Em vídeo e laudo técnico, as marcas de queimadura na tornozeleira abriram uma cortina: foi “curiosidade”, disse ele — mas quem ensinou Bolsonaro a fazer isso? Quem deu a ideia? Será que ele viu um tutorial do tipo “Faça você mesmo” na internet?
Por Ronald Stresser — 23 de novembro de 2025
| Divulgação/Seap |
Um relatório técnico da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seap) e um vídeo juntado aos autos mostram o ex-presidente Jair Bolsonaro admitindo que usou um ferro de solda para danificar a tornozeleira eletrônica que o monitorava. O próprio registro da perícia descreve “sinais claros e importantes de avaria” e marcas de queimadura na circunferência do aparelho. 0
Segundo o relatório, o alerta do Centro Integrado de Monitoração Eletrônica (CIME) foi gerado às 00h07 do sábado (22), e, pela manhã, agentes compareceram ao local para inspeção. Na gravação, Bolsonaro justifica o dano como “curiosidade” — e diz que usou um “ferro de solda”. Em seguida, o equipamento foi substituído por outro.
Diante das evidências, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes determinou a retirada do sigilo sobre o relatório e o vídeo e deu prazo de 24 horas para que a defesa se manifeste. A decisão judicial cita a violação do equipamento como um dos elementos que justificaram a prisão preventiva, por risco de fuga e por possíveis efeitos de tumulto diante de manifestações convocadas nas imediações da residência do ex-presidente.
A defesa afirma que Bolsonaro sofre de doenças permanentes e pediu prisão domiciliar humanitária, argumento que foi rejeitado na decisão que determinou a prisão preventiva. Os advogados informaram que vão recorrer. Enquanto isso, a corte aguarda a manifestação no prazo fixado.
O episódio transborda o registro técnico: a tornozeleira — símbolo moderno de controle e visibilidade — transformou-se em palco de uma ação que desperta interrogações. A primeira pergunta que paira, e que repito aqui porque é impossível afastá-la, é direta e simples: quem ensinou Bolsonaro a fazer isso? Quem lhe deu a ideia? Será que foi um impulso próprio, ou ele viu um tutorial do tipo “faça você mesmo” na internet e resolveu experimentar com um soldador? Essa hipótese parece absurda e perigosa — e por isso merece ser investigada com seriedade. (Uma busca preliminar em reportagens e vídeos revela circulação ampla do registro da confissão; não há, até o momento, evidência pública de orientação externa específica que explique o gesto.)
Há, ainda, um componente político e simbólico: aliados descrevem o ato como “surto emocional” ou consequência do estado de saúde do ex-presidente, enquanto críticos o veem como um gesto deliberado, capaz de alimentar teorias de fuga e de alimentar o espetáculo político que acompanha o caso desde a condenação. Nesta encruzilhada — entre fragilidade física e cálculo político —, as marcas queimadas na tornozeleira funcionam como uma metáfora dolorosa. 5
O que muda nos próximos dias
- Defesa tem 24 horas para se manifestar sobre a violação.
- Se os últimos recursos forem rejeitados, as condenações poderão ter execução imediata — e a situação processual dos réus pode evoluir nas próximas semanas.
- As autoridades substituiram o equipamento por outro e mantêm a investigação sobre as circunstâncias da violação.
No fim, o que se vê é a sobreposição de níveis de leitura: uma confissão registrada em vídeo, o laudo técnico com marcas físicas, uma decisão judicial que entende existir risco — e a pergunta que insiste em permanecer entre as linhas do relato: a quem cabe ensinar um gesto assim? A resposta exige investigação — e não apenas conjectura em redes.
Vídeo anexado ao processo em que Bolsonaro admite uso de solda — trecho divulgado pela Seap / Polícia Federal)

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