sábado, 11 de outubro de 2025

Outubro Vermelho: a poesia, o corpo e a cidade em estado de resistência

Outubro Vermelho: a poesia, o corpo e a Curitiba que vive em estado de resistência

Por Ronald Stresser — Sulpost
Atualizado em 15/10/25 às 20h19

Um festival de dez dias que transforma Curitiba em palco — e a palavra em gesto político e afeto

Curitiba — Quando a cidade parece prender a respiração e depois soltar um canto coletivo, é sinal de que o Outubro Vermelho chegou. O festival, com uma programação de dez dias, propõe algo raro: reunir cinema, música e poesia num mesmo sopro, para lembrar que a cultura não é distração — é resistência, memória e possibilidade.

Guta Stresser e Bertolt Brecht: teatro engajado em voz curitibana

Entre as atividades que compõem esses dias intensos, uma presença chama atenção pela força simbólica: a atriz Guta Stresser. A atriz curitibana participará do festival realizando leituras de textos e poemas de Bertolt Brecht — referência incontornável do teatro engajado.

“Quando eu recebi o convite, eu não tive dúvidas porque, para nós do teatro, a grande representação desse teatro mais engajado é o Brecht”, explica Guta.

É uma ponte entre palco e rua, entre tradição e urgência: Brecht lido hoje carrega mais do que estética — carrega perguntas sobre poder, trabalho e solidariedade. Tê-lo em voz local, pelas mãos de uma atriz que conhece a cidade, é lembrar que os clássicos também servem para debater o presente.

Programação ampla: filmes, shows e as vozes da região

Além das leituras de Brecht com Guta, o festival apresenta exibição de filmes e shows de bandas e artistas de Curitiba e da Região Metropolitana. O mapa do evento é propositalmente horizontal: espaços diversos, linguagens diferentes e um mesmo propósito — reunir público e artistas em convivência afetiva e política.

Vozes negras. Vozes populares.

Num dos encontros mais esperados do Outubro Vermelho, poetas populares ocupam um microfone público para intervenções sem teatralização forçada — performar sem se tornar espetáculo ensaiado, deixando que o corpo, a voz e o ritmo encontrem o verso como fala cotidiana. Muitos desses artistas integraram o Sarau Popular, projeto que rodou a cidade por 2 anos e meio em 65 edições, afinando uma dinâmica em que o poeta é o próprio poema.

“Popular sem ser banal, poético sem ser rebuscado. Palavra verdadeira, ato político, arte, revolução.” É esse o tom buscado: um grito suave e firme no meio do Outubro Vermelho.

Poetas convidados (seleção)

  • José Domingos — nascido em 1964, no interior do Paraná; leitor de Neruda, Patativa e Drummond; voz que traz o sertão e a cidade.
  • Márcio Gleide — poeta engajado, ativista cultural; mais de mil poemas e membro honorário da APB (2023).
  • Moisés António — poeta e escritor nascido em Angola; autor de obras sobre identidade, memória e diáspora; lançou Eu do Outro Lado nas Terras do Além (2023).
  • Maurício Santana — pesquisador, bibliotecário, guitarrista e vocalista da 5 Graus; referências em Tezza e Dostoiévski.
  • Asaph Eleutério — compositor e intérprete; pesquisa sobre a cena musical independente de Curitiba.
  • Sergio Viralobos — tradutor e poeta veterano; colunista cultural e presença histórica na cena literária local.
  • Desi Veloso — neuropsicopedagoga e escritora; autora de contos e histórias; estuda agroecologia no IFPR.
  • Paulo de Jesus — poeta e cronista curitibano; interessado em espiritualidade e questões sociais.
  • Getúlio Guerra — mentor de projetos culturais e curador do Sarau Popular; autor de coletânea e articulador de periferias artísticas.

Um microfone aberto — e a entrada que o festival defende

No Restaurante NINA (Rua Marechal Deodoro, 847), a poesia será visceral: o microfone público abre espaço para que a cidade fale. O evento anunciado pelo coletivo privilegia a entrada franca e honesta — porque o acesso à cultura não pode ser privilégio. É no Nina que Guta Stresser fará sua leitura de Brecht, sexta-feira (17) às 19h00.

Serviço

Festival Outubro Vermelho
Duração: dez dias (programação completa com filmes, shows, leituras e intervenções)

  • Sarau de Poetas Populares: Sábado, 11 — a partir das 20h — Restaurante NINA, Rua Marechal Deodoro, 847 — Centro

  • Entrada: franca e honesta

O Outubro Vermelho nos lembra que a cidade é um corpo coletivo: cicatriza, celebra, reclama e se reinventa. Nas vozes que leem Brecht, nos versos que nascem como fala cotidiana, no acorde rasgado de uma banda local, nasce a possibilidade de reconhecer o outro e, juntos, construir sentidos. É um convite — para ouvir, para sentir, para agir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou?
Então contribua com qualquer valor
Use a chave PIX ou o QR Code abaixo
(Stresser Mídias Digitais - CNPJ: 49.755.235/0001-82)

Sulpost é um veículo de mídia independente e nossas publicações podem ser reproduzidas desde que citando a fonte com o link do site: https://sulpost.blogspot.com/. Sua contribuição é essencial para a continuidade do nosso trabalho.