Apreensões, destruição de lotes e investigação policial: ação integrada busca interromper um circuito de falsificações e adulterações que pode custar vidas
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Operação de fiscalização e descarte de bebidas irregulares da Prefeitura de Curitiba - SECOM/PMC |
Não foi só mais uma apreensão em um depósito qualquer: eram centenas de milhares de garrafas — muitas delas com potencial de se tornarem instrumentos de adulteração. Enquanto a polícia, vigilância sanitária e órgãos federais trabalham para retirar do mercado lotes irregulares, três homens em Curitiba lutam pela vida após ingestão de bebidas adulteradas com metanol. Entre delegacias, laboratórios e leitos de hospitais, a sensação compartilhada por familiares e profissionais de saúde é de urgência e choque.
Uma operação que tirou 300 mil garrafas de circulação
Na terça-feira (7), a Polícia Civil do Paraná, com apoio do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e da Vigilância Sanitária de Curitiba, desarticulou um esquema de comercialização e acondicionamento irregular de embalagens de bebidas importadas. Ao todo, cerca de 300 mil garrafas foram apreendidas — entre elas, 65 mil garrafas de vodca, 50 mil de uísque, 5 mil de gin importado; além de cachaça artesanal irregular e centenas de litros que foram descartados ou destruídos.
Segundo a autoridade responsável pela ação, parte do material foi destruído e outra parte inutilizada, impedindo que as embalagens vazias fossem reutilizadas por falsificadores. Dois suspeitos foram presos e um galpão no bairro Tatuquara, em Curitiba, foi interditado pela Vigilância Sanitária.
Casos confirmados e risco à saúde pública
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) atualizou os números: até o momento, três casos confirmados de intoxicação por metanol em Curitiba — homens de 36, 60 e 71 anos — permanecem internados sob acompanhamento médico especializado. Outros cinco casos seguem em investigação. O metanol, diferente do etanol (o álcool etílico próprio para consumo), é tóxico e pode levar à cegueira, danos neurológicos permanentes ou morte.
“Se for detectado metanol nas amostras, um inquérito policial será instaurado e encaminhado ao Judiciário. O artigo 272 do Código Penal prevê que é crime alterar a composição de um produto para obter lucro e colocar em risco a vida.” — delegado Cássio Conceição.
Os sintomas iniciais — muitas vezes confundidos com ressaca — podem aparecer entre 12 e 24 horas: náuseas, vômitos, dor de cabeça intensa, visão turva e dificuldade para respirar. Em caso de suspeita, as autoridades orientam procurar imediatamente uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ou o serviço de saúde do convênio.
Resposta integrada: saúde, perícia e legislação
Os peritos da Polícia Científica do Paraná já estão analisando amostras suspeitas para identificar presença de metanol, solventes ou corantes não autorizados. O Ministério da Agricultura encaminhará amostras ao laboratório da UFPR para análises complementares. Na esfera legislativa, deputados estaduais apresentaram ao menos seis projetos de lei voltados ao endurecimento das sanções e à prevenção — incluindo a obrigatoriedade de inutilizar garrafas vazias para impedir reaproveitamento criminoso e a criação de selos de conformidade para estabelecimentos.
Enquanto isso, o estado recebeu ampolas de etanol farmacêutico para uso como antídoto — um recurso essencial no tratamento de intoxicações por metanol — e as redes de atendimento foram alertadas para protocolos de detecção e manejo.
Vozes das pessoas — e o que perdem as famílias
“Era só uma dose, virou quase um pesadelo”, resume uma parente de uma das vítimas. Para muitas famílias, o trauma não é apenas médico: é a espera por resultados, a incerteza sobre sequelas e a dor de ver alguém que amam entre aparelhos e exames. Esses relatos atravessam hospitais e delegacias e lembram que, por trás das estatísticas, há pessoas que precisam de acompanhamento, amparo e explicações claras sobre o que ocorreu.
Como o consumidor pode se proteger
- Prefira estabelecimentos confiáveis que emitam nota fiscal.
- Desconfie de preços muito abaixo do mercado.
- Verifique lacres, rótulos e sinais de adulteração (impressão, tipografia, selo do IPI e registro no Mapa).
- Se a bebida apresentar turbidez, odor estranho ou partículas, não consuma.
- Ao surgir sintomas como dor de cabeça intensa, náuseas ou visão turva após consumo, procure uma UPA e informe que ingeriu bebida alcoólica.
- Denuncie ao Procon, à Vigilância Sanitária municipal ou à Polícia Civil.
Obs.: Esta reportagem foi produzida com informações oficiais e apuração junto a órgãos de saúde, segurança pública e veículos locais. Continuaremos acompanhando os desdobramentos. Se você tem informação relevante sobre o caso — denúncias de venda irregular, embalagens suspeitas ou relatos de intoxicação — entre em contato conosco: sulpost@outlook.com.br ou 41 99281-4340
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