O Conclave da Esperança: Igreja Católica em busca de um novo rumo após a morte de Francisco
Por Ronald Stresser"É importante lembrar", diz um teólogo ouvido pela reportagem, "que a essência do cristianismo é o reconhecimento de Jesus Cristo como Filho de Deus, que se encarnou para a salvação da humanidade. Essa é a missão central da Igreja. Todo o resto — inclusive os debates sociais, econômicos e políticos — é secundário."
Essa lembrança ressoa ainda mais forte agora, num tempo em que parte da Igreja defende um engajamento maior em temas como desigualdade social, crise climática e críticas ao capitalismo. Para muitos fiéis mais tradicionais, essa mudança de rota acende um sinal de alerta: temem que a Igreja esqueça sua missão principal — a de tocar as almas, transformar corações — e passe a ser vista apenas como mais uma voz num coro de reformas sociais.
"A Igreja não existe para lutar contra o capital ou remodelar a sociedade segundo as modas passageiras", afirma o mesmo teólogo. "Ela existe para salvar almas."
O desafio das ideologias
A tensão entre fé e política não é nova. No século XX, ninguém encarnou melhor a resistência da fé contra as ditaduras do que João Paulo II. Filho de uma Polônia marcada pelas feridas abertas do nazismo e do comunismo, Karol Wojtyła carregava na alma as cicatrizes de quem viu a liberdade e a fé serem sufocadas à força. Canonizado em 2014, tornou-se um dos grandes símbolos da resistência espiritual contra a tirania — a prova viva de que uma fé enraizada no coração pode, sim, derrubar até os impérios mais sombrios.
É um ponto sensível que volta a ganhar força agora: muitos analistas alertam que, mesmo com novos nomes e roupagens — socialismo, progressismo, "teologia da libertação" —, a essência de certas ideologias permanece incompatível com o cristianismo.
"Todos os regimes comunistas que conhecemos perseguiram ou instrumentalizaram a religião", aponta um historiador do Vaticano. "O Papa João Paulo II entendia isso como poucos."
Essa memória histórica serve como um lembrete para os cardeais eleitores, chamados a escolher um novo líder que, além de carismático e pastoral, saiba resistir às seduções ideológicas que ameaçam diluir a identidade da Igreja.
Uma Igreja que busca o eterno
No fundo, o conclave que se desenha no Vaticano é mais do que uma eleição: é um reflexo da luta espiritual que atravessa o tempo. Em um mundo em que a desigualdade, o sofrimento e as injustiças são reais — e dolorosas —, a tentação de transformar a Igreja em uma ONG política é grande. Mas, como dizem os mais sábios, "não há maior caridade do que levar a verdade às almas".
A fé cristã ensina que a desigualdade — de talentos, de virtudes, de riquezas — é inerente à liberdade humana. O combate deve ser contra a pobreza e a miséria, não contra as diferenças naturais entre os homens. E é no capitalismo, imperfeito como tudo o que é humano, que muitos veem a ferramenta mais eficaz já criada para melhorar vidas, promover trocas justas e abrir oportunidades.
"Não podemos confundir igualdade de condições com igualdade de resultados", resume um pensador contemporâneo. "A liberdade gera diversidade. A diversidade gera desigualdade. Mas é essa liberdade que dignifica o homem."
O futuro da Igreja
Ao olharmos para a Capela Sistina, onde os cardeais logo depositarão seus votos sob o olhar silencioso dos afrescos de Michelangelo, não vemos apenas uma eleição, mas uma escolha de alma.
Será que a Igreja será capaz de reafirmar sua missão eterna, resistindo às pressões políticas e ideológicas? Ou continuará a se perder em causas transitórias que, como a história já ensinou, acabam muitas vezes em novas formas de opressão?
Enquanto o mundo segura a respiração e aguarda a fumaça branca, a pergunta fundamental ecoa pelos corredores de Roma e nos corações dos fiéis: quem guiará a barca de Pedro em tempos tão turbulentos?
E, talvez mais importante: será um timoneiro que aponte para o Céu, e não para as brumas enganosas do mundo?


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