segunda-feira, 28 de abril de 2025

Dia do Trabalhador 2025: nas ruas, o grito por mais tempo de vida

Entre sonhos e batalhas, trabalhadores vão às ruas para reivindicar o direito de viver além do trabalho

Por Ronald Stresser*
 
 

Quinta-feira, primeiro de maio. As ruas do Brasil amanhecem com um som diferente: o eco das vozes de trabalhadores que, entre uma bandeira e outra, pedem mais do que apenas melhores salários — exigem qualidade de vida. O Dia do Trabalhador de 2025 não é apenas um feriado nacional. É uma data carregada de significado renovado, marcada por uma luta urgente: o direito ao tempo.

De Belém a Porto Alegre, manifestações se espalham pelo país, transformando praças e avenidas em palcos de esperança e indignação. Em São Paulo, na Praça Campo de Bagatelle, zona norte da cidade, a principal manifestação do dia começa a se formar pouco antes das 11h. Lá estão reunidas as centrais sindicais — CTB, CSB, Força Sindical, UGT, NCST, Pública — com a CUT como convidada especial. Unidas sob um mesmo chamado: repensar a lógica exaustiva do trabalho no Brasil.

"Seis por um não dá mais"

Entre os cartazes e faixas coloridas, uma frase salta aos olhos: "Seis por um não dá mais". A escala 6x1 — seis dias de trabalho para apenas um de descanso — virou o grande símbolo das manifestações de 2025. O debate, impulsionado nas redes sociais pelo influenciador Rick Azevedo, criador do movimento Vida Além do Trabalho (VAT), ganhou as ruas com força inédita.

“Eu não quero passar a vida dentro de uma fábrica, de uma loja, de um escritório, sem ver minha filha crescer”, desabafa Cláudio Santos, 37 anos, técnico em eletrônica, enquanto segura a mão da pequena Sofia, de apenas quatro anos. “Estamos aqui para dizer que a gente também quer viver.”

O movimento VAT, nascido do cansaço de quem já não aceita viver só para trabalhar, ajudou a dar forma à PEC 8/2025, da deputada Erika Hilton (Psol-SP), que propõe uma jornada de quatro dias e 36 horas semanais. Uma ideia que parecia distante, mas que hoje, nas ruas cheias, pulsa como esperança real.

Tempo para viver

A ideia de uma semana de quatro dias não é apenas um desejo de quem sonha com mais lazer. É uma reivindicação de saúde física e mental. “Estamos falando de produtividade, sim, mas, acima de tudo, de dignidade”, afirma Marina Oliveira, 29 anos, enfermeira, que participa do ato na Avenida Paulista, outro ponto de concentração na capital paulista.

"Eu amo o que faço, mas trabalhar seis dias e descansar um é insustentável", diz Marina. "A gente adoece, a gente se afasta da família, a gente perde a vida enquanto tenta sobreviver."

De norte a sul, um Brasil em marcha

O coro que ecoa em São Paulo se repete em centenas de cidades. Em Belém, trabalhadores se concentram na Praça do Operário às 8h30. Em Salvador, a mobilização acontece às 10h no bairro do Uruguai, diante da empresa de telemarketing Atento. No Recife, a Praça do Derby se transforma em cenário de protestos a partir das 10h.

No Rio de Janeiro, a icônica Cinelândia ferve às 14h com discursos inflamados contra a precarização do trabalho. Em Belo Horizonte, o grito ressoa na Praça Sete de Setembro. No Sul, Curitiba, Maringá, Porto Alegre, Cruz Alta, Blumenau e Florianópolis também registram atos, mostrando que, de ponta a ponta do país, o clamor é o mesmo.

"Não é só salário. É vida!"

As centrais sindicais, em nota conjunta, lembram que o 1º de Maio não é apenas um momento de celebração das conquistas históricas da classe trabalhadora, mas também uma oportunidade de reflexão sobre os novos desafios. “É um dia para lutar. Por dignidade, por respeito, por um futuro em que trabalhar não signifique abrir mão de viver”, diz o texto.

Em meio à multidão, muitos trabalhadores trazem outras pautas: aumento real do salário mínimo, mais proteção contra o trabalho informal e políticas públicas para quem perdeu o emprego na pandemia ou na recente crise econômica.

O futuro que pulsa nas ruas

Se 2025 será ou não o ano em que o Brasil dará um passo decisivo para jornadas mais humanas, ainda é uma incógnita. Mas nas ruas, neste primeiro de maio, o que se vê é um país que segue pulsando — não só de cansaço, mas de esperança.

Quando a tarde cai, e as praças vão se esvaziando lentamente, a sensação que fica é de que algo mudou. Talvez ainda não na lei, mas, sem dúvida, no coração de quem acredita que trabalhar é importante, mas viver é essencial.

*com informações da CUT/CGT e Força Sindical.

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