Os sete cardeais brasileiros em Roma: fé, esperança e missão no Conclave que elegerá o novo papa
Por Ronald Stresser*![]() |
Os cardeais brasileiros no Vaticano - Instagram |
Enquanto o sol dourava as cúpulas do Vaticano neste fim de abril, sete brasileiros se juntavam ao pulsar silencioso da história. Na Cidade Eterna, onde o tempo parece se entrelaçar com a eternidade, nossos cardeais caminham discretamente entre homenagens, orações e decisões que moldarão o futuro da Igreja Católica — uma instituição que carrega nos ombros a fé de 1,4 bilhão de almas.
Reunidos desde os primeiros momentos do luto pelo papa Francisco, falecido aos 88 anos na segunda-feira de Páscoa, os sete cardeais brasileiros formam um pequeno exército de fé e responsabilidade. Unidos pela oração e pelo espírito de missão, eles confiam — como publicou a Arquidiocese de Brasília — "na luz e na condução do Espírito Santo" para atravessar a travessia que se abre diante deles: a escolha do próximo pontífice.
O Conclave começará oficialmente no dia 7 de maio, na Capela Sistina, cenário de obras-primas de Michelangelo e de incontáveis suspiros secretos de escolha e renúncia. Lá, apenas os 135 cardeais com menos de 80 anos poderão votar — entre eles, os sete brasileiros que, agora, respiram o ar carregado de expectativa que invade Roma.
Um Brasil representado em rostos e trajetórias
Entre os representantes do país, histórias diversas se entrelaçam como fios coloridos de um mesmo tecido.
Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, caminha pela primeira vez pelos corredores silenciosos que levam ao Conclave, sentindo no peito a responsabilidade de uma história secular. Aos 65 anos, traz consigo a alma vibrante da mais antiga arquidiocese do país, onde a fé católica se entrelaça profundamente com as raízes afro-brasileiras. Seu rosto sereno guarda a firmeza de quem dedicou a vida a ouvir os clamores do povo e a defender os mais vulneráveis. De espírito progressista, Dom Sérgio moldou sua teologia entre os bancos acadêmicos de São Paulo e as salas austeras de Roma, mas foi no calor humano das comunidades que encontrou a essência de sua missão.
Já Dom Jaime Spengler, atual presidente da CNBB e arcebispo de Porto Alegre, também estreia nesse palco decisivo. Natural de Gaspar, no interior de Santa Catarina, Dom Jaime Spengler carrega em seus gestos a simplicidade franciscana e a sabedoria amadurecida entre livros e encontros com o povo. Aos 64 anos, o frade une a serenidade filosófica, lapidada nos claustros de Roma, à intensidade da vida pastoral brasileira, onde cada olhar e cada história moldaram seu jeito de ser. Reconhecido por sua escuta atenta e por buscar sempre o caminho do diálogo, Dom Jaime se equilibra entre o respeito às tradições e o desejo sincero de uma Igreja renovada, mais próxima do coração das pessoas.
Com uma bagagem mais longa, Dom Odilo Pedro Scherer chega ao seu segundo Conclave. Arcebispo de São Paulo e nome forte entre os conservadores moderados, Dom Odilo já esteve entre os favoritos na eleição que conduziu Jorge Bergoglio ao papado em 2013. De sorriso contido e raciocínio afiado, o gaúcho de Cerro Largo conhece como poucos os labirintos do Vaticano.
Outro nome de peso é Dom Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro. De perfil conservador e dono de um carisma que cativa tanto no altar quanto nas ruas, Dom Orani tem 74 anos e foi peça-chave na organização da Jornada Mundial da Juventude no Rio, em 2013 — o evento que marcou a única visita do Papa Francisco ao Brasil.
A juventude no grupo brasileiro é representada por Dom Paulo Cezar Costa, de 57 anos. Arcebispo de Brasília, professor e doutor em Teologia, ele é visto como um dos rostos do futuro da Igreja brasileira: sério, estudioso e profundamente ligado ao mundo acadêmico, mas também à pastoral viva das comunidades.
A experiência dos veteranos
Entre os veteranos, Dom João Braz de Aviz se destaca. Aos 77 anos, o ex-prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada carrega não apenas anos de experiência, mas uma visão de Igreja moldada na simplicidade e no diálogo. Nascido em Mafra, Santa Catarina, e criado no interior do Paraná, Dom João foi moldado pela esperança dos pequenos e pelo rigor da formação romana.
Já Dom Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus e primeiro cardeal da Amazônia, traz ao Conclave o clamor da floresta e das populações ribeirinhas. Aos 74 anos, de perfil progressista, ele representa uma Igreja que resiste, que escuta a terra e seus filhos, e que carrega no corpo as marcas da esperança e da luta por justiça ambiental.
O Brasil no centro da expectativa
Dessa vez, o Brasil não é apenas um observador. É um ator importante, com vozes respeitadas em diferentes alas da Igreja. Seja nos debates silenciosos dos encontros privados, seja no momento decisivo da votação, cada gesto, cada palavra, cada oração dos nossos cardeais ecoará muito além das muralhas do Vaticano.
Enquanto os turistas se aglomeram na Praça de São Pedro, buscando selfies diante do imenso vazio deixado pela morte do papa Francisco, dentro dos muros, o ambiente é outro: recolhimento, expectativa, esperança.
No próximo 7 de maio, quando a Capela Sistina se fechar para o mundo e apenas a fumaça branca poderá anunciar o novo líder espiritual, o Brasil estará lá — em oração, em voz, em voto.
E, quem sabe, também em nome.
*com informações da CNBB e Vatican News.
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