Sob o olhar do Espírito Santo: entre promessas e poderes, o Vaticano escolhe seu novo Papa
Por Ronald Stresser, com informações do The Independent e Catholic News.A fumaça branca ainda não subiu aos céus de Roma, mas dentro das paredes silenciosas da Capela Sistina, o futuro da Igreja Católica começa a tomar forma. Com a morte de Francisco — o Papa que conquistou corações com sua voz mansa e gestos de ternura —, a Igreja Católica se vê novamente diante de um momento solene e delicado. Entre os afrescos eternos da Capela Sistina, sob o peso silencioso de séculos de fé, os cardeais caminham com passos lentos, como quem carrega nas costas não apenas votos, mas o futuro de milhões de almas espalhadas pelo mundo. Cada prece murmurada, cada olhar trocado, carrega em si o eco de fronteiras rompidas, de idiomas diferentes, de esperanças tão antigas quanto novas.
O favorito silencioso: Pietro Parolin
Aos 70 anos, o cardeal italiano Pietro Parolin carrega a serenidade de quem conhece o intricado jogo da diplomacia vaticana. Desde 2013 à frente da Secretaria de Estado — o cargo mais alto depois do Papa — Parolin viu de perto os últimos anos conturbados de Francisco, lidando com guerras, crises migratórias e debates internos sobre o futuro da fé.
De fala calma e gestos medidos, Parolin nunca foi de levantar bandeiras ideológicas. Em tempos de polarização, seu estilo moderado é visto como uma ponte possível entre conservadores e progressistas dentro da Igreja. "Ele é conhecido por todos, nunca fez inimigos e conhece cada engrenagem da Cúria", confidenciou ao jornal inglês The Independent, um influente insider do vaticano.
Mas ser o favorito pode ser, paradoxalmente, uma armadilha. A tradição lembra: quem entra Papa no conclave, sai cardeal. Mesmo assim, poucos duvidam da força de Parolin. Seu nome ressoa como a escolha segura, a aposta que pode oferecer à Igreja estabilidade e voz firme num mundo cada vez mais inquieto.
O inesperado herói: Pierbattista Pizzaballa
Se Parolin representa o "establishment", Pizzaballa é o rosto fresco de uma esperança que brota do inesperado. Aos 60 anos, o Patriarca Latino de Jerusalém é, de longe, o mais jovem dos papáveis. E talvez o mais corajoso.
Em outubro passado, enquanto bombas explodiam no Oriente Médio, Pizzaballa fez um gesto que correu o mundo: ofereceu-se como refém no lugar de crianças israelenses sequestradas pelo Hamas. Um ato de bravura e amor cristão que emocionou o próprio Francisco — dizem fontes próximas que o Papa falava com ele quase diariamente.
Mais do que um homem de ação, Pizzaballa é também um intelectual respeitado: um profundo conhecedor da Bíblia, um diplomata nato em meio ao solo sempre instável da Terra Santa. Seu nome começou a circular nos corredores do Vaticano como uma alternativa ousada, capaz de unir fé e ação num momento em que a Igreja busca resgatar sua autoridade moral.
Escolher Pizzaballa seria mais do que um gesto interno — seria uma mensagem ao mundo: a Igreja está disposta a caminhar junto com os povos oprimidos, dialogar com as diferenças e carregar no peito a cruz da justiça.
Entre tradição e mudança
O conclave segue sob absoluto sigilo. Não há entrevistas, celulares ou qualquer comunicação com o mundo exterior. Apenas orações, votações e a esperança de que o Espírito Santo guie as mãos daqueles homens que, por alguns dias, carregam nos ombros o peso de dois mil anos de história.
Entre os favoritos também surgem outros nomes de peso, como o conservador húngaro Peter Erdo, o progressista maltês Mario Grech, o africano Peter Turkson e o filipino Luis Antonio Tagle. Cada um, a seu modo, carrega uma visão para a Igreja pós-Francisco.
Mas é nos rostos de Parolin e Pizzaballa que muitos olhos se fixam agora — um, o diplomata veterano; outro, o pastor corajoso. Tradição e renovação, sabedoria e bravura, cautela e esperança.
Quando a fumaça branca finalmente se erguer sobre a Praça São Pedro, trazendo consigo a alegria do Habemus Papam, saberemos se os cardeais optaram pela segurança de quem já domina os bastidores ou pela ousadia de quem carrega no peito as dores e as esperanças do mundo.
Até lá, resta-nos rezar. E esperar.


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