domingo, 16 de novembro de 2025

Você sabia que Trump é a favor da desmilitarização a

A lição que o Brasil se recusa a aprender: Trump, os EUA e a desmilitarização que funciona

Imagem meramente ilustrativa - Gerada por IA

Há uma contradição que o debate público brasileiro insiste em não enxergar. Donald Trump — figura marcada por retórica dura lá fora — representa, dentro do próprio país, um modelo em que forças armadas e forças de segurança pública permanecem separadas. Como proposto para a Palestina, local onde a militarização da polícia e o fanatismo religioso levou a total destruição do país.

Nos Estados Unidos, a polícia atua como instituição civil: treina para mediação, patrulha com uniformes de aparência civil e responde a protocolos civis — e não como tropa de guerra nas ruas — à excessão de grupamentos especiais, como a SWAT, por exemplo.

Essa distinção muda não apenas a fisionomia do policiamento, mas a relação cotidiana entre Estado e cidadão. É um modelo já pensado para que a polícia represente autoridade sim, mas jamais uma ameaça ao cidadão. Um símbolo de serviço e proteção, não como ferramenta que à priori serve apenas à repressão.

Quem nunca teve o privilégio de viajar aos Estados Unidos pode tê-la visto em filmes ou séries — e, mesmo na ficção, a diferença é clara: a figura do policial é outra. Aqui, no Brasil, há uma tendência perversa de importar problemas e não soluções. Privilegiamos os símbolos da força: viaturas blindadas, vocabulário bélico, doutrinas herdadas de época autoritária. Vestimos nossas forças com a retórica do conflito e depois nos espantamos ao ver que o conflito se reproduz nas ruas.

O erro começa quando legitimamos a ideia de que a segurança pública precisa espelhar o Exército. Não precisa. Guerras e policiamento são coisas diferentes. Conflito entre Estados e policiamento de bairros não devem obedecer às mesmas regras, aos mesmos instrumentos, às mesmas mentalidades. Nas cidades americanas, a polícia municipal e estadual responde a necessidades locais, a canais civis de controle e a práticas de contato comunitário — e é por isso que, apesar de todos os problemas que também existem lá, o desenho institucional é outro.

No Brasil percebemos, ao contrário, uma militarização cultural e formal: polícias militares com doutrinas próprias, formas de atuação que privilegiam o confronto e um aparato simbólico que coloca o cidadão no papel de inimigo potencial, quando a presunção de inocência tem que ser sempre a primeira coisa que um agente de segurança pública deve ter em mente. Ninguém pode ser condenado antes de um julgamento justo e na necessidade de detenção de um cidadão seus direitos precisam ser informados e respeitados à risca. 

Quando o cidadão é visto logo como potencial criminoso é abordado de forma muitas vezes rude ou até violenta o resultado é menos confiança, mais violência e um ciclo de justificativas que retroalimentam a presença de policias militarizasas nas ruas. Um caso simbólico, nos Estados Unidos, é o do policial que sufocou com o joelho no peito um suspeito até a morte, George Floyd, gerando uma onda de protestos em todo o país que trouxe ainda mais rigor na fiscalização nas abordagens policiais que necessitam muitas vezes de uso desproporcional da força, às vezes até para segurança do próprio detido.

A violência policial no Brasil deveria nos incomodar, e não ser objeto de aprovação numa operação aonde quatro policiais são mortos, seis ficam gravemente feridos e mais de 120 pessoas são abatidas no confronto mesmo que a maioria criminosa de alta periculosidade só deveria haver reação em caso de legítima defesa — o que realmente deve ter acontecido na maioria dos autos de resistência que levaram ao óbito de vários criminosos no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro. Nesse caso sim, há necessidade de haver grupos militarizados dentro das forças de segurança.

Somos rápidos para absorver modelos nocivos estrangeiros — desde práticas de encarceramento até o lobby das armas —, mas nos falta coragem política para copiar o que dá certo. Se os Estados Unidos conseguem, em sua base, distinguir claramente polícia de forças armadas, por que persistimos em negar essa separação essencial?

A resposta, em parte, está nas resistências internas: corporações que — na visão do cidadão periférico e marginalizado — se sentem donas da segurança — agentes políticos que exploram o discurso do medo, e uma cultura institucional que confunde disciplina com autoritarismo.

Basta de necropolítica! E é preciso dizer aqueles que querem persistir nesse caminho: ele custa vidas, causa erosão democrática e retrocessos no tecido social.

Desmilitarizar não é enfraquecer a segurança — é, ao contrário, fortalecer a cidadania. É recuperar a polícia para o papel que lhe cabe: servir e proteger sob normas civis, prestar contas, dialogar. É transformar a rua e as comunidades em espaço de convivência, não de zona de guerra. É o vácuo da presença do estado nas comunidades que abre espaço para o estado paralelo do crime, não apenas do narcotráfico, mas também das milícias, gangues, quadrilhas e outros tipos de associação criminosa. 

Claro que para combater o cangaço moderno no Brasil tem que haver um grupamento especial, realmente militarizado pois esse cangaço da atualidade também usa táticas paramilitares em sua incursões pelo interior do Brasil. Mas para que um grupamento especial chega até o esconderijo de uma quadrilha como essas, é preciso investigação e planejamento para que não haja perda humana. Deve-se pensar que quando um criminoso é abatido, com ele se vai uma série de informações que poderiam ser obtidas em depoimento e utilizadas no combate ao crime.

Talvez seja hora de olhar menos para a retórica e mais para a prática. Quando até um líder conhecido por seu belicismo externo apoia — no discurso ou em políticas — a separação entre forças de defesa e forças de segurança, cabe ao Brasil perguntar: por que teimamos em subir no tabuleiro errado?

A militarização policial não é uma solução compatível com a democracia que almejamos. Copiar o que deu errado alhures é fácil; copiar o que funciona exige coragem de desmontar privilégios, reescrever práticas e cuidar das cidades como espaços de direito e cuidado. Essa é, talvez, a grande lição que o Brasil se recusa a aprender.

O sistema de inquérito usado em nosso país, vem desde os tempos do império, praticamente a mesma ficha a ser preenchida nos casos de polícia. A figura do delegado mesmo nasceu no império, os barões da cana-de-açúcar do cacau e do café mandavam seus filhos estudar direito na Europa e quando voltavam eram nomeados delegados.

Claro que hoje em dia existem concursos e não é mais assim, os "delegados de calça curta", ou seja, nomeados, hoje são raros no Brasil, entretanto a democracia não me sai da mente e pergunto: não seria interessante criar uma legislação para que cada município pudesse eleger seu xerife, como ocorre nos Estados Unidos? Acredito que seria uma ideia boa a se importar.

— Ronald Stresser

Um comentário:

  1. Quanta besteira,diga isso para o PCC,CV e outros tantos,os EUA está combatendo os narcos traficantes com as suas forças armadas , explodindo embarcações estrangeiras.

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