sábado, 17 de maio de 2025

Suprema Corte contra o povo? Só se for na cabeça dos extremistas

Na cabeça da extrema direita, o STF virou vilão de novela. E Trump, coitadinho, também sofre?

Por Ronald Stresser*
 
 

Você já ouviu essa história: Jair Bolsonaro é um patriota incompreendido, perseguido por uma elite maquiavélica que se reúne secretamente nas dependências do Supremo Tribunal Federal para sabotá-lo — talvez entre uma xícara de café e outra. O roteiro é digno de série ruim de streaming: o herói injustiçado, os ministros maquiados como vilões de quadrinhos e um povo “acordado” que enxerga a verdade por trás do sistema.

Faz sentido? Claro que não. Mas essa narrativa anda circulando com força nos grupos de WhatsApp, nas lives de pastores digitais e nos vídeos de youtubers com estética de programa policial dos anos 90.

O bolsonarismo, como mostrou o Intercept Brasil, já vinha aquecendo sua militância para o julgamento do ex-presidente no STF antes mesmo de o processo começar. Afinal, é preciso manter a chama acesa — e não há combustível melhor do que a velha história da “perseguição”.

Mas por que essa turma acha tão absurdo que um tribunal coloque limites em políticos? Porque, na cabeça deles, quando a Justiça age, ela está sendo parcial. Quando pune, está sendo vingativa. E quando bloqueia os desmandos de Bolsonaro, está cometendo um atentado à democracia — veja só, que ironia.

Enquanto isso, do outro lado do hemisfério, Donald Trump também anda batendo cabeça com a Suprema Corte americana. Recentemente, o ex-presidente tentou usar uma lei de 1798 para deportar venezuelanos. Sim, você leu certo: mil setecentos e noventa e oito. Uma regra escrita antes de existir energia elétrica, avião, pen drive e até... o Brasil independente [confira aqui].

Trump queria ressuscitar um decreto mofado, criado num contexto de paranoia contra franceses, e aplicá-lo no século XXI como se fosse a coisa mais natural do mundo. Resultado? Tomou uma invertida da Suprema Corte, que, com toda razão, disse: “Não, senhor. Aqui não.”

E ninguém por lá saiu gritando que o tribunal é comunista, nem que está censurando o “mito americano”. Porque nos Estados Unidos, quando a Justiça funciona e coloca limites em decisões absurdas, isso é considerado... normal. E necessário.

Já por aqui, como relatou a Folha de S.Paulo, a oposição bolsonarista preferiu vestir a fantasia de mártir, alegando perseguição e censura, como se Bolsonaro estivesse sendo impedido de governar por ser “honesto demais” ou “brasileiro demais”.

Vamos combinar: ser investigado por convocar golpe, vazar documentos sigilosos e flertar publicamente com o autoritarismo não é exatamente ser vítima de uma “injustiça histórica”. É, no mínimo, colher o que se plantou.

Mas, claro, no universo paralelo da extrema direita, o que temos é um herói sendo sabotado por um complô global. Um pouco de delírio, um pouco de má-fé — e um bocado de cálculo político. Porque vitimizar Bolsonaro ainda rende voto, clique e engajamento.

Só que por trás desse drama todo, há uma realidade simples: em qualquer país democrático, tribunais servem para garantir que ninguém — absolutamente ninguém — esteja acima da lei. Nem Trump. Nem Bolsonaro. E muito menos os influenciadores que juram defender a liberdade enquanto vendem camiseta com a cara do líder “injustiçado”.

*com informações do Intercept Brasil, InfoMoney e Folha de São Paulo.

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