sexta-feira, 25 de abril de 2025

Degradação da floresta amazônica aumenta 329%

Entre a queda e o fogo: Amazônia vira campo de batalha climática sob Lula e Bolsonaro

Por Ronald Stresser*

 
© Marizilda Cruppe / Greenpeace
 

No coração verde do planeta, um paradoxo ecoa pela floresta: a Amazônia desmata menos, mas arde mais. Em 2024, os olhos atentos dos satélites registraram um recuo tímido de 7% no desmatamento — 3.739 km² contra 4.030 km² em 2023 — mas testemunharam um salto estarrecedor de 497% na degradação florestal, com mais de 36 mil km² afetados por queimadas e extração predatória. É o maior índice dos últimos 15 anos.

Enquanto o governo Lula celebra a reversão da tendência devastadora deixada por Jair Bolsonaro, a floresta parece respirar com dificuldade, sufocada por incêndios, estresse hídrico e políticas que, mesmo bem-intencionadas, ainda deixam buracos abertos por onde escapa a biodiversidade. A retórica de proteção avança, mas a prática esbarra em contradições. 

A crítica veio, como de costume, por onde ninguém pediu — Jair Bolsonaro voltou às redes para atacar os "silêncios seletivos" da comunidade internacional. "Se fosse no meu governo, estariam pedindo sanções e intervenção da OTAN", escreveu, ao comentar a construção de uma rodovia na Amazônia para facilitar o trânsito de autoridades durante a COP30, marcada para novembro em Belém. “A pegada de carbono cheira melhor quando é da esquerda?”, ironizou.

O ex-presidente tem seus próprios esqueletos de carbono no armário. Sob seu mandato, o desmatamento atingiu picos históricos: em 2022, a Amazônia perdeu 10.362 km² de floresta — quase três vezes mais que em 2024. Foram anos de desmonte ambiental, sucateamento dos órgãos de fiscalização e incentivo tácito (ou explícito) à ocupação ilegal de terras públicas.

Mas os números recentes mostram que nem tudo se resolveu com a mudança de governo. A degradação florestal — diferente do desmatamento, por não remover totalmente a vegetação, mas comprometer a floresta com queimadas e exploração seletiva — explodiu em estados como Roraima, com aumento de 17.550%, e Mato Grosso, que registrou alta de 767%.

O Pará continua no topo do ranking da destruição pelo nono ano consecutivo. Em 2024, perdeu 1.260 km² para o desmate e impressionantes 17.195 km² para a degradação — território maior que o estado de Sergipe. É também em solo paraense que ficam os municípios mais devastados, como São Félix do Xingu e Altamira, e as terras indígenas mais pressionadas, como a Kayapó, onde 4.928 km² de floresta foram degradados.

“O que mais nos preocupa é que a degradação se dá de forma sorrateira, silenciosa, mas é tão ou mais nociva que o desmatamento. Ela fragiliza a floresta, expõe a fauna, seca os rios e acelera as mudanças climáticas”, alerta Carlos Souza, coordenador do Programa de Monitoramento do Imazon.

O agravante é que boa parte dessa destruição ocorre em áreas teoricamente protegidas — terras indígenas e unidades de conservação. A APA Triunfo do Xingu, por exemplo, perdeu mais de 1.400 km² para a degradação só em 2024.

E há ainda o fator climático: dois anos consecutivos de seca extrema fizeram da Amazônia uma bomba-relógio ambiental. “A floresta virou combustível seco. Até áreas úmidas, antes intocáveis pelo fogo, foram atingidas”, explica a pesquisadora Larissa Amorim. Segundo ela, as emissões de carbono provocadas pelas queimadas em 2024 superaram as do próprio desmatamento.

Enquanto isso, o tempo corre. Os primeiros meses de 2025, marcados pelas chuvas do chamado “inverno amazônico”, oferecem uma rara trégua. Uma chance de respirar, planejar e agir.

Mas o desafio é político, econômico e moral. Passa por combater o garimpo ilegal, restaurar o poder do Ibama, proteger comunidades tradicionais e, sobretudo, encarar a floresta não como obstáculo ao desenvolvimento, mas como a última fronteira de equilíbrio climático do planeta.

Comparar Lula e Bolsonaro na Amazônia é como medir a febre de um paciente grave: um deu 42°C, o outro, 39°C. Ambos adoeceram a floresta, ainda que por vias diferentes. Agora, mais do que olhar o termômetro, é hora de começar a cura.

*com informações do IMAZON.

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