quinta-feira, 29 de maio de 2025

Elon Musk abandona o governo Trump e escancara crise de confiança na Casa Branca

Bilionário mais influente da gestão Trump deixa o cargo com críticas veladas e prejuízo bilionário nos próprios negócios. Washington assiste a um presidente cada vez mais isolado e errático

Por Ronald Stresser*

 
Elon Musk e Donald Trump - 11/02/2025 - REUTERS/Kevin Lamarque
 

O fim era previsível. Ainda assim, o anúncio de Elon Musk, feito na noite de quarta-feira (28), marca mais do que a saída de um bilionário do governo. É um ponto de inflexão — talvez o mais simbólico — da fase mais conturbada da nova gestão Donald Trump. A ruptura entre o presidente e o homem que doou US$ 280 milhões à sua campanha, dormia na Casa Branca e frequentava reuniões do alto escalão como se fosse chefe de Estado, evidencia um desgaste que vinha sendo mascarado por sorrisos diplomáticos e tweets ensaiados.

“Meu tempo programado como Funcionário Especial do Governo chega ao fim”, escreveu Musk na rede X, num tom que misturava gratidão formal a um certo alívio contido. O que não disse, mas todos em Washington sabiam, é que a relação já vinha ruindo há semanas. Nos bastidores, Musk estava cada vez mais desconfortável com decisões políticas que julgava ruins para o país — e catastróficas para seus próprios negócios.

A crítica mais pública foi ao novo projeto de lei orçamentária aprovado por Trump na Câmara, que ele acusou de aumentar “irresponsavelmente” o déficit federal, contrariando tudo o que o próprio Musk dizia defender à frente do recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE).

Um poder paralelo

A presença de Musk no governo sempre foi vista como insólita — e incômoda. Apesar de não ocupar um cargo formalmente eleito ou nomeado com aprovação do Congresso, o bilionário tinha status de superministro. Tinha escritório na Ala Oeste, acesso direto ao presidente e, por vezes, dormia na Casa Branca em quartos reservados a assessores de altíssimo escalão.

Com o DOGE, ganhou carta branca para cortar gastos públicos, extinguir agências e demitir servidores. Em quatro meses, cerca de 260 mil funcionários federais foram desligados. A Agência de Ajuda Humanitária dos EUA foi desmantelada. Missões diplomáticas com foco em direitos humanos, também. E tudo isso foi vendido como “eficiência”.

Economistas, no entanto, contestam os números. Dos US$ 2 trilhões prometidos em cortes, apenas US$ 175 bilhões teriam sido efetivamente economizados — valor questionável, pois inclui rescisões milionárias e indenizações. “A máquina estatal está mais frágil, menos transparente e longe de mais barata”, avalia a economista-chefe do Brookings Institute, Laura Barnes.

O bilionário que virou problema

Na prática, Musk se tornou um problema para Trump. Internamente, aliados do presidente reclamavam do que chamavam de “excesso de autonomia”. Externamente, a imagem de que quem mandava era o bilionário ganhou corpo. A capa da Time com Musk à mesa do Salão Oval foi o estopim. O presidente, segundo fontes da Casa Branca ouvidas pela coluna de Paulo Cappelli, nunca digeriu bem a ideia de dividir os holofotes.

As tensões aumentaram à medida que as decisões políticas passaram a afetar diretamente os negócios de Musk. A Tesla viu seu lucro despencar 70% no primeiro trimestre de 2025. A rede X (ex-Twitter) enfrentou falhas graves e perda de anunciantes. A SpaceX teve contratos suspensos após atritos com o Departamento de Defesa.

O homem mais rico do mundo, com histórico de ego inflado e decisões impulsivas, passou então a sinalizar o desembarque. Primeiro, sumiu dos discursos de Trump. Depois, deixou de comparecer às reuniões do gabinete. Por fim, comunicou oficialmente sua saída, com a justificativa de que precisava cuidar das empresas — agora, em crise.

Trump acuado, América incerta

A saída de Musk representa mais que uma perda de peso no staff presidencial. É um sintoma de um governo cada vez mais errático, isolado e autorreferente. Com menos de cinco meses de mandato, Trump já perdeu boa parte da coalizão que o elegeu. O Congresso está dividido, a economia desacelera, e aliados internacionais — inclusive Israel e Reino Unido — têm demonstrado desconforto com o rumo da política externa americana.

Donald Trump parece estar, como dizem os analistas mais ácidos, “perdendo a mão”. A retórica agressiva, os ataques às instituições e a insistência em medidas impopulares já não colam como antes. Nem entre os bilionários que o bancaram.

Musk, ao menos por enquanto, volta ao mundo corporativo, prometendo “trabalhar sete dias por semana” para salvar seu império. Mas sua saída não fecha as feridas que ajudou a abrir em Washington — e talvez tenha inaugurado uma nova temporada de instabilidade que nem mesmo a fortuna de seus ex-aliados poderá conter.

*com informações do The New York Times, Forbes e coluna do jornalista Paulo Cappelli.

Visite nosso grupo no WhatsApp 📰

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou?
Então contribua com qualquer valor
Use a chave PIX ou o QR Code abaixo
(Stresser Mídias Digitais - CNPJ: 49.755.235/0001-82)

Sulpost é um veículo de mídia independente e nossas publicações podem ser reproduzidas desde que citando a fonte com o link do site: https://sulpost.blogspot.com/. Sua contribuição é essencial para a continuidade do nosso trabalho.