Um despertar às cegas: apagão paralisa Portugal, Espanha e parte da Europa
Por Ronald Stresser*Copyright AP Photo |
Ainda era madrugada para muitos. Em Lisboa, alguns cafés começavam a acender suas luzes, os primeiros bondes cortavam a névoa suave sobre o Tejo e nos aeroportos o burburinho de malas anunciava mais um dia comum. Até que, num estalo silencioso, tudo parou.
De Lisboa a Madrid, passando por Barcelona, Sevilha e chegando a pedaços da França e da Itália, um apagão generalizado mergulhou milhões de europeus na escuridão nesta segunda-feira (28/4). As luzes se apagaram, os celulares ficaram mudos, os metrôs pararam nos trilhos e os aeroportos transformaram-se em vastos salões de espera, sem informações, sem voos, sem destino.
Na Espanha, o Aeroporto de Barajas, em Madri, continuava sem energia horas após a primeira falha. O metrô de Valência suspendeu todas as operações, enquanto em Barcelona, Pamplona e Sevilha a rotina parecia um filme de suspense: trens parados, lojas fechadas, semáforos apagados e o trânsito se transformando rapidamente em caos.
"Foi como se o tempo tivesse congelado", relatou Marta Jiménez, 34 anos, recepcionista de um hotel no centro de Madrid. "De repente, tudo ficou preto. Não havia nem sinal de telefone. Tentávamos nos comunicar batendo na porta de outros quartos."
A rede elétrica espanhola, Red Eléctrica, revelou que a queda de energia foi brusca, quase instantânea. Técnicos de emergência foram mobilizados para tentar restaurar o fornecimento, numa corrida contra o tempo que ainda nesta manhã de segunda-feira parecia longe de ter um final certo.
Em Lisboa, a situação não foi diferente. Cafés esvaziados, supermercados fechados, hospitais funcionando à base de geradores. "A gente fica à mercê. Sem energia, sem informação. A sensação é de vulnerabilidade total", desabafou Pedro Moura, taxista, que ficou preso no trânsito logo depois que os semáforos apagaram no centro da cidade.
As autoridades portuguesas cogitam que o apagão possa ter sido provocado por um ciberataque — uma hipótese ainda não confirmada, mas que já levou o governo a montar um grupo de trabalho de emergência para acompanhar os desdobramentos. "Terá sido, aparentemente, um problema na rede de transporte, cuja razão ainda está a ser identificada, aparentemente, em Espanha", declarou o ministro da Presidência de Portugal, António Leitão Amaro, à agência Lusa.
Enquanto técnicos tentam entender o que causou a falha colossal — e se de fato houve um ataque cibernético —, a Europa vive, mais uma vez, a fragilidade do seu próprio sistema interconectado. Bastou um único ponto falhar para que grandes cidades ficassem reféns da escuridão, lembrando que, no fim, a complexidade que sustenta a vida moderna é, paradoxalmente, sua maior vulnerabilidade.
À medida que o sol avançava, os europeus tentavam retomar alguma normalidade, mas o clima era de incerteza. E, nas ruas, pairava uma pergunta silenciosa: "Se um apagão assim pode acontecer num dia qualquer, o que mais pode vir?"
*com informações da Agência Lusa.
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