De trem de Amsterdã a Roma: a nova travessia dos sonhos pela Europa
Ronald Stresser, para o Sulpost
Imagine embarcar numa noite em Amsterdã e acordar em Roma. Sem filas de aeroporto, sem o aperto das poltronas de avião e com o privilégio de ver, pela janela, o amanhecer nas montanhas da Alemanha e o sol nascendo sobre os vinhedos italianos. É esse tipo de experiência que o novo trem cápsula europeu está devolvendo ao viajante moderno: a magia de cruzar fronteiras dormindo.
O retorno dos trens noturnos — com um toque de futuro
Durante muito tempo, viajar de trem pela Europa era sinônimo de nostalgia: janelas de ferro, compartimentos barulhentos e o charme um tanto desgastado das velhas cochettes. Mas agora, um novo capítulo começa a ser escrito sobre trilhos. A companhia austríaca ÖBB, responsável pelo serviço Nightjet, lançou uma geração de trens noturnos completamente repaginada — com cabines inteligentes, mais seguras, silenciosas e sustentáveis.
Esses novos vagões trazem cabines individuais no estilo “mini cápsula”, pensadas especialmente para viajantes solo. São pequenos refúgios sobre trilhos, com porta automática, cartão-chave, luz ajustável, tomada para celular e até indicador de banheiro livre. O conforto não chega ao luxo de um hotel cinco estrelas, mas oferece algo cada vez mais raro: privacidade acessível.
Uma viagem, três países e um só movimento
O roteiro que tem encantado os turistas parte de Amsterdã, na Holanda, atravessa o coração da Alemanha e chega até Roma, na Itália — uma travessia de cerca de 26 horas que entrega três países em uma experiência contínua. É possível dividir o percurso em dois trechos principais: Amsterdã até Munique (de trem diurno ou vespertino) e Munique até Roma, no trem noturno Nightjet.
Durante o caminho, o viajante acompanha a mudança de paisagens pela janela: os campos holandeses, as florestas da Baviera, os túneis dos Alpes e, já na Itália, as colinas de Toscana e os primeiros tons dourados do amanhecer romano. Uma jornada que mais parece um filme rodando lentamente diante dos olhos.
Conforto sob medida: do econômico ao exclusivo
O novo trem noturno não é sobre luxo, é sobre escolha. Há opções para todos os bolsos e perfis:
- Assento simples: ideal para quem viaja com orçamento curto e não se importa em dormir sentado. A experiência é funcional, mas não exatamente confortável.
- Couchette: cabines com quatro ou seis camas, perfeitas para grupos, famílias ou quem quer descansar sem pagar caro.
- Mini cabin: o queridinho da vez. Um espaço individual, silencioso e privado, que oferece a sensação de um pequeno hotel sobre trilhos.
- Cabine privativa de luxo: com duas camas e, em alguns casos, banheiro exclusivo. Para quem quer transformar o trajeto na parte mais especial da viagem.
Os preços variam conforme o trecho, a antecedência e a época do ano. Um bilhete entre Munique e Roma pode custar a partir de €79,90 por pessoa nas tarifas promocionais, enquanto uma cabine individual sai, em média, por €120 a €180. Se compararmos com duas noites de hotel e um voo interno, o trem sai na frente — e ainda entrega o bônus de uma experiência autêntica.
Viajar dormindo: economia e poesia
Mais do que transporte, o trem cápsula é uma nova forma de pensar o tempo. Você não perde horas em deslocamentos, não precisa de translado até o aeroporto, nem acorda cansado. Dorme atravessando fronteiras e acorda num novo idioma. Além disso, o impacto ambiental é bem menor do que o de um voo — uma viagem de trem pode emitir até 90% menos CO₂.
É uma escolha que conversa com o futuro do turismo europeu: mais consciente, mais humano, e com menos pressa.
Planeje sua travessia
Para quem sai do Brasil, o roteiro ideal é simples:
- Chegue a Amsterdã e aproveite um dia na cidade.
- Pegue um trem diurno ou noturno até Munique.
- Embarque no Nightjet para Roma e acorde na capital italiana com o sol batendo no Coliseu.
Leve uma máscara de dormir, tampões de ouvido, uma garrafa d’água e um bom livro. Depois, basta se deixar levar pelo balanço dos trilhos.
No fim das contas…
Na sua próxima travessia longa entre capitais europeias, o que mais pesaria na escolha pelo trem cápsula: o custo por trecho, a privacidade da cabine ou a economia de duas diárias de hotel?
Para muitos, o verdadeiro luxo não está no champanhe servido no vagão-restaurante, mas no simples fato de acordar em outro país, embalado pelo som do trem e com a alma leve. E talvez seja isso o que o turismo moderno mais precisa resgatar: a arte de viajar devagar.
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