 meses após a posse, repetindo o intervalo em que emergiu o escândalo do mensalão no primeiro governo petista, em 2005.

O governo ainda não encontrou um discurso coeso para conter a sangria política. A avaliação de aliados, segundo apurou a CNN Brasil, é que essa pode se tornar “a pior crise de popularidade” do presidente no atual mandato — e, se não for controlada, um desastre para a eleição presidencial de 2026.

Viagens suspeitas e conexões perigosas

As investigações apontam para pagamentos irregulares de viagens de um assessor de André Fufuca (PP), ministro dos Esportes, que estaria ligado a membros da cúpula do INSS. O pagamento, feito com recursos do próprio Instituto, levanta suspeitas sobre o uso da máquina pública para benefício pessoal e político.

Na tentativa de se afastar do epicentro do escândalo, o Planalto tem dado sinais de que pode sacrificar aliados, como o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. Mas os danos parecem mais profundos do que a troca de nomes pode estancar.

A narrativa da “herança maldita”

Do lado oposto da trincheira, opositores ao governo — como o ex-deputado Deltan Dallagnol — apresentaram em seu canal um documento transcrito que reforça uma linha de raciocínio incômoda para a esquerda: de que o esquema pode ter sido facilitado por emendas da própria bancada petista, ainda na oposição, durante o governo Bolsonaro.

O ponto-chave da narrativa gira em torno da Medida Provisória que estabelecia revalidações anuais para descontos sindicais na folha dos aposentados — uma tentativa de Bolsonaro de impedir fraudes. Parlamentares da esquerda teriam articulado para suavizar essas exigências, sob o argumento de proteger os sindicatos. Um acordo aprovado em plenário, chamado de “salvação dos aposentados”, teria sido, segundo críticos, a brecha por onde o esquema floresceu.

Malu Gaspar, colunista da GloboNews, cuja análise foi amplamente divulgada e explorada nas redes por figuras como Dallagnol, revelou que essas emendas, feitas pela esquerda, abriram o caminho para os descontos em massa que agora são investigados como fraudulentos.

Temer, o elo perdido?

Enquanto os holofotes se dividem entre Bolsonaro e Lula, um nome menos lembrado, mas com papel potencialmente relevante, ressurge nas análises mais técnicas: Michel Temer. Especialistas ouvidos pela reportagem apontam que o embrião da fragilidade sistêmica do INSS pode ter se gestado em 2017, durante as primeiras tentativas de modernização dos sistemas de filiação sindical e automatização das folhas de pagamento. À época, as medidas esbarraram em resistência política e acabaram parcialmente desidratadas, deixando brechas que atravessaram três governos.

O custo político da confusão

Enquanto a CPI do INSS começa a ganhar tração e a oposição promete uma ofensiva agressiva, o Planalto ainda busca um culpado que alivie a pressão sobre Lula. Mas os dados, as vozes e os interesses se entrelaçam em uma teia complexa. Não há inocentes evidentes, nem verdades absolutas. Apenas uma certeza: os aposentados — muitos deles entre os mais pobres do país — foram enganados, explorados e deixados à margem de um jogo político que insiste em usá-los como escudo.

E no silêncio desconfortável de Brasília, entre versões que se acusam mutuamente, o país assiste, mais uma vez, à corrosão da confiança naquilo que deveria ser um direito: envelhecer com dignidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou?
Então contribua com qualquer valor
Use a chave PIX ou o QR Code abaixo
(Stresser Mídias Digitais - CNPJ: 49.755.235/0001-82)

Sulpost é um veículo de mídia independente e nossas publicações podem ser reproduzidas desde que citando a fonte com o link do site: https://sulpost.blogspot.com/. Sua contribuição é essencial para a continuidade do nosso trabalho.