terça-feira, 14 de outubro de 2025

Udine em Chamas de Indignação: quando o estádio vira trincheira e a rua exige banir um governo

Udine virou palco de batalha  - milhares de pessoas saíram às ruas em protesto pró-Palestina durante o jogo Itália × Israel, denunciando o governo Netanyahu e pedindo boicote à participação israelense -  protesto termininou em confronto com a polícia

Por Ronald Stresser — Sulpost

Os protestos nas ruas de Udine, na Itália, neste 14 de outubro - RaiNews

Em frente ao Bluenergy Stadium, milhares saíram às ruas para dizer que não querem que o futebol legitime o que chamam de políticas de violência de Benjamin Netanyahu. A marcha terminou em confrontos, lacrimogêneo, jatos d'água — e perguntas que o esporte não pode mais evitar.

As calçadas de Udine se transformar num palco de guerra política. O que começou como uma marcha pró-Palestina — bandeiras enormes, cartazes, vozes que chamavam por reconhecimento e justiça — acabou, em certas frentes, em choque com a polícia: tentativas de romper cordões, carregas, uso de gás lacrimogéneo e de idranti (jatos d'água) para dispersar parte dos manifestantes.

O protesto que não cabia nas arquibancadas

Era para ser apenas uma partida das eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026; tornou-se um ponto de encontro entre memória, dor e exigência política. Da Piazza della Repubblica à Piazza Primo Maggio, a marcha reuniu — segundo estimativas das autoridades locais e reportagens em campo — milhares de pessoas que pediam que "não se jogue com o genocídio" e que a federação nacional de futebol (FIGC) não legitime, com partidas, um Estado denunciado por muitos por práticas violentas.

Havia crianças no colo, idosos com lenços, coletivos estudantis e cidadãos comuns. Havia também a raiva contida de quem trouxe fotos de vítimas, a voz embargada de quem perdeu parentes, e o refrão simples e cortante: "Free Palestine". Entre os cartazes, acusações diretas à FIGC de cumplicidade e apelos para que a FIFA e a UEFA reconsiderem a presença de Israel nas competições internacionais.

Quando a segurança vira cenário

Udine foi cercada: barreiras de concreto, restrições de circulação, bloqueios de ruas, snipers em pontos altos e até drones sobrevoando. O estádio foi transformado em uma ilha de acesso controlado; a seleção israelense entrou por rotas protegidas e sob escolta reforçada. A sensação, para muitos moradores, foi a de uma cidade em estado de alerta.

A presença massiva das forças de segurança não impediu que, em determinados momentos, parte dos manifestantes tentasse furar os cordões e se aproximar do estádio. Nessas frentes localizadas houve arremesso de objetos, bombas de fumaça e a reação das forças: cargas e uso de gás lacrimogéneo, com relatos de feridos e ao menos uma detenção registrada nos relatos locais. A imprensa regional noticiou também o encaminhamento de um jornalista ferido para atendimento.

Vozes, adultas e jovens — e a recusa a reduzir tudo a "hooliganismo"

Entre os que marcharam havia professores, mães e pais, ativistas de direitos humanos, pessoas que até então não participavam de mobilizações, e jovens que perceberam no futebol um palco de visibilidade política. "Não jogamos contra pessoas; jogamos contra políticas", dizia uma das vozes da multidão — uma frase que revela a tensão: muitos manifestantes diferenciam atletas e seleções da responsabilidade política de um governo que, para eles, comanda ações intoleráveis.

Essa distinção é frágil e politicamente carregada. Para as famílias que perderam entes em Gaza, o jogo é um símbolo de normalidade num momento que, na sua visão, normalidade não deve existir. Para as autoridades e parte do público, o esporte deve permanecer espaço de diálogo e paz. Essa colisão de princípios produziu a cena intensa que Udine testemunhou hoje.

O que a cidade deixou de ser — e o que mostrou

Lojas baixaram persianas, ruas foram esvaziadas e o som habitual da cidade, muitas horas, foi um fundo de sirenes e passos. Ainda assim, a praça não se esvaziou de humanidade: havia gente rezando, cantando, chorando. Houve quem organizou uma vigília, houve quem, de forma artística, deixou pinturas e murais como protesto. O ato mostrou que, quando a política exterior encontra empatias profundas e feridas, o futebol deixa de ser um jogo para se tornar um espelho incômodo.

Por que está acontecendo — em poucas linhas

O pano de fundo é uma guerra que deixou milhares de mortos, deslocados e uma sensação de emergência humanitária em Gaza. Grupos e movimentos, no Ocidente, têm organizado boicotes e protestos contra a participação de Israel em torneios, pedindo sanções simbólicas e medidas das instituições esportivas. Em Udine, essa demanda transformou a cidade em palco de um conflito paralelo: enquanto um lado pede suspensão e boicote, outro insiste na separação entre esporte e política.

O que fica

Quando a fumaça do lacrimogéneo baixar e as arquibancadas vazarem, Udine terá guardado a imagem de um dia em que o futebol foi forçado a olhar para além do placar. Restam perguntas que o jogo não resolve: pode o esporte legitimar governos acusados de crimes por organismos e vozes da sociedade civil? A quem pertence a responsabilidade de agir — federações, tribunais internacionais, governos?

Enquanto essas perguntas fervilham, as ruas nos lembram que as batalhas de legitimidade não acabam com o apito final. Em Udine, hoje, a guerra que começou longe encontrou, nas calçadas, sua tradução em indignação pública. E essa indignação pede ser ouvida — não apenas como ruído, mas como aquilo que constrói memória, pressão e, talvez, mudança.

📌 Notícia baseada em apurações e transmissões ao vivo realizadas em 14 de outubro de 2025; informações em fluxo — RaiNews (TGR FVG), Ansa e Corriere della Sera.

Apagão na madrugada atinge todas as regiões do país após incêndio em subestação no Paraná

O incidente em Campo Largo mobilizou o ONS e reacendeu o debate sobre a segurança do sistema elétrico nacional. Governo garante que o fornecimento foi restabelecido em até duas horas e descarta risco de colapso energético

Por Ronald Stresser — Sulpost

Por volta das 0h32 desta terça-feira, uma ocorrência registrada na Subestação de Bateias, em Campo Largo (PR), provocou a interrupção de aproximadamente 10.000 megawatts (MW) de carga no Sistema Interligado Nacional. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) informou que o incidente teve início com um incêndio em um reator, que levou ao desligamento da subestação de 500 kV e à abertura de interligações entre regiões.

A interrupção afetou os quatro subsistemas do SIN: Região Sul, Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e Norte. Segundo os números oficiais comunicados pelas entidades técnicas, as perdas oscilavam na ordem de 1.600 MW na Região Sul, 1.900 MW no Nordeste, 1.600 MW no Norte e cerca de 4.800 MW no Sudeste/Centro-Oeste. As cargas foram recompostas de forma escalonada: as regiões Norte, Nordeste e Sudeste/Centro-Oeste tiveram a maior parte do restabelecimento nas primeiras horas e, por volta de duas horas e meia após o início da ocorrência, a Região Sul teve suas cargas totalmente recompostas.

O episódio e a resposta técnica

As equipes de operação e emergência — ONS, empresas de transmissão, Corpo de Bombeiros e perícia técnica — atuaram nas primeiras horas para controlar o incêndio e restabelecer o fornecimento. Não há, até o momento, registro oficial de vítimas. O ONS informou que iniciou imediatamente ação conjunta com os agentes do setor para recomposição segura dos equipamentos e das cargas afetadas.

Uma reunião com os principais agentes envolvidos foi programada para o mesmo dia, e outra sessão preliminar de Análise da Perturbação foi agendada para ocorrer nos próximos dias, com o objetivo de identificar causas, responsabilidades e medidas corretivas.

O posicionamento do governo

Em entrevista à imprensa, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que o país conta com um sistema "robusto" e que o episódio foi pontual, ressaltando o trabalho coordenado entre os órgãos para restabelecer o serviço. O ministro reforçou que, com o planejamento em curso e os níveis de armazenamento hídrico favoráveis nos últimos anos, o governo não vê necessidade de retomar o horário de verão para contenção de demanda neste ano.

Como medidas anunciadas em caráter imediato, o ministério confirmou: (1) acompanhamento técnico integrado com o ONS e agentes do setor; (2) abertura de investigação para apurar causas e possíveis falhas de equipamento ou procedimentos; (3) aceleração de ações previstas em planos de contingência; e (4) continuidade do cronograma de leilões e iniciativas de segurança energética que o governo tem apresentado, incluindo programas de leilão de térmicas e projetos de armazenamento por baterias — soluções que, segundo a pasta, complementam a matriz hidrelétrica e ajudam a reduzir riscos por intermitência de fontes renováveis.

Impacto social e relatos

Embora o corte tenha ocorrido durante a madrugada — momento em que muitos usuários não chegam a sentir a interrupção — houve registros de efeitos práticos: elevadores que pararam em prédios altos, estabelecimentos noturnos que tiveram operações interrompidas e equipamentos domésticos afetados. Pequenos negócios que abrem cedo relataram apreensão diante da possibilidade de cortes mais longos em horários de pico.

Esses relatos trazem à tona a importância das rotinas de manutenção e de planos de resposta rápida em infraestruturas críticas, para minimizar impactos no dia a dia de hospitais, serviços essenciais, comércio e residências.

Contexto factual sobre a gestão local

A Subestação de Bateias está sob operação da concessionária local. Cabe registrar, de modo factual, que a Companhia Paranaense de Energia (Copel) passou por processo de privatização em 8 de agosto de 2023, em operação financeira que movimentou aproximadamente R$ 5,2 bilhões. A menção é puramente informativa e visa situar o leitor sobre a configuração institucional da companhia responsável pela operação na região.

O que esperar agora

Nos próximos dias, as autoridades técnicas deverão publicar relatórios com laudos preliminares e, posteriormente, análises mais detalhadas sobre as causas do incêndio. A expectativa oficial é de transparência nas investigações e de apresentação de medidas corretivas e preventivas, que podem incluir revisão de cronogramas de manutenção, inspeções adicionais em equipamentos similares e recomendações operacionais para reduzir a probabilidade de reincidência.

Para a população, o essencial é acompanhar as comunicações oficiais das autoridades competentes e exigir clareza sobre prazos e responsabilidades, garantindo que ações técnicas sejam acompanhadas de comunicação pública compreensível.

Reforço estrutural 

O incêndio na Subestação de Bateias e o apagão associado foram controlados e o fornecimento foi restabelecido em poucas horas. Resta agora à rede técnica, à Aneel e ao governo demonstrar, com documentos e prazos, quais medidas imediatas e estruturais serão adotadas para preservar a continuidade do serviço e aumentar a resiliência do sistema elétrico nacional.

Justiça de Transição: o Brasil em busca de si mesmo

Justiça de Transição em pauta: OAB Paraná promove seminário para reconstruir pontes entre memória e democracia

Por Ronald Stresser – Sulpost

Entre os dias 16 e 17 de outubro, a sede da OAB Paraná, em Curitiba, receberá um dos debates mais urgentes e necessários do Brasil contemporâneo. O seminário “Desafios da Justiça de Transição”, promovido pela Escola Superior da Advocacia (ESA), busca compreender como o país pode lidar com seu passado autoritário e avançar em direção a uma verdadeira cultura democrática. Mais do que um evento jurídico, será um espaço de escuta, reflexão e memória coletiva.

O encontro propõe revisitar o papel da justiça de transição na preservação da memória histórica, na promoção dos direitos humanos e na construção de políticas públicas de reparação. Trata-se de um debate que toca o âmago de um país ainda em processo de reconciliação com as feridas de seu passado.

Com entrada gratuita para estudantes e inscrição no valor simbólico de R$ 50,00 para os demais participantes, o seminário será realizado de forma híbrida — presencialmente na sede da OAB/PR (Rua Coronel Brasilino Moura, 253 – Ahú) e com transmissão ao vivo pela internet. As inscrições seguem abertas até o dia 16 de outubro.

Memória, verdade e reparação

O tema central do seminário não poderia ser mais atual. Em um momento histórico marcado por desinformação e revisionismo, a defesa da memória se torna um ato político e ético. A justiça de transição é, antes de tudo, um instrumento de reconstrução: um compromisso com o direito de lembrar e com o dever de não repetir.

Segundo os organizadores, o objetivo é “criar um espaço de reflexão sobre os desafios contemporâneos da justiça de transição, abordando temas como a preservação da memória histórica, os direitos humanos e as políticas públicas de reparação”.

O evento é promovido com o envolvimento direto das Comissões da OAB/PR voltadas à defesa dos direitos humanos, à diversidade, aos povos originários, à verdade sobre a escravização negra e à advocacia iniciante — um conjunto que revela a amplitude e a importância do debate proposto.

Vozes da resistência e do conhecimento

O seminário reunirá nomes de peso da advocacia, da academia e do ativismo, entre eles Anderson Farias, José Carlos Portella Junior, Vera Karam de Chueiri, Ygor Sarmanho Vasconcelos, Caroline Godoi, Igor Grabois, Luiz Bueno, Leandro Gorsdorff, Rafaelly Wiest, Antonio Narciso Pires de Oliveira, Viviane Alves de Oliveira, Aluízio Ferreira Palmar, Melina Girardi Fachin, Daniel Godoy Junior e Marina Lis Wassmansdorf.

São profissionais e militantes que, por meio do direito, da pesquisa e da luta social, mantêm viva a chama da justiça e da memória. Suas trajetórias representam a ponte entre o passado que insiste em ser lembrado e o futuro que precisa ser reconstruído.

Uma travessia pela história

Mais do que um curso, o seminário é um exercício de escuta e responsabilidade coletiva. A cada palestra e relato, o público será convidado a revisitar períodos que o país tentou esquecer — e compreender que a democracia não se consolida no silêncio, mas na coragem de encarar as próprias sombras.

“A justiça de transição é sobre o direito de lembrar, mas também sobre o dever de não repetir”, resume um dos organizadores, traduzindo o espírito de um evento que nasce do encontro entre o saber jurídico e o compromisso ético com a verdade.

Com carga horária de 10 horas, o seminário se divide entre os dias 16 (das 19h às 22h) e 17 (das 9h às 18h), na sede da OAB Paraná, consolidando-se como uma das mais relevantes iniciativas da ESA neste semestre. A proposta reafirma o papel da instituição como guardiã do debate democrático e promotora da educação jurídica comprometida com os direitos humanos.

Serviço

Seminário “Desafios da Justiça de Transição”

  • Datas: 16 e 17 de outubro de 2025
  • Horários: 16/10 – 19h às 22h (Auditório) | 17/10 – 9h às 18h (Sala Democracia)
  • Local: OAB Paraná – Rua Coronel Brasilino Moura, 253, Ahú – Curitiba/PR
  • Modalidade: Híbrida (presencial e online)
  • Investimento: R$ 50,00 – entrada gratuita para estudantes
Inscrições: esa.oabpr.org.br
  • Apoio: Augusto Rodrigues Advocacia e Godoy Advogados • Luiz Bueno

“Não há democracia plena sem memória. E não há memória viva sem justiça.”

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Amanhecer em Gaza: a libertação que inaugurou, por ora, a paz mais esperada

Em troca dos 20 reféns trazidos de volta a Israel, um amplo plano de cessar-fogo e libertações marca o primeiro capítulo de um acordo mediado pelos EUA

Por Ronald Stresser | 13 de outubro de 2025

O comboio que transportou prisioneiros palestinos chega a Ramallah, capital palestina da Cisjordânia ocupada - Reuters

O som que tomou as praças, os corredores dos hospitais e as salas do parlamento foi, no primeiro dia, o de abraços que pareciam não caber no corpo. Depois de 738 dias de cativeiro e de um conflito que rasgou territórios e vidas, os 20 reféns ainda vivos que se acreditava estarem em Gaza foram libertados nesta segunda-feira (13). A operação — acompanhada pela Cruz Vermelha e orquestrada no quadro de um plano de paz mediado pelos Estados Unidos — ocorreu em duas fases e trouxe consigo não apenas pessoas, mas perguntas, promessas e, finalmente, algum respiro à população exaurida das duas margens do conflito.

A entrega: dois momentos, um país em festa

Foram sete libertados no norte de Gaza no início da manhã e outros treze ao longo do dia, no sul — todos recebidos com choro, ansiedade e, sobretudo, o reencontro que parecia proibido por tanto tempo. Em Tel Aviv, a Praça dos Reféns inchou de gente; em Ramallah, ônibus cheios de prisioneiros palestinos traziam uma imagem igualmente poderosa: a de um povo que reencontra parte de sua gente após anos de separação.

A troca que redesenha um dia

A libertação não foi um ato isolado: Israel iniciou a soltura de cerca de 250 prisioneiros palestinos e de mais de 1.700 moradores de Gaza detidos durante o conflito. Ônibus chegaram a Ramallah, onde as cenas de reencontro — e de tensão — foram captadas por diferentes equipes de imprensa. Em Gaza, hospitais se preparam para receber cidadãos que retornam marcados pelo tempo atrás das grades ou pela dureza da guerra.

O kit do retorno e as palavras oficiais

Em Israel, os libertados receberam kits que incluíam roupas, um computador, um celular, um tablet — e uma nota manuscrita assinada por Benjamin e Sara Netanyahu: “Em nome de todo o povo de Israel, bem-vindos de volta!”. A mensagem, simples e humana, foi parte de um ritual de reintegração que tenta preencher lacunas que nenhum aparelho pode consertar.

Trump e a mediação: um amanhecer histórico?

O presidente americano, Donald Trump, que esteve em Israel na manhã de segunda, descreveu o episódio como “o amanhecer histórico de um novo Oriente Médio” e deixou claro o papel dos Estados Unidos como costureiros do acordo. Trump seguiu para uma cúpula no Egito com cerca de 20 líderes mundiais para consolidar a primeira fase do cessar-fogo e um plano de reconstrução e supervisão humanitária. Em Londres, o primeiro-ministro Keir Starmer anunciou também apoio financeiro emergencial para Gaza, parte de um pacote maior de assistência.

O que ficou por resolver

Nem tudo foi selado em tom festivo. O Hamas afirmou que os 28 corpos dos reféns que não sobreviveram ainda serão entregues posteriormente — uma ferida que aguarda o rito do luto e do enterro digno. Ao fundo, os números que chocam: mais de 60 mil mortos desde o início da resposta israelense à incursão de 7 de outubro de 2023, entre os quais muitas crianças e mulheres — um balanço que organizações internacionais e uma comissão da ONU descreveram com termos que não é possível ignorar.

Humanidade nas margens do conflito

Quem celebrou primeiro foram as famílias — pessoas que viveram no compasso da espera por dois anos. “Nossa luta não terminou. Ela não terminará até que o último refém seja localizado e devolvido para receber um enterro digno”, disseram familiares de alguns dos libertados em comunicado. Era uma mistura de gratidão e obrigação moral, uma lembrança de que cada vida resgatada carrega consigo o peso de todas as que não voltaram.

Em Gaza, as ruas, ainda tomadas por escombros e silêncio, ouviram pela primeira vez depois de muito tempo o som de crianças brincando — um sopro delicado que não apaga os traumas, mas anuncia a possibilidade de respiração. A reconstrução será longa: de casas, infraestrutura, memórias e instituições. O acordo prevê mecanismos de supervisão internacional para garantir que ajuda humanitária entre de forma contínua e independente, em comboios monitorados pela ONU e pela Cruz Vermelha.

O que este dia significa — e o que não resolve

Este acordo inaugura uma primeira fase — de libertações, entradas humanitárias e negociações — que poderá evoluir para um cessar-fogo mais profundo e, quem sabe, compromissos políticos duradouros. Mas a paz definitiva exigirá passos que vão além de gestos simbólicos: desarmamento, garantias de segurança, justiça para vítimas, mecanismos de reconstrução e uma vontade política internacional sustentada. Por ora, o que se celebra é a vitória da espera convertida em reencontro. Não é pouco — mas também não basta.

Requião candidato a presidente pelo PDT?

Provável saída de Ciro Gomes do PDT pode abrir caminho para Roberto Requião disputar a Presidência e fortalecer o filho no Paraná

Por Ronald Stresser | Sulpost

O cenário eleitoral para 2026 pode apresentar uma reviravolta. Ciro Gomes deve se filiar ao PSDB neste novembro para concorrer ao governo do Ceará, movimento que pode mudar os rumos do PDT e do próprio trabalhismo nacional..

O Partido Democrático Trabalhista (PDT), foi fundado em 1979 por Leonel Brizola para tentar reorganizar as forças da esquerda brasileira no final da ditadura militar brasileira e tem tradição de sempre lançar candidato próprio à Presidência da República.

Nos bastidores, o nome de Roberto Requião renasce com força como possível candidato, resgatando um discurso de soberania, união e coerência.

No Paraná, seu filho, o deputado estadual Requião Filho, ganha fôlego como pré-candidato ao governo, embalado por bases que enxergam nele a continuidade de uma luta antiga — ele está em segundo lugar, de acordo com pesquisas recentes.

Pai e filho simbolizam um reencontro entre o partido, suas origens populares e as bases do campo progressista nacional — um sopro de vida em meio à aridez do atal cenário político do nosso país. Se confirmado candidato ao Planalto pelo PDT, o Paraná poderá ter dois candidatos à presidência no ano que vem: Requião e Ratinho Junior.

domingo, 12 de outubro de 2025

Bruxos internacionais unem tradições euro-americanas

Quando dois magos se encontram: Chik Jeitoso e David Cartaxo trazem luz às tradições e aos rituais

A noite começou com a familiar confusão técnica das lives — telas carregando, microfones ajustados, saudação ao público — e, em seguida, foi tomada por algo mais antigo: a conversa franca entre dois homens que guardam um ofício que atravessa gerações.

Por Ronald Stresser — Sulpost

 
Bruxos Chik Jeitoso (Brasil) e David Cartaxo (Europa) - Ilustração/Sulpost

Chik Jeitoso, já conhecido por seus milhões de visualizações e por uma voz que mistura conselhos, rituais e afeto — recebeu em seu estúdio virtual David Cartaxo, que hoje vive em Zugarramurdi, no norte da Espanha, lugar que carrega nas pedras a memória das perseguições antigas às bruxas. O encontro — simples nos procedimentos e profundo nas palavras — desenhou fios entre Brasil e Europa, entre relatos pessoais e a história coletiva de quem cultiva práticas espirituais.

Linhas de sangue e memórias que se herdam

Cartaxo contou que a sua prática não é obra do acaso: vem da família, lembra a trisavó, relembra um tio bruxo no Alentejo — é uma herança que se transmite como histórias de mesa, como receitas de remédio e como mantras que os anos vão afinando. “Vem de gerações”, disse ele — e essa frase, pronunciada sem afetação, tem a força de quem carrega rituais como mapas para viver.

Chik respondeu com reconhecimento: não há competição entre quem trabalha a mesma matéria — há troca, admiração, validação. “Os verdadeiros bruxos têm amizade entre si”, disse, com a autoridade e a ternura de quem já viveu décadas de prática e viu milagres e charlatões passarem.

Zugarramurdi: as pedras que lembram

Ao falar de Zugarramurdi, Cartaxo não só descreveu uma vila: trouxe a história crua da inquisição, as grutas, o museu das bruxas, os artefatos e os cantos guardados. Ele contou como a região ainda pulsa uma energia antiga — e lembrou que a tentativa de apagar estas memórias (até caminhões de pimenta nas grutas, segundo o relato) não conseguiu anular um saber que persiste nas pessoas e nos rituais.

Rituais, curas e o desmanche do que prende

Parte do encontro virou explicação prática: como se age quando “os caminhos” de alguém estão fechados — por ressentimento, por enganos, por trabalhos negativos. Cartaxo falou de trabalhar com fogo, com linhas de São Cipriano, com orixás e com santos, sempre respeitando a linha espiritual do consulente. Chik complementou lembrando das benzedeiras e dos mantras antigos, feitos por décadas, que criam curas inesperadas.

“Cada pessoa traz um travão diferente nos caminhos. O fogo queima o que está oculto e devolve a luz.” — David Cartaxo.

A conversa deixou claro algo simples e potente: a espiritualidade que eles praticam resolve assuntos humanos — solidão, amores quebrados, bloqueios — com ferramentas simbólicas e com um trabalho de escuta que, para muitos, surge como o único remédio possível.

Prosperidade e mitos: o pacto da riqueza

Um dos momentos mais vivos do encontro foi quando ambos desfizeram mitos sobre “pacto com o diabo” e falaram da prosperidade como alinhamento de forças e sabedoria. Para eles, o “pacto” pode ser tratado como um acordo com as leis do universo — ou com santos e orixás — para abrir caminhos que a própria pessoa precisa trilhar.

“A pobreza está no desconhecimento”, disse Cartaxo. E nisso havia uma provocação: não demonizar a busca por estabilidade material como um pecado, mas lê-la como parte de uma vida inteira que também pede equilíbrio, sabedoria e trabalho interior.

Uma transmissão que foi rito

Ao final, o público, online, não aplaudiu apenas um show: sentiu-se participante de um rito que mistura ancestralidade, conselhos práticos e afeto. Foram risos, palavras de agradecimento e a sensação de reafirmação: que há tantos modos de buscar cura e sentido quanto há histórias para contá-las.

Para além do espetáculo das redes, a live foi um lembrete — e um convite — de que a magia mais humana é feita de escuta, de transmissão entre gerações e de responsabilidade. Dois bruxos, distintas latitudes; uma conversa que valeu por lição, memória e ternura. Clique aqui e veja a conversa entre Jeitoso e Cartaxo no Facebook oficial do o bruxo mais querido do Brasil.


Por Ronald Stresser — Sulpost. Contato: stresser.pt@gmail.com | WhatsApp/Pix: +55 (41) 99281-4340

sábado, 11 de outubro de 2025

Outubro Vermelho: a poesia, o corpo e a cidade em estado de resistência

Outubro Vermelho: a poesia, o corpo e a Curitiba que vive em estado de resistência

Por Ronald Stresser — Sulpost
Atualizado em 15/10/25 às 20h19

Um festival de dez dias que transforma Curitiba em palco — e a palavra em gesto político e afeto

Curitiba — Quando a cidade parece prender a respiração e depois soltar um canto coletivo, é sinal de que o Outubro Vermelho chegou. O festival, com uma programação de dez dias, propõe algo raro: reunir cinema, música e poesia num mesmo sopro, para lembrar que a cultura não é distração — é resistência, memória e possibilidade.

Guta Stresser e Bertolt Brecht: teatro engajado em voz curitibana

Entre as atividades que compõem esses dias intensos, uma presença chama atenção pela força simbólica: a atriz Guta Stresser. A atriz curitibana participará do festival realizando leituras de textos e poemas de Bertolt Brecht — referência incontornável do teatro engajado.

“Quando eu recebi o convite, eu não tive dúvidas porque, para nós do teatro, a grande representação desse teatro mais engajado é o Brecht”, explica Guta.

É uma ponte entre palco e rua, entre tradição e urgência: Brecht lido hoje carrega mais do que estética — carrega perguntas sobre poder, trabalho e solidariedade. Tê-lo em voz local, pelas mãos de uma atriz que conhece a cidade, é lembrar que os clássicos também servem para debater o presente.

Programação ampla: filmes, shows e as vozes da região

Além das leituras de Brecht com Guta, o festival apresenta exibição de filmes e shows de bandas e artistas de Curitiba e da Região Metropolitana. O mapa do evento é propositalmente horizontal: espaços diversos, linguagens diferentes e um mesmo propósito — reunir público e artistas em convivência afetiva e política.

Vozes negras. Vozes populares.

Num dos encontros mais esperados do Outubro Vermelho, poetas populares ocupam um microfone público para intervenções sem teatralização forçada — performar sem se tornar espetáculo ensaiado, deixando que o corpo, a voz e o ritmo encontrem o verso como fala cotidiana. Muitos desses artistas integraram o Sarau Popular, projeto que rodou a cidade por 2 anos e meio em 65 edições, afinando uma dinâmica em que o poeta é o próprio poema.

“Popular sem ser banal, poético sem ser rebuscado. Palavra verdadeira, ato político, arte, revolução.” É esse o tom buscado: um grito suave e firme no meio do Outubro Vermelho.

Poetas convidados (seleção)

  • José Domingos — nascido em 1964, no interior do Paraná; leitor de Neruda, Patativa e Drummond; voz que traz o sertão e a cidade.
  • Márcio Gleide — poeta engajado, ativista cultural; mais de mil poemas e membro honorário da APB (2023).
  • Moisés António — poeta e escritor nascido em Angola; autor de obras sobre identidade, memória e diáspora; lançou Eu do Outro Lado nas Terras do Além (2023).
  • Maurício Santana — pesquisador, bibliotecário, guitarrista e vocalista da 5 Graus; referências em Tezza e Dostoiévski.
  • Asaph Eleutério — compositor e intérprete; pesquisa sobre a cena musical independente de Curitiba.
  • Sergio Viralobos — tradutor e poeta veterano; colunista cultural e presença histórica na cena literária local.
  • Desi Veloso — neuropsicopedagoga e escritora; autora de contos e histórias; estuda agroecologia no IFPR.
  • Paulo de Jesus — poeta e cronista curitibano; interessado em espiritualidade e questões sociais.
  • Getúlio Guerra — mentor de projetos culturais e curador do Sarau Popular; autor de coletânea e articulador de periferias artísticas.

Um microfone aberto — e a entrada que o festival defende

No Restaurante NINA (Rua Marechal Deodoro, 847), a poesia será visceral: o microfone público abre espaço para que a cidade fale. O evento anunciado pelo coletivo privilegia a entrada franca e honesta — porque o acesso à cultura não pode ser privilégio. É no Nina que Guta Stresser fará sua leitura de Brecht, sexta-feira (17) às 19h00.

Serviço

Festival Outubro Vermelho
Duração: dez dias (programação completa com filmes, shows, leituras e intervenções)

  • Sarau de Poetas Populares: Sábado, 11 — a partir das 20h — Restaurante NINA, Rua Marechal Deodoro, 847 — Centro

  • Entrada: franca e honesta

O Outubro Vermelho nos lembra que a cidade é um corpo coletivo: cicatriza, celebra, reclama e se reinventa. Nas vozes que leem Brecht, nos versos que nascem como fala cotidiana, no acorde rasgado de uma banda local, nasce a possibilidade de reconhecer o outro e, juntos, construir sentidos. É um convite — para ouvir, para sentir, para agir.

Brasil ganha espaço na nova guerra comercial entre EUA e China

Enquanto Trump declara guerra comercial à China, Brasil surge como elo estratégico e novo protagonista global

Por Ronald Stresser | Sulpost

O mundo volta a girar em torno de uma disputa que parece não ter fim. Ao anunciar que poderá taxar em até 100% os produtos chineses a partir de novembro, o presidente norte-americano reacende uma guerra comercial que promete redesenhar o mapa do comércio global — e, no meio desse fogo cruzado, o Brasil surge como um dos maiores beneficiários.

Nos portos, nas lavouras e nas embaixadas, os sinais já são claros: o país tem se consolidado como elo estratégico entre as duas maiores economias do planeta. Desde o início das tarifas aplicadas pelos Estados Unidos, o movimento de reacomodação de mercados tem favorecido o produtor brasileiro, especialmente o do agronegócio.

Relatórios recentes da American Farm Bureau Federation, entidade que representa milhões de agricultores norte-americanos, apontam que o volume de soja embarcado pelos Estados Unidos à China despencou quase 78% entre janeiro e agosto deste ano, em relação ao mesmo período de 2024. A explicação é simples: a China não está comprando menos, apenas escolheu outros parceiros — e o Brasil assumiu o protagonismo.

A soja brasileira segue em ritmo recorde de exportação, consolidando o país como o maior fornecedor mundial do grão. A perda de espaço dos produtores norte-americanos é o reflexo direto de uma disputa que não se limita à economia, mas que expressa o novo desenho das relações internacionais.

Enquanto os Estados Unidos buscam fortalecer sua indústria doméstica, a China amplia laços com países que oferecem estabilidade, segurança alimentar e potencial de crescimento. Nesse tabuleiro global, o Brasil emerge como uma ponte — e não uma trincheira —, capaz de dialogar com ambos os lados sem abrir mão de sua autonomia.

Além do agronegócio, o país também pode se beneficiar pela via das importações. Com maiores barreiras impostas ao mercado americano, a China tende a direcionar sua produção a novos destinos, tornando o mercado brasileiro mais atrativo. Isso pode ampliar a oferta interna de produtos e reduzir preços, ajudando a conter a inflação e fortalecendo a balança comercial nacional nos próximos anos.

Mesmo diante da tensão entre as potências, há uma certeza que se impõe: Estados Unidos e China continuam interdependentes. De um lado, o país asiático é responsável por grande parte das mercadorias que abastecem os lares americanos; de outro, ainda depende de insumos, tecnologia e demanda dos Estados Unidos. É uma relação de dependência mútua, repleta de desafios e conveniências.

Entre o aço americano e a seda chinesa, o Brasil se movimenta com prudência e inteligência. O governo acompanha cada passo dessa disputa, atento às oportunidades que surgem entre as brechas da geopolítica. Num cenário em que os gigantes se enfrentam, o país tem a chance rara de transformar equilíbrio em estratégia — e de reafirmar seu papel como protagonista global em tempos de incerteza.

📌 Com informações da American Farm Bureau Federation, CNN Brasil e Valor Econômico.

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Itaipu lança primeiro barco da América Latina movido a hidrogênio verde

Itaipu Binacional apresentou, em Foz do Iguaçu (PR), o primeiro barco da América Latina movido a 100% por hidrogênio verde

Barco movido a hidrogênio verde lançado por Itaipu Binacional
Embarcação movida a hidrogênio verde é apresentada no reservatório de Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR). Foto: Itaipu Binacional

Quando o motor silenciou o som habitual do combustível fóssil e passou a mover-se apenas pela força do hidrogênio verde, o espelho d’água do reservatório de Itaipu refletiu algo maior que uma inovação tecnológica: refletiu um novo tempo. Um tempo em que energia, natureza e futuro caminham lado a lado.

A Itaipu Binacional apresentou, em Foz do Iguaçu (PR), o primeiro barco da América Latina movido a 100% por hidrogênio verde — combustível limpo, que não emite gases de efeito estufa e nasce do mesmo princípio que sustenta a usina: transformar o poder da água em movimento.

O projeto foi desenvolvido pelo Itaipu Parquetec, centro de inovação dedicado a soluções sustentáveis, e marca mais um passo da hidrelétrica no caminho da transição energética. O barco foi testado nas águas do Rio Paraná, dentro do reservatório da usina, e o resultado simboliza o que muitos chamam de “virada verde” da engenharia latino-americana.

“Cada gota d’água que move Itaipu agora também move a esperança de um planeta mais limpo”, disse um dos engenheiros do projeto durante a apresentação.

A experiência é pioneira: o sistema de propulsão é alimentado exclusivamente por hidrogênio verde, produzido a partir da eletrólise da água — processo que separa o hidrogênio do oxigênio com o uso de energia elétrica de fonte renovável. O resultado é um combustível que não polui, não deixa resíduos e não depende do petróleo.

O lançamento oficial do barco está previsto para um palco global: a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada em Belém (PA), entre os dias 10 e 21 de novembro. Lá, o Brasil pretende mostrar ao mundo que inovação e sustentabilidade podem navegar na mesma direção.

Mais do que tecnologia: um símbolo de futuro

Itaipu, que há mais de quatro décadas é sinônimo de energia e integração entre Brasil e Paraguai, agora se coloca também como referência em descarbonização. O barco movido a hidrogênio verde não é apenas uma experiência de laboratório — é o anúncio de que as águas da usina seguem produzindo energia, mas também consciência.

O projeto do Itaipu Parquetec integra um conjunto de iniciativas que incluem o desenvolvimento de ônibus e tratores movidos por hidrogênio, a ampliação da infraestrutura de recarga elétrica e o incentivo à pesquisa em mobilidade sustentável. São sementes de um futuro que já começa a germinar no coração do Paraná.

Energia limpa, águas compartilhadas

No ponto em que o Brasil e o Paraguai se encontram, Itaipu prova que sustentabilidade é mais do que discurso: é prática, é política pública, é ciência. O barco movido a hidrogênio verde carrega consigo não apenas uma nova tecnologia, mas uma mensagem urgente — de que o planeta pede transformação, e essa transformação começa com coragem.

Assim, das turbinas que giram no subsolo à superfície serena do lago, Itaipu segue ensinando que é possível gerar energia sem destruir o que nos mantém vivos. E, agora, o movimento das águas ganha um novo companheiro: um barco que navega com a força invisível da esperança.

Fontes:

  • Itaipu Binacional — Departamento de Comunicação Social
  • Itaipu Parquetec — Centro de Inovação em Sustentabilidade e Energias Renováveis
  • ONU — Agenda COP30 / Belém (PA), novembro de 2025

Reportagem humanizada de Ronald Stresser para o Sulpost. Texto e edição com foco em inovação, meio ambiente e o legado das energias renováveis no Brasil e na América Latina.

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Itaipu participa de encontro da Polícia Federal em Foz do Iguaçu

Itaipu e Polícia Federal fortalecem laços estratégicos em Foz do Iguaçu: inteligência, segurança e integração a serviço do Brasil

Por Ronald Stresser | Sulpost

Itaipu participa de Encontro de Inteligência da Polícia Federal em Foz do Iguaçu - Sara Cheida/Itaipu Binacional

Em um tempo em que a informação se tornou o bem mais valioso de um país, a Itaipu Binacional reafirma seu compromisso com o Brasil ao participar do 14º Encontro de Chefes de Unidades de Inteligência da Polícia Federal (PF), realizado nesta terça-feira (7), no hotel Mabu, em Foz do Iguaçu. O evento, promovido pela Diretoria de Inteligência Policial da PF com apoio da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), reuniu lideranças de todo o país em torno de um objetivo comum: fortalecer o diálogo entre as instituições e pensar o futuro da segurança pública sob uma ótica de integração e cooperação.

Representando a Itaipu, estiveram presentes o diretor jurídico Luiz Fernando Delazari e o chefe da Assessoria de Informações, Marcos Antonio de Farias. Ambos compuseram a Mesa de Honra ao lado de autoridades como o diretor de Inteligência Policial da PF, Leandro Almada da Costa, e o superintendente regional da PF no Paraná, Rivaldo Venâncio. A presença da Itaipu em um encontro de tamanha relevância não é apenas simbólica: é a demonstração viva de que a segurança e o desenvolvimento caminham juntos quando o Estado trabalha de forma integrada.

Inteligência que une instituições e fortalece o país

Durante a solenidade, Luiz Fernando Delazari destacou o papel da Itaipu na construção de pontes institucionais e na valorização do conhecimento compartilhado. Para ele, apoiar encontros como esse é uma forma de consolidar a missão da empresa como agente de desenvolvimento e transformação social.

“A Itaipu faz parte de um processo de fomento à cultura, à produção científica e à melhoria das entidades brasileiras. Desde que retomamos nossa gestão, estamos incentivando e apoiando congressos e encontros que debatem o futuro das instituições”, afirmou Delazari.

A fala reflete uma Itaipu que vai além da geração de energia: uma Itaipu cidadã, que compreende a importância da inteligência institucional como pilar de estabilidade, soberania e progresso.

Cooperação e segurança: uma parceria vital

Para Marcos Antonio de Farias, que também palestrou no encontro, a relação entre a Itaipu e as forças de segurança é estratégica e essencial para a proteção da usina, de seus colaboradores e de toda a região de fronteira. O diálogo permanente com a Polícia Federal e demais órgãos de segurança pública é o que permite antecipar riscos e fortalecer a cultura de prevenção.

“Para nós da área de inteligência e segurança empresarial, o relacionamento com as forças de segurança é essencial, pois nos permite antecipar problemas e proteger vidas e patrimônios. Essa cooperação é o que mantém a Itaipu segura e preparada para os desafios do futuro”, destacou Farias.

Tecnologia e integração a serviço da soberania

Ao longo dos últimos anos, a Itaipu tem ampliado suas parcerias com órgãos estratégicos do Estado brasileiro. Entre elas, destaca-se o projeto Áspide Tecnológico, desenvolvido em conjunto com a Polícia Federal, voltado para a criação de soluções de combate a ilícitos na fronteira. Outra iniciativa relevante é o Muralha Inteligente, parceria com a Receita Federal, além do Centro de Estudos Avançados em Proteção de Estruturas Estratégicas (CEAPE), conduzido em cooperação com o Itaipu Parquetec e o Exército Brasileiro.

Esses projetos representam um Brasil que se fortalece pela união de saberes — um país que investe na ciência, na tecnologia e na inteligência como ferramentas de defesa e prosperidade.

Foz do Iguaçu: símbolo de integração e futuro

Mais do que o cenário de um encontro institucional, Foz do Iguaçu é, por essência, um território de integração. É ali, entre fronteiras e culturas, que a Itaipu reafirma diariamente seu papel como ponte viva entre nações, povos e instituições. E foi ali, no coração dessa tríplice fronteira, que a binacional e a Polícia Federal reafirmaram que a inteligência, quando usada para o bem público, é uma força transformadora.

O 14º Encontro de Chefes de Unidades de Inteligência da Polícia Federal foi, portanto, mais do que uma troca de experiências: foi um gesto de compromisso. Um lembrete de que o futuro do Brasil se constrói com parceria, diálogo e confiança — valores que Itaipu tem ajudado a iluminar, dentro e fora de suas turbinas.


Quando o Tribunal Vira Palanque: o TRF-4 Julga Hoje a Suspeição no Caso do “Outdoor da Lava Jato”

Em Florianópolis, a 2.ª Seção do TRF-4 decide se a parcialidade de magistrados que analisaram o caso deve anular decisões e reabrir prazos — um julgamento que fala mais sobre o caráter da Justiça do que sobre um painel

Às 14h de hoje, o edifício da Justiça Federal em Florianópolis reunirá aqueles que querem ver a justiça ser apenas isso — justiça — e não um espetáculo. A 2.ª Seção do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) julga a suspeição dos desembargadores da 12.ª Turma, decisão que pode, caso reconhecida, obrigar a redistribuição do processo a novo colegiado e reabrir prazos recursais para um caso que parecia estar encerrado.

O que está em pauta

O processo central é o de número 5042034-47.2023.4.04.0000 (pautado como 213). A suspeição mira os desembargadores que mantiveram decisão favorável ao procurador que custeou, em 2019, um grande outdoor em Curitiba exaltando a Operação Lava Jato — painel cuja origem dos recursos e natureza institucional sempre foram objeto de questionamento. A sessão terá transmissão online; o link costuma ser disponibilizado no portal do TRF-4 antes do início.

Mais que um painel: um símbolo

O outdoor instalado em 2019 perto do aeroporto de Curitiba trazia a mensagem “Bem-vindo à República de Curitiba” e fotos de integrantes da força-tarefa — uma peça que muitos viram como propaganda e que, desde então, tornou-se um marcador das tensões entre atos institucionais e manifestações pessoais dentro do sistema de justiça. A origem dos recursos — e se houve uso indevido do cargo ou de imagem institucional — permaneceu objeto de disputa.

O protagonista e os ecos institucionais

O procurador Diogo Castor de Mattos, que reconheceu ter custeado o material, teve decisões disciplinares e administrativas envolvendo o episódio ao longo dos anos — inclusive deliberações no CNMP e recursos nos tribunais. Enquanto alguns meios noticiaram a manutenção de sua posição em decisões recentes, o episódio alimentou um debate maior sobre limites éticos da atuação de membros do Ministério Público.

Quem observa — e por quê

Na praça pública do tribunal estarão estudantes, advogados, ativistas e cidadãos. Grupos como a campanha “Lawfare Nunca Mais” e coletivos de juristas e advogados vêm acompanhando o caso por entender que o que está em jogo extrapola o processo técnico: é a credibilidade das instituições. Para parte da sociedade, admitir que julgadores se permitam agir com critérios variáveis em casos correlatos fragiliza a ideia de imparcialidade.

O que pode mudar

  • Se a suspeição for reconhecida, decisões proferidas pela 12.ª Turma poderão ser anuladas e redistribuídas a outro colegiado, com possibilidade de reabertura de prazos recursais.

  • Uma nova turma pode reafirmar ou modificar entendimentos anteriores, provocando repercussões em casos correlatos.

  • O veredito será interpretado como sinal sobre os limites éticos que o sistema judicial aceita para ações de visibilidade pública.

Como acompanhar

Presencialmente: a sessão será realizada no prédio da Justiça Federal em Florianópolis a partir das 14h.
Online: o processo pode ser acompanhado pela transmissão do TRF-4 — procure o processo 5042034-47.2023.4.04.0000 (pautado 213) no portal do tribunal; o link costuma ser publicado cerca de uma hora antes do início através do site: https://eproc.trf4.jus.br/eproc2trf4/externo_controlador.php?acao=sessao_julgamentoAgradecemos

Vozes que ficam

Para os autores da ação, o julgamento é chance de recuperar clareza institucional: “Quando a Justiça perde sua neutralidade, todos perdem”, dizem. Para críticos da Lava Jato, a sessão representa oportunidade de revisão de práticas que — nas palavras de juristas — transformaram parte do processo penal em espetáculo. E para muitos cidadãos, resta a dúvida: a Justiça será lugar de regras ou de shows?

Hoje, em Florianópolis, não se decide apenas uma peça processual: decide-se, nas entrelinhas, o formato da própria democracia — se ela permite tribunais que julgam ou tribunais que publicitam. Testemunhar esse momento é, em si, parte do exercício cívico.

Processo referido: nr. 5042034-47.2023.4.04.0000 (pautado 213).

Paraná intensifica operações contra bebidas adulteradas; casos de intoxicação por metanol mobilizam equipes de saúde e autoridades

Apreensões, destruição de lotes e investigação policial: ação integrada busca interromper um circuito de falsificações e adulterações que pode custar vidas

 
Operação de fiscalização e descarte de bebidas irregulares da Prefeitura de Curitiba - SECOM/PMC

Não foi só mais uma apreensão em um depósito qualquer: eram centenas de milhares de garrafas — muitas delas com potencial de se tornarem instrumentos de adulteração. Enquanto a polícia, vigilância sanitária e órgãos federais trabalham para retirar do mercado lotes irregulares, três homens em Curitiba lutam pela vida após ingestão de bebidas adulteradas com metanol. Entre delegacias, laboratórios e leitos de hospitais, a sensação compartilhada por familiares e profissionais de saúde é de urgência e choque.

Uma operação que tirou 300 mil garrafas de circulação

Na terça-feira (7), a Polícia Civil do Paraná, com apoio do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e da Vigilância Sanitária de Curitiba, desarticulou um esquema de comercialização e acondicionamento irregular de embalagens de bebidas importadas. Ao todo, cerca de 300 mil garrafas foram apreendidas — entre elas, 65 mil garrafas de vodca, 50 mil de uísque, 5 mil de gin importado; além de cachaça artesanal irregular e centenas de litros que foram descartados ou destruídos.

Segundo a autoridade responsável pela ação, parte do material foi destruído e outra parte inutilizada, impedindo que as embalagens vazias fossem reutilizadas por falsificadores. Dois suspeitos foram presos e um galpão no bairro Tatuquara, em Curitiba, foi interditado pela Vigilância Sanitária.

Casos confirmados e risco à saúde pública

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) atualizou os números: até o momento, três casos confirmados de intoxicação por metanol em Curitiba — homens de 36, 60 e 71 anos — permanecem internados sob acompanhamento médico especializado. Outros cinco casos seguem em investigação. O metanol, diferente do etanol (o álcool etílico próprio para consumo), é tóxico e pode levar à cegueira, danos neurológicos permanentes ou morte.

“Se for detectado metanol nas amostras, um inquérito policial será instaurado e encaminhado ao Judiciário. O artigo 272 do Código Penal prevê que é crime alterar a composição de um produto para obter lucro e colocar em risco a vida.” — delegado Cássio Conceição.

Os sintomas iniciais — muitas vezes confundidos com ressaca — podem aparecer entre 12 e 24 horas: náuseas, vômitos, dor de cabeça intensa, visão turva e dificuldade para respirar. Em caso de suspeita, as autoridades orientam procurar imediatamente uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ou o serviço de saúde do convênio.

Resposta integrada: saúde, perícia e legislação

Os peritos da Polícia Científica do Paraná já estão analisando amostras suspeitas para identificar presença de metanol, solventes ou corantes não autorizados. O Ministério da Agricultura encaminhará amostras ao laboratório da UFPR para análises complementares. Na esfera legislativa, deputados estaduais apresentaram ao menos seis projetos de lei voltados ao endurecimento das sanções e à prevenção — incluindo a obrigatoriedade de inutilizar garrafas vazias para impedir reaproveitamento criminoso e a criação de selos de conformidade para estabelecimentos.

Enquanto isso, o estado recebeu ampolas de etanol farmacêutico para uso como antídoto — um recurso essencial no tratamento de intoxicações por metanol — e as redes de atendimento foram alertadas para protocolos de detecção e manejo.

Vozes das pessoas — e o que perdem as famílias

“Era só uma dose, virou quase um pesadelo”, resume uma parente de uma das vítimas. Para muitas famílias, o trauma não é apenas médico: é a espera por resultados, a incerteza sobre sequelas e a dor de ver alguém que amam entre aparelhos e exames. Esses relatos atravessam hospitais e delegacias e lembram que, por trás das estatísticas, há pessoas que precisam de acompanhamento, amparo e explicações claras sobre o que ocorreu.

Como o consumidor pode se proteger

  • Prefira estabelecimentos confiáveis que emitam nota fiscal.

  • Desconfie de preços muito abaixo do mercado.

  • Verifique lacres, rótulos e sinais de adulteração (impressão, tipografia, selo do IPI e registro no Mapa).

  • Se a bebida apresentar turbidez, odor estranho ou partículas, não consuma.

  • Ao surgir sintomas como dor de cabeça intensa, náuseas ou visão turva após consumo, procure uma UPA e informe que ingeriu bebida alcoólica.

  • Denuncie ao Procon, à Vigilância Sanitária municipal ou à Polícia Civil.

Obs.: Esta reportagem foi produzida com informações oficiais e apuração junto a órgãos de saúde, segurança pública e veículos locais. Continuaremos acompanhando os desdobramentos. Se você tem informação relevante sobre o caso — denúncias de venda irregular, embalagens suspeitas ou relatos de intoxicação — entre em contato conosco: sulpost@outlook.com.br ou 41 99281-4340

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