Do delírio ao desespero: como a extrema direita brasileira desmorona sob o peso de seus próprios crimes
Por Ronald Stresser, da redação.Na mesma velocidade em que ascendeu ao poder com discursos inflamados, fake news e um projeto de país pautado na negação da ciência e do diálogo democrático, a extrema direita brasileira começa a desmoronar diante dos olhos do país. A “casa caiu” — e com estrondo. Um a um, os protagonistas da era Bolsonaro enfrentam denúncias, investigações e iminentes punições. Os paladinos da moralidade agora tentam escapar das próprias armadilhas.
Um castelo de areia sob investigação
O que começou com denúncias isoladas e depoimentos abafados tomou corpo com a força da imprensa, da Justiça e da memória dos que se recusaram a esquecer. Um servidor do INSS, ameaçado de morte após identificar fraudes milionárias em descontos previdenciários, foi uma das primeiras peças desse dominó de revelações.
As irregularidades, iniciadas em 2020 — plena gestão Bolsonaro —, envolveram o crescimento exponencial e suspeito de filiações à Conafer, uma associação de agricultores familiares, que saltou de 80 mil para mais de 250 mil associados em poucos meses.
E o que poderia parecer um caso isolado logo se mostrou parte de uma engrenagem maior: nomes como Virgílio de Oliveira Filho, então procurador-geral do INSS indicado por Bolsonaro, e Danilo Trento, empresário ligado a Flávio Bolsonaro e já citado na CPI da Covid, reaparecem agora no centro do escândalo do INSS. Escoltados por agentes da Polícia Federal e carregando malas misteriosas em aeroportos, os mesmos rostos que buscavam vacinas superfaturadas na Índia agora protagonizam novas manchetes, desta vez pela prática sistemática de corrupção dentro do Estado.
A implosão de uma máquina
Eduardo Bolsonaro, ex-deputado federal e filho do ex-presidente, vive hoje em um exílio autoimposto nos Estados Unidos. Com medo de ser alvo direto das investigações, evita retornar ao Brasil. Já Carla Zambelli, uma das vozes mais agressivas do bolsonarismo, está prestes a enfrentar um dos momentos mais críticos de sua carreira política: sua prisão é dada como iminente nos bastidores da Justiça.
Enquanto isso, Jair Bolsonaro vê seus aliados desmoronarem e tenta, como em 2018, apelar ao sentimentalismo e à manipulação. Em vídeos recentes, aparece ao lado de aposentados vítimas da mesma fraude que se estruturou durante seu governo — um teatro que tenta inverter a lógica dos fatos e pintar o algoz como salvador.
Do controle ao caos: a sabotagem institucional
Entre trocas recorrentes no comando da Polícia Federal, desmonte da COAF — órgão vital no combate à lavagem de dinheiro — e tentativas de silenciar delatores, o governo Bolsonaro se empenhou em apagar rastros antes mesmo de serem deixados. Quando a COAF mirou Flávio Bolsonaro, por exemplo, foi prontamente esvaziada. A manobra, que beneficiou esquemas criminosos em série, é agora um dos pontos centrais na reconstrução da verdade por parte dos órgãos de investigação.
Além disso, convênios suspeitos com associações fantasmas, como a AMBEC — que saltou de 3 mil para mais de 600 mil associados durante a pandemia —, se revelaram peças de uma engrenagem de captação ilegal de recursos, utilizando aposentados como massa de manobra e laranjas como fachada. É o retrato cruel de um Brasil sequestrado por um projeto de poder que nunca foi sobre o povo.
Quando o palco vira tribunal
Se a extrema direita apostou no caos para governar, hoje colhe os frutos do cinismo institucional. A CPMI dos Atos Golpistas e os processos oriundos da CPI da Covid ressurgem com força, municiados por novos documentos e depoimentos. Sete dos nove convênios suspeitos no escândalo do INSS foram assinados no governo Bolsonaro. A cereja do bolo: o próprio ex-presidente sancionou, sem vetos, uma lei que flexibilizou os controles sobre descontos previdenciários — facilitando, assim, a roubalheira que agora vem à tona.
A hora da verdade
A narrativa construída à base de mentiras está se desintegrando. A extrema direita, que demonizou adversários e instaurou um regime de desinformação, se vê agora acuada pela própria realidade. Os vídeos, documentos e investigações não deixam dúvidas: o castelo de areia bolsonarista está ruindo.
A população brasileira, cansada de farsas e promessas vazias, parece aos poucos reencontrar seu senso crítico. Mas o desafio maior ainda persiste: transformar a indignação em ação democrática, garantir a responsabilização dos culpados e reconstruir a confiança nas instituições.
O Brasil precisa, mais do que nunca, olhar para frente — mas sem esquecer o que nos trouxe até aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário