Após anos de luta, floresta respira: desmatamento no Brasil tem queda expressiva em 2024, mas ainda é alto e precisa de enfrentamento contínuo
Por Ronald Stresser*| Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil |
Numa parte meio esquecida do mapa do Brasil, onde o verde é soberano e o som da floresta fala mais alto que qualquer motor de trator, algo raro aconteceu em 2024: o desmatamento diminuiu. Foram milhares de hectares poupados. Para quem vive na linha de frente — ribeirinhos, indígenas, brigadistas — é como se a mata tivesse ganhado um fôlego novo. Mas é um fôlego curto.
A verdade é que a floresta ainda sangra. Abril de 2025 trouxe um sinal de alerta: os satélites mostraram que o desmatamento voltou a crescer. E, como em um filme que a gente já viu muitas vezes, o governo foi chamado às pressas. É como enxugar gelo: um ano melhora, o seguinte piora. E no meio desse vai e vem, a Amazônia continua perdendo pedaços de si.
Não é só o machado ou a motosserra que ferem a floresta. O fogo também chega. Intencional, criminoso, planejado. São fazendeiros sem escrúpulos, grileiros, gente que acredita que floresta em pé é desperdício. Em 2024, centenas de pessoas foram responsabilizadas por queimadas ilegais. A maioria dos incêndios que devastam matas e matam animais começa com uma decisão humana — egoísta, gananciosa, impune por anos.
Mas há quem resista. Um projeto de restauração quer devolver a vida a áreas degradadas, recuperando o que foi tomado à força. São milhares de hectares sendo plantados, pedaço por pedaço, por mãos que acreditam no recomeço. É um trabalho de formiga, e o tempo da natureza não tem pressa — leva décadas para uma árvore virar floresta.
As terras indígenas, por sua vez, seguem sendo as maiores fortalezas da Amazônia. Onde há povo originário, há mata preservada. Eles não protegem a floresta porque é moda ou porque recebem para isso. Protegem porque é dela que vêm sua cultura, sua história, seu alimento. Porque floresta não é cenário — é casa.
Ainda assim, o inimigo é maior do que parece. Para além do desmatamento oficial, há uma degradação sorrateira que não aparece nas manchetes: a floresta que perde folhas, queimada aos poucos, espremida pela exploração madeireira e pela pressão do agronegócio. Áreas que não desaparecem de vez, mas adoecem, e com elas adoece o planeta.
O tempo da Amazônia é o tempo do mundo. E o tempo está se esgotando. Em Brasília, planos foram desenhados para conter a destruição: metas ambiciosas, promessas de acabar com o desmatamento até 2030. Mas, como toda promessa política, o que vale é o que se faz, não o que se diz.
No fim das contas, preservar a floresta é preservar a nós mesmos. A Amazônia não é um lugar distante, separado do Brasil real. Ela é o coração do clima, da água, da vida. Quando ela sufoca, todos nós perdemos o ar.
*com informações da Agência Brasil.

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