sábado, 31 de maio de 2025

Itaipu: a energia que move pessoas

Por trás das turbinas, um projeto de país que transcende fronteiras e ideologias

Por Ronald Stresser, para o Sulpost*

 
Escolha técnica: diretoria de Itaipu, nomeada pelo presidente Lula em 28/03/2023. Competência, compromisso e humanidade - Rafa Kondlatsch/Itaipu Binacional
 

Na fronteira onde Brasil, Paraguai e Argentina se encontram, pulsa um coração que não apenas ilumina casas, mas também acende esperanças. Ali, entre as curvas do Rio Paraná, Itaipu Binacional segue fazendo história. Não só pelos recordes impressionantes — como o que a colocou no Guinness como a maior geradora de energia limpa do planeta — mas pelo que representa na vida real das pessoas.

Sob a condução serena e firme do economista Enio Verri e de uma diretoria que alia competência técnica a um olhar humano, a usina mostra que é possível produzir em larga escala sem agredir o mundo à nossa volta. Mais do que uma potência energética, Itaipu vem se tornando um símbolo de transformação concreta: social, ambiental e econômica. Um exemplo de que progresso de verdade é aquele que chega à ponta, que muda vidas, que respeita a natureza e que abraça comunidades inteiras com dignidade.

Desde março de 2023, quando assumiu a direção-geral brasileira da binacional, Verri tem mostrado que é possível conciliar produção em larga escala de energia com o compromisso com as pessoas. E não apenas com os mais de 20 milhões de brasileiros que recebem eletricidade a preços acessíveis graças à Itaipu. Mas também com aqueles que vivem nas cidades da região trinacional, muitas vezes esquecidas pelos grandes projetos nacionais.

“A Itaipu é hoje a grande bateria do Brasil”, declarou Verri em entrevista ao programa A Voz do Brasil. “Mas queremos que ela seja também o coração de um novo modelo de desenvolvimento regional, trinacional, sustentável e inclusivo.”

Essa visão tem ganhado forma concreta por meio de um ambicioso Plano de Desenvolvimento Econômico da Região Trinacional, elaborado em parceria com a sociedade civil, representada por instituições como a ACIFI, o Codefoz e o Codetri. O ponto de partida foi um estudo detalhado — o Foz em Números — que radiografou o potencial de 11 municípios em um raio de 50 quilômetros de Foz do Iguaçu, abrangendo cidades brasileiras, paraguaias e argentinas. Juntas, essas cidades somam um PIB de R$ 82 bilhões e uma população que rivaliza com a de várias capitais brasileiras.

Mas números, por si só, não mudam vidas. O que tem feito a diferença é a disposição de ouvir, planejar e agir. Enio Verri tem promovido o diálogo entre governos, empresas, universidades e a população local. “Precisamos olhar para 2050 e nos perguntar: que tipo de desenvolvimento queremos? Que matriz econômica queremos construir juntos?”, questiona o diretor.

A fórmula do desenvolvimento regional não se escreve apenas com números — embora os números impressionem. Foz do Iguaçu, por exemplo, viu sua economia dar um salto de 183% em apenas uma década, superando com folga os índices estaduais e nacionais. Mas por trás desse crescimento estão pessoas. Está o comerciante que legalizou seu pequeno negócio. Está o jovem que trocou o trabalho informal por um emprego com carteira assinada. Está a mãe que viu a escola dos filhos melhorar e o posto de saúde funcionar. Esse avanço foi possível porque a cidade — e a região ao redor — decidiu acreditar que é possível crescer com responsabilidade. Investiu em turismo de verdade, educação de qualidade, saúde acessível, rotas logísticas inteligentes e uma economia que convida todos a participar, de forma justa e regularizada. É assim que o desenvolvimento deixa de ser discurso e passa a ser realidade.

Não por acaso, até mesmo adversários políticos têm encontrado na Itaipu um terreno comum. Recentemente, o prefeito de Foz, Joaquim Silva e Luna (PL), visitou Enio Verri (PT) para discutir projetos para a cidade. A cordialidade institucional deu lugar a algo ainda mais raro: o reconhecimento mútuo em nome do bem comum. “A Itaipu é um verdadeiro ministério em Foz do Iguaçu”, afirmou o prefeito, ao agradecer pelos investimentos sociais e em habitação. Um gesto que diz muito sobre o novo espírito que sopra sobre a fronteira.

O plano trinacional prevê ainda a criação de uma agência de desenvolvimento econômico, uma usina de projetos e um escritório de atração de investimentos — ferramentas que podem revolucionar a forma como se pensa o futuro da região. Tudo isso sem perder de vista o compromisso ambiental. Afinal, Itaipu não é apenas fonte de energia elétrica; é também guardiã de reservas ambientais, parceira da agricultura sustentável e símbolo de uma economia verde que o mundo inteiro precisa aprender a construir.

É nesse espírito de compromisso com as pessoas e com o futuro que o diretor de Coordenação da Itaipu, Carlos Carboni, tem conduzido um trabalho silencioso, mas profundamente transformador. Ao ampliar a área de atuação da usina para todos os 399 municípios do Paraná, Carboni reforça o papel de Itaipu como uma força viva, que pulsa junto das comunidades e não se limita às margens do rio que lhe dá nome.

Mais do que infraestrutura, o que se constrói é consciência. Foi ele quem trouxe ao centro do debate a urgência climática que já afeta, de forma desigual, quem planta, colhe e põe comida na mesa do brasileiro. Ao promover a palestra “Mudanças Climáticas e Impactos na Agricultura Familiar”, ministrada pelo geógrafo Andrei Cornetta, Itaipu estendeu a mão aos pequenos produtores — aqueles que sentem primeiro e mais intensamente os efeitos da seca, das chuvas fora de hora, das estações desreguladas. Como lembrou o especialista, pensar em políticas de adaptação territorial é garantir não só alimentos, mas dignidade no campo. E Carboni sabe: em tempos de crise climática, agir com lucidez e solidariedade é tão urgente quanto produzir energia.

Hoje, quando o sol se põe e o vento cessa, é a energia firme de Itaipu que garante que a luz continue acesa. Mas talvez a maior luz que a usina projeta seja mesmo a que ilumina consciências: a de que é possível, sim, fazer política pública com competência técnica, eficiência ecológica e sensibilidade humana.

E se Itaipu já foi símbolo de integração binacional, agora começa a se tornar símbolo de algo ainda maior: uma integração humana e fraterna, que supera fronteiras, ideologias e diferenças. Porque energia, no fim das contas, é isso: potência para transformar. E Itaipu, sob a liderança de Enio Verri, tem mostrado que sabe transformar — com dignidade, com coragem e com o povo no centro de tudo.

*com informações da EBC.

sexta-feira, 30 de maio de 2025

Marizele e Marisa, as freiras do Paraná que estão conquistanfo o mundo

Elas dançam, cantam e encantam: freiras brasileiras conquistam o mundo com beatbox e fé

Por Ronald Stresser, da redação.
 
 

No palco do programa "Família de Amor", transmitido por uma emissora católica brasileira, o que era para ser apenas uma apresentação simples acabou se transformando em um fenômeno global. Freiras de hábitos tradicionais, sim, mas com uma energia que rompe qualquer estereótipo, as irmãs Marizele Rego, 46, e Marisa Neves, 41, da Congregação Copiosa Redenção, protagonizaram uma performance tão inusitada quanto carismática: beatbox, dança e vocação religiosa em perfeita harmonia.

A cena parece saída de um roteiro de filme. E, de certa forma, é mesmo — só que da vida real. No vídeo que já ultrapassou milhões de visualizações nas redes sociais, Marizele faz beatbox com destreza enquanto Marisa dança um passinho no melhor estilo TikTok, tudo ao som da música “Vocação de amar e servir”, hino vocacional da congregação. O público da plateia se entrega, os apresentadores do programa se emocionam e, em segundos, a internet faz o que sabe fazer de melhor: viraliza.

A repercussão foi tanta que o vídeo chegou aos Estados Unidos, apareceu em programas como “The Today Show” (NBC) e foi destaque em veículos como New York Post, BBC, CNN, Euronews e NBC News. Mas o momento mais surreal dessa jornada digital veio quando a atriz Whoopi Goldberg, estrela dos filmes Mudança de Hábito, reagiu ao vídeo com emoção e bom humor.

“É um ‘Mudança de Hábito’ da vida real!”, brincou Whoopi em suas redes sociais, relembrando a personagem irreverente que interpretou nos anos 90, a inesquecível irmã Mary Clarence. “Sempre que você pode louvar ao Senhor com alguma música e fazer o que você faz, acho que é um bom sinal!”, completou a atriz, que tem 68 anos e se declarou tocada pela autenticidade e fé das religiosas brasileiras.

O gesto de Whoopi não passou despercebido no Brasil. As irmãs ficaram surpresas com o alcance da repercussão e, com a simplicidade que lhes é característica, receberam a homenagem como um sinal de que vale a pena usar criatividade para evangelizar. “A música é um caminho que toca os corações. Nosso objetivo é falar da vocação de forma leve, acessível e alegre”, afirmou Marizele em suas redes sociais.

A performance das irmãs no programa da TV Pai Eterno também tinha um propósito específico: divulgar um Retiro Vocacional Feminino que aconteceu no dia 25 de maio em Trindade (GO), cidade conhecida por atrair milhares de fiéis todos os anos. O evento reuniu jovens interessadas em conhecer mais sobre a vida religiosa, e a ação das freiras provou que, sim, é possível falar de fé no ritmo do beat.

A origem musical de Marizele ajuda a explicar sua desenvoltura: “Meu avô era violeiro. A música está presente na minha vida desde cedo”, contou. Já Marisa, com seu gingado tímido mas cativante, encantou ainda mais ao mostrar que, mesmo com os pés no chão e os votos de pobreza, castidade e obediência, é possível dançar — e dançar bonito.

Ambas atuam na promoção vocacional da Congregação Copiosa Redenção, com sede em Ponta Grossa (PR), e vêm inovando na missão de se aproximar das juventudes. Com um celular na mão e um coração generoso, transformam vídeos em pontes de empatia, fé e acolhimento.

O carisma das duas religiosas rompeu fronteiras não apenas geográficas, mas culturais. Em um tempo de descrença e desânimo, elas nos lembram que a vocação — seja religiosa ou não — pode (e talvez deva) vir acompanhada de leveza, arte e verdade.

Na internet, o vídeo segue rodando o mundo. E no coração de quem assiste, ecoa uma certeza: fé com alegria é contagiante.


Curitiba, cidade modelo do estado que é exemplo para o Brasil

Capital paranaense é eleita como tendo a melhor em qualidade de vida entre os grandes municípios brasileiros, segundo o IPS 2025

Por Ronald Stresser*

 
 

No pedaço leste do Paraná, o estado que alimenta o Brasil com sua força agrícola, uma cidade conhecida por pensar o futuro sem abrir mão da qualidade de vida acaba de escrever mais um capítulo de orgulho na sua história. Curitiba, com seu clima ameno, ruas arborizadas, transporte público que serve de exemplo e políticas ambientais à frente do tempo, foi escolhida como a capital brasileira com a melhor qualidade de vida entre os grandes centros urbanos — aqueles com mais de 500 mil habitantes.

O reconhecimento veio com selo oficial: é o resultado do Índice de Progresso Social 2025 (IPS2025), divulgado nesta quinta-feira (29/5) pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). E não se trata de um elogio vazio — os dados falam por si. A cidade foi avaliada com base em dezenas de indicadores que medem o bem-estar de quem vive ali. É, portanto, uma vitória construída com trabalho, planejamento e decisões que priorizam o coletivo, mesmo diante das limitações que toda gestão pública enfrenta. “Este resultado em uma pesquisa tão detalhada como é o IPS traduz em números o que é a vida na nossa cidade”, celebrou o prefeito Eduardo Pimentel, ao comentar a nova colocação de Curitiba no ranking nacional.

A vida que os números revelam

O IPS, um dos estudos mais abrangentes do país, avalia todas as cidades brasileiras com base em 57 indicadores sociais e ambientais, divididos em três grandes dimensões: Necessidades Humanas Básicas, Fundamentos do Bem-estar e Oportunidades. É um retrato que vai além do PIB, olhando para acesso à saúde, saneamento, moradia, educação, segurança, meio ambiente, direitos e liberdades civis.

Curitiba não só liderou entre os grandes municípios como também saltou para a 12ª colocação nacional, entre todos os 5.570 municípios brasileiros. No Paraná, ficou em primeiro lugar entre as 399 cidades do estado. O índice da capital foi de 69,89 pontos, bem acima da média nacional (61,96) e também da média paranaense (63,83).

Mas o destaque mais vibrante veio na categoria Qualidade do Meio Ambiente, onde Curitiba brilhou com 73,41 pontos, consolidando pelo segundo ano consecutivo o 1º lugar nacional. O número traduz, por exemplo, os impressionantes 68 metros quadrados de área verde por habitante — um dado raro em centros urbanos de grande porte — e o baixo índice de vulnerabilidade climática, cada vez mais relevante em tempos de emergência climática.

Muito além do verde

Embora o imaginário coletivo associe Curitiba a parques e jardins — o que não deixa de ser verdade — o bom desempenho da cidade foi além das áreas verdes. O relatório também destacou a capital em mais quatro das doze categorias avaliadas, colocando-a entre as 50 melhores cidades do país em temas como:

  • Direitos Individuais (16º lugar)
  • Liberdades Individuais e de Escolha (16º lugar)
  • Acesso ao Ensino Superior (21º lugar)
  • Acesso à Comunicação e Informação (50º lugar)

Esses resultados refletem políticas públicas recentes que têm buscado equilibrar desenvolvimento urbano e inclusão social. A gestão municipal cita como marcos o Vale-Creche, que amplia o acesso à educação infantil; o Tarifa Zero a Caminho do Emprego, que facilita o deslocamento de trabalhadores em busca de oportunidades; e a requalificação do centro histórico com o programa Curitiba de Volta ao Centro.

Além disso, novas unidades habitacionais foram entregues no Bairro Novo da Caximba, a frota de ônibus ganhou reforço com veículos novos e sustentáveis, e os investimentos em eletromobilidade mantêm a cidade como uma referência nacional em transporte público.

Dois prêmios em um mês

O IPS2025 é o segundo estudo a destacar Curitiba em menos de um mês. No início de maio, a cidade já havia liderado outro levantamento, desta vez da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), que apontou a capital como a número um do Brasil em desenvolvimento socioeconômico, com os melhores índices de emprego e renda entre todas as capitais brasileiras.

Esses reconhecimentos somam-se a uma reputação construída ao longo de décadas — mas que, em tempos recentes, parece ter ganhado fôlego renovado. A valorização do meio ambiente, a aposta em políticas sociais, o foco em mobilidade sustentável e uma gestão que busca eficiência têm colocado Curitiba como uma vitrine de boas práticas urbanas.

Uma cidade que inspirapp

Em um país marcado por profundas desigualdades regionais e urbanas, a liderança de Curitiba no Índice de Progresso Social reforça uma mensagem importante: é possível crescer de forma sustentável e humana ao mesmo tempo.

E para os mais de 1,7 milhão de curitibanos, que todos os dias enfrentam os altos e baixos da vida urbana, os dados do IPS talvez não tragam surpresa. Eles apenas confirmam, com rigor técnico e números precisos, aquilo que já se sente nas ruas, nas praças e nas janelas da cidade linda de viver.

*com informações do Imazon, Firjan e PMC

quinta-feira, 29 de maio de 2025

Elon Musk abandona o governo Trump e escancara crise de confiança na Casa Branca

Bilionário mais influente da gestão Trump deixa o cargo com críticas veladas e prejuízo bilionário nos próprios negócios. Washington assiste a um presidente cada vez mais isolado e errático

Por Ronald Stresser*

 
Elon Musk e Donald Trump - 11/02/2025 - REUTERS/Kevin Lamarque
 

O fim era previsível. Ainda assim, o anúncio de Elon Musk, feito na noite de quarta-feira (28), marca mais do que a saída de um bilionário do governo. É um ponto de inflexão — talvez o mais simbólico — da fase mais conturbada da nova gestão Donald Trump. A ruptura entre o presidente e o homem que doou US$ 280 milhões à sua campanha, dormia na Casa Branca e frequentava reuniões do alto escalão como se fosse chefe de Estado, evidencia um desgaste que vinha sendo mascarado por sorrisos diplomáticos e tweets ensaiados.

“Meu tempo programado como Funcionário Especial do Governo chega ao fim”, escreveu Musk na rede X, num tom que misturava gratidão formal a um certo alívio contido. O que não disse, mas todos em Washington sabiam, é que a relação já vinha ruindo há semanas. Nos bastidores, Musk estava cada vez mais desconfortável com decisões políticas que julgava ruins para o país — e catastróficas para seus próprios negócios.

A crítica mais pública foi ao novo projeto de lei orçamentária aprovado por Trump na Câmara, que ele acusou de aumentar “irresponsavelmente” o déficit federal, contrariando tudo o que o próprio Musk dizia defender à frente do recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE).

Um poder paralelo

A presença de Musk no governo sempre foi vista como insólita — e incômoda. Apesar de não ocupar um cargo formalmente eleito ou nomeado com aprovação do Congresso, o bilionário tinha status de superministro. Tinha escritório na Ala Oeste, acesso direto ao presidente e, por vezes, dormia na Casa Branca em quartos reservados a assessores de altíssimo escalão.

Com o DOGE, ganhou carta branca para cortar gastos públicos, extinguir agências e demitir servidores. Em quatro meses, cerca de 260 mil funcionários federais foram desligados. A Agência de Ajuda Humanitária dos EUA foi desmantelada. Missões diplomáticas com foco em direitos humanos, também. E tudo isso foi vendido como “eficiência”.

Economistas, no entanto, contestam os números. Dos US$ 2 trilhões prometidos em cortes, apenas US$ 175 bilhões teriam sido efetivamente economizados — valor questionável, pois inclui rescisões milionárias e indenizações. “A máquina estatal está mais frágil, menos transparente e longe de mais barata”, avalia a economista-chefe do Brookings Institute, Laura Barnes.

O bilionário que virou problema

Na prática, Musk se tornou um problema para Trump. Internamente, aliados do presidente reclamavam do que chamavam de “excesso de autonomia”. Externamente, a imagem de que quem mandava era o bilionário ganhou corpo. A capa da Time com Musk à mesa do Salão Oval foi o estopim. O presidente, segundo fontes da Casa Branca ouvidas pela coluna de Paulo Cappelli, nunca digeriu bem a ideia de dividir os holofotes.

As tensões aumentaram à medida que as decisões políticas passaram a afetar diretamente os negócios de Musk. A Tesla viu seu lucro despencar 70% no primeiro trimestre de 2025. A rede X (ex-Twitter) enfrentou falhas graves e perda de anunciantes. A SpaceX teve contratos suspensos após atritos com o Departamento de Defesa.

O homem mais rico do mundo, com histórico de ego inflado e decisões impulsivas, passou então a sinalizar o desembarque. Primeiro, sumiu dos discursos de Trump. Depois, deixou de comparecer às reuniões do gabinete. Por fim, comunicou oficialmente sua saída, com a justificativa de que precisava cuidar das empresas — agora, em crise.

Trump acuado, América incerta

A saída de Musk representa mais que uma perda de peso no staff presidencial. É um sintoma de um governo cada vez mais errático, isolado e autorreferente. Com menos de cinco meses de mandato, Trump já perdeu boa parte da coalizão que o elegeu. O Congresso está dividido, a economia desacelera, e aliados internacionais — inclusive Israel e Reino Unido — têm demonstrado desconforto com o rumo da política externa americana.

Donald Trump parece estar, como dizem os analistas mais ácidos, “perdendo a mão”. A retórica agressiva, os ataques às instituições e a insistência em medidas impopulares já não colam como antes. Nem entre os bilionários que o bancaram.

Musk, ao menos por enquanto, volta ao mundo corporativo, prometendo “trabalhar sete dias por semana” para salvar seu império. Mas sua saída não fecha as feridas que ajudou a abrir em Washington — e talvez tenha inaugurado uma nova temporada de instabilidade que nem mesmo a fortuna de seus ex-aliados poderá conter.

*com informações do The New York Times, Forbes e coluna do jornalista Paulo Cappelli.

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Itaipu testa com sucesso retomada de energia em caso de apagão

Itaipu comprova capacidade de restabelecer energia em caso de apagão no sistema

Por Ronald Stresser*

 
Profissionais da Itaipu em ação no teste de black start, na Sala de Controle Central (CCR) - Foto: William Brisida
 

A segunda maior usina hidrelétrica do mundo, Itaipu, localizada na fronteira entre Brasil e Paraguai, realizou domingo passado (25) um teste de black start no setor de 60 Hz, comprovando sua capacidade de retomar o fornecimento de energia, de forma autônoma, em caso de apagão. A operação simulou uma perda total de conexão com o sistema elétrico nacional, com o desligamento controlado de quatro das 20 unidades geradoras (U10 a U13) e de equipamentos auxiliares. O procedimento durou 25 minutos e não afetou os sistemas elétricos dos dois países.

A ação integra a primeira etapa do plano de recomposição da usina, que seria acionado em um cenário real de falha total. Segundo o gerente de Operação da Usina e Subestações, Cláudio Costa, o maior desafio nesse tipo de situação é garantir rapidez e segurança na retomada da geração. “A ideia é que tudo seja o mais real possível, incluindo o envolvimento indireto de outros setores da usina nas fases de planejamento e programação, e do ONS, necessários neste tipo de operação”, afirmou.

A Itaipu conta com geradores a diesel na Casa de Força, permitindo religar suas unidades sem depender de fontes externas. Essa autonomia garante uma recomposição energética segura e eficaz até a Subestação de Foz do Iguaçu, da Eletrobras, etapa que encerra a responsabilidade direta da usina.

Participaram do teste 12 profissionais brasileiros e paraguaios, que atuam na Sala de Controle Central (CCR) e na sala de Despacho de Carga. As equipes passam por treinamentos constantes e seguem normas operativas rigorosas. Segundo Costa, a energia gerada pelas quatro unidades envolvidas seria suficiente para abastecer completamente cidades como Belo Horizonte, Campinas ou o Rio de Janeiro, ou parcialmente uma metrópole como São Paulo, atendendo cerca de 6 milhões de pessoas.

A manobra do dia 25 de maio se soma a outro teste semelhante realizado em 27 de abril, no setor de 50 Hz, que atende o Paraguai. Ambos confirmaram a capacidade de autorrestabelecimento da usina em menos de meia hora. Em 2024, Itaipu foi responsável por 7% da demanda elétrica brasileira e 78% da paraguaia, consolidando-se como uma infraestrutura essencial para a segurança energética da região.

*com o informações da assessoria de imprensa da Itaipu Binacional.

O que é a R-100, a placa do círculo vermelho?

Nova placa R-100: o alerta visual que pode salvar vidas. Reportagem especial do blog Sulpost sobre a sinalização que proíbe completamente o trânsito de veículos automotores — e por que ela ainda não é usada no Brasil

 
 

Por enquanto, ela parece uma intrusa nas ruas brasileiras. Branca, circular, com uma borda vermelha e sem nenhum símbolo no centro. A placa R-100 é direta no que diz — ainda que silenciosamente: proibida a circulação de veículo automotor. Mas, ao contrário do que muitos motoristas podem pensar, ela não é um erro de impressão, tampouco uma brincadeira de mau gosto. É uma placa real, adotada em diversos países do mundo — menos no Brasil.

E isso, talvez, ajude a explicar por que tanta gente ainda insiste em passar com motocicletas, carros ou bicicletas motorizadas por áreas onde claramente não deveria estar.

A placa que diz tudo... sem dizer nada

A lógica da sinalização viária é a de comunicar com clareza, sem ambiguidade. As placas regulamentares, como essa, são feitas para dizer o que pode e o que não pode. E, nesse caso, o recado da R-100 é um dos mais importantes: “Nenhum veículo motorizado a partir daqui.”

O diferencial é que ela não traz ícones ou palavras. Sua simplicidade é sua força — e também o que a torna um desafio em locais onde o hábito é esperar símbolos explícitos.

Ao ver uma R-100, a orientação internacional é simples: o motorista deve parar imediatamente e procurar outra rota. A ideia por trás disso é garantir zonas de pedestres, preservar centros históricos, proteger áreas sensíveis do ponto de vista ambiental ou simplesmente assegurar um espaço de convivência livre de motores.

Por que ela ainda não chegou ao Brasil?

Apesar de já ser adotada em muitos países europeus e latino-americanos, a R-100 ainda não consta nas normas do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), que padroniza as placas usadas no Brasil. Por aqui, usamos a placa R-10 para sinalizar a proibição de veículos automotores. Ela tem um desenho de um carro no centro e cumpre bem seu papel — mas nem sempre.

Na prática, muitas vezes a R-10 é ignorada por quem acredita que "só está de passagem" ou "só vai rapidinho ali". E aí está o problema: o desrespeito a esse tipo de sinalização é mais comum do que se imagina, especialmente em áreas turísticas, vias estreitas de bairros residenciais e ciclovias.

E como não existe um modelo único para proibir tudo, acabam surgindo dúvidas — e infrações.

Um convite à reflexão (e à ação)

Talvez esteja na hora de o Brasil repensar sua sinalização. A adoção da R-100 por aqui poderia ser um passo simples, mas poderoso, para deixar mais claro onde veículos motorizados realmente não podem passar. Uma sinalização mais universal, mais direta e menos passível de interpretação errada.

É comum ver placas R-10 sendo ignoradas por desavisados em bicicletas elétricas ou scooters que alegam "não serem veículos automotores" no sentido estrito da palavra. Outros ainda pensam que a regra não se aplica porque estão empurrando a moto, e não pilotando. A R-100, nesse contexto, seria como fechar uma porta que ainda está entreaberta.

Cabe agora às autoridades de trânsito, ao Congresso Nacional e aos especialistas em mobilidade urbana avaliarem a possibilidade de incluir esse modelo em nosso sistema de sinalização. Mais do que uma nova placa, trata-se de um novo olhar sobre o uso dos espaços urbanos — um olhar que priorize a convivência segura, o respeito às regras e o direito de todos à cidade.

Afinal, o silêncio da R-100 fala mais alto do que muita buzina por aí.

quarta-feira, 28 de maio de 2025

O julgamento de Bretas e o crepúsculo da Lava Jato

CNJ escancara suposto conluio de Bretas com MPF, perseguição a advogados e viés político: ‘Justiça não pode ser instrumento de poder’, diz relator

Por Redação Sulpost - 28 de maio de 2025*
 
Bretas e Moro durante lançamento de obra de ficção sobre a Lava Jato
 

Terça-feira que vem, 3 de junho, vai marcar a hora da verdade para juiz federal afastado das funções. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) poderá selar o destino de uma das figuras centrais da malfadada Operação Lava Jato: o juiz Marcelo Bretas. Após uma sucessão de escândalos, acusações de ativismo judicial, denúncias de conluio, abuso de autoridade, autopromoção e até possível influência eleitoral, Bretas está sendo julgado em três Processos Administrativos Disciplinares (PADs). O julgamento pode resultar em seu afastamento definitivo da magistratura.

Exonerar Bretas não é apenas uma resposta institucional. É um gesto necessário — quase simbólico — para virar a página de uma era marcada por arbitrariedades travestidas de moralidade. Para o Sulpost, que desde sua fundação rechaça os excessos da Lava Jato, a farsa montada em nome do “combate à corrupção” começa, finalmente, a se desfazer de forma oficial.

Um juiz sob suspeita

Afastado desde fevereiro de 2023, Bretas é acusado de violar frontalmente a Lei Orgânica da Magistratura, de agir com parcialidade, de negociar penas com o Ministério Público e até de atuar como coach em plena vigência do afastamento. Segundo a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), ele burlou direitos de defesa, omitiu documentos, manipulou delações premiadas e incentivou a superexposição midiática de processos.

Nada disso deveria surpreender. Marcelo Bretas era, até pouco tempo, celebrado por uma parcela da imprensa corporativa como herói nacional. No entanto, sob a toga, operava como ator político — a serviço da narrativa bolsonarista e da destruição da reputação de adversários. Assim como seu colega paranaense, o hoje senador Sérgio Moro (PL-PR), Bretas parecia mais empenhado em pavimentar uma trajetória pessoal de poder do que garantir o devido processo legal.

 
General Heleno - instigado por tentativa de golpe de Estado - posa com Bretas
 

Delações direcionadas e conchavos de bastidores

Entre os casos que pesam contra o juiz, o mais emblemático envolve a delação do ex-secretário de Obras do Rio, Alexandre Pinto. O material foi usado para tentar incriminar o então candidato Eduardo Paes, favorecendo diretamente a eleição de Wilson Witzel ao governo fluminense. O próprio delator confessou que não presenciou as supostas irregularidades atribuídas a Paes.

Outro episódio grave envolve a gravação apresentada pelo advogado Nythalmar Dias Ferreira Filho, na qual Bretas afirma que "vai aliviar" a pena de Fernando Cavendish, empresário delator da Lava Jato. Mais que palavras, o áudio revelou uma estrutura montada para manipular resultados judiciais — uma afronta direta ao princípio da imparcialidade.

Não por acaso, a irmã do juiz, Marcilene Cristina Bretas, foi nomeada para um cargo na Controladoria-Geral do Estado após a vitória de Witzel. O cruzamento entre o que deveria ser justiça e os bastidores da política estadual expôs uma promiscuidade institucional que agora vem à tona no CNJ.

Coaching, redes sociais e autopromoção

A conduta de Bretas fora dos tribunais também está sob escrutínio. Mesmo afastado do cargo, ele se apresenta nas redes como “juiz federal, palestrante e mentor”. Cobra por cursos de coaching e participa de eventos pagos onde ensina seu “Método o Quarto Poder”. Atitudes que contrariam frontalmente as resoluções do CNJ e o Código de Ética da Magistratura.

A seccional fluminense da OAB denunciou que Bretas explora sua condição de magistrado para autopromoção pessoal e ganhos financeiros, enquanto ainda está vinculado ao cargo público. Em fevereiro, o Órgão Especial do TRF-2 determinou que ele retirasse todos os cursos do ar em até 48 horas — decisão que ainda aguarda cumprimento completo.

Bretas como símbolo do bolsonarismo judicial

A crise de Bretas não é isolada. Ela dialoga com a derrocada do bolsonarismo e do projeto autoritário de poder que instrumentalizou o Judiciário como ferramenta de perseguição política. A aproximação ideológica do juiz com a extrema direita ficou evidente quando, em novembro passado, ele fez publicações nas redes sociais questionando o conceito de crime tentado, em claro tom de crítica à decisão do ministro Alexandre de Moraes, que havia determinado a prisão de golpistas ligados ao 8 de janeiro.

Essas manifestações, consideradas “dog whistles” — mensagens codificadas que incitam seguidores sem declarar abertamente intenções —, foram denunciadas pela Associação Nacional da Advocacia Criminal (Anacrim) como tentativas de minar o STF e o Estado Democrático de Direito.

 
Bretas com Bolsonaro e Hélio Lopes - investigados por tentativa de golpe de Estado

A resposta do Brasil institucional

O julgamento da próxima terça será decisivo. Os três processos que correm em sigilo tratam de condutas que, se confirmadas, tornam insustentável a permanência de Bretas no cargo. Mais do que uma questão disciplinar, o julgamento do juiz é um teste para a maturidade democrática do país e para a integridade do Judiciário.

É hora de o Brasil virar definitivamente a página da Lava Jato para pider seguir em frente. Não com revanchismo, mas com justiça. Uma justiça verdadeira, livre dos interesses políticos que a sequestraram nos últimos anos.

A eveventual condenaçaão de Marcelo Bretas representará, enfim, o início do fim do moralismo seletivo que tanto envergonhou nosso sistema jurídico e acabou se espalhndo na sociedade gerando polarização e rachas familiares.

Como veículo independente, comprometido com a verdade e com a liberdade de imprensa, o Sulpost reafirma sua posição: é preciso responsabilizar os que, em nome de um combate à corrupção espetacularizado, atentaram contra o próprio Estado Democrático de Direito.

Justiça, para todos. E não só para alguns.

*Redação Sulpost – imprensa livre e comprometida com a democracia. Jornalista responsável Ronald Stresser 12713/PR. Considere fazer uma doação para ajudar o blog Sulpost a continuar e a crescer. Chave pix 41992814340

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PF desmantela esquadrão da morte que executava "inimigos" sob encomenda: o temido Comando C4

Grupo operava com motivação ideológica, promovia assassinatos seletivos e vendia sentenças judiciais; entre os alvos, cidadãos taxados como comunistas e corruptos, e também advogados assassinados por retaliação ou dinheiro 

Por Redação, blog Sulpost.

 
Agentes comprem mandados expedidos pelo STF — Divulgação/PF
 

Um grupo com nome de guerra, sedento por sangue e dinheiro — Ainda era madrugada quando os agentes da Polícia Federal bateram às portas de endereços em Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais. A missão: desarticular uma organização criminosa que operava como um esquadrão da morte contemporâneo, movido por ideologia e dinheiro. O grupo, que se autodenominava Comando C4 — sigla para “Comando de Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos” —, promovia assanatos sob encomenda, espionagem e lavagem de dinheiro por meio da venda de sentenças judiciais.

A operação de hoje é a 7ª fase da Operação Sisamnes, e lança luz sobre os bastidores sombrios de um Brasil paralelo, onde decisões judiciais são negociadas nos bastidores e opositores — reais ou imaginários — podem ter a vida ceifada por valores que variam conforme a sua “importância”.

O crime que expôs os subterrâneos do poder

O ponto de virada contra esses crimes horrendos veio em dezembro de 2023, quando o advogado Roberto Zampieri foi brutalmente assassinado, com dez tiros, dentro do próprio escritório em Cuiabá. A execução chocou o meio jurídico e acendeu o alerta da PF. Ao investigar o homicídio, os investigadores descobriram uma rede profunda e assustadora: por trás do assassinato, havia um esquema sofisticado de venda de sentenças no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e um esquadrão da morte disposto a eliminar qualquer um que fosse considerado como ameaça ao seu funcionamento.

Durante a apuração, descobriu-se que o Comando C4 não era apenas um nome de fachada. O grupo operava com uma estrutura sofisticada, paramilitar, e era formado por militares da ativa e da reserva, além de civis, lobistas e empresários. O objetivo: neutralizar adversários políticos, concorrentes, delatores e até desafetos pessoais.

Execuções com tabela de preço

Os investigadores se depararam com um material macabro: uma tabela impressa com valores para assassinatos encomendados. Os preços variavam conforme a avaliação do perfil da vítima — quanto mais “perigosa” ou influente, maior o valor. O grupo também usava métodos de espionagem para rastrear os passos dos alvos, monitorar suas comunicações e garantir o sucesso das execuções.

Segundo fontes da PF, o grupo mantinha um discurso ideológico radical, tentando justificar os crimes brutais que praticava como uma forma de “limpeza moral” e “justiça patriótica”. Na prática, porém, o esquema criminoso se tratava de uma milícia de aluguel, onde ideologia e dinheiro caminhavam juntas.

Desdobramentos e prisão de envolvidos

Na operação de hoje, foram cumpridos cinco mandados de prisão preventiva, quatro de monitoramento eletrônico e seis mandados de busca e apreensão, além de medidas cautelares como recolhimento domiciliar noturno, proibição de contato entre os investigados e apreensão de passaportes. As ordens à PF partiram do Supremo Tribunal Federal (STF), em função do envolvimento de pessoas com foro privilegiado.

Entre os alvos estão advogados, chefes de gabinete, empresários e até magistrados, todos suspeitos de participar da rede criminosa que misturava homicídios, espionagem e venda de decisões judiciais. Também foram apreendidas armas de fogo, documentos sigilosos e equipamentos de comunicação criptografada.

O nome da operação e sua mensagem

Batizada de Sisamnes, a operação remete ao juiz persa do século VI a.C. que foi executado por corrupção. Seu exemplo histórico ecoa como um alerta: nem os mais poderosos estão acima da lei. A PF não descarta novas fases da operação, nem a existência de outros núcleos do Comando C4 em diferentes estados do país.

A democracia sob ameaça velada

Embora a motivação ideológica do Comando C4 pareça alinhada a discursos radicais de extrema direita, a investigação aponta para uma aliança oportunista entre fanatismo político e interesses econômicos. A venda de sentenças no STJ, a perseguição a comunistas imaginários e a execução de figuras-chave do Judiciário e da advocacia revelam uma tentativa silenciosa de capturar o Estado por dentro.

“Estamos diante de algo muito maior do que um grupo de justiceiros armados”, resume uma fonte da PF. “É uma ameaça real à democracia, às instituições e ao Estado de Direito.”

Próximas etapas

A investigação continua e novas prisões não estão descartadas. À medida que mais detalhes emergem, o país se vê diante de um cenário perturbador: há grupos dispostos a matar em nome de uma moral distorcida — gerada pela polarização política — e, pior, dispostos a pagar ou receber por isso.

Enquanto isso, o nome de Roberto Zampieri permanece como símbolo trágico de um Brasil onde até a justiça virou alvo — ou moeda de troca.

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terça-feira, 27 de maio de 2025

Redes em xeque: STF debate regulação e reacende tensão com Congresso em meio a lobby de big techs

Enquanto o Supremo tenta preencher o vazio deixado pelo Legislativo, Eduardo Bolsonaro age como porta-voz das gigantes da tecnologia — e ironiza-se: já cortaram o ponto dele no Brasil?

Por Ronald Stresser, editorial, para o Sulpost*
 
 

Em meio ao barulho das redes sociais e aos ecos de um Congresso paralisado diante da urgência digital, um novo capítulo da democracia brasileira está sendo escrito — e desta vez, o palco é o Supremo Tribunal Federal (STF). O que está em jogo é a regulamentação das plataformas digitais, mas o enredo envolve muito mais do que algoritmos: fala-se de responsabilidade, de limites da liberdade de expressão e da tênue fronteira entre crítica institucional e o ataque direto à democracia.

O STF, que vem sendo acusado por seus detratores de “legislar” fora de sua alçada, entrou em campo diante de um impasse que já dura anos. O Congresso, a quem cabe constitucionalmente criar leis, até agora não foi capaz de oferecer uma resposta concreta sobre como regular as redes sociais. A Suprema Corte, então, decidiu agir — não por ambição, mas por necessidade e dever institucional. E é justamente nesse vácuo que a engrenagem republicana mostra sua razão de ser: quando um poder cria algum vazio, deixando a desejar, os outros doi não podem cruzar os braços e deixar de agir.

STF: entre o dever de julgar e a inação do Parlamento

Nos bastidores do STF, há um entendimento claro de que o Judiciário não está invadindo a seara legislativa, mas tampando um buraco que coloca em risco a integridade da democracia. O próprio presidente da Corte, ministro Roberto Barroso, já afirmou publicamente que as plataformas têm, sim, o dever de remover conteúdos ilegais mesmo sem ordem judicial, a fim de impedir a disseminação de ódio, mentiras e ataques à honra.

“A Constituição prevê um sistema de freios e contrapesos. O Judiciário não pode ser refém da omissão legislativa, especialmente diante de um tema tão sensível como a desinformação nas redes. Se o Congresso não regula, o STF precisa arbitrar o que é constitucionalmente aceitável”, explicou uma jurista que prefere manter o anonimato.

O ministro Dias Toffoli, relator de um dos casos centrais sobre o tema, defende que as empresas devem ser responsabilizadas a partir do momento em que forem notificadas a remover um conteúdo — e não apenas após uma ordem judicial, como querem as big techs. A tese, se consolidada, poderá mudar o jogo da responsabilização no ambiente digital e colocar o Brasil na vanguarda da regulação global, que de maneira alguma, fere a liberdade de expressão.

Eduardo Bolsonaro: seria mais uma “fereamenta” das gigantes da tecnologia?

Mas nem todos enxergam a atuação do STF como legítima. Do outro lado da trincheira, há uma ofensiva orquestrada contra os ministros — e à frente dela está o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Para integrantes da Corte, Eduardo virou uma espécie de “porta-voz informal” das gigantes da tecnologia no Brasil, agindo como instrumento das big techs em sua cruzada contra qualquer tentativa de regulação.

Em suas redes sociais, o deputado tem atacado ministros, defendido a livre atuação das plataformas e se insurgido contra a Procuradoria-Geral da República, que pediu sua investigação pporsiposta coação no julgamento do inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado. Eduardo afirma ser vítima de um "Estado de exceção" e acusa a PGR de agir politicamente — enquanto compartilha vídeos e discursos inflamados que endossam a narrativa das empresas contra o STF.

Nos bastidores, há ironia e preocupação em igual medida. “Talvez ele esteja morando nos Estados Unidos”, comentou um correligionario dele ao Sulpost, referindo-se ao tempo que o parlamentar passa fora do país. “Afinal, lá o lobby é regulamentado. Aqui, ainda é crime.” A pergunta que não quer calar é: já cortaram o ponto dele? Porque se ele já se declara quase um cidadão americano, talvez não precise continuar recebendo salário do Congresso Nacional, não é mesmo?

Silêncio no Congresso, ruído nas redes

Enquanto isso, a Câmara do Deputados permanece dividida, lenta e acuada pela polarização. A Suprema Corte, que já adiou por diversas vezes o julgamento da matéria, para dar espaço ao Parlamento, cansou de esperar. A tentativa de regular as redes não é nova. Vem sendo debatida há mais de uma década, sem que deputados e senadores tenham conseguido avançar com um marco legal robusto. A escalada da desinformação, a radicalização política e os ataques coordenados à democracia só aceleraram a urgência.

Para o ministro do STF, Alexandre de Moraes, não há mais tempo a perder. “Isso é um perigo que venho alertando: por enquanto, nós conseguimos manter a nossa soberania. Isso é questão de soberania nacional. É a nossa jurisdição. Porque as big techs necessitam das nossas antenas, do nosso sistema de telecomunicações”, declarou, na aula inaugural do curso de MBA em Defesa da Democracia e Comunicação Digital da FGV do DF.

Democracia em modo de espera

O tema pode ser retearado numa imagem simbólica: uma democracia tentando se adaptar ao século XXI, enquanto parte de seus representantes insiste em agir como se o tempo não tivesse passado. O STF, criticado por estar “legislando”, age diante da omissão ou da falha dos demais poderes. O Legislativo, aparentemente acuado, assiste. E nas redes, o jogo segue sendo jogado — por algoritmos, interesses bilionários e, sim, por figuras como Eduardo Bolsonaro, cuja atuação parece mais afinada com o Vale do Silício do que com a Constituição brasileira. As redes gostam de quem cria polêmica, atrai seguidores, comentários e curtidas, gerando visualizações e tempo de tela.

O cerne da questão,  no caso, parece ser: de qual lado da história queremos estar quando as próximas eleições chegarem? Porque, se nada for feito agora, talvez não haja campo democrático suficiente para um debate realmente fertil e produtivo para quando 2026 bater à porta.

*o jornalista Ronald Stresser é editor do blog Sulpost, parceiro da coluna Palavra Livre, escritor, arquiteto da informação e especialista em Ciberativismo.

Alegria interrompida: ataque a torcedores mancha comemoração do título do Liverpool

Festa vira pesadelo em Liverpool: ataque brutal atropela torcedores e mancha celebração do título com sangue e indignação

Por Ronald Stresser*
 

Liverpool, Inglaterra – A festa era vermelha, pacífica e feliz. A cidade inteira pulsava como um só coração em celebração ao 20º título do Liverpool na Premier League, o primeiro desde a temporada 2019-2020. Mas o que deveria ser uma noite inesquecível de alegria e união terminou em horror e sirenes.

Pouco depois das 18h (horário local), a multidão reunida na Water Street foi surpreendida por um carro em alta velocidade que avançou deliberadamente contra os torcedores. O motorista, um britânico branco de 53 anos, morador da própria região de Liverpool, foi preso ainda no local. A polícia de Merseyside agiu rapidamente, mas não a tempo de evitar o estrago: 47 pessoas ficaram feridas, incluindo um ciclista paramédico atingido e quatro pessoas que ficaram presas sob o veículo – entre elas, uma criança.

“Foi um grito coletivo de terror. Em segundos, tudo virou desespero”, conta Sarah Johnson, 32, que estava com o marido e os dois filhos pequenos na calçada onde o carro avançou. “Estávamos cantando, dançando, tirando fotos. Quando ouvi o impacto, achei que fosse algum tipo de explosão. Vi gente voando.”

Segundo os bombeiros, foi necessário suspender o carro para retirar as vítimas presas embaixo. O Serviço de Ambulâncias do Noroeste, que já tinha reforço no local por conta da concentração de torcedores, prestou socorro imediato. Vinte e sete pessoas foram encaminhadas a hospitais da região, duas em estado grave – entre elas, uma criança. Outras vinte foram atendidas no próprio local com ferimentos leves. Um helicóptero de resgate foi acionado para auxiliar no atendimento, e a área foi isolada com tendas infláveis montadas às pressas.

As autoridades tratam o episódio como um “incidente isolado” e descartam qualquer motivação terrorista. Não há, até o momento, indícios de que o homem tenha agido em grupo. “Pedimos à população que evite especulações. As investigações estão em curso para esclarecer o que levou esse indivíduo a agir dessa forma brutal”, declarou a polícia em coletiva de imprensa.

 

O que era para ser um dia histórico…

A tragédia interrompeu uma celebração que vinha sendo preparada há semanas. Mais de um milhão de pessoas eram esperadas em Liverpool para o feriado nacional, que coincidiu com a consagração do título. O empate com o Crystal Palace no domingo confirmou a taça, mas o time já havia garantido matematicamente a conquista ao vencer o Tottenham em abril. O desfile com os jogadores, ônibus aberto e ruas tomadas de vermelho simbolizava mais que um título: era a reconquista de uma paixão reprimida desde a pandemia.

O clube se manifestou oficialmente, afirmando que seus pensamentos estão com os feridos e que dará total apoio às autoridades e aos serviços de emergência. “É devastador saber que torcedores que só queriam celebrar acabaram vítimas de um ato tão cruel”, diz a nota.

LeBron James, coproprietário do Liverpool e figura querida entre os torcedores, classificou o ataque como um “ato sem sentido” nas redes sociais. Outras personalidades e ex-jogadores também prestaram solidariedade.

A cidade ferida, mas não vencida

Na manhã seguinte, flores, cachecóis e camisas do time começaram a ser deixados em um memorial improvisado na Water Street. “Aqui era só alegria, só amor pelo time. Quem fez isso não conhece o espírito do Liverpool”, disse o aposentado Malcolm O’Neill, 68, que foi ao local prestar homenagens.

Para muitos, a dor se mistura com a incredulidade. “É difícil entender como alguém pode fazer isso. Ainda estou em choque. Mas também estou grata pela ajuda que vimos aqui — voluntários, paramédicos, até torcedores ajudando uns aos outros”, contou Amira Patel, 21, estudante de enfermagem que assistiu tudo da sacada do prédio em frente.

 
 

Esperança em meio do caos

Apesar da violência, a resposta rápida das equipes de emergência e o apoio mútuo entre os torcedores evitaram uma tragédia ainda maior. Os hospitais seguem monitorando os feridos mais graves, enquanto a polícia promete atualizações sobre o andamento das investigações.

O título continua sendo do Liverpool, e a paixão pelo clube permanece intacta. Mas a lembrança daquela segunda-feira ficará marcada não apenas pelos gols e pela festa, mas também pela força de uma cidade que, mesmo ferida, insiste em cantar: You'll Never Walk Alone.

*com informações das agências internacionais.

segunda-feira, 26 de maio de 2025

"Amizade" em tempos de guerra: o voto do PT que parece contradizer o próprio manifesto

Por que, em pleno massacre na Faixa de Gaza, senadores petistas decidiram aprovar o Dia da Amizade Brasil-Israel?

Por Ronald Stresser, para o blog Sulpost.

 
Rogério Carvalho, líder da bancada do PT no Senado, votou favorável ao projeto
Jane de Araújo/Agência Senado e UNRWA under CC BY-SA 4.0
 

Era uma tarde morna em Brasília, daquelas em que a política parece caminhar em piloto automático. Sem debates acalorados, sem discursos inflamados, os senadores foram passando as pautas do dia como quem risca itens de uma lista. E foi nesse clima morno que, sem votação nominal e longe dos holofotes, aprovou-se um projeto curioso: a criação do Dia da Amizade Brasil-Israel, marcado para 12 de abril. À primeira vista, parecia apenas mais uma data simbólica, daquelas que quase ninguém anota no calendário. Mas bastou a notícia circular para acender um alerta — especialmente entre os militantes e simpatizantes do Partido dos Trabalhadores, que não esconderam a perplexidade diante do gesto.

O motivo é tão delicado quanto evidente: enquanto as bombas continuam caindo sobre a Faixa de Gaza e o número de civis palestinos mortos ultrapassa qualquer limite ético, senadores do PT, partido historicamente alinhado à causa palestina, votaram favoravelmente à proposta. E isso, para muitos, foi como passar um verniz de aprovação sobre o que o próprio PT já chamou de genocídio.

Não faz tanto tempo — foi em outubro passado — que o Partido dos Trabalhadores veio a público com uma posição firme e emocionada sobre o que estava acontecendo em Gaza. A nota oficial publicada pelo partido não poupava palavras: chamava o que se via ali de genocídio, falava em crimes contra a humanidade e exigia o fim imediato da violência contra o povo palestino. Era um posicionamento claro, que ecoava o sentimento de muitos brasileiros que se solidarizam com o sofrimento civil. Por isso mesmo, quando os senadores do PT endossaram a criação de um dia em homenagem à amizade com Israel, o impacto foi imediato — entre a base, entre os apoiadores históricos, entre os que esperavam coerência. A sensação, para muitos, foi a de um nó na garganta. Como se algo tivesse se quebrado.

“É uma contradição gritante”, diz um militante histórico do PT, que prefere não se identificar. “Não estamos falando de relações diplomáticas genéricas, mas de um momento extremamente sensível. Aprovar uma data simbólica dessas agora, no auge do massacre em Gaza, é dar munição para quem nos acusa de hipocrisia.”

O voto favorável foi justificado como um gesto de respeito à comunidade judaica no Brasil — que, é importante lembrar, não se confunde com o governo israelense. Ainda assim, críticos argumentam que, na prática, a decisão desconsidera o impacto simbólico do ato em um contexto internacional de profunda comoção.

Valter Pomar, historiador e um dos dirigentes do próprio partido, foi um dos primeiros a tornar pública sua indignação. Ele questionou abertamente o gesto, sugerindo que a votação parecia descompassada com os princípios que o PT sempre defendeu. E, principalmente, com o momento atual, em que imagens de crianças soterradas, hospitais bombardeados e famílias inteiras dizimadas continuam circulando mundo afora.

Na internet, a repercussão foi imediata. Muitos se disseram decepcionados. Outros, revoltados. Alguns buscaram entender o voto como parte de uma tentativa de equilibrar as relações internacionais — mas a maioria viu na decisão um recuo simbólico, quase uma anuência velada ao regime de apartheid e violência sistemática contra os palestinos.

Talvez, para quem acompanha de perto os meandros da política, a decisão faça parte de um jogo de tabuleiro complexo, em que cada peça tem um custo e cada movimento exige cálculo. Mas, para quem vê o mundo com os olhos da ética, da empatia e da solidariedade entre os povos, a pergunta continua ecoando: que tipo de amizade é essa, selada sobre os escombros de um povo?

Agora, resta saber se a Presidência da República vai sancionar a lei — e, mais do que isso, se o governo conseguirá sustentar um discurso de paz e justiça enquanto seus aliados no Congresso tomam decisões tão desconectadas da tragédia humana que ainda se desenrola diante dos nossos olhos.

Porque, no fim das contas, há momentos na história em que até um simples “sim” pode soar como uma traição ao já sofrido povo palestino que está sendo literalmente dizimado no conflito.  Uma guerra que, na opinião do Sulpost, já ultrapassou todos os limites do direito de se defender e que alem de sangrenta é insana, cruel e genocida.

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Itaipu apresenta projeto Cozinhas Solidárias Sustentáveis

Cozinhas Solidárias Sustentáveis: uma semente brasileira para enfrentar a fome com energia limpa e afeto

Por Ronald Stresser*

 
 

Na última quinta-feira (22), em meio aos salões imponentes do Palácio Itamaraty, em Brasília, uma ideia brotou entre ministros, diplomatas e lideranças internacionais com um propósito simples, porém revolucionário: transformar cozinhas comunitárias em polos de cuidado, autonomia e energia limpa. Foi ali, durante o 2º Diálogo Ministerial Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural, que o projeto-piloto Cozinha Solidária Sustentável, da Itaipu Binacional, brilhou como uma promessa concreta diante dos desafios globais da fome e da pobreza energética.

Representando a empresa, a assistente do diretor-geral brasileiro da Itaipu, Silvana Vitorassi, apresentou o programa no painel dedicado à “Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza”. Diante de um público que incluía o vice-presidente da Tanzânia, Philip Isdor Mpango, e o ministro brasileiro Wellington Dias, Silvana fez mais do que apresentar dados: ela contou uma história de articulação entre o poder público, a sociedade civil e as comunidades que mais precisam.

“Essa cozinha é muito mais do que um fogão”, disse Silvana, com a convicção de quem viveu de perto a construção coletiva do projeto. Segundo ela, a semente da ideia foi plantada pela primeira-dama Janja Lula da Silva, também presente ao evento, ao propor à Itaipu e seus parceiros uma reflexão sobre como combater a pobreza energética – uma realidade que afeta silenciosamente milhões de lares, especialmente os chefiados por mulheres. A resposta veio em forma de acolhimento e inovação.

Inspirado em iniciativas populares surgidas durante a pandemia da covid-19, o modelo das Cozinhas Solidárias Sustentáveis resgata a força das redes comunitárias e as atualiza com tecnologias de ponta. Biodigestores para produção de biogás, placas solares para gerar energia elétrica e hortas agroecológicas interligadas formam o coração do projeto. Nada se perde: os resíduos alimentam novamente o sistema, num ciclo virtuoso que cuida da terra, das pessoas e do futuro.

Mas o que torna essas cozinhas realmente especiais é sua vocação humana. “É um espaço de troca, de encontro, de reexistência”, definiu Silvana. Mais do que alimentar corpos, o projeto pretende nutrir vínculos sociais, fortalecer o protagonismo feminino e cultivar soluções locais para um problema global.

Hoje, o programa-piloto está sendo testado em diferentes regiões do Brasil, cada uma com seu solo, seu clima e sua cultura. Universidades, movimentos sociais e a Associação Brasileira de Biogás e Biometano acompanham de perto esse laboratório vivo, onde tecnologia social e ancestralidade caminham juntas. A esperança é que, em breve, o modelo possa se multiplicar – no Brasil e além-mar, inclusive no continente africano, com quem o país compartilha desafios e raízes profundas.

Além das cozinhas e suas histórias de transformação, o encontro no Itamaraty abriu espaço para outras conversas fundamentais. Em rodas de diálogo que cruzaram fronteiras e realidades, representantes de governos e instituições internacionais discutiram caminhos para financiar o desenvolvimento rural e repensar os sistemas que colocam comida na mesa — com mais sustentabilidade, equidade e respeito à vida no campo.

Entre os nomes presentes, estavam o chanceler brasileiro Mauro Vieira e a etíope Nardos Bekele-Thomas, diretora-executiva da Agência de Desenvolvimento da União Africana. Com olhares atentos e falas comprometidas, eles se somaram a um coro de lideranças que, ao fim do dia, firmaram juntos um pacto: a Declaração Final do Diálogo Brasil-África. Mais do que um documento, um compromisso coletivo de enfrentar a fome com criatividade, cooperação e justiça social — de mãos dadas entre continentes que, apesar das distâncias, compartilham sonhos parecidos.

Com sua fala emocionada, Silvana Vitorassi deixou um recado que ecoa além das paredes do Itamaraty: “As cozinhas são espaços de resistência, mas também de esperança. É ali, no calor do fogão e na força do coletivo, que pode nascer um novo modelo de desenvolvimento.”

No encontro entre saberes populares, tecnologia limpa e políticas públicas, o projeto da Itaipu reacende a chama de um mundo mais justo e solidário – começando por onde a vida se refaz todos os dias: a cozinha.

*com informações da Itaipu Binacional.

INSS começa a paga descontos indevidos nesta segunda (26/05)

Descontos indevidos na folha de abril: INSS começa a devolver valores a aposentados e pensionistas nesta segunda (26)

Por Ronald Stresser*

 
Marcello Casal / Agência Brasil 
 

Aposentada há quase uma década, Dona Marlene, 73 anos, não escondeu a surpresa ao ver o extrato da aposentadoria no fim de abril. Um valor a menos, sem explicação clara, tirou o pouco de tranquilidade que a professora aposentada de São Gonçalo (RJ) ainda conservava diante da alta do custo de vida. “É cada vez mais difícil fechar o mês. Qualquer real faz falta”, desabafa.

Ela faz parte do grupo de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que tiveram descontos de mensalidades associativas lançados automaticamente na folha de pagamento do mês passado, mesmo após determinação do próprio instituto para que essa prática fosse suspensa. O alívio vem agora: a partir desta segunda-feira (26), esses valores começarão a ser devolvidos, junto ao pagamento regular dos benefícios, que será feito até o dia 6 de junho.

Segundo o INSS, mais de R\$ 292 milhões cobrados indevidamente serão estornados. A falha se deu porque, embora a suspensão dos descontos tenha sido determinada no final de abril, a folha de pagamentos já estava fechada. Resultado: os valores acabaram sendo descontados nos pagamentos realizados entre os dias 24 de abril e 8 de maio.

Devolução automática e sem burocracia

O instituto garante que os beneficiários não precisam fazer nenhum tipo de solicitação. O valor será creditado automaticamente na mesma conta em que o benefício é depositado — seja conta bancária ou cartão magnético. “O INSS não repassou os valores às entidades associativas e fará a devolução diretamente aos beneficiários”, esclarece a nota oficial publicada na última semana.

Para quem já se assustou com cobranças semelhantes no passado, existe agora a possibilidade de contestar valores de meses anteriores. Nesse caso, é preciso entrar em contato pelo aplicativo ou site Meu INSS ou, se preferir, pelo telefone 135. O instituto explica que notificará a entidade associativa responsável pelo desconto, exigindo a apresentação da autorização assinada pelo beneficiário. Se a entidade não conseguir comprovar essa autorização, deverá devolver o dinheiro ao INSS, que então fará o repasse.

Golpes em alta: cuidado redobrado

Com o anúncio da devolução, aumentam também as tentativas de golpe. O INSS alerta que todas as informações sobre aposentadorias e pensões são repassadas exclusivamente pelos canais oficiais, como o portal Meu INSS. "Desconfie de ligações, mensagens ou e-mails que solicitem dados pessoais ou bancários. O INSS nunca entra em contato para pedir senhas ou códigos de confirmação", reforça o comunicado.

Nova regra para empréstimos consignados

Desde a última sexta-feira, também passou a valer uma nova exigência para quem deseja contratar empréstimo consignado: será necessário realizar uma identificação biométrica na plataforma Meu INSS para autorizar os descontos diretamente no benefício. A medida busca trazer mais segurança e evitar fraudes envolvendo empréstimos não autorizados por aposentados e pensionistas.

Confiança abalada, expectativa por justiça

Para muitos beneficiários como Dona Marlene, a devolução é importante, mas não suficiente. “A gente precisa de mais respeito. Esses descontos aparecem sem a gente saber. E se não percebesse? Ficava por isso mesmo?”, questiona.

A história dela ecoa a de milhares de brasileiros que, após uma vida inteira de trabalho, enfrentam a burocracia e os riscos digitais em um sistema que deveria protegê-los. Com a promessa de devolução sem dor de cabeça e mais segurança nos novos procedimentos, o INSS tenta reconquistar a confiança perdida. Mas, para os aposentados e pensionistas, cada centavo cobrado indevidamente ainda pesa — no bolso e na memória.

*com informações da Agência Brasil

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