quarta-feira, 30 de abril de 2025

1º de Maio de 2018: um marco de resistência e ternura

1º de Maio de 2018, com Lula preso: o dia em que a luta de todos os trabalhadores do Brasil virou a maior vigília pela justiça que nosso país já presenciou

 
Rochinha, Lula e Caetano - Foto: Ricardo Stuckert
 

Ao amanhecer de 1º de maio de 2018, Curitiba vivia um Dia do Trabalhador atípico. Em vez das tradicionais festas operárias, o feriado foi marcado por uma vigília em frente à sede da Polícia Federal, onde Luiz Inácio Lula da Silva passava seus primeiros dias como preso político. Em meio à friagem curitibana, dois advogados paranaenses se tornaram presenças constantes: Manoel Caetano Ferreira e Luiz Carlos da Rocha, o popular "Rochinha". Nenhum deles deixou Lula só um dia sequer.

As visitas iam muito além da defesa técnica. Caetano e Rochinha levavam notícias do mundo, atualizações sobre os processos e, principalmente, humanidade. Lula os recebia com um sorriso afável e uma disposição rara em quem enfrenta a solidão da cela. Conversavam sobre livros, memórias nordestinas, o futuro do Brasil. A cela de 15 metros quadrados, no terceiro andar do prédio da PF, se tornava ali, por alguns minutos, um espaço de resistência e afeto. Eram encontros diários que misturavam estratégia jurídica, análise política e café quente em copo de plástico.

Lula não estava isolado. Em seis meses de prisão, recebeu mais de 570 visitas, entre advogados, aliados políticos, artistas, religiosos e familiares. Cada encontro era um gesto de solidariedade, um fio de dignidade puxado para dentro daquelas grades. Mas os mais fiéis eram mesmo Caetano e Rochinha, que não arredavam o pé. Atravessavam a cidade todos os dias com um objetivo claro: garantir que a injustiça não tivesse a última palavra.

Enquanto isso, do lado de fora, no centro de Curitiba, a praça Santos Andrade fervia. Pela primeira vez desde o fim da ditadura, sete centrais sindicais se uniam num só palanque para celebrar o 1º de Maio. Era um ato histórico, com caravanas de trabalhadores vindos de todo o país, milhares de bandeiras vermelhas, palavras de ordem e uma causa comum: Lula Livre. Era um 1º de Maio com coração, suor e coragem. Discursos inflamados pediam a revogação da reforma trabalhista, o fim da perseguição judicial ao líder petista e a retomada dos direitos da classe trabalhadora.

A carta lida no palanque, escrita por Lula de dentro da cela, foi o momento mais emocionante do dia. Nela, ele dizia que o Brasil é possível. Que a esperança é uma escolha. Que o povo não devia desistir. Era como se, mesmo preso, sua voz ecoasse nas avenidas, nos corações e nas mentes de quem nunca o abandonou.

Por trás da aparente legalidade da prisão, cresciam as dúvidas sobre os reais interesses da Lava Jato. Hoje já se sabe que agentes norte-americanos influenciaram diretamente a força-tarefa, com participação do FBI e do Departamento de Justiça dos EUA. Aquele que se dizia um juiz imparcial, Sergio Moro, já articulava com autoridades estrangeiras uma caça jurídica sem precedentes, com o claro objetivo de impedir Lula de disputar as eleições. Não por acaso, seu processo foi anulado anos depois e ele teve sua inocência restabelecida. "Descondenado", dizem os ignorantes que inventam palavras por não aceitarem a justiça. Em Direito, não existe "descondenação". Existe absolvição. E Lula, que nunca deveria ter sido condenado, voltou a ser o que sempre foi: inocente.

A história é irônica. Anos depois, é Jair Bolsonaro quem enfrenta investigações e prisões em sua base. A Polícia Federal revelou, em operação recente, que havia um plano terrorista para matar Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes, arquitetado por militares e aliados do ex-presidente. Um verdadeiro complô golpista de inspiração nazifascista, disposto a transformar o Brasil num campo de guerra para impedir a democracia. Mas fracassaram. Hoje, o Brasil caminha com firmeza. Lula governa com inteligência, respeito e compromisso com os que mais precisam.

O 1º de Maio de 2018 foi um marco de resistência e ternura. Em meio à injustiça, floresceu a solidariedade. Em cada visita de Caetano e Rochinha, em cada bandeira erguida na praça, estava a certeza de que um país melhor se constrói com memória, coragem e amor ao povo. E foi assim, com a cabeça erguida e o coração limpo, que Lula atravessou os dias mais sombrios rumo ao retorno triunfal. Um presidente que já foi operário, perseguido, preso. Um homem que nunca deixou de acreditar no Brasil.

Ronald Stresser, de Curitiba.



Neoclassic DJ, hoje, 29/04, a partir dss 13h00 no Centro Europeu

Neoclassic DJ: a nova voz da música eletrônica brasileira que inspira com técnica, arte e alma

 
 

Na contramão do imediatismo da cena eletrônica contemporânea, um nome vem se firmando não apenas pelas batidas precisas e produções refinadas, mas por algo que poucos artistas conseguem traduzir com tanta naturalidade: a alma de uma época. Fernando Augusto Guimarães, conhecido como Neoclassic DJ, é o artista que tem provocado um verdadeiro movimento de renovação estética e conceitual na música eletrônica brasileira — unindo conhecimento técnico, referências históricas e uma entrega emocional rara. E o público tem respondido com entusiasmo: ele está fazendo um sucesso estrondoso, e não é por acaso.

Nesta quarta-feira, 30 de abril, Fernando será um dos destaques da programação da ABEM, promovida pela @aturebrasil, com uma palestra no Centro Europeu às 13h. Mais que um DJ ou produtor, ele se coloca como um pensador da música eletrônica — alguém que constrói narrativas sonoras e não apenas playlists de festa. Na conversa “Gravadoras na Música Eletrônica: Da assinatura ao lançamento”, ele falará sobre sua atuação à frente da @curarecords, gravadora @masaakisound, e compartilhará sua experiência com quem sonha viver da própria arte.

Mas é nos palcos, nas pistas e nos fones de ouvido que Fernando revela a essência de seu projeto artístico. Sua assinatura sonora é sofisticada, quase cinematográfica. Em uma recente explicação publicada em suas redes, ele desmonta o próprio processo criativo e mostra como cada detalhe das faixas que compõem seu novo EP é pensado com rigor quase cirúrgico: do arpejo melódico ao pluck percussivo; do pad atmosférico ao reese distorcido; da sutileza de um shake ao impacto emocional de um coro sintético. Tudo isso orquestrado com um propósito: tocar — e não apenas o corpo, mas também o espírito.

“Cada elemento tem uma função. Eu penso neles como se fossem pinceladas numa tela ou palavras num poema. O kick é o coração, o pad é o horizonte, o bassline é o chão onde tudo repousa”, explicou. Essa atenção à textura e à narrativa musical tem encantado artistas consagrados, que já demonstraram apoio a remixes como o da faixa “Estranha Calmaria”, da compositora BLANCAh. O trabalho de Neoclassic DJ transformou a música em um hino progressivo e envolvente, mantendo a elegância do original e acrescentando camadas que ampliam a emoção.

Mais do que produtor, Fernando é um contador de histórias. E isso não vem por acaso. Seu projeto tem raízes profundas no neoclassicismo, movimento artístico que, no século XVIII, buscou resgatar a simplicidade e os valores das civilizações da Antiguidade Clássica — especialmente a grega e a romana. “Há algo de muito atual no resgate dessas ideias. O neoclassicismo valoriza o equilíbrio, a razão, a clareza. Eu tento levar isso para a música, em contraste com o excesso e a artificialidade que às vezes dominam a cena eletrônica”, diz.

Seu som é, ao mesmo tempo, culto e acessível, técnico e sensível, moderno e atemporal. Ele constrói sets com uma progressão lógica, mas comovente — uma jornada. Cada transição, cada break, cada ambientação, é milimetricamente pensada para oferecer ao ouvinte não apenas uma experiência dançante, mas uma imersão emocional e intelectual.

É isso que faz de Fernando Augusto Guimarães um dos nomes mais relevantes da nova cena eletrônica nacional. Um artista que inspira jovens produtores a explorarem seus sentimentos e referências culturais. Um educador, que explica com paixão o que faz, sem mistificar. E um performer, que transforma conhecimento técnico em arte viva.

Se a música eletrônica brasileira precisava de um novo fôlego, encontrou no Neoclassic DJ uma força transformadora. E o mais bonito de tudo é perceber que, para ele, sucesso é dividir paixão — sem pressa, sem pose, sem filtro. Apenas som, verdade e conexão.

Nos vemos na pista. Ou, melhor, na história.

HELMET HEAD — Por trás da viseira

HELMET HEAD — Por trás da viseira: a história de um piloto curitibano e seus capacetes que marcaram gerações

 
Marcelo Silvério, lenda das pistas da Europa e do Brasil 
 

No mundo da velocidade, onde cada segundo conta e a margem de erro é quase nula, um elemento se destaca por sua importância técnica, simbólica e emocional: o capacete. Muito além de um acessório de segurança, ele é identidade, é escudo, é linguagem.

Quem entende isso como poucos é Marcelo Silvério, piloto curitibano e referência absoluta no motociclismo brasileiro — lenda viva da supermoto e do flat track, modalidades que exigem controle absoluto, ousadia e uma intimidade rara com a pista.

Aos 54 anos, Silvério não apenas segue competindo em alto nível na Europa, como também começa a compartilhar, com generosidade e estilo, sua trajetória através de uma série especial em seu Instagram: Helmet Head – Capacetes que contam histórias. Uma viagem sentimental e visual pelos cascos que o protegeram em vitórias, tombos, glórias e aprendizados. "Antes de vestir o capacete, a gente veste quem é", diz ele. "O medo, a coragem, os sonhos e as quedas — tudo guardado sob a mesma casca."

Silvério é apaixonado por sua Ducati, mas foi sobre Hondas que construiu grande parte de seu legado. Entre pistas de terra e circuitos urbanos, dominou categorias com nomes que só os íntimos do motociclismo conhecem bem: supermoto, flat track — esportes que exigem sensibilidade na ponta dos dedos e nervos de aço no limite das curvas.

Capacete: mais do que segurança, uma extensão da alma

Engana-se quem pensa que o capacete serve apenas para evitar lesões. É, claro, uma armadura essencial. Projetado para absorver impactos, resistir ao fogo e proteger os olhos contra detritos, é o primeiro item de defesa de quem encara a pista a 200 km/h. Mas, para pilotos como Silvério, o capacete vai além da engenharia. Ele é um espelho da alma, uma tela de artista, um amuleto de guerra.

“A cada corrida, um capacete diferente. Cada pintura tem um motivo, uma emoção, uma homenagem”, conta o piloto. Alguns são feitos para agradecer. Outros, para lembrar de alguém que se foi. Há os que marcam vitórias épicas. E há os que carregam o silêncio de uma derrota amarga — e o orgulho de ter seguido em frente.

A nova série de Silvério nas redes promete escancarar essas camadas invisíveis. A começar pela estética: design, cor, textura, assinatura dos artistas gráficos. “Os capacetes contam histórias que a velocidade não mostra”, diz ele no teaser do projeto.

Moda, arte e memória sobre duas rodas

O capacete é também linguagem. Ele revela a nacionalidade, o estilo, a equipe. Em modalidades visuais como o motociclismo, é por ele que o público identifica o piloto. E em tempos de redes sociais, ele se torna um símbolo de marca pessoal, potencializando o alcance de patrocinadores e equipes.

Capacetes comemorativos, como os usados por Silvério em GPs europeus, ganham status de relíquia. Designs exclusivos celebram vitórias, homenageiam ídolos ou simbolizam passagens importantes da carreira. “Teve um que pintei em homenagem ao Senna. Outro, pra marcar a minha volta às pistas depois de um acidente sério”, revela.

Com Helmet Head, Silvério não está apenas fazendo um tributo à própria carreira. Está oferecendo ao público — e especialmente aos jovens pilotos — um mergulho profundo na cultura do motociclismo. Um conteúdo raro, com valor histórico e emocional, que une técnica, arte e narrativa pessoal.

A lenda paranaense que inspira gerações

Natural de Curitiba, Silvério é hoje um dos nomes mais respeitados do motociclismo brasileiro fora do país. Seus feitos na supermoto europeia carregam as cores do Brasil e da capital paranaense por onde ele passa — e são motivo de orgulho para quem acompanha sua trajetória há décadas. Um homem vaidoso, meticuloso, fiel à estética da velocidade e à filosofia da pilotagem como arte.

Silvério é, sem exagero, uma referência nacional. Mas também é acessível. E é justamente essa combinação rara — talento, carisma e profundidade — que faz de Helmet Head uma série tão aguardada.

A cada episódio, um novo capacete. E com ele, uma nova história. Daquelas que não se escutam no barulho do motor, mas que ficam gravadas — na memória e na pele.

Helmet Head estestreou essa semana, no Instagram de Silvério. Para quem vive o motociclismo de verdade — ou quer conhecer o que pulsa por trás da viseira — é imperdível.

 


Ronald Stresser, da redação.

FMI, o devorador de economias

O fundo do poço: como o FMI transformou promessas em dívidas impagáveis

Editorial, por Ronald Stresser.
 
Imagem: Sulpost
 

Na teoria, ele veio para ajudar. Criado no pós-guerra com o nobre propósito de evitar colapsos financeiros e promover a prosperidade global, o Fundo Monetário Internacional (FMI) se apresenta como um porto seguro para países em crise. Na prática, porém, o que se vê com frequência são nações inteiras afundando em recessões, cortes brutais em serviços públicos e uma dívida que nunca termina.

A Argentina conhece esse roteiro de cor. Nos últimos 30 anos, o país vizinho assinou dezenas de acordos com o FMI, todos com a mesma promessa: estabilizar a economia e recuperar a confiança dos mercados. O que se viu, no entanto, foi uma população cada vez mais empobrecida, hospitais sem insumos, universidades em greve e milhões de pessoas fazendo fila por ossos de carne. Isso mesmo: ossos.

“Minha aposentadoria não paga nem os remédios. Precisei vender minha geladeira”, contou, entre lágrimas, uma senhora de 74 anos, na periferia de Buenos Aires. A história dela é parecida com a de milhares de outras pessoas em diferentes partes do mundo — Egito, Paquistão, Tunísia, Ucrânia, Albânia, Equador. Países distintos, contextos diferentes, mas um denominador comum: todos viram sua soberania encolher depois de assinarem contratos com o Fundo.

Como funciona o jogo

A sede do FMI fica em Washington, mas suas decisões atravessam oceanos e determinam o destino de milhões de vidas. Oficialmente, 191 países integram o Fundo. Mas o peso de cada um é medido pela carteira: quanto mais dinheiro um país coloca no caixa, maior é sua influência. Os Estados Unidos, com 16,5% das cotas, têm direito a veto. Se não quiserem, nada passa.

Quando um país entra em colapso fiscal e bate à porta do Fundo, o empréstimo vem — mas não sem exigências. Cortes nos gastos públicos, reformas impopulares, privatizações em setores estratégicos, aumento de impostos. O FMI chama isso de “ajuste estrutural”. Nos corredores das periferias, isso tem outro nome: desemprego, miséria, fome.

E o buraco é mais fundo. Quando a dívida ultrapassa determinado limite — 187,5% da cota do país no FMI — entram em cena as sobretaxas. Um mecanismo que impõe juros ainda maiores, punindo justamente os que mais precisam. Estima-se que, entre abril de 2023 e janeiro de 2025, o Fundo tenha arrecadado mais de 2 bilhões de dólares só com essas sobretaxas. Dinheiro que poderia ter ido para hospitais, escolas, redes de proteção social.

Brasil: do sufoco à independência

O Brasil também viveu esse pesadelo. Nos anos 90, o Brasil vivia dias de incerteza. A inflação corroía salários como uma traça invisível, e o real recém-criado ainda buscava se firmar.

Foi nesse contexto que o governo de Fernando Henrique Cardoso recorreu ao FMI — um gesto visto, na época, como necessário para evitar o colapso. Mas o preço foi alto. Vieram os cortes nos gastos públicos, as privatizações em massa, a abertura do mercado sem rede de proteção.

A economia até deu sinais de estabilidade, com a inflação finalmente domada. Só que, do lado de fora das estatísticas, a vida piorou para muitos. Indústrias fecharam as portas, o desemprego tomou conta das manchetes e a desigualdade social se aprofundou, atingindo em cheio os mais pobres. Era como se o país tivesse vendido sua alma em troca de números mais bonitos — enquanto nas ruas, a esperança andava a pé. A indústria nacional, já combalida, perdeu espaço para produtos importados, e milhões de brasileiros foram jogados na informalidade.

Mas em 2005, veio o ponto de virada. Com as contas públicas mais equilibradas e as reservas em alta, o Brasil quitou sua dívida com o Fundo. Naquele ano, o então presidente Lula fez questão de anunciar: “pagamos e não devemos mais nada ao FMI”. O gesto foi mais do que simbólico — foi um grito de independência.

Uma ajuda que custa caro

É preciso perguntar: por que uma instituição criada para ajudar países a se reerguerem continua deixando rastros de destruição? A resposta talvez esteja no próprio modelo. O FMI funciona como um banco, mas não empresta para gerar desenvolvimento — empresta para garantir que seus devedores paguem. Pouco importa se o preço é a fome, o desemprego ou a paralisia de serviços essenciais.

Economistas críticos apontam que o Fundo trata crises sociais como problemas contábeis. A matemática do ajuste ignora que, por trás de cada número, existe gente. E o resultado disso é uma espiral de dependência: países recorrem ao FMI para pagar dívidas anteriores, acumulam novas dívidas e precisam, de novo, da ajuda do Fundo.

E agora?

O mundo de 2025 é bem diferente daquele de 1945. O que não mudou, infelizmente, é a lógica do sistema. O FMI segue operando com a régua do passado, cobrando dos mais frágeis a conta de um modelo que privilegia os mais fortes.

Mas há resistência. Em muitos países, crescem os movimentos sociais que denunciam a interferência do Fundo e exigem soluções que levem em conta a realidade de cada povo. É um novo tempo — e talvez esteja na hora de o FMI ouvir mais e exigir menos.

Porque, no final das contas, nenhuma economia se sustenta quando seu povo passa fome.

terça-feira, 29 de abril de 2025

1º de Maio: memória, resistência e esperança nas ruas de São Paulo

Quinta-feira é dia de levantar a cabeça: venha para as ruas no 1º de Maio

 
 

Tem datas que não passam em branco — e o 1º de Maio é uma delas. Nesta quinta-feira, feriado nacional, o convite é claro: trocar o sofá pela Praça. O silêncio pela voz. A indignação solitária pela força coletiva. 

Às 9h da manhã, a Praça Oswaldo Cruz, no centro de São Paulo, vai se transformar em palco de um ato unificado que pretende reacender o verdadeiro espírito do Dia Internacional dos Trabalhadores. Um chamado que ecoa há 139 anos, desde quando 30 mil operários foram às ruas de Chicago exigindo o óbvio: trabalhar menos, viver mais. A resposta, como sabemos, foi trágica — repressão, mortes, prisões. Mas também foi semente: dali nasceu um marco mundial da luta por dignidade.

E agora, em 2025, essa semente precisa de rega. Precisa de passos firmes. Precisa de você.

O ato, organizado pelo Partido da Causa Operária (PCO) com o apoio de movimentos como a Frente Nacional de Luta (FNL) e o Movimento Popular de Moradia (MPM), vai reunir gente de todos os cantos. As caravanas estão vindo do Paraná, do Rio de Janeiro e de outros estados. São vozes diferentes, unidas por uma única causa: enfrentar a exploração dos trabalhadores com coragem e solidariedade.

Por que ir? Porque ainda estamos lutando pelo básico:
  •  Um salário mínimo que não seja mínimo só no nome  
  • Uma jornada de trabalho que permita viver, e não apenas sobreviver 
  • Um país que cuide das pessoas, e não só dos lucros  
  • Reforma agrária de verdade, com terra para quem nela trabalha  
  • Fim da farra dos juros e do domínio do sistema financeiro sobre nossas vidas
Esse é um 1º de Maio independente, de baixo pra cima, feito por quem constrói, cozinha, limpa, transporta, planta, cuida. É o oposto das festas patrocinadas por quem lucra com o suor alheio. Aqui, não tem palco para patrão — tem microfone aberto para o povo.

Quer vir? Ainda dá tempo.

Se você está em Curitiba e região, entre em contato com Calebe Henrique: (15) 98823-5946

No Rio de Janeiro, fale com Luan Monteiro: (21) 96773-2721

E depois da luta, a celebração:

No sábado, 3 de maio, Curitiba também será palco de um outro tipo de encontro: a Festa do Chopp do CCBP Paraná. Um momento de reencontro, arte, cultura popular e, claro, muito chopp gelado. Vai ser das 14h à meia-noite, no calçadão da Rua Saldanha Marinho, ao lado da Igreja Matriz da Tiradentes. O ingresso custa R$ 95 e dá direito à caneca oficial da festa. Toda a arrecadação será revertida para o fortalecimento do Centro Cultural Benjamin Péret (CCBP), um espaço de formação crítica e resistência cotidiana.

Este 1º de Maio não é só memória. É um reencontro com sua própria voz.

Venha marchar. 

Venha brindar.  

Venha construir a história,  caminhando junto com a gente, com os pés no chão e os olhos no horizonte.  

A sua presença faz diferença.

Petrobras busca parceria com maior indústria naval do mundo

Gigante dos mares: indústria naval chinesa impõe supremacia e atrai Petrobras para parceria estratégica — enquanto os estaleiros dos EUA agonizam, Brasil mira a China em busca de tecnologia, escala e retomada de empregos na indústria naval

Por Ronald Stresser*

 
O maior navio do mundo foi feito na China - X/Reprodução

 
Em um cenário geopolítico em ebulição, com tarifas — entre Estados Unidos e China e um mundo cada vez mais pressionado por gargalos logísticos e transições energéticas, o maior navio de carga do planeta deslizou silenciosamente pelas águas da Ásia. Fabricado na China, o colosso tem capacidade para transportar 220 mil toneladas de mercadorias e até 24 mil contêineres — o equivalente a um edifício de 25 andares flutuando entre os continentes.

É um símbolo, mas não está sozinho.

Só em 2022, a China produziu cerca de 1.800 embarcações. Os Estados Unidos, cinco. A diferença — quase 36.000% — não é apenas estatística: revela uma mudança profunda no eixo da engenharia naval global e acende alertas sobre a soberania marítima de potências tradicionais. O próprio secretário de Transportes americano, Sean Duffy, admitiu a gravidade da situação em visita recente ao estaleiro da Filadélfia: “Temos que construir navios novamente na América”, implorou. Mas a fila de espera, mesmo com investimentos estrangeiros, ainda caminha lentamente.

Enquanto isso, no outro lado do mundo, a China transforma aço e estratégia em vantagem competitiva. E o Brasil observa, com interesse e pragmatismo.

Petrobras à bordo

Em uma sala de reuniões cercada por maquetes futuristas e mapas náuticos detalhados, no coração de Pequim, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, falou com a convicção de quem carrega um projeto maior do que cifras ou contratos.

Ao lado do ministro da Casa Civil, Rui Costa, ela apresentou aos anfitriões chineses mais do que uma proposta de negócios: lançou um convite para reconstruir, juntos, um capítulo estratégico da história industrial brasileira. Com estaleiros quase silenciosos no Brasil — galpões gigantes onde antes se forjavam navios hoje abrigam a esperança de um recomeço —, Magda pediu parceria, investimento e, sobretudo, confiança. Queria que os olhos atentos do gigante asiático enxergassem ali não apenas um mercado, mas um país disposto a voltar a construir.

“Estamos aqui para propor a ampliação da parceria entre Brasil e China em petróleo, gás e indústria naval. Há oportunidades concretas para empresas chinesas atuarem junto aos nossos estaleiros”, afirmou Chambriard, durante encontro com investidores e autoridades locais. O presidente da Transpetro, Sérgio Bacci, foi mais direto: “Pretendemos contratar 25 navios até 2030. Precisamos de parceiros para isso”.

A movimentação faz parte das conversas preparatórias para a visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, prevista para maio. No radar, não estão apenas navios, mas também trens, VLTs e projetos de mobilidade urbana com a gigante CRRC. Tudo sob o guarda-chuva do Novo PAC, plano do governo para reindustrializar o país e retomar obras paralisadas.

Do fundo do poço ao fundo do mar

A última grande onda da indústria naval brasileira veio com o pré-sal e a era dos estaleiros financiados pelo BNDES. Depois, vieram os escândalos, a Operação Lava Jato, o desmonte. Agora, a aposta é menos ufanista e mais estratégica: aproveitar a janela de oportunidade criada pelo novo boom de commodities, a necessidade de descarbonizar a logística e o vácuo deixado pelos EUA na disputa global.

Para a China, o interesse não é apenas comercial — é geopolítico. Estabelecer presença em estaleiros brasileiros seria uma forma de ampliar sua influência na América do Sul, oferecer alternativas às rotas dominadas por armadores europeus e norte-americanos, e garantir acesso a petróleo e minérios com logística própria.

Para o Brasil, seria uma chance de gerar milhares de empregos de alta qualificação, desenvolver tecnologia dual (com usos civis e militares) e reduzir a dependência externa em setores-chave como cabotagem, exploração offshore e transporte de grãos.

Mais que navios

A retomada da indústria naval não se faz apenas com aço e solda. Requer planejamento de longo prazo, compromissos contratuais claros e uma visão de país. O navio gigante lançado pela China não é apenas uma vitrine do que é possível construir — é também um alerta do que o Brasil pode perder se não agir a tempo.

Num mundo em que os mares voltaram a ser estratégicos, estar à deriva não é uma opção. E se for para navegar com parceiros, a Petrobras já escolheu a direção: rumo ao Oriente.


*com informações da Reuters, RT e Petrobras.

Vidas na retaguarda: a “rabeira” que rouba o futuro de jovens e adolescentes em Curitiba

Mais mortal que a droga: rabeira em ônibus vira epidemia silenciosa entre jovens de Curitiba

Por Ronald Stresser*

 

Lucas Vicente Machado tinha só 14 anos quando a brincadeira virou tragédia. No último sábado, na Linha Verde, o adolescente perdeu a vida ao ser atropelado por um ônibus biarticulado. Ele tentava, pela terceira vez, o que muitos jovens de Curitiba chamam de “pegar rabeira” — se pendurar na traseira dos ônibus expressos da capital. Não voltou mais.

A morte de Lucas, enterrado na segunda-feira sob comoção, revolta e impotência, acendeu um alerta que há tempos pede socorro. O aviso, silencioso e insistente, se arrasta nas canaletas exclusivas para ônibus da cidade. Um lugar feito para garantir a fluidez do transporte coletivo virou pista de risco, imprudência e mortes.

Segundo a Urbanização de Curitiba (Urbs), em 2024 já foram registrados 16 acidentes envolvendo pedestres e ciclistas nas canaletas, com 18 feridos e uma morte — justamente a de Lucas. No ano passado, foram 70 ocorrências, 21% a mais que em 2023. A maioria causada por atitudes proibidas: caminhar, pedalar, atravessar fora da faixa... e, sim, pegar rabeira.

Mais letal que a droga

O prefeito Eduardo Pimentel lamentou a perda e fez um apelo aos pais. “Era a terceira vez que ele estava numa rabeira, já tinha sofrido dois acidentes. Não podemos permitir que isso aconteça”, disse. O caso do adolescente não é isolado: segundo uma fonte do Sulpost, ligada à Delegacia do Adolescente, nos últimos cinco anos, mais jovens morreram em Curitiba praticando rabeira do que por overdose de drogas.

E isso diz muito.

Num tempo em que a internet oferece distrações instantâneas e desafios perigosos, muitos adolescentes buscam adrenalina no asfalto. As redes sociais não apenas alimentam, mas glorificam essas práticas. Vídeos de jovens se pendurando em ônibus, seja de bicicleta, skate ou até mesmo a pé,  viram curtidas e seguidores. Na disputa por atenção, a vida vira detalhe.

“Nosso entendimento sobre o que os jovens estão fazendo é muitas vezes diferente da realidade. A internet abriu um campo imenso, e esse abismo entre gerações está cada vez maior. O desafio é: como conduzir essas questões?”, reflete Marli Alves, psicopedagoga que trabalha com famílias em situação de vulnerabilidade em Curitiba.

Pais em alerta, sociedade em ação

O pai de Lucas, Marcio Stefano, deixou um desabafo: “Eu avisei ele que na terceira não voltaria. Ele não me escutou. Quem sofre é pai e mãe. Ele era filho único”. A fala corta como faca e carrega um alerta: a conversa dentro de casa precisa voltar a acontecer.

Mas não basta. A tragédia exige resposta coletiva. Especialistas apontam caminhos práticos para pais e responsáveis:

- Supervisão digital: monitore redes sociais, verifique o tipo de conteúdo que seu filho consome e posta. Desafios perigosos circulam, muitas vezes, em perfis aparentemente inofensivos.

- Diálogo franco e frequente: adolescentes precisam sentir que podem errar e conversar sobre isso. Construa vínculos, não apenas regras.

- Rotinas seguras: combine rotas e horários para que não precisem esperar ônibus sozinhos ou se entretenham com brincadeiras perigosas.

- Atenção a sinais de risco: machucados recorrentes, histórias mal contadas ou amizades que estimulam práticas radicais são indícios de alerta.

O dever de todos

A Prefeitura promete reforço na fiscalização e campanhas educativas. Já foram abordadas mais de 12 mil pessoas em ações nas canaletas. Novos ônibus contam com placas anti-intrusão, e a Câmara Municipal analisa projeto de lei que prevê multa de R$ 600 para quem for flagrado na prática da rabeira.

Mas enquanto a lei não vem, a responsabilidade é de todos.

Denunciar a prática pode salvar vidas. O telefone da Guarda Municipal de Curitiba está disponível para esse tipo de ocorrência (153). Ver alguém pegando rabeira e não agir é fechar os olhos para uma tragédia anunciada.

A dor como mudança

Curitiba está de luto. Mas pode estar também diante de um ponto de virada. A dor da família de Lucas não pode ser em vão. É preciso, com urgência, escancarar o perigo, dar nome ao risco e envolver toda a cidade na prevenção.

Porque nenhuma curtida vale uma vida. Nenhuma rabeira vale um enterro.

*com informações da Prefeitura de Curitiba.

Asilados ou abandonados? O drama que envergonha a diplomacia brasileira

Presos sem grades: o grito abafado dos opositores de Maduro na embaixada argentina em Caracas

Por Ronald Stresser*
 
Gettyimages.ru / Leonardo Fernandez Viloria
 

Caracas amanhece como de costume: o calor sufocante misturado à tensão invisível que paira no ar. Mas, atrás dos muros da embaixada da Argentina, um grupo de civis desarmados vive uma realidade que beira o inumano. Já se passaram mais de 400 dias de confinamento forçado. Dias em que o tempo parou para um pequeno grupo de venezuelanos que, no auge do medo, atravessaram os portões da embaixada argentina em busca de proteção. Era 20 de março de 2024. Acusados injustamente de “terrorismo”, “conspiração” e “traição à pátria”, o que fizeram, de fato, foi levantar a voz contra uma eleição marcada por fraudes e ameaças.

Não são rostos famosos. Não aparecem nas manchetes. Não ocupam cargos políticos, não têm seguranças, não comandam milícias. São professores, ativistas, jovens da periferia de Caracas que sonharam com uma Venezuela livre — e, por isso, passaram a ser caçados. São, sobretudo, cidadãos. Participaram da campanha da opositora María Corina Machado e de seu vice, Edmundo González – que do exílio na Espanha ainda denuncia a fraude eleitoral que reconduziu Maduro ao poder. Por isso, tornaram-se alvo do aparato repressivo da ditadura venezuelana. Quando bateram à porta da embaixada argentina, receberam asilo com base na Convenção de Viena – tratado internacional que garante a inviolabilidade das sedes diplomáticas. 

Desde então, vivem entre quatro paredes, cercados por escuridão literal e simbólica.

"Hoje completamos 404 dias desde que ingressamos nesta sede diplomática, e mais de cinco meses sem eletricidade nem água corrente", diz um trecho da carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta segunda-feira (28). "Essa situação se agrava pelo cerco policial constante nos arredores da sede […] Presidente Lula, já esperamos há mais de um ano uma ação concreta que garanta nossa saída segura, preservando nosso direito à vida, que hoje tememos diante das ameaças contínuas que enfrentamos."

A correspondência é um apelo dramático por dignidade. Ali, os asilados denunciam a "humilhação diária" e o silêncio do governo brasileiro, que desde agosto de 2024 assumiu a custódia da embaixada, após a retirada forçada dos diplomatas argentinos. 

Poucas semanas depois, no entanto, o governo venezuelano revogou a autorização para que o Brasil cuidasse da missão argentina. Desde então, os asilados vivem em um limbo diplomático cruel, transformando o asilo em cárcere, a sede diplomática em cela sem luz ou água. 

"Certamente somos asilados, obviamente, porque recebemos asilo da Argentina, mas também somos reféns", disse um dos refugiados à imprensa. "Receamos pela nossa vida."

No coração da capital venezuelana, bem em frente aos olhos do mundo, mais uma grave violação dos direitos humanos e do direito internacional se desenrola — e com o agravante de ocorrer dentro de uma representação estrangeira. Trata-se de um ataque direto à própria ideia de refúgio, à soberania das embaixadas e ao compromisso com a proteção humanitária.

É impossível não associar o drama dos asilados à natureza do regime de Nicolás Maduro, que persegue opositores, manipula eleições, e agora, ignora até os limites do direito internacional, ao tentar sufocar civis indefesos, escondidos de um Estado que insiste em criminalizar a dissidência.

Mas também é impossível ignorar o papel do Brasil.

Os asilados, em sua carta, chamam a atenção para o que consideram uma postura contraditória do governo Lula. Denunciam o abandono e a omissão. Dizem que a "bandeira do Brasil é humilhada", ao ser hasteada num local transformado em prisão.

Esse silêncio, ainda que político, tem peso diplomático. E consequências humanas.

Em pleno 2025, com o mundo assistindo a novas tragédias e velhas ditaduras ganhando sobrevida, a história desses refugiados precisa ser contada com urgência. Não apenas para pressionar por uma solução imediata – a saída segura do grupo, com proteção garantida –, mas para lembrar que o autoritarismo se fortalece quando a democracia se cala.

Caracas assiste, silenciosa, ao sofrimento de seus dissidentes. O Brasil não pode seguir o mesmo caminho.  

"Se a situação continuar desta forma [sem luz e água], não iremos aguentar este mês", afirmou um dos asilados.  

O tempo, para eles, não corre — apodrece. E cada novo dia sem resposta é uma nova cicatriz para a diplomacia brasileira e para a já tão castigada memória latino-americana.

*com informações da BBC e RT News.

segunda-feira, 28 de abril de 2025

Os sete cardeais brasileiros em Roma

Os sete cardeais brasileiros em Roma: fé, esperança e missão no Conclave que elegerá o novo papa

Por Ronald Stresser*

Os cardeais brasileiros no Vaticano - Instagram
 

Enquanto o sol dourava as cúpulas do Vaticano neste fim de abril, sete brasileiros se juntavam ao pulsar silencioso da história. Na Cidade Eterna, onde o tempo parece se entrelaçar com a eternidade, nossos cardeais caminham discretamente entre homenagens, orações e decisões que moldarão o futuro da Igreja Católica — uma instituição que carrega nos ombros a fé de 1,4 bilhão de almas.

Reunidos desde os primeiros momentos do luto pelo papa Francisco, falecido aos 88 anos na segunda-feira de Páscoa, os sete cardeais brasileiros formam um pequeno exército de fé e responsabilidade. Unidos pela oração e pelo espírito de missão, eles confiam — como publicou a Arquidiocese de Brasília — "na luz e na condução do Espírito Santo" para atravessar a travessia que se abre diante deles: a escolha do próximo pontífice.

O Conclave começará oficialmente no dia 7 de maio, na Capela Sistina, cenário de obras-primas de Michelangelo e de incontáveis suspiros secretos de escolha e renúncia. Lá, apenas os 135 cardeais com menos de 80 anos poderão votar — entre eles, os sete brasileiros que, agora, respiram o ar carregado de expectativa que invade Roma.

Um Brasil representado em rostos e trajetórias

Entre os representantes do país, histórias diversas se entrelaçam como fios coloridos de um mesmo tecido.

Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, caminha pela primeira vez pelos corredores silenciosos que levam ao Conclave, sentindo no peito a responsabilidade de uma história secular. Aos 65 anos, traz consigo a alma vibrante da mais antiga arquidiocese do país, onde a fé católica se entrelaça profundamente com as raízes afro-brasileiras. Seu rosto sereno guarda a firmeza de quem dedicou a vida a ouvir os clamores do povo e a defender os mais vulneráveis. De espírito progressista, Dom Sérgio moldou sua teologia entre os bancos acadêmicos de São Paulo e as salas austeras de Roma, mas foi no calor humano das comunidades que encontrou a essência de sua missão.

Dom Jaime Spengler, atual presidente da CNBB e arcebispo de Porto Alegre, também estreia nesse palco decisivo. Natural de Gaspar, no interior de Santa Catarina, Dom Jaime Spengler carrega em seus gestos a simplicidade franciscana e a sabedoria amadurecida entre livros e encontros com o povo. Aos 64 anos, o frade une a serenidade filosófica, lapidada nos claustros de Roma, à intensidade da vida pastoral brasileira, onde cada olhar e cada história moldaram seu jeito de ser. Reconhecido por sua escuta atenta e por buscar sempre o caminho do diálogo, Dom Jaime se equilibra entre o respeito às tradições e o desejo sincero de uma Igreja renovada, mais próxima do coração das pessoas.

Com uma bagagem mais longa, Dom Odilo Pedro Scherer chega ao seu segundo Conclave. Arcebispo de São Paulo e nome forte entre os conservadores moderados, Dom Odilo já esteve entre os favoritos na eleição que conduziu Jorge Bergoglio ao papado em 2013. De sorriso contido e raciocínio afiado, o gaúcho de Cerro Largo conhece como poucos os labirintos do Vaticano.

Outro nome de peso é Dom Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro. De perfil conservador e dono de um carisma que cativa tanto no altar quanto nas ruas, Dom Orani tem 74 anos e foi peça-chave na organização da Jornada Mundial da Juventude no Rio, em 2013 — o evento que marcou a única visita do Papa Francisco ao Brasil.

A juventude no grupo brasileiro é representada por Dom Paulo Cezar Costa, de 57 anos. Arcebispo de Brasília, professor e doutor em Teologia, ele é visto como um dos rostos do futuro da Igreja brasileira: sério, estudioso e profundamente ligado ao mundo acadêmico, mas também à pastoral viva das comunidades.

A experiência dos veteranos

Entre os veteranos, Dom João Braz de Aviz se destaca. Aos 77 anos, o ex-prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada carrega não apenas anos de experiência, mas uma visão de Igreja moldada na simplicidade e no diálogo. Nascido em Mafra, Santa Catarina, e criado no interior do Paraná, Dom João foi moldado pela esperança dos pequenos e pelo rigor da formação romana.

Dom Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus e primeiro cardeal da Amazônia, traz ao Conclave o clamor da floresta e das populações ribeirinhas. Aos 74 anos, de perfil progressista, ele representa uma Igreja que resiste, que escuta a terra e seus filhos, e que carrega no corpo as marcas da esperança e da luta por justiça ambiental.

O Brasil no centro da expectativa

Dessa vez, o Brasil não é apenas um observador. É um ator importante, com vozes respeitadas em diferentes alas da Igreja. Seja nos debates silenciosos dos encontros privados, seja no momento decisivo da votação, cada gesto, cada palavra, cada oração dos nossos cardeais ecoará muito além das muralhas do Vaticano.

Enquanto os turistas se aglomeram na Praça de São Pedro, buscando selfies diante do imenso vazio deixado pela morte do papa Francisco, dentro dos muros, o ambiente é outro: recolhimento, expectativa, esperança.

No próximo 7 de maio, quando a Capela Sistina se fechar para o mundo e apenas a fumaça branca poderá anunciar o novo líder espiritual, o Brasil estará lá — em oração, em voz, em voto.

E, quem sabe, também em nome.

 

*com informações da CNBB e Vatican News.

Você está convidada a Despertar com Suelem Duarte

Quando mulheres se unem, o mundo se transforma: o Despertar que está movimentando o empreendedorismo feminino

Por redação especial Sulpost, de Curitiba.

 
Suelem Duarte - Instagram

Em um mundo onde o empreendedorismo feminino ganha cada vez mais voz e espaço, há mulheres que fazem muito mais do que apenas abrir portas — elas acendem luzes. Suelem Duarte é uma dessas mulheres. Empreendedora, mentora, palestrante e mãe, ela se tornou referência nacional ao inspirar outras líderes a trilharem caminhos de sucesso ancoradas no autoconhecimento, na espiritualidade e, principalmente, no propósito de vida.

E é com essa mesma energia transformadora que Suelem apresenta o Despertar, um evento que promete ser muito mais do que um simples jantar de negócios — será uma verdadeira celebração da força e da colaboração feminina.

Uma noite para conectar corações e negócios

Marcado para acontecer amanhã, dia 29 de abril, a partir das 19h, no elegante Campania Ristorante, na Alameda Prudente de Moraes 1265. O Jantar Despertar foi cuidadosamente pensado para mulheres empreendedoras e empresárias que sabem que sucesso se constrói com rede de apoio, trocas genuínas e momentos de inspiração.

Prepare-se para uma noite inesquecível:

  • Networking de alto nível: conexões que podem transformar a sua trajetória.
  • Exposição de marcas: oportunidade de apresentar seu trabalho para um público altamente qualificado.
  • Gastronomia de excelência: um menu pensado para aguçar todos os sentidos.
  • Brindes e sorteios: surpresas especiais para tornar a experiência ainda mais mágica.

Com investimento de R$195,00, as participantes garantem acesso a uma atmosfera que mistura aprendizado, afeto e estratégia, num espaço onde sonhos encontram solo fértil para crescer.

Pix para confirmação de vaga: 068.288.239-90

Informações: (41) 99732-7144 (Suelem)

Clique aqui e fale diretamente pelo WhatsApp!

  


Propósito que transcende

Idealizadora do Despertar Networking — plataforma que já impactou centenas de mulheres — e da imersão gratuita Desperte a Empreendedora, Suelem acredita que o verdadeiro sucesso não está apenas nas conquistas materiais, mas na capacidade de viver alinhada ao que se é de verdade.

Seu histórico fala por si: em outubro de 2024, ela comandou o grandioso Despertar da Inovação, reunindo mulheres de todo o Brasil para debater inovação, sustentabilidade e o futuro dos negócios com propósito.

“Empreender é muito mais do que vender um produto ou serviço. É sobre transformar vidas, começando pela nossa”, resume Suelem, que compartilha com o público não apenas suas estratégias de crescimento, mas também sua jornada pessoal de fé, superação e equilíbrio familiar.

Um convite para sua próxima versão

 
 

O Jantar Despertar não é apenas um evento; é um chamado. Um lembrete de que, juntas, mulheres têm o poder de mudar o rumo de suas histórias — e de inspirar outras a fazerem o mesmo.

E para quem já quer se planejar para as próximas experiências, uma novidade: o próximo encontro Despertar já está marcado para o dia 27 de maio, na recém-inaugurada Adega Prudente Cozinha & Bar. Localizado na badalada Alameda Prudente de Moraes, 1218, no polo gastronômico mais charmoso de Curitiba, o espaço traz uma proposta de gastronomia Comfort Food, unindo criatividade, sensibilidade e o prazer de bem comer — cenário perfeito para mais uma noite inesquecível de conexões e transformação.

Desperte. Conecte. Transforme.

O futuro é agora — e ele é feminino.

Dia do Trabalhador 2025: nas ruas, o grito por mais tempo de vida

Entre sonhos e batalhas, trabalhadores vão às ruas para reivindicar o direito de viver além do trabalho

Por Ronald Stresser*
 
 

Quinta-feira, primeiro de maio. As ruas do Brasil amanhecem com um som diferente: o eco das vozes de trabalhadores que, entre uma bandeira e outra, pedem mais do que apenas melhores salários — exigem qualidade de vida. O Dia do Trabalhador de 2025 não é apenas um feriado nacional. É uma data carregada de significado renovado, marcada por uma luta urgente: o direito ao tempo.

De Belém a Porto Alegre, manifestações se espalham pelo país, transformando praças e avenidas em palcos de esperança e indignação. Em São Paulo, na Praça Campo de Bagatelle, zona norte da cidade, a principal manifestação do dia começa a se formar pouco antes das 11h. Lá estão reunidas as centrais sindicais — CTB, CSB, Força Sindical, UGT, NCST, Pública — com a CUT como convidada especial. Unidas sob um mesmo chamado: repensar a lógica exaustiva do trabalho no Brasil.

"Seis por um não dá mais"

Entre os cartazes e faixas coloridas, uma frase salta aos olhos: "Seis por um não dá mais". A escala 6x1 — seis dias de trabalho para apenas um de descanso — virou o grande símbolo das manifestações de 2025. O debate, impulsionado nas redes sociais pelo influenciador Rick Azevedo, criador do movimento Vida Além do Trabalho (VAT), ganhou as ruas com força inédita.

“Eu não quero passar a vida dentro de uma fábrica, de uma loja, de um escritório, sem ver minha filha crescer”, desabafa Cláudio Santos, 37 anos, técnico em eletrônica, enquanto segura a mão da pequena Sofia, de apenas quatro anos. “Estamos aqui para dizer que a gente também quer viver.”

O movimento VAT, nascido do cansaço de quem já não aceita viver só para trabalhar, ajudou a dar forma à PEC 8/2025, da deputada Erika Hilton (Psol-SP), que propõe uma jornada de quatro dias e 36 horas semanais. Uma ideia que parecia distante, mas que hoje, nas ruas cheias, pulsa como esperança real.

Tempo para viver

A ideia de uma semana de quatro dias não é apenas um desejo de quem sonha com mais lazer. É uma reivindicação de saúde física e mental. “Estamos falando de produtividade, sim, mas, acima de tudo, de dignidade”, afirma Marina Oliveira, 29 anos, enfermeira, que participa do ato na Avenida Paulista, outro ponto de concentração na capital paulista.

"Eu amo o que faço, mas trabalhar seis dias e descansar um é insustentável", diz Marina. "A gente adoece, a gente se afasta da família, a gente perde a vida enquanto tenta sobreviver."

De norte a sul, um Brasil em marcha

O coro que ecoa em São Paulo se repete em centenas de cidades. Em Belém, trabalhadores se concentram na Praça do Operário às 8h30. Em Salvador, a mobilização acontece às 10h no bairro do Uruguai, diante da empresa de telemarketing Atento. No Recife, a Praça do Derby se transforma em cenário de protestos a partir das 10h.

No Rio de Janeiro, a icônica Cinelândia ferve às 14h com discursos inflamados contra a precarização do trabalho. Em Belo Horizonte, o grito ressoa na Praça Sete de Setembro. No Sul, Curitiba, Maringá, Porto Alegre, Cruz Alta, Blumenau e Florianópolis também registram atos, mostrando que, de ponta a ponta do país, o clamor é o mesmo.

"Não é só salário. É vida!"

As centrais sindicais, em nota conjunta, lembram que o 1º de Maio não é apenas um momento de celebração das conquistas históricas da classe trabalhadora, mas também uma oportunidade de reflexão sobre os novos desafios. “É um dia para lutar. Por dignidade, por respeito, por um futuro em que trabalhar não signifique abrir mão de viver”, diz o texto.

Em meio à multidão, muitos trabalhadores trazem outras pautas: aumento real do salário mínimo, mais proteção contra o trabalho informal e políticas públicas para quem perdeu o emprego na pandemia ou na recente crise econômica.

O futuro que pulsa nas ruas

Se 2025 será ou não o ano em que o Brasil dará um passo decisivo para jornadas mais humanas, ainda é uma incógnita. Mas nas ruas, neste primeiro de maio, o que se vê é um país que segue pulsando — não só de cansaço, mas de esperança.

Quando a tarde cai, e as praças vão se esvaziando lentamente, a sensação que fica é de que algo mudou. Talvez ainda não na lei, mas, sem dúvida, no coração de quem acredita que trabalhar é importante, mas viver é essencial.

*com informações da CUT/CGT e Força Sindical.

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