Trump modifica tarifaço: café e carne ganham espaço — diplomacia brasileira minimiza estragos enquanto Eduardo Bolsonaro vira réu no STF
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| Decreto executivo: Modificando o âmbito da tarifa recíproca em relação a certos produtos agrícolas, assinado por Trump nesta sexta (14) - Reprodução/USGOV |
Tivemos um início de noite de sexta-feira com fortes sinais de alívio para o setor cafeeiro e pecuarista brasileiro. O presidente dos Estados Unidos - sextou com Lula - assinou uma ordem executiva que modifica o âmbito das tarifas recíprocas impostas em 2025, abrindo exceções para certos produtos agrícolas — entre eles, categorias que incluem café e carne bovina — e oferecendo um caminho para reduzir os danos já causados pelo chamado “tarifaço”.
O que muda — e o que ainda depende de negociação
A ordem presidencial publicada hoje (Executive Order: Modifying the Scope of the Reciprocal Tariff With Respect to Certain Agricultural Products) atualiza anexos e lista produtos que, sob critérios definidos, “não serão mais sujeitos” às tarifas recíprocas anunciadas anteriormente. Entre as categorias citadas na fact sheet estão café, frutas tropicais, cacau, especiarias e carne bovina — embora a exclusão seja descrita de forma condicionada a critérios e negociações.
Em outras palavras: não se trata de uma anulação automática para todos os embarques do Brasil, mas de uma mudança de escopo que abre portas para que produtos estratégicos voltem a circular com menos barreiras — desde que preenchidos requisitos administrativos e de negociação. Essa nuance é crucial para produtores, cooperativas e exportadores que já sentiram perdas práticas nos últimos meses.
Por que isso é relevante para o Paraná
O Paraná — um dos estados com maior presença exportadora do país e com cadeias de café, carne, florestal e pescados sensíveis a choques externos — vinha contabilizando cancelamentos e estoques represados desde o anúncio das sobretaxas. Em julho, estimativas nacionais indicaram que mais de um terço das exportações brasileiras rumo aos EUA poderiam ser afetadas pelo regime tarifário, revelando a dimensão do risco sobre as cadeias produtivas.
Para a cadeia do café, o impacto foi concreto: torrefadores americanos reduziram compras, estoques foram reduzidos e parte da produção foi redirecionada a outros mercados. A decisão de hoje significa um alívio potencial — não instantâneo — para cafeterias, cooperativas e pequenos produtores que viram sua previsibilidade de renda evaporar.
O recado da diplomacia brasileira
Nos corredores do Itamaraty e nas salas de negociação em Washington, a interpretação é pragmática: a reversão parcial é fruto de um esforço diplomático coordenado pelo governo Lula, que apresentou impacto econômico concreto e mostrou que a manutenção do tarifaço faria mais mal do que bem — tanto para exportadores brasileiros quanto para consumidores americanos. Fontes diplomáticas afirmam que o Brasil trabalhou com dados e propostas alternativas, separando o debate ideológico do trabalho técnico necessário. 5
É um triunfo da prática diplomática sobre a escalada de conflito: não por sorte, mas pela articulação institucional que colocou números, cadeias produtivas e diálogo em primeiro plano. Para quem produz no campo, isso traduz-se em possibilidade de retomar mercados e planejar colheitas com menos incerteza.
O custo já pago e as medidas de socorro
O efeito das tarifas não desaparece com uma canetada: empresas já recorriam a linhas de crédito regionais para sobreviver. No caso do Sul e do Paraná, bancos de desenvolvimento e agências estaduais estruturaram programas emergenciais de crédito e capital de giro para exportadores afetados. Essas medidas foram essenciais para evitar falências imediatas e dar fôlego até que houvesse solução diplomática.
O episódio político que antecedeu a crise
O episódio ganha contornos ainda mais complexos quando se cruza a pista diplomática com a política doméstica. Documentos e reportagens recentes sustentam que ações e declarações de determinados atores políticos fora do roteiro institucional contribuíram para agravar a tensão com os EUA. Em meio a isso, a Justiça brasileira avançou: a aceitação de denúncia que torna o deputado Eduardo Bolsonaro réu no STF é um marco que conecta política externa paralela e responsabilidades internas. A Corte, em decisões recentes, tem apontado para irregularidades e tentativas de interferência que merecem investigação e responsabilização.
A fotografia final é dura: parte do imbróglio que atingiu o agro teve, sim, origem em ações que fugiram dos canais oficiais. Reconstruir credibilidade foi, portanto, uma tarefa dupla — técnica e política — para o governo que pretende resgatar mercados e proteger vidas e renda no campo.
Por que defender democracia e meio ambiente importa aqui
Para o Sulpost, que se pauta por um jornalismo progressista — defensor da democracia, de cadeias produtivas sustentáveis e do meio ambiente — a lição é clara. A habilidade diplomática que reconduziu negociações não pode se reduzir a remendo econômico: é também um alerta de que políticas públicas ambientais, transparência e governança preservam mercados de longo prazo. O preço da negligência é caro: não é apenas econômico, é também civilizatório.
Resumindo — um fôlego para reerguer
A mudança anunciada hoje por Washington não apaga os prejuízos acumulados, mas devolve ao Brasil — e ao Paraná — uma chance de reestruturar contratos, retomar rotas comerciais e recuperar a confiança de parceiros. Foi o resultado do trabalho paciente de diplomatas e técnicos, que agora veem a política interna chamada a dar uma resposta clara sobre responsabilidades.
No Sulpost, acompanharemos passo a passo a execução prática dessa ordem, os códigos que serão excluídos em definitivo, a resposta dos frigoríficos e das cadeias de exportação de café, e as implicações jurídicas do avanço da ação penal no STF. Porque notícia que vale é notícia que cuida: da verdade, do leitor e da democracia.


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