A sombra dos 50 %: como a política extremista de Trump coloca em risco o prato de comida de todos os habitantes do planeta
Por Ronald Stresser | Sulpost![]() |
Graneleiro é abastecido com grãos em Paranaguá - Portos do Paraná |
Em 30 de julho de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou a ordem executiva formalizando a aplicação da tarifa de 50% sobre as importações brasileiras, composta por um aumento adicional de 40% além da tarifa-base de 10%. O gesto foi justificado por Washington como uma resposta a ações judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, descritas como “ameaças à segurança nacional” dos EUA.
Ameaça dupla: sanções secundárias e inflação
Simultaneamente, Trump reafirmou a intenção de implementar sanções secundárias contra países que continuem comprando petróleo, gás e fertilizantes russos, incluindo medidas como tarifas de até 100%, no intuito de pressionar Moscou. De acordo com a agência Reuters, especialistas alertam que isso colocaria em risco a cadeia alimentar da América Latina, já que o Brasil depende de cerca de 1/3 de seus fertilizantes provenientes da Rússia (algo em torno de US$ 3,7 bilhões por ano).
Possíveis impactos no bolso dos brasileiros
1. Acesso difícil a fertilizantes
Com possíveis sanções, o Brasil enfrentaria interrupções no fornecimento de fertilizantes russos — a conta já não fecha com fornecedores locais. Produtores como Lucas Beber (Aprosoja) alertam que isso pode tornar a produção de milho e soja inviável.
2. Aumento no preço dos alimentos
Com os fertilizantes mais caros ou indisponíveis, a produção agrícola cai. Essa queda tende a impactar diretamente no aumento dos preços da comida, especialmente para a população mais vulnerável.
3. Inflação e desemprego em cadeia
O impacto econômico no campo pode reverberar no varejo, nos transportes, nos empregos ligados à produção e exportação agrícola. A indústria estima que a tarifa de 50% poderia custar mais de 100 mil empregos e reduzir crescimento econômico em 0,2 a 0,25 ponto percentual.
Expectativa e ansiedade no campo
Sentado em uma sala de reuniões modesta no interior do Mato Grosso, o produtor rural João Silva explica: “Na última safra, compramos fertilizante russo porque era mais barato. Se isso sumir, vamos ter de cortar custos, mas isso significa menor produtividade. E se não tiver produtividade, não tem renda.” Ele reforça: “O medo hoje é plantar e não colher o suficiente para pagar as contas”.
Reações do Governo
O Palácio do Planalto classificou as sanções como uma interferência inaceitável na soberania do país. O presidente Lula disse que o Brasil está disposto a negociar o aspecto comercial da relação com os EUA, porém sem renunciar aos instrumentos jurídicos de defesa previstos na legislação nacional, como, por exemplo, adotar o direito de reciprocidade.
Brasília também monitora possíveis retaliações dentro do comércio exterior e prepara um pacote de apoio para setores atingidos, embora ainda sem explicar publicamente — por questões de estratégia — os detalhes.
Reflexo global: quando a comida vira arma econômica
Para além do Brasil, outros países da América Latina, como México e Colômbia, já sentem o impacto: todos dependem fortemente dos fertilizantes russos para suas safras principais. Uma crise de fornecimento poderia disparar preços regionais de alimentos e agravar a crise migratória já em curso, causando reflexos imprevisíveis inclusive para os EUA.
Além disso, um rublo desvalorizado, aliado ao aumento no petróleo, pode até fortalecer a receita da exportação russa no curto prazo, mas pode elevar os custos globais de energia — colocando os consumidores do mundo inteiro sob fogo cruzado.
O que está em jogo
A elevação para 50% sobre grande parte das exportações brasileiras aos EUA — somada à ameaça de sanções secundárias — traz riscos para todos os países compradores de óleo diesel e fertilizantes russos.
Isso coloca todas as safras globais em risco, devido à possível escassez — pela dificuldade de compra dos insumos russos — de fertilizantes. A atitude egoísta e imperialista pode impactar profundamente a produção de alimentos ao redor do planeta. Se levada a cabo a ameaça de Donald Trump vai acentuar a alta nos preços, a consequente queda na produtividade e pode trazer risco de insegurança alimentar.
A sobretaxa também pode ameaçar empregos. É possível que haja a perda de centenas de milhares de postos de trabalho no agro e em seus setores afins.
Cenário futuro
Se Trump realmente adotar sanções secundárias sobre o abastecimento de fertilizantes ou óleo da Rússia, o Brasil teria duas opções: buscar rapidamente fontes alternativas — algo difícil a curto prazo — ou enfrentar uma queda na produção agrícola. Em ambos os cenários, o impacto social seria severo, especialmente para os mais vulneráveis. É isso que os pseudo patriotas saíram às ruas hoje defender?
O governo brasileiro, por ora, tenta negociar com os EUA e construir alianças estratégicas com outros países do BRICS, que também são afetados pela política externa atarantada dos EUA. Vários países criticam a abordagem americana, que usa de métodos típicos de países imperialistas, governados pela tirania e que usam o poder para impedir a evolução de uma ordem econômica multipolar.
Enquanto isso, milhares de agricultores aguardam uma definição com o coração na esperança de que os grãos plantados agora não se transformem em prateleiras vazias e pratos sem comida.
O mundo pode estar prestes a viver uma crise alimentar, por conta de uma política comercial no mínimo equivocada — não só para o Brasil, mas para milhares de famílias que enfrentam a tempestade econômica global. O prato do brasileiro pode estar em risco, enquanto o mundo encara uma batalha política cujo reflexo se faz diretamente no campo e na mesa de milhões de pessoas.
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