Quando a vacina contra herpes-zóster vai chegar ao SUS? A esperança de um alívio gratuito para milhões de brasileiros
Por Ronald Stresser | SulpostNo Brasil, milhares de pessoas convivem em silêncio com uma dor que vai muito além da pele. É uma dor que arde, que queima, que se arrasta por semanas ou até meses. É a dor da herpes-zóster — ou, como muitos conhecem, o temido “cobreiro”. Em meio a um cenário de envelhecimento da população e alta incidência de doenças crônicas, a pergunta que ecoa entre especialistas, pacientes e familiares é urgente: quando a vacina contra a herpes-zóster vai, enfim, ser oferecida pelo SUS?
A resposta ainda exige tempo. Mas um importante passo foi dado.
Em maio passado, o Ministério da Saúde anunciou que solicitou estudos para avaliar a inclusão do imunizante no Plano Nacional de Imunização (PNI). A medida representa uma possível virada de chave: caso aprovada, a vacina será oferecida de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde. Hoje, o custo para se proteger gira em torno de R$ 2 mil na rede privada — valor inviável para a imensa maioria da população brasileira.
“É uma ferramenta que considero fundamental na prevenção, principalmente da morbidade e do sofrimento relacionado às complicações da doença”, afirma a médica infectologista Gabriela Camargo, em entrevista ao podcast Repórter SUS. “Se conseguirmos a vacina pelo SUS, será um avanço imenso na proteção da população. E gratuito. Seria incrível.”
A dor invisível
A herpes-zóster é provocada pelo vírus Varicela-Zóster, o mesmo responsável pela catapora. Depois da primeira infecção, normalmente na infância, o vírus permanece adormecido no organismo — mas pode acordar muitos anos depois, especialmente quando a imunidade está baixa.
O problema é que esse despertar pode ser brutal.
As bolhas na pele são apenas o começo. O que mais assusta são as complicações neurológicas, como a neuralgia pós-herpética, uma dor lancinante que pode durar meses ou até anos. Para idosos e imunossuprimidos, o risco de comprometimento ocular e infecções graves é real.
“Minha mãe teve aos 67. As feridas secaram em um mês, mas a dor, essa não passou até hoje”, relata Clarice dos Anjos, filha de dona Irene, moradora de Porto Alegre. “Ela vive à base de analgésicos e, mesmo assim, tem noites que não consegue dormir. É como se o vírus tivesse deixado uma cicatriz na alma dela.”
Por que ainda não chegou?
O anúncio do Ministério da Saúde acende a esperança, mas o caminho até o posto de saúde é longo e técnico. O processo começa com a análise da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), responsável por avaliar se a vacina é eficaz, segura e apresenta uma relação entre custo e efetividade justificável para adoção pelo sistema público.
Além das evidências científicas, a comissão considera o impacto econômico da medida: quanto custa comprar, armazenar, distribuir e aplicar o imunizante em larga escala? Há estrutura para isso em todos os estados? A logística alcança áreas remotas e populações vulneráveis?
A previsão atual é que todo esse trâmite — que inclui consulta pública e articulação com estados e municípios — leve cerca de um ano ou mais. Com isso, a vacina contra herpes-zóster deve estar disponível no SUS em 2026, se tudo ocorrer conforme o previsto.
O imunizante: o que ele promete?
A vacina que está sendo considerada para o SUS é do tipo recombinante com vírus inativado, mais segura e eficaz, principalmente para idosos. Estudos mostram que ela pode reduzir em mais de 90% os casos graves da doença, incluindo as temidas complicações.
O público-alvo prioritário deverá ser pessoas acima dos 60 anos e indivíduos com condições clínicas que comprometam a imunidade — como pacientes oncológicos, transplantados e pessoas vivendo com HIV.
Para Gabriela Camargo, a vacina é mais do que uma prevenção: é um instrumento de justiça social.
“É sobre garantir que um idoso do sertão nordestino tenha a mesma chance de proteção que alguém do centro de São Paulo. É isso que o SUS significa. E é para isso que lutamos.”
O silêncio dos números
Entre 2015 e 2024, o Brasil registrou mais de 300 mil casos relacionados ao vírus Varicela-Zóster, somando manifestações de catapora e herpes-zóster. É uma estatística que pouco se ouve, mas que carrega histórias de dor, isolamento e perda de qualidade de vida.
Muitos desses casos poderiam ter sido evitados com a vacina. Mas ela ainda é um privilégio de poucos — daqueles que podem pagar. Enquanto isso, a espera continua, e com ela a esperança de que, em breve, o alívio não seja mais uma questão de renda.
Com informações do Ministério da Saúde e da FIOCRUZ.
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