terça-feira, 3 de junho de 2025

Sulpost Mercado - 03/06/2025

Haddad volta a falar em reformas estruturais após rebaixamento da perspectiva do Brasil: “Não vamos abrir mão das metas”

Por Redação de Economia, blog Sulpost.

 
 

Em meio à turbulência provocada pelo recuo da agência de classificação Moody’s, que rebaixou a perspectiva da nota de crédito do Brasil de positiva para estável, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, resolveu mirar longe. Disse que o momento exige mais do que medidas paliativas: é hora de retomar a trilha das reformas estruturais.

“Imagina todo ano a gente ter que repetir o que fizemos no fim do ano passado para fechar o orçamento de 2025. Isso não é bom”, afirmou o ministro, nesta terça-feira (3), em pronunciamento em Brasília.

A crítica implícita ao improviso fiscal dos últimos anos veio acompanhada de um recado claro ao Congresso e ao mercado: a Fazenda não vai abrir mão de suas metas e espera apoio político para um novo ciclo de reestruturação do Estado brasileiro.

Sinal amarelo no radar

O alerta soou na última sexta-feira (30), quando a Moody’s justificou o rebaixamento da perspectiva da nota brasileira pela piora do cenário fiscal, a rigidez do orçamento e a fragilidade da credibilidade da política fiscal — mesmo reconhecendo avanços recentes. Os analistas enxergam um dilema no horizonte: o país até conseguiu crescer no primeiro trimestre e apresentar metas fiscais, mas não convenceu com relação à sustentabilidade dessas conquistas.

A classificação de crédito não afeta apenas a imagem institucional do país: ela tem reflexos concretos. Piora os juros cobrados em financiamentos internacionais e reduz o apetite de investidores estrangeiros. É como se o Brasil estivesse tentando obter crédito com o nome sujo na praça.

“O que interessa mais à Fazenda”

Segundo Haddad, há duas rotas possíveis. “Uma é resolver de forma regulatória, para cumprir as metas do ano, como um paliativo. A outra, que interessa mais à Fazenda, é voltar às reformas estruturais que conseguimos fazer, sobretudo no primeiro ano”, afirmou, sem detalhar quais reformas seriam priorizadas. O recado, no entanto, é claro: é preciso coragem política para encarar o essencial e não apenas o emergencial.

No centro da atual tensão está a discussão em torno do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). O governo estuda um substitutivo ao aumento do tributo e deve anunciar ainda hoje um pacote alternativo, entre R$ 35 bilhões e R$ 40 bilhões, com foco em receitas de petróleo. A ideia é contornar o desgaste político do IOF e, ao mesmo tempo, encontrar lastro fiscal para o próximo biênio.

“Não é uma coisa para resolver 2025, é algo com impacto duradouro ao longo do tempo”, frisou o ministro.

Galípolo e o IOF: um imposto fora do lugar

A resistência ao uso do IOF como ferramenta de ajuste também vem de dentro do próprio governo. O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçou que o imposto deve manter seu caráter regulatório — e não ser usado nem para arrecadação nem para controle monetário. “Não é desejável que se escolha um produto financeiro por causa de arbitragem tributária”, alertou, em aceno direto ao mercado.

Mercado: entre o ceticismo e os dados

Mesmo com o cenário fiscal sob pressão, o boletim Focus, divulgado toda segunda-feira pela manhã, trouxe sinais de otimismo moderado. A projeção de crescimento do PIB para este ano subiu de 1,70% para 1,80%. Já para 2025, houve leve queda, de 2,14% para 2,13%. A inflação, medida pelo IPCA, também recuou nas expectativas — de 5,5% para 5,46% até o fim do ano.

Câmbio e taxa Selic permanecem inalterados nas projeções. O mercado, no entanto, ainda aguarda os dados do relatório JOLTS sobre o mercado de trabalho nos EUA e o payroll de sexta-feira, que podem influenciar os rumos da política monetária global — e, por tabela, os fluxos de capitais para países emergentes como o Brasil.

No curto prazo, o alívio vem na bomba

Enquanto Brasília discute pacotes bilionários e reformas fiscais, o consumidor comum sente um respiro modesto no bolso. A Petrobras anunciou nesta terça-feira uma redução de R$ 0,17 no preço da gasolina vendida às distribuidoras — a primeira em mais de um ano e meio. O corte de 5,6% coloca o preço médio do litro nas refinarias em R$ 2,85.

Ainda que o impacto imediato nas bombas dependa de fatores como impostos estaduais e volume de importações, a medida reforça um ponto: o governo precisa combinar responsabilidade fiscal com sensibilidade social.

O desafio da coerência

Em seu discurso, Haddad se esforçou para reafirmar compromisso com as metas e, ao mesmo tempo, buscar alternativas viáveis ao aumento de impostos. “O plano de voo está bem montado”, disse, prometendo apresentar as propostas ainda hoje ao presidente Lula, antes da viagem internacional do chefe do Executivo.

Mas o verdadeiro teste será mais à frente — quando as escolhas deixarem de ser retóricas e passarem a exigir votos no Congresso, cortes reais no orçamento e enfrentamento de interesses.

Enquanto isso, as agências de classificação seguem observando, prontas para punir ou premiar conforme a iniciativa e a coerência. O jogo segue pesado no cassino global.

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