Às vésperas da COP30, Brasil registra queda de 11% no desmatamento na Amazônia e no Cerrado e chega a Belém afirmando: “estamos fazendo a nossa lição de casa”
Por Ronald Stresser — 31 de outubro de 2025
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| Amazônia: queda de 11,08% no desmatamento entre agosto de 2024 e julho de 2025 — Agência Brasil |
Às vésperas da COP30 em Belém, o Brasil apresenta um recorte de esperança materializado em números: o desmatamento caiu 11,08% na Amazônia e 11,49% no Cerrado no período de agosto de 2024 a julho de 2025, segundo o Prodes do Inpe. São estatísticas que carregam rostos, histórias e a possibilidade de um futuro diferente.
O dado — 5.796 km² desmatados na Amazônia no último ciclo de medição — poderia ser apenas mais uma cifra se não contivesse, em cada hectare preservado, a insistência de ribeirinhos, indígenas, pesquisadores e fiscais que passaram a circular mais nos campos, a erguer bases e a devolver vigilância ao território. É a terceira menor taxa desde 1988 e o terceiro ano consecutivo de queda no bioma.
No Cerrado, outro palco decisivo para o equilíbrio hídrico e climático do país, a retração também se confirma: 7.235 km² no período, revertendo um ciclo de alta. Juntos, os números reforçam o argumento central do governo: medidas de comando e controle, financiamento e inteligência de monitoramento começam a mostrar efeitos visíveis.
“A redução do desmatamento ... é a confirmação de que a agenda ambiental é prioritária e transversal no governo do presidente Lula.” — Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
Essas palavras soam como balanço e promessa. No plano prático, a queda é sustentada por ações concretas: reestruturação da governança ambiental, retomada do Fundo Amazônia com investimentos, Planos de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento para todos os biomas e a intensificação de operações de fiscalização promovidas por ICMBio e Ibama — com apoio de Polícia Federal, PRF, Funai e do próprio Inpe.
Fiscalização e tecnologia: a presença em campo que faz diferença
Entre 2023 e 2025, o ICMBio contabilizou 687 operações em unidades de conservação, uso de drones e aeronaves, remoções de gado irregular e expansão do efetivo — 130 novos agentes em campo. No último período, a fiscalização na Amazônia resultou em 281 autos de infração e cerca de R$ 398,6 milhões em multas.
O desafio dos incêndios e da degradação
Nem tudo é conquista tranquila. Especialistas do Inpe apontam para o avanço da chamada degradação progressiva — grandes incêndios que devastam áreas e corroem a capacidade de recuperação da floresta. Mato Grosso, por exemplo, mostrou aumento de 25% em desmatamento, impulsionado por incêndios concentrados em determinadas áreas.
Municípios prioritários e resultados locais
O programa União com Municípios (UcM), que concentra esforços em 81 municípios prioritários, apresentou queda de 65,5% no desmatamento entre 2024/25 — índice 31% superior ao registrado em toda a Amazônia. A experiência local reforça que políticas integradas entre União, estados e municípios são decisivas.
Impacto climático quantificável
Desde 2022, a redução do desmatamento evitou a emissão estimada de 733,9 milhões de toneladas de CO₂ equivalente — uma magnitude equivalente às emissões anuais combinadas da Espanha e da França em 2022. É um dado que transforma hectares preservados em números que contam na balança do clima global.
Em um país onde a floresta sempre foi, simultaneamente, fonte de vida e palco de disputa, esses números encerram algo mais: a possibilidade de reconstituir um contrato com o futuro. Preservar não é apenas um ato técnico de gestão ambiental; é uma decisão histórica sobre que tipo de país queremos legar às próximas gerações.
O que dizem gestores e cientistas
Marina Silva destaca que combater o desmatamento é condição para desenvolvimento econômico sustentável. Luciana Santos, ministra da Ciência e Tecnologia, coloca o monitoramento do Inpe como alicerce das ações. Cláudio Almeida, do Inpe, adverte para a necessidade de enfrentar as queimadas que promovem a degradação.
Às vésperas da COP30, o Brasil que recebe o mundo em Belém traz consigo sinais concretos: políticas, verbas, fiscalização reforçada e monitoramento de precisão. Não é garantia de vitória definitiva, mas é um movimento real — de instrumentos sendo acionados e de territórios reagindo. Mais que apresentar números em um seminário internacional, o desafio será torná-los permanentes; transformar essa queda em regra, não exceção.
Se há um futuro possível para a floresta, ele passa por decisões tomadas hoje — e por gente que vai à beira dos rios, sobe em aeronaves, interpreta imagens de satélite e assina autos de infração. É esse conjunto de pequenas e grandes ações que soma para dizer: estamos, enfim, fazendo nossa lição de casa.
- Com dados e informações do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA); Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) — Prodes / BiomasBR; Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio); Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); Agência Brasil.
Tags: Amazônia, Cerrado, desmatamento, Prodes, Inpe, ICMBio, Ibama, COP30, clima, meio ambiente
Autor: Ronald Stresser — Sulpost. Contato editorial: sulpost@outlook.com.br


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