segunda-feira, 28 de abril de 2025

Requião critica Lula, expõe a farsa neoliberal e coloca seu nome à disposição do Brasil

Em bate-papo com delegado Simião, Requião critica Lula, expõe a farsa neoliberal e coloca seu nome à disposição do Brasil

Ronald Stresser, de Curitiba.

 

Num bate-papo sincero e descontraído, publicado nas redes sociais, Roberto Requião mostrou que seu espírito combativo continua o mesmo de sempre. Aos 83 anos, o ex-senador e ex-governador do Paraná falou com a paixão de quem ainda acredita no Brasil — e tem muito a contribuir para o seu futuro.

Ao lado do delegado Simião, amigo de longa data, Requião fez um retrato sem retoques da crise que atravessa o país. Sem meias palavras, criticou a postura do governo Lula, que, na sua visão, fala em progressismo, mas pratica o velho receituário neoliberal que tanto castiga o povo brasileiro.

O encontro teve um tom de desabafo, mas também de proposição. Ao longo da conversa, Requião ressaltou que o Brasil está sem projeto nacional e que a sociedade, perdida entre rótulos e decepções, busca desesperadamente uma alternativa verdadeira. “Não estão procurando um nome, estão procurando um projeto. Um projeto nacional claro, que pense no Brasil de verdade”, afirmou.

Requião criticou a forma como o atual governo federal mantém a lógica do mercado financeiro, privatizando empresas públicas e deixando os trabalhadores à margem. Segundo ele, Lula repete o discurso do livre mercado, enquanto a prática do governo segue entregando riquezas nacionais e concentrando ainda mais a renda no topo da pirâmide.

"Trump, que dizem ser o maior liberal do mundo, hoje defende a reindustrialização dos Estados Unidos com protecionismo. E nós aqui, querendo seguir o manual neoliberal ultrapassado, enfraquecendo nossa indústria, nossa soberania, nosso povo", disparou.

O ex-senador ainda lembrou a destruição de direitos trabalhistas e a farra dos empréstimos consignados com juros altíssimos, criticando a omissão do governo na defesa dos trabalhadores. Para ele, a atual política econômica é uma continuação das gestões anteriores, tanto de Fernando Henrique Cardoso quanto de Bolsonaro, e o novo PAC apenas aprofunda esse caminho ao propor privatizações em áreas essenciais como educação, saúde e infraestrutura.

Pedágio no Paraná: um escândalo abafado

No bate-papo, Requião também abordou a situação do pedágio no Paraná, relembrando sua histórica luta contra as tarifas abusivas. Segundo ele, a concessão firmada recentemente entre governo estadual e federal, longe de resolver os problemas, repetiu práticas antigas, favorecendo concessionárias e prejudicando a população.

“Uma empresa que devia R$ 67 bilhões de investimentos fez um acordo para pagar pouco mais de R$ 300 milhões. E isso sem nenhuma repercussão na imprensa, com o aval do Ministério Público e do Judiciário. Uma vergonha”, criticou.

Moro, a farsa do combate à corrupção e o liberalismo entreguista

Requião ainda aproveitou para desmascarar a atuação de figuras como Sergio Moro, que, segundo ele, usaram o combate à corrupção apenas como pretexto para impulsionar um projeto de desmonte do Estado brasileiro. “Hoje o Moro está no Congresso defendendo privatizações, a entrega da Petrobras e dos recursos do país. Nunca foi sobre corrupção. Sempre foi sobre entregar o Brasil", acusou.

O projeto acima do nome

Ao final do encontro, Simião insistiu: Requião precisava colocar seu nome à disposição do Brasil. Com a serenidade de quem já ocupou todos os cargos políticos que poderia desejar, Requião respondeu que sua motivação não é pessoal. “Não é vaidade. Eu fui deputado, prefeito, senador, governador. Não preciso de cargo. Mas o Brasil precisa de projeto. Se eu puder contribuir com isso, meu nome estará à disposição”, afirmou.

Sem partido no momento, Requião sinalizou abertura para integrar o PDT, desde que não haja acordos espúrios com partidos entreguistas e que o projeto seja verdadeiramente nacionalista, como pregava Leonel Brizola.

No momento em que o Brasil parece órfão de lideranças autênticas, a fala de Requião ecoa como um chamado à razão. Um chamado à construção de um projeto de país, não de um projeto de poder. Assista a entrevista no Facebook oficial do ex-senador.

EUA vão cortar impostos. E o Brasil?

Trump promete cortar impostos com tarifaço – e o que o Brasil tem a ver com isso

Por Ronald Stresser*
 
 

Enquanto embarcava no Air Force One, no últim0o domingo, o presidente Donald Trump lançou uma promessa aos jornalistas que o acompanhm, tão ousada quanto polêmica: usar o dinheiro arrecadado com tarifas de importação para eliminar, ou quase, o imposto de renda nos Estados Unidos. "Vou conseguir reduzir os impostos em larga escala e talvez quase completamente", disse Trump, numa fala que, como tudo o que envolve seu governo, mistura ambição, polêmica e pragmatismo.

O plano é simples no papel: com uma tarifa altíssima de 145% sobre produtos chineses — valor tão surreal que praticamente congelou o comércio com a China —, a Casa Branca quer substituir a arrecadação do tradicional Internal Revenue Service (IRS) por um novo conceito, batizado pelo secretário de Comércio, Howard Lutnick, de "External Revenue Service", onde a carga fiscal seria transferida para os produtos importados.

A ideia pode soar como música para os ouvidos de qualquer trabalhador americano: sem imposto de renda, sobram mais dólares no bolso. Especialmente para aqueles que ganham menos de US$ 200 mil por ano, grupo prioritário na proposta de Trump. A promessa é de uma economia de centenas de milhares de dólares ao longo da vida, segundo pesquisas recentes.

Mas, como quase tudo que brilha, há riscos. Analistas e o próprio mercado financeiro receberam o anúncio com ceticismo. Afinal, a receita de tarifas, mesmo turbinada, precisaria cobrir não só a máquina pública, mas também parte da imensa dívida americana, que Trump fez questão de lembrar que herdou de administrações passadas. Além disso, a arrecadação de impostos corporativos — que poderia ajudar nesse equilíbrio — representa apenas 6% da receita total dos EUA, contra 41% vinda do imposto de renda individual, de acordo com a Tax Foundation. E Trump também quer reduzir o imposto para empresas.

É um jogo arriscado, mas que expõe um instinto básico do ser humano: o desejo de prosperar com menos entraves. Um desejo que não conhece fronteiras — e que, no Brasil, também pulsa com força.

A lição (e o alerta) para o Brasil

No Brasil, é comum olharmos para os Estados Unidos como um espelho — às vezes distorcido — de modernidade e desenvolvimento. Importamos modas, ideias e modelos econômicos, mesmo quando eles não se encaixam tão bem na nossa cultura ou realidade. E, curiosamente, nesse caso, há um ponto em comum inegável, gostem ou não os defensores do socialismo: somos, sim, economias capitalistas. Ambos os povos querem crescer, empreender, gerar riqueza.

Só que, aqui, a estrada é bem mais esburacada. O peso dos impostos no Brasil sufoca famílias e empresas. Um levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) traz um dado que impressiona: o brasileiro, em média, passa quase cinco meses do ano inteiro só trabalhando para pagar impostos. Ou seja, quase metade do ano é dedicado a um esforço que, em vez de ser direcionado ao próprio sustento, vai direto para os cofres do governo. 

Isso faz com que boa parte do suor de quem rala todos os dias mal seja aproveitado para as próprias necessidades. E para as pequenas empresas, o cenário é ainda mais desafiador. Elas enfrentam uma carga tributária que engole cerca de 30% de tudo o que faturam, um peso que, segundo o Sebrae, dificulta a sobrevivência de muitos pequenos negócios. É como se o sonho de crescer fosse sempre ofuscado por um imposto que nunca dá trégua.

Enquanto Trump tenta vender o sonho de um alívio fiscal radical, nós, por aqui, ainda lutamos para que o básico funcione — e para que o Estado devolva em serviços públicos minimamente dignos o que arrecada com tanto apetite.

É verdade que copiar tudo dos americanos sem filtro nos trouxe práticas que pouco ou nada têm a ver com nossa realidade. Mas há lições universais que valem a reflexão. A primeira delas é que ninguém prospera de verdade com um governo pesado nas costas. A segunda, ainda mais importante, é que o desejo de ter mais liberdade para construir o próprio caminho é, afinal, o que une trabalhadores, empresários e sonhadores dos dois lados do Equador.

Trump pode até não conseguir acabar com o imposto de renda de uma vez só. Mas, ao colocar o tema no centro do debate, ele acende uma luz que, para brasileiros cansados de carregar um dos maiores fardos tributários do mundo, deveria também servir de alerta: sem uma reforma séria e corajosa, prosperar continuará sendo, para muitos, apenas um sonho distante.

*com informações da Associated Press.

Apagão atinge Espanha, Portugal e parte da Europa

Um despertar às cegas: apagão paralisa Portugal, Espanha e parte da Europa

Por Ronald Stresser*

 
Copyright AP Photo
 

Ainda era madrugada para muitos. Em Lisboa, alguns cafés começavam a acender suas luzes, os primeiros bondes cortavam a névoa suave sobre o Tejo e nos aeroportos o burburinho de malas anunciava mais um dia comum. Até que, num estalo silencioso, tudo parou.

De Lisboa a Madrid, passando por Barcelona, Sevilha e chegando a pedaços da França e da Itália, um apagão generalizado mergulhou milhões de europeus na escuridão nesta segunda-feira (28/4). As luzes se apagaram, os celulares ficaram mudos, os metrôs pararam nos trilhos e os aeroportos transformaram-se em vastos salões de espera, sem informações, sem voos, sem destino.

Na Espanha, o Aeroporto de Barajas, em Madri, continuava sem energia horas após a primeira falha. O metrô de Valência suspendeu todas as operações, enquanto em Barcelona, Pamplona e Sevilha a rotina parecia um filme de suspense: trens parados, lojas fechadas, semáforos apagados e o trânsito se transformando rapidamente em caos.

"Foi como se o tempo tivesse congelado", relatou Marta Jiménez, 34 anos, recepcionista de um hotel no centro de Madrid. "De repente, tudo ficou preto. Não havia nem sinal de telefone. Tentávamos nos comunicar batendo na porta de outros quartos."

A rede elétrica espanhola, Red Eléctrica, revelou que a queda de energia foi brusca, quase instantânea. Técnicos de emergência foram mobilizados para tentar restaurar o fornecimento, numa corrida contra o tempo que ainda nesta manhã de segunda-feira parecia longe de ter um final certo.

Em Lisboa, a situação não foi diferente. Cafés esvaziados, supermercados fechados, hospitais funcionando à base de geradores. "A gente fica à mercê. Sem energia, sem informação. A sensação é de vulnerabilidade total", desabafou Pedro Moura, taxista, que ficou preso no trânsito logo depois que os semáforos apagaram no centro da cidade.

As autoridades portuguesas cogitam que o apagão possa ter sido provocado por um ciberataque — uma hipótese ainda não confirmada, mas que já levou o governo a montar um grupo de trabalho de emergência para acompanhar os desdobramentos. "Terá sido, aparentemente, um problema na rede de transporte, cuja razão ainda está a ser identificada, aparentemente, em Espanha", declarou o ministro da Presidência de Portugal, António Leitão Amaro, à agência Lusa.

Enquanto técnicos tentam entender o que causou a falha colossal — e se de fato houve um ataque cibernético —, a Europa vive, mais uma vez, a fragilidade do seu próprio sistema interconectado. Bastou um único ponto falhar para que grandes cidades ficassem reféns da escuridão, lembrando que, no fim, a complexidade que sustenta a vida moderna é, paradoxalmente, sua maior vulnerabilidade.

À medida que o sol avançava, os europeus tentavam retomar alguma normalidade, mas o clima era de incerteza. E, nas ruas, pairava uma pergunta silenciosa: "Se um apagão assim pode acontecer num dia qualquer, o que mais pode vir?"

*com informações da Agência Lusa.

Araguainha: a cratera brasileira que conta a história da vida na Terra

No coração do Brasil, uma ferida antiga revela como o universo mudou para sempre a história da Terra

Por Ronald Stresser*
 
 

No coração do Brasil, onde o sul de Goiás se mistura com o nordeste de Mato Grosso, uma cicatriz antiga rasga discretamente a paisagem. Vista do alto, ela revela seu segredo: um imenso círculo gravado na Terra, testemunha silenciosa de um passado tão remoto quanto extraordinário. É a cratera de Araguainha — a marca colossal deixada por um instante de fúria cósmica que, há cerca de 254 milhões de anos, redesenhou para sempre a história do nosso planeta.

Com seus impressionantes 40 quilômetros de diâmetro, Araguainha é muito mais do que uma ferida aberta na crosta terrestre. É uma janela entreaberta para o fim de uma era — o Período Permiano —, momentos antes da maior extinção em massa que a Terra já enfrentou.

Sua redescoberta foi fruto do acaso. Na década de 1960, equipes da Petrobras, então em busca de petróleo, cruzavam aquelas terras com instrumentos e mapas quando se depararam com algo que os intrigou profundamente. Entre rios e cerrados, a superfície parecia ter sido empurrada, dobrada, moldada por forças invisíveis.  

A curiosidade acendeu nos geólogos a faísca de uma investigação que, anos depois, revelaria que aquele pedaço de chão guardava muito mais do que segredos subterrâneos: guardava a memória de um impacto vindo das estrelas.

No começo, pensou-se que se tratava de uma estrutura geológica interna — talvez fruto das forças que modelam silenciosamente o interior da Terra. Mas, em 1973, as evidências falaram mais alto: o formato circular perfeito, os cones de estilhação, os minerais deformados sob pressões inimagináveis... Tudo apontava para um impacto meteórico de proporções cataclísmicas.

O asteroide que ali se chocou, calculam os cientistas, tinha entre 2 e 3 quilômetros de diâmetro. A colisão liberou uma energia equivalente a milhares de bombas nucleares, deformando a crosta, projetando um anel central para cima e deixando, como marca eterna, o Domo de Araguainha.

E talvez o estrago tenha ido muito além do que se pode ver. Há quem acredite que o impacto foi mais do que uma explosão local — teria sido o prenúncio de uma das maiores tragédias da história da vida. No apagar das luzes do Período Permiano, quando os continentes ainda formavam um mundo estranho e primitivo, cerca de 90% das espécies marinhas e 70% das espécies terrestres desapareceram. Como se um sopro devastador tivesse varrido quase toda a diversidade que havia brotado até então.

A relação direta entre Araguainha e essa extinção colossal ainda é debatida entre os cientistas. Mas sobre um ponto há consenso: o impacto que moldou aquele canto silencioso do Brasil profundo foi brutal o suficiente para deixar cicatrizes que o tempo jamais conseguiu apagar.

Sítio de memória e ciência

Hoje, Araguainha é muito mais do que um círculo desenhado na terra ou uma curiosidade para especialistas. É um monumento natural à memória do nosso planeta — um dos cem sítios escolhidos pela União Internacional das Ciências Geológicas como fundamentais para entender a tumultuada história da Terra.

Entre os representantes brasileiros que alcançaram esse feito, Araguainha se junta a dois gigantes: o icônico Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, e o histórico Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais — lugares que, cada um à sua maneira, contam capítulos essenciais da nossa formação geológica.

Mas enquanto o Pão de Açúcar se ergue como um cartão-postal à beira da Guanabara, e o Quadrilátero Ferrífero ostenta as riquezas que ajudaram a construir cidades inteiras, Araguainha guarda algo mais primitivo, mais essencial: a lembrança de um tempo em que o próprio planeta precisou recomeçar.  

Entre vales silenciosos e rochas moldadas pela força do impacto, a Terra sussurra sua história mais antiga — uma história de resistência, destruição e renascimento.

"Ela é uma cratera extraordinariamente preservada, com todas as feições que nos ajudam a entender como a superfície da Terra responde a impactos dessa magnitude", conta Joana Sanches, professora de Geologia da Universidade Federal de Goiás (UFG) e a única brasileira a integrar a comissão internacional que escolheu os cem sítios mais importantes do mundo.

Falando com a paixão de quem vê nas pedras uma narrativa viva, Joana descreve a cratera como um livro aberto que o tempo esqueceu de fechar.  

"Cada fissura, cada dobra, cada detalhe preservado é uma linha escrita pela própria Terra", diz. "Ali, nas rochas silenciosas, estão gravadas lições valiosas sobre quem somos, de onde viemos... e, talvez, para onde estamos indo."

Ela lembra que, assim como o Pão de Açúcar narra a colisão de placas tectônicas que separou África e América do Sul, Araguainha registra um capítulo dramático da história planetária — um capítulo escrito não pela lentidão dos continentes, mas pela súbita fúria do espaço.

Vida entre as pedras

Apesar de seu valor científico, a vida ao redor de Araguainha segue tranquila, quase alheia à grandiosidade que repousa sob os pés. Pequenas propriedades rurais pontilham a região; estradas de terra cortam campos verdes que se estendem até onde a vista alcança. Para muitos moradores, a cratera é apenas parte da paisagem — uma formação curiosa, mas cuja magnitude ainda passa despercebida.

Para quem sabe o que procurar, porém, as pistas estão por toda parte: rochas retorcidas, dobras gigantescas, vales que parecem contar, em silêncio, uma história de violência e transformação.

E Araguainha não está sozinha. O Brasil guarda outras memórias do cosmos, como a Cratera de Serra da Cangalha, no Tocantins, com seus 12 quilômetros de diâmetro, e a Cratera de Vista Alegre, no Paraná, com 9,5 quilômetros. Mais ao sul, na Argentina, a possível Cratera de Bajada del Diablo, na Patagônia, aguarda confirmação.

O impacto das estrelas

Assim como a famosa Cratera de Chicxulub, no México — associada ao fim dos dinossauros —, Araguainha é um lembrete eloquente da fragilidade da vida diante das forças que rondam o cosmos.  

Por milhões de anos, a Terra pareceu imutável. Mas, num piscar de olhos cósmico, tudo pode mudar.

"O Domo de Araguainha conta a história da vida, da morte e da transformação", resume Joana Sanches. "É um testemunho silencioso de que estamos todos ligados ao universo, participando de uma dança delicada e imprevisível."

E talvez seja justamente isso que torne Araguainha tão fascinante: no meio de uma paisagem calma e esquecida, ela nos lembra que o mundo, tão firme sob nossos pés, é mais frágil — e mais extraordinário — do que ousamos imaginar.

*com informações da UFG.

domingo, 27 de abril de 2025

A última batalha pela alma da Igreja: o conclave que decidirá o futuro do catolicismo

O Conclave da Esperança: Igreja Católica em busca de um novo rumo após a morte de Francisco

Por Ronald Stresser
 
 

Roma parece segurar a respiração. No som quase imperceptível dos sinos e nas preces murmuradas pelas vielas antigas, a Igreja Católica se despede de um de seus grandes protagonistas. A morte do Papa Francisco não marca apenas o fim de um pontificado; marca o começo de uma nova travessia para mais de 1,3 bilhão de católicos espalhados pelo mundo. Em cada praça, em cada basílica de Roma, parece que seu espírito ainda paira no ar. Francisco, o papa vindo do fim do mundo, passou mais de uma década tentando abrir as portas da Igreja aos pobres, aos invisíveis, aos que carregam no peito as dores mais profundas da humanidade.

Francisco conquistou corações, mas também despertou resistências. Para muitos, ele foi o rosto humano da fé — acolhedor, generoso, próximo. Para outros, foi um homem que, ao tentar aproximar demais a Igreja das lutas sociais, correu o risco de afastá-la de suas raízes mais profundas. Agora, enquanto os cardeais se reúnem para escolher quem carregará o peso e a esperança da sucessão, a Igreja encara mais uma vez suas próprias dúvidas: seguir firme na sua missão espiritual ou se deixar levar pelos ventos incertos da modernidade?

Entre o espírito e o mundo

"É importante lembrar", diz um teólogo ouvido pela reportagem, "que a essência do cristianismo é o reconhecimento de Jesus Cristo como Filho de Deus, que se encarnou para a salvação da humanidade. Essa é a missão central da Igreja. Todo o resto — inclusive os debates sociais, econômicos e políticos — é secundário."

Essa lembrança ressoa ainda mais forte agora, num tempo em que parte da Igreja defende um engajamento maior em temas como desigualdade social, crise climática e críticas ao capitalismo. Para muitos fiéis mais tradicionais, essa mudança de rota acende um sinal de alerta: temem que a Igreja esqueça sua missão principal — a de tocar as almas, transformar corações — e passe a ser vista apenas como mais uma voz num coro de reformas sociais.

"A Igreja não existe para lutar contra o capital ou remodelar a sociedade segundo as modas passageiras", afirma o mesmo teólogo. "Ela existe para salvar almas."

O desafio das ideologias

A tensão entre fé e política não é nova. No século XX, ninguém encarnou melhor a resistência da fé contra as ditaduras do que João Paulo II. Filho de uma Polônia marcada pelas feridas abertas do nazismo e do comunismo, Karol Wojtyła carregava na alma as cicatrizes de quem viu a liberdade e a fé serem sufocadas à força. Canonizado em 2014, tornou-se um dos grandes símbolos da resistência espiritual contra a tirania — a prova viva de que uma fé enraizada no coração pode, sim, derrubar até os impérios mais sombrios.

É um ponto sensível que volta a ganhar força agora: muitos analistas alertam que, mesmo com novos nomes e roupagens — socialismo, progressismo, "teologia da libertação" —, a essência de certas ideologias permanece incompatível com o cristianismo.

"Todos os regimes comunistas que conhecemos perseguiram ou instrumentalizaram a religião", aponta um historiador do Vaticano. "O Papa João Paulo II entendia isso como poucos."

Essa memória histórica serve como um lembrete para os cardeais eleitores, chamados a escolher um novo líder que, além de carismático e pastoral, saiba resistir às seduções ideológicas que ameaçam diluir a identidade da Igreja.

Uma Igreja que busca o eterno

No fundo, o conclave que se desenha no Vaticano é mais do que uma eleição: é um reflexo da luta espiritual que atravessa o tempo. Em um mundo em que a desigualdade, o sofrimento e as injustiças são reais — e dolorosas —, a tentação de transformar a Igreja em uma ONG política é grande. Mas, como dizem os mais sábios, "não há maior caridade do que levar a verdade às almas".

A fé cristã ensina que a desigualdade — de talentos, de virtudes, de riquezas — é inerente à liberdade humana. O combate deve ser contra a pobreza e a miséria, não contra as diferenças naturais entre os homens. E é no capitalismo, imperfeito como tudo o que é humano, que muitos veem a ferramenta mais eficaz já criada para melhorar vidas, promover trocas justas e abrir oportunidades.

"Não podemos confundir igualdade de condições com igualdade de resultados", resume um pensador contemporâneo. "A liberdade gera diversidade. A diversidade gera desigualdade. Mas é essa liberdade que dignifica o homem."

O futuro da Igreja

Ao olharmos para a Capela Sistina, onde os cardeais logo depositarão seus votos sob o olhar silencioso dos afrescos de Michelangelo, não vemos apenas uma eleição, mas uma escolha de alma.

Será que a Igreja será capaz de reafirmar sua missão eterna, resistindo às pressões políticas e ideológicas? Ou continuará a se perder em causas transitórias que, como a história já ensinou, acabam muitas vezes em novas formas de opressão?

Enquanto o mundo segura a respiração e aguarda a fumaça branca, a pergunta fundamental ecoa pelos corredores de Roma e nos corações dos fiéis: quem guiará a barca de Pedro em tempos tão turbulentos?

E, talvez mais importante: será um timoneiro que aponte para o Céu, e não para as brumas enganosas do mundo?

Entre a cruz e a coragem: o conclaveque pode mudar a história da Igreja

Sob o olhar do Espírito Santo: entre promessas e poderes, o Vaticano escolhe seu novo Papa

Por Ronald Stresser, com informações do The Independent e Catholic News.
 
 

A fumaça branca ainda não subiu aos céus de Roma, mas dentro das paredes silenciosas da Capela Sistina, o futuro da Igreja Católica começa a tomar forma. Com a morte de Francisco — o Papa que conquistou corações com sua voz mansa e gestos de ternura —, a Igreja Católica se vê novamente diante de um momento solene e delicado. Entre os afrescos eternos da Capela Sistina, sob o peso silencioso de séculos de fé, os cardeais caminham com passos lentos, como quem carrega nas costas não apenas votos, mas o futuro de milhões de almas espalhadas pelo mundo. Cada prece murmurada, cada olhar trocado, carrega em si o eco de fronteiras rompidas, de idiomas diferentes, de esperanças tão antigas quanto novas.

No meio dos 138 cardeais — homens de rostos marcados pelo tempo e pela história, de peles e sotaques que desenham o mapa da humanidade — dois nomes começam a se insinuar entre as conversas discretas e os gestos contidos nos corredores de mármore frio do Vaticano: Pietro Parolin, o diplomata hábil que conhece os labirintos do poder como poucos, e Pierbattista Pizzaballa, o jovem Patriarca de Jerusalém, cuja bravura recente acendeu uma chama viva nos corações dentro e fora da Igreja.

O favorito silencioso: Pietro Parolin

Aos 70 anos, o cardeal italiano Pietro Parolin carrega a serenidade de quem conhece o intricado jogo da diplomacia vaticana. Desde 2013 à frente da Secretaria de Estado — o cargo mais alto depois do Papa — Parolin viu de perto os últimos anos conturbados de Francisco, lidando com guerras, crises migratórias e debates internos sobre o futuro da fé.

De fala calma e gestos medidos, Parolin nunca foi de levantar bandeiras ideológicas. Em tempos de polarização, seu estilo moderado é visto como uma ponte possível entre conservadores e progressistas dentro da Igreja. "Ele é conhecido por todos, nunca fez inimigos e conhece cada engrenagem da Cúria", confidenciou ao jornal inglês The Independent, um influente insider do vaticano.

Mas ser o favorito pode ser, paradoxalmente, uma armadilha. A tradição lembra: quem entra Papa no conclave, sai cardeal. Mesmo assim, poucos duvidam da força de Parolin. Seu nome ressoa como a escolha segura, a aposta que pode oferecer à Igreja estabilidade e voz firme num mundo cada vez mais inquieto.

O inesperado herói: Pierbattista Pizzaballa

Se Parolin representa o "establishment", Pizzaballa é o rosto fresco de uma esperança que brota do inesperado. Aos 60 anos, o Patriarca Latino de Jerusalém é, de longe, o mais jovem dos papáveis. E talvez o mais corajoso.

Em outubro passado, enquanto bombas explodiam no Oriente Médio, Pizzaballa fez um gesto que correu o mundo: ofereceu-se como refém no lugar de crianças israelenses sequestradas pelo Hamas. Um ato de bravura e amor cristão que emocionou o próprio Francisco — dizem fontes próximas que o Papa falava com ele quase diariamente.

Mais do que um homem de ação, Pizzaballa é também um intelectual respeitado: um profundo conhecedor da Bíblia, um diplomata nato em meio ao solo sempre instável da Terra Santa. Seu nome começou a circular nos corredores do Vaticano como uma alternativa ousada, capaz de unir fé e ação num momento em que a Igreja busca resgatar sua autoridade moral.

Escolher Pizzaballa seria mais do que um gesto interno — seria uma mensagem ao mundo: a Igreja está disposta a caminhar junto com os povos oprimidos, dialogar com as diferenças e carregar no peito a cruz da justiça.

Entre tradição e mudança

O conclave segue sob absoluto sigilo. Não há entrevistas, celulares ou qualquer comunicação com o mundo exterior. Apenas orações, votações e a esperança de que o Espírito Santo guie as mãos daqueles homens que, por alguns dias, carregam nos ombros o peso de dois mil anos de história.

Entre os favoritos também surgem outros nomes de peso, como o conservador húngaro Peter Erdo, o progressista maltês Mario Grech, o africano Peter Turkson e o filipino Luis Antonio Tagle. Cada um, a seu modo, carrega uma visão para a Igreja pós-Francisco.

Mas é nos rostos de Parolin e Pizzaballa que muitos olhos se fixam agora — um, o diplomata veterano; outro, o pastor corajoso. Tradição e renovação, sabedoria e bravura, cautela e esperança.

Quando a fumaça branca finalmente se erguer sobre a Praça São Pedro, trazendo consigo a alegria do Habemus Papam, saberemos se os cardeais optaram pela segurança de quem já domina os bastidores ou pela ousadia de quem carrega no peito as dores e as esperanças do mundo.

Até lá, resta-nos rezar. E esperar.

Planura,, no Triângulo Mineiro, expõe o horror do trabalho escravo LGBTQIAPN+

A Marca da Crueldade: Minas Gerais expõe o horror do trabalho escravo LGBTQIAPN+

Por Ronald Stresser*
 
Foto: Auditoria-Fiscal do Trabalho/Divulgação
 

O Brasil, país que carrega em sua história cicatrizes profundas da escravidão, segue sendo palco de crimes que ferem a dignidade humana de maneira brutal. Na pequena Planura, em Minas Gerais, um caso recente rompeu o véu da normalidade e expôs ao mundo a face mais vil da exploração contemporânea: um homem gay e uma mulher transgênero, ambos uruguaios, foram resgatados de condições análogas à escravidão, em uma operação que revelou o uso perverso da vulnerabilidade e da confiança.

O que começou com promessas de acolhimento, espalhadas em anúncios nas redes sociais, rapidamente se transformou num pesadelo de quase uma década. A falsa esperança oferecida por três homens — um contador de 57 anos, um administrador de 40 e um professor de 24 —, era, na verdade, uma armadilha. Sob a aparência de salvadores, eles construíram uma rede de terror que usava plataformas como Facebook e Instagram para aliciar pessoas LGBTQIAPN+ em situações de desamparo.

O homem resgatado, que teve sua identidade preservada, suportou nove anos como empregado doméstico ilegal, sem salário, sem carteira assinada, vivendo sob agressões físicas, abusos sexuais, ameaças psicológicas e uma constante chantagem: fotos íntimas, feitas sem seu consentimento, poderiam ser expostas a qualquer momento como instrumento de controle.  

Como se não bastasse o martírio diário, ele ainda foi obrigado a tatuar as iniciais dos patrões em seu próprio corpo — um gesto de brutalidade e dominação que ecoa práticas abomináveis da escravidão colonial.

Ao seu lado, uma mulher trans enfrentava a mesma escravidão disfarçada.  

Trabalhando sem direitos, sem salário digno e sem qualquer proteção, ela suportou jornadas exaustivas e humilhações contínuas. Em meio ao terror psicológico e ao descaso físico, sofreu um acidente vascular cerebral. Mesmo doente, continuou sendo explorada, ignorada em sua dor, privada de qualquer socorro digno.

A ação que salvou essas vidas foi desencadeada por uma denúncia anônima feita ao Disque 100. A coragem de alguém em não se calar permitiu que, entre os dias 8 e 15 de abril de 2025, o Ministério do Trabalho e Emprego, com apoio da Polícia Federal, do Ministério Público do Trabalho e das universidades UFU e UNIPAC, desmontasse o esquema nojento.

Na casa dos algozes — um trisal de criminosos, como apuraram as autoridades —, a equipe de fiscalização encontrou provas que confirmavam os relatos estarrecedores: condições precárias de moradia, sinais claros de violência física e psicológica, documentos retidos e a tatuagem de marcação. A prisão em flagrante dos três empregadores foi apenas o primeiro passo de uma longa busca por justiça.


Hoje, as vítimas estão sob o amparo de instituições que oferecem atendimento médico, psicológico e jurídico. Feridas na alma e no corpo, elas iniciam o árduo caminho da reconstrução de suas vidas — agora, longe das correntes invisíveis da escravidão moderna.

Mas quantos outros seguem silenciados, presos a grilhões que a sociedade finge não ver?

Uma realidade inaceitável

O caso de Planura não é isolado. O trabalho análogo à escravidão no Brasil já atingiu mais de 63,4 mil vítimas desde 1995, segundo dados oficiais. Minas Gerais, onde este crime hediondo foi registrado, responde por 14% de todos os resgates nacionais, ficando atrás apenas do Pará.

Em pleno 2025, a escravidão persiste em novas roupagens: ela sequestra a liberdade com promessas mentirosas, ameaça com violência, humilha com a fome e marca com o medo. Atinge, sobretudo, aqueles já marginalizados pela pobreza, pela identidade de gênero, pela orientação sexual, pela cor da pele ou pelo país de origem.

Denunciar é dever de todos

Cada denúncia salva vidas. O Disque 100 e o Sistema Ipê estão disponíveis para receber relatos, anonimamente, a qualquer hora do dia ou da noite. Cumplicidade é calar diante de horrores como esse. Justiça é falar, agir e nunca, jamais, fechar os olhos.

O Brasil deve, sem piedade e sem anistia, erguer sua voz contra quem se alimenta da dor alheia. Porque escravidão, em qualquer tempo, é crime. E crime, em qualquer lugar, exige resposta firme, sem hesitação.

*com informações do Diário de Pernambuco, MTE e Agência Brasil

sábado, 26 de abril de 2025

Católicos brasileiros querem papa progressista

Brasileiros aprovam o Papa Francisco e pedem sucessor voltado à inclusão, mostra pesquisa AtlasIntel feita com exclusividade para o programa GPS da CNN

Por Ronald Stresser*
 
 

Em tempos de incerteza, uma certeza brota forte no coração dos brasileiros: a Igreja Católica precisa continuar olhando para os mais vulneráveis, para os que precisam ser ouvidos e acolhidos. Às vésperas de uma escolha que pode redesenhar o futuro da fé, a voz das ruas, das praças e dos lares se uniu em um pedido: que o próximo papa siga o espírito de Francisco — com olhos atentos às causas sociais e mãos sempre abertas para o diálogo.

Essa vontade coletiva foi captada pela pesquisa AtlasIntel, realizada entre os dias 20 e 24 de abril, encomendada pela CNN Brasil. Foram 1.800 brasileiros de diferentes cantos do país que, ao responderem às perguntas, deixaram escapar algo maior do que simples opiniões: deixaram transparecer sonhos, esperanças e a busca por uma Igreja que caminhe ao lado dos desafios do mundo atual.

A mensagem foi clara e carregada de afeto: 66,4% dos entrevistados aprovam o legado de Francisco. Entre eles, 44,4% consideram seu papado "ótimo" e 22% o classificam como "bom" — uma aprovação que ultrapassa números e se transforma em gratidão por uma liderança que abriu portas, escutou feridas e lançou pontes onde antes havia muros.

Ao serem questionados sobre o perfil ideal para o próximo pontífice, a maioria também sinalizou a mesma direção: 42% defendem um papa progressista, focado em temas sociais, inclusão e diálogo. Outros 30,1% preferem um líder mais conservador, voltado à tradição e à doutrina moral rígida. Uma parcela de 18,6% sugeriu um perfil de equilíbrio entre tradição e renovação, e 9,3% não souberam opinar.

Mudanças no cenário religioso

A pesquisa também revela como os brasileiros percebem a força do catolicismo no país. Para 56,9% dos entrevistados, a Igreja vem perdendo espaço nos últimos anos. Um quinto dos participantes (19,2%) acredita que o cenário permanece igual, e apenas 18% enxergam crescimento da religião no Brasil.

Essa percepção caminha lado a lado com o avanço das igrejas evangélicas, especialmente no campo político e social. Ainda assim, 67,1% dos brasileiros ouvidos pela AtlasIntel afirmam que o crescimento evangélico não é culpa da condução da Igreja Católica, mas sim um fenômeno independente. Para 26%, porém, o avanço evangélico tem relação direta com falhas da Igreja.

Uma disputa além da fé

O retrato que emerge da pesquisa se encaixa em um cenário político e religioso em ebulição no Brasil. A relação entre política e fé tem ganhado contornos cada vez mais intensos, principalmente com o crescimento do eleitorado evangélico — hoje, uma base decisiva para projetos eleitorais à direita.

Enquanto o presidente Lula ainda tenta dialogar com esse público, com acenos desde a campanha de 2022, incluindo uma carta aberta aos evangélicos, sua popularidade entre eles continua baixa. Em 2022, Lula não conseguiu maioria entre os evangélicos, e seu governo ainda patina para conquistar corações e mentes desse nicho.

Fé, política e futuro

Em meio a essa disputa, o conclave que escolherá o sucessor de Francisco não interessa apenas ao Vaticano: desperta expectativa também entre os brasileiros. Para muitos fiéis, a escolha de um papa progressista poderia fortalecer a presença da Igreja Católica num país cada vez mais dividido entre tradições e novas demandas sociais.

A Igreja Católica no Brasil — que já foi a maior do mundo em número de fiéis — parece agora buscar não apenas renovar sua liderança, mas também reconquistar espaços perdidos, dialogando com uma sociedade em transformação.

A próxima fumaça branca vinda do Vaticano será observada com atenção. E, se depender da voz dos brasileiros, ela trará mais inclusão e esperança do que rigidez e saudade do passado.

*com informações da CNN Brasil.

sexta-feira, 25 de abril de 2025

PT aposta em Enio Verri para disputar — e vencer — o governo do Paraná em 2026

Lançado como pré-candidato pela corrente majoritária do partido, o atual diretor-geral da Itaipu Binacional surge como nome de consenso e representa a melhor chance histórica do PT no estado

Por Ronald Stresser, da redação.

 
Enio Verri - Foto: Rafa Kondlatsch
 

O Partido dos Trabalhadores pode estar diante de um momento inédito no Paraná. Pela primeira vez, uma candidatura ao Palácio Iguaçu reúne musculatura, capilaridade política e unidade interna para tornar viável o que até hoje foi apenas um sonho frustrado: eleger um governador petista em solo paranaense. O nome da vez é Enio Verri.

Economista e professor universitário, Verri ganhou notoriedade como deputado federal e hoje está à frente da diretoria-geral brasileira da Itaipu Binacional. Sob sua gestão, a hidrelétrica voltou a se destacar como vetor de desenvolvimento regional, com foco em energia limpa, inovação, sustentabilidade e impacto social. Essa virada de chave no perfil da estatal tem sido uma vitrine importante para o projeto político que se desenha em torno de seu nome.

No final de janeiro passado, a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB) — maior força interna do PT — lançou oficialmente a pré-candidatura de Verri ao governo do estado, em evento realizado em Paranaguá. A escolha é estratégica e foi construída com base em consenso, não só dentro da CNB, mas também na Federação Brasil da Esperança, que reúne PT, PCdoB e PV. A ideia é clara: ocupar o espaço progressista no Paraná com um nome competitivo, experiente e com forte identidade estadual.

A movimentação petista acontece em meio à fragmentação do campo governista. O grupo político do atual governador, Ratinho Junior (PSD), vive um racha com quatro nomes disputando a sucessão: Alexandre Curi, Rafael Greca, Darci Piana e Guto Silva. A desunião abre uma brecha que pode ser decisiva em um cenário polarizado — especialmente com a presença de Sergio Moro, já colocado como pré-candidato da extrema-direita.

Enquanto isso, Verri avança com um discurso que mescla técnica e sensibilidade política. O programa “AMP & Itaipu 4.0”, implementado em parceria com a Associação dos Municípios do Paraná, reforça sua conexão com os prefeitos e vereadores de base, ao mesmo tempo em que apresenta resultados concretos no apoio à educação, infraestrutura e geração de energia renovável.

A aposta no nome de Verri também se sustenta no simbolismo. Ele representa um novo momento do PT no estado: menos defensivo, mais propositivo. A força de sua candidatura tem o potencial de puxar votos para a renovação das bancadas estadual e federal, oxigenando o partido e reposicionando a esquerda paranaense num patamar competitivo.

Mais que uma aposta, Verri é a chance de um reencontro entre o Paraná e o campo progressista. Seu lançamento como pré-candidato marca o início de uma disputa onde, pela primeira vez em muito tempo, o PT entra em campo para vencer — e não apenas para marcar presença.

”Franciscus”: o nome e o legado que agora repousam em silêncio"Franciscus”: o nome e o legado que agora repousam em silêncio

Fechamento do caixão do Papa Francisco marca o fim de uma era e o início do luto global católico. Missa solene e sepultamento na Santa Maria Maggiore seguem neste sábado, com olhos do mundo voltados para Roma

Por Ronald Stresser*
 
 

No final da tarde desta sexta-feira (25), enquanto o sol começava a repousar sobre os telhados de Roma, o som das badaladas da Basílica de São Pedro ecoava diferente. Não era o anúncio de uma celebração, mas o silêncio solene do fim de uma despedida: o caixão do Papa Francisco foi selado, marcando o encerramento de um velório que levou cerca de 250 mil fiéis ao Vaticano, vindos de todos os cantos do planeta.

O rosto do primeiro papa latino-americano foi coberto com um véu de seda branca. Em seguida, seu corpo foi aspergido com água benta, num gesto delicado de entrega. Dentro do caixão simples de madeira, revestido por zinco, repousam também moedas e medalhas cunhadas ao longo de seu pontificado, além de uma escritura especial que resume, em palavras, os 12 anos de uma liderança marcada pela humildade, compaixão e coragem. Um adeus sem pompa, mas carregado de significado — como tudo em sua trajetória.

Um funeral que ecoa pelo mundo

Neste sábado (26), às 10h (5h de Brasília), a Praça de São Pedro se tornará o centro espiritual do mundo. Espera-se uma multidão superior a 200 mil pessoas. Entre elas, mais de 50 chefes de Estado — incluindo Donald Trump, Lula e os presidentes da França, Argentina e Alemanha —, além de dez monarcas reinantes. Todos ali, lado a lado com o povo comum, para prestar a última homenagem a Jorge Mario Bergoglio, o papa que fez do gesto simples sua linguagem e da misericórdia, sua política.

A missa fúnebre será conduzida pelo cardeal italiano Giovanni Battista Re, que, aos 91 anos, não participará do próximo conclave, mas que — segundo vaticanistas — pode oferecer um norte espiritual aos cardeais eleitores. Re será acompanhado por 220 cardeais e mais de 4.700 religiosos em concelebração.

No fim da missa, as palavras em latim irão soar como um sussurro celestial: “Que os anjos vos conduzam ao paraíso; que os mártires vos acolham…” — versos cantados por um coro solene, que marcarão a última despedida pública ao papa dos pobres.

Um cortejo, uma cidade em luto

Depois da missa, o caixão seguirá em cortejo pelas ruas de Roma, num percurso de 5,5 km até a Basílica de Santa Maria Maggiore. O trajeto, que inclui pontos históricos como o Coliseu, deve ser tomado por fiéis e turistas, muitos em silêncio, outros em oração, enquanto Roma se transforma em uma procissão viva.

Na escadaria da basílica escolhida por Francisco para seu descanso final, estará um grupo de pessoas pobres — muitos sem teto — que foram especialmente convidados para homenageá-lo. São eles o rosto mais fiel da opção preferencial de Francisco pelos marginalizados. Será, talvez, a imagem mais simbólica de todo o funeral: os últimos da Terra abençoando aquele que, até o fim, quis estar ao lado deles.

O sepultamento será privado, como ele quis. No túmulo, uma inscrição minimalista: “Franciscus”. Nada além do essencial. O último papa a ser sepultado fora do Vaticano havia sido Leão XIII, em 1903. Francisco preferiu repousar onde sempre se ajoelhou com devoção, diante do ícone da Salus Populi Romani, protetora do povo romano.

E agora, Igreja?

Com o sepultamento, começa o período oficial de luto da Igreja Católica — nove dias de orações, missas e memória. Já neste domingo (27), uma nova celebração será realizada na Praça de São Pedro, presidida pelo cardeal Pietro Parolin, apontado como um dos favoritos ao papado.

Nos bastidores do Vaticano, os olhos já se voltam para o próximo conclave. A data ainda será anunciada, mas deve ocorrer entre os dias 6 e 11 de maio. Até lá, 119 cardeais com menos de 80 anos têm a missão de discernir não apenas um novo líder, mas também um novo rumo para a Igreja de 1,4 bilhão de fiéis.

Uma ausência que fala

No entanto, antes das decisões, é o tempo do silêncio. O tempo da ausência que fala. O mundo católico se despede de um papa que rejeitou os palácios, enfrentou escândalos, acolheu migrantes e falou sobre mudanças climáticas, desigualdade, hipocrisia e abuso com a autoridade moral de quem, mesmo com dores no corpo e resistências internas, nunca deixou de ser pastor.

Hoje, o ccaixão de Francisco se fechou. Mas o legado permanece aberto — como Evangelho vivo.

*com informações do Vatican News.

Degradação da floresta amazônica aumenta 329%

Entre a queda e o fogo: Amazônia vira campo de batalha climática sob Lula e Bolsonaro

Por Ronald Stresser*

 
© Marizilda Cruppe / Greenpeace
 

No coração verde do planeta, um paradoxo ecoa pela floresta: a Amazônia desmata menos, mas arde mais. Em 2024, os olhos atentos dos satélites registraram um recuo tímido de 7% no desmatamento — 3.739 km² contra 4.030 km² em 2023 — mas testemunharam um salto estarrecedor de 497% na degradação florestal, com mais de 36 mil km² afetados por queimadas e extração predatória. É o maior índice dos últimos 15 anos.

Enquanto o governo Lula celebra a reversão da tendência devastadora deixada por Jair Bolsonaro, a floresta parece respirar com dificuldade, sufocada por incêndios, estresse hídrico e políticas que, mesmo bem-intencionadas, ainda deixam buracos abertos por onde escapa a biodiversidade. A retórica de proteção avança, mas a prática esbarra em contradições. 

A crítica veio, como de costume, por onde ninguém pediu — Jair Bolsonaro voltou às redes para atacar os "silêncios seletivos" da comunidade internacional. "Se fosse no meu governo, estariam pedindo sanções e intervenção da OTAN", escreveu, ao comentar a construção de uma rodovia na Amazônia para facilitar o trânsito de autoridades durante a COP30, marcada para novembro em Belém. “A pegada de carbono cheira melhor quando é da esquerda?”, ironizou.

O ex-presidente tem seus próprios esqueletos de carbono no armário. Sob seu mandato, o desmatamento atingiu picos históricos: em 2022, a Amazônia perdeu 10.362 km² de floresta — quase três vezes mais que em 2024. Foram anos de desmonte ambiental, sucateamento dos órgãos de fiscalização e incentivo tácito (ou explícito) à ocupação ilegal de terras públicas.

Mas os números recentes mostram que nem tudo se resolveu com a mudança de governo. A degradação florestal — diferente do desmatamento, por não remover totalmente a vegetação, mas comprometer a floresta com queimadas e exploração seletiva — explodiu em estados como Roraima, com aumento de 17.550%, e Mato Grosso, que registrou alta de 767%.

O Pará continua no topo do ranking da destruição pelo nono ano consecutivo. Em 2024, perdeu 1.260 km² para o desmate e impressionantes 17.195 km² para a degradação — território maior que o estado de Sergipe. É também em solo paraense que ficam os municípios mais devastados, como São Félix do Xingu e Altamira, e as terras indígenas mais pressionadas, como a Kayapó, onde 4.928 km² de floresta foram degradados.

“O que mais nos preocupa é que a degradação se dá de forma sorrateira, silenciosa, mas é tão ou mais nociva que o desmatamento. Ela fragiliza a floresta, expõe a fauna, seca os rios e acelera as mudanças climáticas”, alerta Carlos Souza, coordenador do Programa de Monitoramento do Imazon.

O agravante é que boa parte dessa destruição ocorre em áreas teoricamente protegidas — terras indígenas e unidades de conservação. A APA Triunfo do Xingu, por exemplo, perdeu mais de 1.400 km² para a degradação só em 2024.

E há ainda o fator climático: dois anos consecutivos de seca extrema fizeram da Amazônia uma bomba-relógio ambiental. “A floresta virou combustível seco. Até áreas úmidas, antes intocáveis pelo fogo, foram atingidas”, explica a pesquisadora Larissa Amorim. Segundo ela, as emissões de carbono provocadas pelas queimadas em 2024 superaram as do próprio desmatamento.

Enquanto isso, o tempo corre. Os primeiros meses de 2025, marcados pelas chuvas do chamado “inverno amazônico”, oferecem uma rara trégua. Uma chance de respirar, planejar e agir.

Mas o desafio é político, econômico e moral. Passa por combater o garimpo ilegal, restaurar o poder do Ibama, proteger comunidades tradicionais e, sobretudo, encarar a floresta não como obstáculo ao desenvolvimento, mas como a última fronteira de equilíbrio climático do planeta.

Comparar Lula e Bolsonaro na Amazônia é como medir a febre de um paciente grave: um deu 42°C, o outro, 39°C. Ambos adoeceram a floresta, ainda que por vias diferentes. Agora, mais do que olhar o termômetro, é hora de começar a cura.

*com informações do IMAZON.

Entre curvas e detalhes: o olhar que virou homenagem

Mais que um par de óculos: a homenagem do piloto Marcelo Silvério ao designer-artesão Hélio Ascari

Por Ronald Stresser, de Curitiba*
 
 

Em um mundo dominado por produtos descartáveis e designs automatizados, há quem insista em nadar contra a corrente, transformando o tempo e o talento em arte. Hélio Ascari é um desses raros artesãos modernos — e foi exatamente isso que emocionou o piloto brasileiro Marcelo Silvério, que usou as redes sociais para prestar uma homenagem comovente ao amigo e designer.

Não era só mais um par de óculos. Era história, talento e amizade”, escreveu Marcelo em uma publicação no Instagram. O vídeo que acompanha o post mostra o piloto vestindo um modelo exclusivo criado por Ascari em parceria com a icônica marca nova-iorquina Moscot. Mais do que um acessório de estilo, os óculos carregam a essência de uma amizade pautada pelo respeito mútuo à autenticidade e à criação manual.

Um gaúcho que virou ícone em Nova York

Natural do Rio Grande do Sul, Hélio Ascari poderia ter seguido uma carreira convencional no mundo da moda, onde trabalhou como modelo. Mas escolheu outro caminho: o das mãos calejadas e do olhar apurado. Ainda na infância, apaixonou-se por restaurar antiguidades — de relógios a bicicletas — e mergulhou no universo dos detalhes ao trabalhar, na adolescência, em fábricas de móveis, aço e calçados de couro. Foi ali que nasceu o artesão.

A experiência na indústria da moda viria mais tarde, conectando de vez estilo e propósito. Ao desenvolver um projeto de bicicleta sustentável para uma maison internacional, Ascari encontrou o elo que faltava: criar peças únicas que unissem design, funcionalidade e consciência ambiental. Em 2011, ao lado da esposa Maria Thereza, fundou a Ascari Bicycles, em Nova York — uma marca de bicicletas feitas à mão que se tornaram objetos de desejo em coleções privadas nos cinco continentes.

Hoje, os quadros, garfos, guidões e até alavancas de freio são produzidos artesanalmente no ateliê da marca no Brooklyn. Com soldas em cobre e latão, couro natural e acabamento de joalheria, as bicicletas não são apenas veículos: são obras de arte sobre rodas. Uma delas, inclusive, está exposta no escritório pessoal de Ralph Lauren.

Uma amizade moldada na admiração

Marcelo Silvério, que é conhecido tanto por sua vaidade quanto por sua autenticidade, não esconde a admiração por Ascari:  

O Hélio Ascari é desses caras que transformam tudo o que tocam”, escreveu. “Esse vídeo é meu jeito de homenagear um amigo que admiro demais — pelo olhar apurado, pelas mãos que constroem e pela visão que inspira.”

Essa conexão entre arte e velocidade, estilo e liberdade, talvez explique a afinidade entre o piloto e o artesão. Ambos desafiam os limites — um nas pistas de supermoto, o outro nos mínimos detalhes de uma dobradiça, de um quadro de bicicleta ou da curvatura perfeita de uma lente.

Do vintage ao atemporal

Ascari é um nome que remete às pistas de Fórmula 1, mas o Hélio quer que também evoque a herança dos grandes mestres do artesanato. Inspirado pela elegância dos anos 1930 e pela filosofia do slow design, ele já colaborou com nomes como Oscar Metsavaht (Osklen) em coleções-cápsula que cruzam moda, sustentabilidade e estilo retrô. “Acredito que eu emprestei o conhecimento e a vivência do universo do artesão e minha paixão pelo vintage workwear dos anos 1930, 1940 e 1950”, conta ele.

A trajetória de Hélio Ascari prova que, mesmo em tempos de velocidade e consumo instantâneo, ainda há espaço — e necessidade — para o feito à mão, para o olhar sensível, para a amizade que transcende o produto. E, no caso do par de óculos de Marcelo, para a arte que se veste no rosto.

Valeu, Hélio. Que honra vestir sua arte no rosto”, conclui o piloto. Uma frase simples, mas que carrega em si tudo aquilo que é feito com alma: a marca do tempo e do afeto.

 

  

*com informações de Ascari Bicycles.

Ibama barra “BR do Mar” e protege ecossistema raro entre Paraná e São Paulo

Decisão do órgão ambiental reforça compromisso com a preservação da Mata Atlântica e com os direitos das comunidades tradicionais. Projeto do Canal do Varadouro é alvo de inquérito do MPF

Por Ronald Stresser*

 
Estadão
 

Em um raro sopro de resistência em meio ao avanço de grandes obras sobre áreas naturais sensíveis, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) disse um firme “não” à proposta de reabrir e dragar o Canal do Varadouro, que ligaria o litoral norte do Paraná ao sul de São Paulo. A decisão, anunciada nesta semana, foi recebida com alívio por ambientalistas e comunidades locais que há meses alertam para os riscos de um projeto de alto impacto em um dos últimos respiros da Mata Atlântica.

Apelidado de “BR do Mar” por integrantes do governo paranaense, o plano incluía alargar e aprofundar um trecho de seis quilômetros entre as ilhas de Superagui e das Peças — hoje um santuário ecológico protegido — para criar uma rota turística entre Paranaguá (PR) e Cananéia (SP). A promessa era impulsionar o turismo, gerar renda e reativar antigas conexões entre as comunidades da região. Mas os custos ambientais, segundo o Ibama, seriam altos demais.

Preservar o que ainda resta

O parecer negativo foi embasado em estudos técnicos e em recomendações do ICMBio, que administra o Parque Nacional de Superagui, área diretamente impactada pela obra. A legislação ambiental brasileira não permite esse tipo de intervenção em unidades de conservação de proteção integral. A dragagem do canal, segundo o ICMBio, violaria a Lei 9.985/2000 e comprometeria o equilíbrio de um ecossistema já ameaçado.

Diante da inquietação que o projeto despertou, o Ministério Público Federal resolveu agir. Abriu um inquérito — que, por enquanto, corre em silêncio, longe dos holofotes — para entender melhor os impactos e bastidores dessa proposta controversa. A decisão do MPF não veio do nada: ela ecoa o clamor de organizações como a SOS Mata Atlântica, que há meses acompanham esse processo com o coração na mão e uma única certeza — a de que aquele pedaço raro de Brasil, entre mangues, ilhas e mata nativa, não pode ser tratado como terra de ninguém.

Governo promete insistir

Mesmo diante do parecer técnico e jurídico, o governo do Paraná já sinalizou que tentará reverter a decisão. Everton Souza, presidente do Instituto Água e Terra (IAT), autarquia vinculada ao estado, argumenta que o canal já é uma intervenção antrópica, feita nos anos 1950, e que sua reativação traria benefícios econômicos e sociais para comunidades tradicionais. “Queremos garantir que embarcações de pequeno porte possam ir e voltar com segurança. Não estamos falando de grandes navios ou uma avenida de concreto”, declarou.

Ele cita, ainda, que muitas famílias vivem isoladas por conta da atual inacessibilidade e que o turismo náutico poderia abrir novas possibilidades de renda, trazendo dignidade a populações historicamente negligenciadas. “São comunidades que sempre cuidaram do ambiente, mas enfrentam dificuldades. Precisam de oportunidades.”

Mas a que custo?

O debate, no entanto, é mais complexo do que parece. O próprio histórico do Canal do Varadouro mostra que, embora tenha sido aberto por mãos humanas no século 19, foi a natureza quem acabou por determinar seu ritmo. Assoreado ao longo das décadas, o trecho virou símbolo da luta entre progresso e preservação. Nos últimos anos, virou refúgio para espécies ameaçadas, abrigo de sambaquis milenares e exemplo de resistência ecológica.

A decisão do Ibama é, portanto, um marco. Não apenas por barrar um projeto controverso, mas por reafirmar que desenvolvimento sustentável não pode ser sinônimo de retrocesso ambiental. Em tempos de emergência climática, é essencial que o país saiba dizer “não” — e, mais importante, que tenha instituições com coragem técnica e ética para fazê-lo.

Num país onde a biodiversidade é um tesouro cada vez mais cobiçado, proteger o que resta é, sim, uma forma de avançar. E o Ibama, com sua decisão, deu uma aula de compromisso com o futuro.

*com informações do Estadão.

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