O incidente em Campo Largo mobilizou o ONS e reacendeu o debate sobre a segurança do sistema elétrico nacional. Governo garante que o fornecimento foi restabelecido em até duas horas e descarta risco de colapso energético
Por Ronald Stresser — Sulpost
Por volta das 0h32 desta terça-feira, uma ocorrência registrada na Subestação de Bateias, em Campo Largo (PR), provocou a interrupção de aproximadamente 10.000 megawatts (MW) de carga no Sistema Interligado Nacional. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) informou que o incidente teve início com um incêndio em um reator, que levou ao desligamento da subestação de 500 kV e à abertura de interligações entre regiões.
A interrupção afetou os quatro subsistemas do SIN: Região Sul, Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e Norte. Segundo os números oficiais comunicados pelas entidades técnicas, as perdas oscilavam na ordem de 1.600 MW na Região Sul, 1.900 MW no Nordeste, 1.600 MW no Norte e cerca de 4.800 MW no Sudeste/Centro-Oeste. As cargas foram recompostas de forma escalonada: as regiões Norte, Nordeste e Sudeste/Centro-Oeste tiveram a maior parte do restabelecimento nas primeiras horas e, por volta de duas horas e meia após o início da ocorrência, a Região Sul teve suas cargas totalmente recompostas.
O episódio e a resposta técnica
As equipes de operação e emergência — ONS, empresas de transmissão, Corpo de Bombeiros e perícia técnica — atuaram nas primeiras horas para controlar o incêndio e restabelecer o fornecimento. Não há, até o momento, registro oficial de vítimas. O ONS informou que iniciou imediatamente ação conjunta com os agentes do setor para recomposição segura dos equipamentos e das cargas afetadas.
Uma reunião com os principais agentes envolvidos foi programada para o mesmo dia, e outra sessão preliminar de Análise da Perturbação foi agendada para ocorrer nos próximos dias, com o objetivo de identificar causas, responsabilidades e medidas corretivas.
O posicionamento do governo
Em entrevista à imprensa, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que o país conta com um sistema "robusto" e que o episódio foi pontual, ressaltando o trabalho coordenado entre os órgãos para restabelecer o serviço. O ministro reforçou que, com o planejamento em curso e os níveis de armazenamento hídrico favoráveis nos últimos anos, o governo não vê necessidade de retomar o horário de verão para contenção de demanda neste ano.
Como medidas anunciadas em caráter imediato, o ministério confirmou: (1) acompanhamento técnico integrado com o ONS e agentes do setor; (2) abertura de investigação para apurar causas e possíveis falhas de equipamento ou procedimentos; (3) aceleração de ações previstas em planos de contingência; e (4) continuidade do cronograma de leilões e iniciativas de segurança energética que o governo tem apresentado, incluindo programas de leilão de térmicas e projetos de armazenamento por baterias — soluções que, segundo a pasta, complementam a matriz hidrelétrica e ajudam a reduzir riscos por intermitência de fontes renováveis.
Impacto social e relatos
Embora o corte tenha ocorrido durante a madrugada — momento em que muitos usuários não chegam a sentir a interrupção — houve registros de efeitos práticos: elevadores que pararam em prédios altos, estabelecimentos noturnos que tiveram operações interrompidas e equipamentos domésticos afetados. Pequenos negócios que abrem cedo relataram apreensão diante da possibilidade de cortes mais longos em horários de pico.
Esses relatos trazem à tona a importância das rotinas de manutenção e de planos de resposta rápida em infraestruturas críticas, para minimizar impactos no dia a dia de hospitais, serviços essenciais, comércio e residências.
Contexto factual sobre a gestão local
A Subestação de Bateias está sob operação da concessionária local. Cabe registrar, de modo factual, que a Companhia Paranaense de Energia (Copel) passou por processo de privatização em 8 de agosto de 2023, em operação financeira que movimentou aproximadamente R$ 5,2 bilhões. A menção é puramente informativa e visa situar o leitor sobre a configuração institucional da companhia responsável pela operação na região.
O que esperar agora
Nos próximos dias, as autoridades técnicas deverão publicar relatórios com laudos preliminares e, posteriormente, análises mais detalhadas sobre as causas do incêndio. A expectativa oficial é de transparência nas investigações e de apresentação de medidas corretivas e preventivas, que podem incluir revisão de cronogramas de manutenção, inspeções adicionais em equipamentos similares e recomendações operacionais para reduzir a probabilidade de reincidência.
Para a população, o essencial é acompanhar as comunicações oficiais das autoridades competentes e exigir clareza sobre prazos e responsabilidades, garantindo que ações técnicas sejam acompanhadas de comunicação pública compreensível.
Reforço estrutural
O incêndio na Subestação de Bateias e o apagão associado foram controlados e o fornecimento foi restabelecido em poucas horas. Resta agora à rede técnica, à Aneel e ao governo demonstrar, com documentos e prazos, quais medidas imediatas e estruturais serão adotadas para preservar a continuidade do serviço e aumentar a resiliência do sistema elétrico nacional.
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