1º de Maio de 2018, com Lula preso: o dia em que a luta de todos os trabalhadores do Brasil virou a maior vigília pela justiça que nosso país já presenciou
Ao amanhecer de 1º de maio de 2018, Curitiba vivia um Dia do Trabalhador atípico. Em vez das tradicionais festas operárias, o feriado foi marcado por uma vigília em frente à sede da Polícia Federal, onde Luiz Inácio Lula da Silva passava seus primeiros dias como preso político. Em meio à friagem curitibana, dois advogados paranaenses se tornaram presenças constantes: Manoel Caetano Ferreira e Luiz Carlos da Rocha, o popular "Rochinha". Nenhum deles deixou Lula só um dia sequer.
As visitas iam muito além da defesa técnica. Caetano e Rochinha levavam notícias do mundo, atualizações sobre os processos e, principalmente, humanidade. Lula os recebia com um sorriso afável e uma disposição rara em quem enfrenta a solidão da cela. Conversavam sobre livros, memórias nordestinas, o futuro do Brasil. A cela de 15 metros quadrados, no terceiro andar do prédio da PF, se tornava ali, por alguns minutos, um espaço de resistência e afeto. Eram encontros diários que misturavam estratégia jurídica, análise política e café quente em copo de plástico.
Lula não estava isolado. Em seis meses de prisão, recebeu mais de 570 visitas, entre advogados, aliados políticos, artistas, religiosos e familiares. Cada encontro era um gesto de solidariedade, um fio de dignidade puxado para dentro daquelas grades. Mas os mais fiéis eram mesmo Caetano e Rochinha, que não arredavam o pé. Atravessavam a cidade todos os dias com um objetivo claro: garantir que a injustiça não tivesse a última palavra.
Enquanto isso, do lado de fora, no centro de Curitiba, a praça Santos Andrade fervia. Pela primeira vez desde o fim da ditadura, sete centrais sindicais se uniam num só palanque para celebrar o 1º de Maio. Era um ato histórico, com caravanas de trabalhadores vindos de todo o país, milhares de bandeiras vermelhas, palavras de ordem e uma causa comum: Lula Livre. Era um 1º de Maio com coração, suor e coragem. Discursos inflamados pediam a revogação da reforma trabalhista, o fim da perseguição judicial ao líder petista e a retomada dos direitos da classe trabalhadora.
A carta lida no palanque, escrita por Lula de dentro da cela, foi o momento mais emocionante do dia. Nela, ele dizia que o Brasil é possível. Que a esperança é uma escolha. Que o povo não devia desistir. Era como se, mesmo preso, sua voz ecoasse nas avenidas, nos corações e nas mentes de quem nunca o abandonou.
Por trás da aparente legalidade da prisão, cresciam as dúvidas sobre os reais interesses da Lava Jato. Hoje já se sabe que agentes norte-americanos influenciaram diretamente a força-tarefa, com participação do FBI e do Departamento de Justiça dos EUA. Aquele que se dizia um juiz imparcial, Sergio Moro, já articulava com autoridades estrangeiras uma caça jurídica sem precedentes, com o claro objetivo de impedir Lula de disputar as eleições. Não por acaso, seu processo foi anulado anos depois e ele teve sua inocência restabelecida. "Descondenado", dizem os ignorantes que inventam palavras por não aceitarem a justiça. Em Direito, não existe "descondenação". Existe absolvição. E Lula, que nunca deveria ter sido condenado, voltou a ser o que sempre foi: inocente.
A história é irônica. Anos depois, é Jair Bolsonaro quem enfrenta investigações e prisões em sua base. A Polícia Federal revelou, em operação recente, que havia um plano terrorista para matar Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes, arquitetado por militares e aliados do ex-presidente. Um verdadeiro complô golpista de inspiração nazifascista, disposto a transformar o Brasil num campo de guerra para impedir a democracia. Mas fracassaram. Hoje, o Brasil caminha com firmeza. Lula governa com inteligência, respeito e compromisso com os que mais precisam.
O 1º de Maio de 2018 foi um marco de resistência e ternura. Em meio à injustiça, floresceu a solidariedade. Em cada visita de Caetano e Rochinha, em cada bandeira erguida na praça, estava a certeza de que um país melhor se constrói com memória, coragem e amor ao povo. E foi assim, com a cabeça erguida e o coração limpo, que Lula atravessou os dias mais sombrios rumo ao retorno triunfal. Um presidente que já foi operário, perseguido, preso. Um homem que nunca deixou de acreditar no Brasil.
Ronald Stresser, de Curitiba.


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