Uma grande macrodrenagem no Rio Atuba abre caminho para um parque linear que promete ser esponja, refúgio e praça — e renova o debate sobre urbanismo ecológico na cidade
Em duas que a chuva volta com força, há obras que aprendem a escutar o tempo. Na manhã de sexta-feira (24/10), o prefeito Eduardo Pimentel voltou ao canteiro no Santa Cândida para conferir uma das maiores intervenções de macrodrenagem recentes da cidade — uma obra que, quando concluída, não apenas desafogará ruas e casas, mas também entregará à população um parque. Um parque que respira e retém água: um verdadeiro parque-esponja.
Onde a cidade aprende a ser porosa
O projeto avança no vale do Rio Atuba — afluente do Iguaçu que historicamente sente o peso do crescimento urbano e das chuvas intensas. A primeira fase é técnica: duas bacias de contenção com capacidade para cerca de 150 mil metros cúbicos, estruturas pensadas para que a água seja recebida, ordenada e liberada com segurança. O resultado esperado é simples e radical ao mesmo tempo: menos enchente nas ruas e mais espaço público para as pessoas.
“Esse parque vai ter um papel muito importante na contenção das cheias e na preservação da natureza. Ao mesmo tempo, será um novo espaço de lazer para as pessoas, com áreas de esporte, convivência e muitas araucárias preservadas.” — Marilza Dias, secretária municipal do Meio Ambiente.
Parque linear: drenagem que vira praça
Depois da parte técnica, começa a transformação paisagística: um parque linear que dialogará com os grandes parques de Curitiba — Barigui e Tingui —, reunindo bosques nativos, corredores de araucárias preservadas, pista de caminhada, ciclovia, quadras esportivas, playgrounds e áreas de convivência. A ideia é integrar infraestrutura — canais, bacias e sistemas verdes — com usos cotidianos que estimulem o encontro e a cultura ao ar livre.
Cidadania que prende lixo — e solta esperança
Na visita, o prefeito conheceu a Ecobarreira idealizada por Diego Saldanha, ativista de Colombo: uma estrutura flutuante que já impediu que dezenas de toneladas de lixo seguissem rio abaixo. Foi uma imagem curta e contundente: a cidade juntando as mãos com quem cuida do rio todos os dias. “Com as ecobarreiras faço a minha parte como cidadão, e agora a Prefeitura está somando com uma obra que vai reduzir os alagamentos e ainda criar um espaço de lazer para todos”, disse Saldanha.
Um nome possível: lembrar quem ensinou o mundo a escutar a água
Na opinião do Sulpost: uma obra deste caráter pede um gesto simbólico. Nas rodas que discutem o projeto, surgiu a sugestão de batizar o novo parque em homenagem a Kongjian Yu — o arquiteto e paisagista chinês que popularizou a ideia das “cidades-esponja”. Yu, que tinha forte presença global no debate sobre infraestrutura verde, morreu recentemente em um acidente de avião no Brasil. Em Curitiba, a proposta ainda não é oficial; é, por ora, uma homenagem considerada por vozes da sociedade civil e de especialistas locais.
Chamar o parque pelo nome de quem ensinou o mundo a conviver com a água seria, ao mesmo tempo, tributo e lição: recordar que soluções urbanas para as chuvas não são tecnicismos frios, mas decisões éticas sobre quem e como vive na cidade.
Outra opção seria também a prefeitura abrir um concurso, primeiro para a sugestão de possíveis nomes e depois para nomear o parque, de maneira democrática. A cidade ultimamente, devido a movimentos políticos extremistas, está precisando de mais exercícios de cidadania e democracia, afinal os parques públicos são construídos antes de tudo para serem espaços democráticos, que servem a todos e todas.
O impacto no dia a dia
Para moradores que já sofreram com alagamentos — quem vive no entorno sabe contar a história da última enchente como se fosse um trecho de memória —, o parque representa menos noites de angustia, menos prejuízo e mais oportunidades de lazer próximo de casa. Para os pais, significa trilhas seguras; para os corredores, um novo percurso; para a escola local, um laboratório de educação ambiental.
Desafios — e oportunidades
Ainda há perguntas a responder: prazos de conclusão, como será a gestão do parque, que programas educativos serão oferecidos, e como a população participará das etapas finais de desenho paisagístico. Obras desta escala exigem diálogo constante entre governo, vizinhança e especialistas — inclusive para que a nomenclatura proposta seja legítima e compartilhada.
Este texto reúne a narrativa oficial com olhares da sociedade civil. A sugestão de nomeação do parque em memória a Kongjian Yu é tratada aqui como proposta simbólica — a Prefeitura não confirmou oficialmente a denominação no anúncio de obra.
- Com informações da Prefeitura de Curitiba - PMC (liberação de imprensa sobre a obra),


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