O julgamento de Bolsonaro: os próximos passos do processo e os dilemas da direita em reconfiguração
Reportagem especial - Ronald Stresser, de Curitiba.Bolsonaro em entrevista dessa semana ao UOL - Reprodução |
A partir da próxima semana, o Supremo Tribunal Federal inicia a fase de depoimentos no processo que apura a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. O ex-presidente Jair Bolsonaro é o principal acusado, ao lado de sete nomes estratégicos de seu antigo entorno político e militar. A ação penal, sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, entra agora em um momento decisivo para definir os rumos da responsabilização dos envolvidos — e, paralelamente, testar a coesão da direita brasileira no cenário pós-bolsonarismo.
O processo avança em meio a disputas jurídicas e pressões políticas. A defesa de Bolsonaro pretende ouvir 15 testemunhas, entre elas o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o senador Ciro Nogueira, e os ex-comandantes das Forças Armadas. Trata-se de nomes com potencial para reforçar a tese de que não havia um plano concreto de ruptura institucional. O risco, no entanto, é que essa etapa seja esvaziada: por não haver intimações formais, as testemunhas não são obrigadas a comparecer — o que pode comprometer a estratégia de defesa e o andamento do caso.
Do ponto de vista técnico, o processo tramita de forma célere, mas enfrenta contestações quanto à sua condução. A defesa do ex-presidente alega parcialidade de Moraes, que acumula a função de relator com o papel de julgador na Primeira Turma do STF. Para os advogados, o caso deveria ser transferido ao plenário da Corte, dada a gravidade e a excepcionalidade dos fatos. A Procuradoria-Geral da República, por outro lado, reforça que há indícios suficientes de que Bolsonaro liderou um esforço coordenado para desacreditar as eleições e mobilizar setores das Forças Armadas contra o resultado das urnas.
Paralelamente ao desenrolar judicial, há uma disputa simbólica em curso. O bolsonarismo, que ainda conserva força em setores expressivos do eleitorado e no Congresso, tenta manter coesão diante do risco real de inelegibilidade e eventual condenação criminal do ex-presidente. A direita institucional, por sua vez, se vê diante de uma encruzilhada: seguir atrelada à figura de Bolsonaro ou buscar novos nomes e agendas que possam reposicioná-la eleitoralmente sem a carga dos processos judiciais.
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