terça-feira, 29 de abril de 2025

Petrobras busca parceria com maior indústria naval do mundo

Gigante dos mares: indústria naval chinesa impõe supremacia e atrai Petrobras para parceria estratégica — enquanto os estaleiros dos EUA agonizam, Brasil mira a China em busca de tecnologia, escala e retomada de empregos na indústria naval

Por Ronald Stresser*

 
O maior navio do mundo foi feito na China - X/Reprodução

 
Em um cenário geopolítico em ebulição, com tarifas — entre Estados Unidos e China e um mundo cada vez mais pressionado por gargalos logísticos e transições energéticas, o maior navio de carga do planeta deslizou silenciosamente pelas águas da Ásia. Fabricado na China, o colosso tem capacidade para transportar 220 mil toneladas de mercadorias e até 24 mil contêineres — o equivalente a um edifício de 25 andares flutuando entre os continentes.

É um símbolo, mas não está sozinho.

Só em 2022, a China produziu cerca de 1.800 embarcações. Os Estados Unidos, cinco. A diferença — quase 36.000% — não é apenas estatística: revela uma mudança profunda no eixo da engenharia naval global e acende alertas sobre a soberania marítima de potências tradicionais. O próprio secretário de Transportes americano, Sean Duffy, admitiu a gravidade da situação em visita recente ao estaleiro da Filadélfia: “Temos que construir navios novamente na América”, implorou. Mas a fila de espera, mesmo com investimentos estrangeiros, ainda caminha lentamente.

Enquanto isso, no outro lado do mundo, a China transforma aço e estratégia em vantagem competitiva. E o Brasil observa, com interesse e pragmatismo.

Petrobras à bordo

Em uma sala de reuniões cercada por maquetes futuristas e mapas náuticos detalhados, no coração de Pequim, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, falou com a convicção de quem carrega um projeto maior do que cifras ou contratos.

Ao lado do ministro da Casa Civil, Rui Costa, ela apresentou aos anfitriões chineses mais do que uma proposta de negócios: lançou um convite para reconstruir, juntos, um capítulo estratégico da história industrial brasileira. Com estaleiros quase silenciosos no Brasil — galpões gigantes onde antes se forjavam navios hoje abrigam a esperança de um recomeço —, Magda pediu parceria, investimento e, sobretudo, confiança. Queria que os olhos atentos do gigante asiático enxergassem ali não apenas um mercado, mas um país disposto a voltar a construir.

“Estamos aqui para propor a ampliação da parceria entre Brasil e China em petróleo, gás e indústria naval. Há oportunidades concretas para empresas chinesas atuarem junto aos nossos estaleiros”, afirmou Chambriard, durante encontro com investidores e autoridades locais. O presidente da Transpetro, Sérgio Bacci, foi mais direto: “Pretendemos contratar 25 navios até 2030. Precisamos de parceiros para isso”.

A movimentação faz parte das conversas preparatórias para a visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, prevista para maio. No radar, não estão apenas navios, mas também trens, VLTs e projetos de mobilidade urbana com a gigante CRRC. Tudo sob o guarda-chuva do Novo PAC, plano do governo para reindustrializar o país e retomar obras paralisadas.

Do fundo do poço ao fundo do mar

A última grande onda da indústria naval brasileira veio com o pré-sal e a era dos estaleiros financiados pelo BNDES. Depois, vieram os escândalos, a Operação Lava Jato, o desmonte. Agora, a aposta é menos ufanista e mais estratégica: aproveitar a janela de oportunidade criada pelo novo boom de commodities, a necessidade de descarbonizar a logística e o vácuo deixado pelos EUA na disputa global.

Para a China, o interesse não é apenas comercial — é geopolítico. Estabelecer presença em estaleiros brasileiros seria uma forma de ampliar sua influência na América do Sul, oferecer alternativas às rotas dominadas por armadores europeus e norte-americanos, e garantir acesso a petróleo e minérios com logística própria.

Para o Brasil, seria uma chance de gerar milhares de empregos de alta qualificação, desenvolver tecnologia dual (com usos civis e militares) e reduzir a dependência externa em setores-chave como cabotagem, exploração offshore e transporte de grãos.

Mais que navios

A retomada da indústria naval não se faz apenas com aço e solda. Requer planejamento de longo prazo, compromissos contratuais claros e uma visão de país. O navio gigante lançado pela China não é apenas uma vitrine do que é possível construir — é também um alerta do que o Brasil pode perder se não agir a tempo.

Num mundo em que os mares voltaram a ser estratégicos, estar à deriva não é uma opção. E se for para navegar com parceiros, a Petrobras já escolheu a direção: rumo ao Oriente.


*com informações da Reuters, RT e Petrobras.

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