terça-feira, 24 de junho de 2025

Bandeiras que não tremulam por nós

Servilismo, entreguismo e a ruptura do pacto nacional: Gleisi Hoffmann denuncia Bolsonaro por traição à soberania

Por Ronald Stresser | Sulpost

 
Netanyahu e Bolsonaro - Fernando Frazão/Agência Brasil
 

Em meio a um cenário internacional tenso, marcado por novos bombardeios dos Estados Unidos ao Irã, uma imagem voltou a circular nas redes sociais: o ex-presidente Jair Bolsonaro posando ao lado de Donald Trump e Benjamin Netanyahu. Não se trata de um gesto isolado, nem de um simples alinhamento político.

Para a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, esse é o retrato mais cruel do que ela chama de "entreguismo explícito" — uma abdicação consciente da soberania nacional em troca de prestígio internacional.

Sentada no gabinete em Brasília, Gleisi não mede palavras. "Bolsonaro desmonta qualquer narrativa de nacionalismo. Ele não só se alinha, como se curva a interesses estrangeiros. Isso não é erro, é estratégia."

E não é a primeira vez.

Três bandeiras e um país à deriva

Durante seu governo, Bolsonaro participou de atos públicos onde segurava um estandarte com três bandeiras: a do Brasil, a dos Estados Unidos e a de Israel. O símbolo, uma construção improvisada, encarnava a tentativa de criar uma identidade ultraconservadora e transnacional, mas que, para muitos, soava como um ultraje à Pátria.

"Foi uma violação à integridade simbólica da bandeira nacional", relembra o antropólogo David Nemer. "Nem mesmo os israelenses veem com bons olhos esse tipo de fetichização da bandeira. É um gesto que beira o fanatismo e ignora o que esses símbolos realmente representam."

Entidades judaicas, como o Instituto Brasil-Israel e o grupo Judeus pela Democracia, também se manifestaram, classificando o ato como um sequestro dos símbolos e uma tentativa de usar a bandeira israelense como escudo político. “Não há identificação legítima ali. É apenas marketing ideológico de quem está disposto a ceder tudo para agradar aliados externos”, afirmou o historiador Michel Gherman na época.

A quem serve Bolsonaro?

Nos últimos dias, Bolsonaro voltou a aparecer nas redes, publicando uma imagem onde dizia:

“Dê-me 50% da Câmara e 50% do Senado que eu mudo o destino do Brasil.”

A mensagem, segundo Gleisi, é mais do que uma bravata populista — é uma insinuação direta de que a solução para o país pode vir de fora, caso o sistema democrático não o favoreça. Para ela, isso não apenas fragiliza o Estado de Direito como representa uma ameaça aberta à soberania.

“Quanto mais avança o julgamento de seus crimes no Supremo, mais ele apela a uma intervenção estrangeira. É a admissão explícita de que Bolsonaro não confia nas instituições do país”, denunciou a ministra.

O contexto não poderia ser mais grave. Bolsonaro é investigado por tentativa de golpe de Estado e outros crimes que, somados, desenham um projeto autoritário. Um projeto que, para Gleisi, nunca foi disfarçado — apenas mal camuflado com discursos nacionalistas que caem por terra ao primeiro gesto de bajulação externa.

Diplomacia às avessas

Enquanto o Itamaraty condenava os ataques americanos ao Irã, Bolsonaro e seu filho Eduardo aplaudiam. Este último chegou a citar o lema latino “Si vis pacem, para bellum” — se queres a paz, prepara-te para a guerra —, frase que, usada nesse contexto, transforma o Brasil em cúmplice informal de bombardeios internacionais.

“É uma inversão total de valores. A diplomacia brasileira sempre foi pautada pela busca da paz, pela mediação, pelo respeito aos povos”, lembra uma fonte ligada à diplomacia internacional, que prefere não se identificar.

Bolsonaro, ao agir assim, não rompe apenas com a tradição da política externa brasileira — rompe com o próprio pacto da política: a defesa do Brasil acima de tudo.

Palavras vazias em uma bandeira rasgada

Para Gleisi Hoffmann, a questão é mais profunda do que a política partidária. “Soberania, democracia, justiça — para ele, tudo isso parece apenas palavras vazias. Elementos de um discurso que ele usa quando convém, mas abandona sem pudor quando não lhe serve.”

A crítica da ministra ecoa em um país que ainda tenta se recompor dos abalos institucionais e morais de um governo que, em nome de Deus, família e liberdade, se aliou a líderes estrangeiros e flertou com a ruptura democrática.

Mas talvez o símbolo mais claro de tudo isso tenha sido mesmo aquele estandarte tricolor — Brasil, EUA e Israel. Três bandeiras que, unidas num mesmo mastro, não tremulam por um povo. Tremulam por um projeto. E esse projeto, como lembra Gleisi, não é o Brasil.

 

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