Trump promete cortar impostos com tarifaço – e o que o Brasil tem a ver com isso
Por Ronald Stresser*Enquanto embarcava no Air Force One, no últim0o domingo, o presidente Donald Trump lançou uma promessa aos jornalistas que o acompanhm, tão ousada quanto polêmica: usar o dinheiro arrecadado com tarifas de importação para eliminar, ou quase, o imposto de renda nos Estados Unidos. "Vou conseguir reduzir os impostos em larga escala e talvez quase completamente", disse Trump, numa fala que, como tudo o que envolve seu governo, mistura ambição, polêmica e pragmatismo.
O plano é simples no papel: com uma tarifa altíssima de 145% sobre produtos chineses — valor tão surreal que praticamente congelou o comércio com a China —, a Casa Branca quer substituir a arrecadação do tradicional Internal Revenue Service (IRS) por um novo conceito, batizado pelo secretário de Comércio, Howard Lutnick, de "External Revenue Service", onde a carga fiscal seria transferida para os produtos importados.
A ideia pode soar como música para os ouvidos de qualquer trabalhador americano: sem imposto de renda, sobram mais dólares no bolso. Especialmente para aqueles que ganham menos de US$ 200 mil por ano, grupo prioritário na proposta de Trump. A promessa é de uma economia de centenas de milhares de dólares ao longo da vida, segundo pesquisas recentes.
Mas, como quase tudo que brilha, há riscos. Analistas e o próprio mercado financeiro receberam o anúncio com ceticismo. Afinal, a receita de tarifas, mesmo turbinada, precisaria cobrir não só a máquina pública, mas também parte da imensa dívida americana, que Trump fez questão de lembrar que herdou de administrações passadas. Além disso, a arrecadação de impostos corporativos — que poderia ajudar nesse equilíbrio — representa apenas 6% da receita total dos EUA, contra 41% vinda do imposto de renda individual, de acordo com a Tax Foundation. E Trump também quer reduzir o imposto para empresas.
É um jogo arriscado, mas que expõe um instinto básico do ser humano: o desejo de prosperar com menos entraves. Um desejo que não conhece fronteiras — e que, no Brasil, também pulsa com força.
A lição (e o alerta) para o Brasil
No Brasil, é comum olharmos para os Estados Unidos como um espelho — às vezes distorcido — de modernidade e desenvolvimento. Importamos modas, ideias e modelos econômicos, mesmo quando eles não se encaixam tão bem na nossa cultura ou realidade. E, curiosamente, nesse caso, há um ponto em comum inegável, gostem ou não os defensores do socialismo: somos, sim, economias capitalistas. Ambos os povos querem crescer, empreender, gerar riqueza.
Só que, aqui, a estrada é bem mais esburacada. O peso dos impostos no Brasil sufoca famílias e empresas. Um levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) traz um dado que impressiona: o brasileiro, em média, passa quase cinco meses do ano inteiro só trabalhando para pagar impostos. Ou seja, quase metade do ano é dedicado a um esforço que, em vez de ser direcionado ao próprio sustento, vai direto para os cofres do governo.
Isso faz com que boa parte do suor de quem rala todos os dias mal seja aproveitado para as próprias necessidades. E para as pequenas empresas, o cenário é ainda mais desafiador. Elas enfrentam uma carga tributária que engole cerca de 30% de tudo o que faturam, um peso que, segundo o Sebrae, dificulta a sobrevivência de muitos pequenos negócios. É como se o sonho de crescer fosse sempre ofuscado por um imposto que nunca dá trégua.
Enquanto Trump tenta vender o sonho de um alívio fiscal radical, nós, por aqui, ainda lutamos para que o básico funcione — e para que o Estado devolva em serviços públicos minimamente dignos o que arrecada com tanto apetite.
É verdade que copiar tudo dos americanos sem filtro nos trouxe práticas que pouco ou nada têm a ver com nossa realidade. Mas há lições universais que valem a reflexão. A primeira delas é que ninguém prospera de verdade com um governo pesado nas costas. A segunda, ainda mais importante, é que o desejo de ter mais liberdade para construir o próprio caminho é, afinal, o que une trabalhadores, empresários e sonhadores dos dois lados do Equador.
Trump pode até não conseguir acabar com o imposto de renda de uma vez só. Mas, ao colocar o tema no centro do debate, ele acende uma luz que, para brasileiros cansados de carregar um dos maiores fardos tributários do mundo, deveria também servir de alerta: sem uma reforma séria e corajosa, prosperar continuará sendo, para muitos, apenas um sonho distante.
*com informações da Associated Press.
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