sexta-feira, 25 de abril de 2025

”Franciscus”: o nome e o legado que agora repousam em silêncio"Franciscus”: o nome e o legado que agora repousam em silêncio

Fechamento do caixão do Papa Francisco marca o fim de uma era e o início do luto global católico. Missa solene e sepultamento na Santa Maria Maggiore seguem neste sábado, com olhos do mundo voltados para Roma

Por Ronald Stresser*
 
 

No final da tarde desta sexta-feira (25), enquanto o sol começava a repousar sobre os telhados de Roma, o som das badaladas da Basílica de São Pedro ecoava diferente. Não era o anúncio de uma celebração, mas o silêncio solene do fim de uma despedida: o caixão do Papa Francisco foi selado, marcando o encerramento de um velório que levou cerca de 250 mil fiéis ao Vaticano, vindos de todos os cantos do planeta.

O rosto do primeiro papa latino-americano foi coberto com um véu de seda branca. Em seguida, seu corpo foi aspergido com água benta, num gesto delicado de entrega. Dentro do caixão simples de madeira, revestido por zinco, repousam também moedas e medalhas cunhadas ao longo de seu pontificado, além de uma escritura especial que resume, em palavras, os 12 anos de uma liderança marcada pela humildade, compaixão e coragem. Um adeus sem pompa, mas carregado de significado — como tudo em sua trajetória.

Um funeral que ecoa pelo mundo

Neste sábado (26), às 10h (5h de Brasília), a Praça de São Pedro se tornará o centro espiritual do mundo. Espera-se uma multidão superior a 200 mil pessoas. Entre elas, mais de 50 chefes de Estado — incluindo Donald Trump, Lula e os presidentes da França, Argentina e Alemanha —, além de dez monarcas reinantes. Todos ali, lado a lado com o povo comum, para prestar a última homenagem a Jorge Mario Bergoglio, o papa que fez do gesto simples sua linguagem e da misericórdia, sua política.

A missa fúnebre será conduzida pelo cardeal italiano Giovanni Battista Re, que, aos 91 anos, não participará do próximo conclave, mas que — segundo vaticanistas — pode oferecer um norte espiritual aos cardeais eleitores. Re será acompanhado por 220 cardeais e mais de 4.700 religiosos em concelebração.

No fim da missa, as palavras em latim irão soar como um sussurro celestial: “Que os anjos vos conduzam ao paraíso; que os mártires vos acolham…” — versos cantados por um coro solene, que marcarão a última despedida pública ao papa dos pobres.

Um cortejo, uma cidade em luto

Depois da missa, o caixão seguirá em cortejo pelas ruas de Roma, num percurso de 5,5 km até a Basílica de Santa Maria Maggiore. O trajeto, que inclui pontos históricos como o Coliseu, deve ser tomado por fiéis e turistas, muitos em silêncio, outros em oração, enquanto Roma se transforma em uma procissão viva.

Na escadaria da basílica escolhida por Francisco para seu descanso final, estará um grupo de pessoas pobres — muitos sem teto — que foram especialmente convidados para homenageá-lo. São eles o rosto mais fiel da opção preferencial de Francisco pelos marginalizados. Será, talvez, a imagem mais simbólica de todo o funeral: os últimos da Terra abençoando aquele que, até o fim, quis estar ao lado deles.

O sepultamento será privado, como ele quis. No túmulo, uma inscrição minimalista: “Franciscus”. Nada além do essencial. O último papa a ser sepultado fora do Vaticano havia sido Leão XIII, em 1903. Francisco preferiu repousar onde sempre se ajoelhou com devoção, diante do ícone da Salus Populi Romani, protetora do povo romano.

E agora, Igreja?

Com o sepultamento, começa o período oficial de luto da Igreja Católica — nove dias de orações, missas e memória. Já neste domingo (27), uma nova celebração será realizada na Praça de São Pedro, presidida pelo cardeal Pietro Parolin, apontado como um dos favoritos ao papado.

Nos bastidores do Vaticano, os olhos já se voltam para o próximo conclave. A data ainda será anunciada, mas deve ocorrer entre os dias 6 e 11 de maio. Até lá, 119 cardeais com menos de 80 anos têm a missão de discernir não apenas um novo líder, mas também um novo rumo para a Igreja de 1,4 bilhão de fiéis.

Uma ausência que fala

No entanto, antes das decisões, é o tempo do silêncio. O tempo da ausência que fala. O mundo católico se despede de um papa que rejeitou os palácios, enfrentou escândalos, acolheu migrantes e falou sobre mudanças climáticas, desigualdade, hipocrisia e abuso com a autoridade moral de quem, mesmo com dores no corpo e resistências internas, nunca deixou de ser pastor.

Hoje, o ccaixão de Francisco se fechou. Mas o legado permanece aberto — como Evangelho vivo.

*com informações do Vatican News.

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